sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O ébrio

Andava por Copacabana, o bairro tem-de-tudo. O radar focou no casal de sem teto que dialogava em alto e bom som no meio da rua. Ambos com os olhos injetados, a aparência castigada pela vida e pelos vícios. Os dois, bêbados a ponto de mal conseguirem permanecer parados em pé.


E ele dizia: “E se eu me apaixonar por você, eu caso”.

O amor é embriaguez.

Ao Hugh!

Hugh Hefner, o cara


- “Quer romance lê um livro, quer fidelidade compre um cachorro e quer amor volta pra casa da mamãe!”


- “Eu sou um cara de muitas mulheres, mas das mesmas muitas mulheres”

- “A putaria nada mais que é que sexo com alegria”

- “Um boquete e um copo d’agua não se nega a ninguém”

Todas essas pérolas foram proferidas pelo funkeiro carioca MC Catra no documentário “90 dias com Catra”, que circula pela internet.

Não sou fã de Catra, nem do artista, nem do “filósofo”, embora ele tenha alguma dose de razão no que diz. O lance do copo d’água é sério.

Mas eu vou propor mesmo aos companheiros do Sindicato moção de apoio ao Hugh Hefner. Sim, o criador da revista que tem sido fonte inesgotável de alegrias e dono de um estilo de vida hedonista capaz de causar inveja em Calígula.

O milionário Mr.Hefner, que sempre gostou de se divertir com três coelhinhas simultaneamente na lendária Mansão Playboy, resolveu descansar e optou pela monogamia aos 84 anos. Anunciou nesta semana que vai casar-se pela terceira vez. A noiva, Crystal Harris, loura espetacular, tem 24 anos. E o ama sinceramente, lógico.

Pegando um pra cristo

Eu falo coisas idiotas. Eu escrevo coisas idiotas. Mas nem que eu me esforçasse muito, conseguiria superar o que a astróloga de quem pouparei o nome escreveu no texto intitulado “O mapa astral de Jesus”, publicado na internet em 23/12/2010.


Li o texto atraído pelo título. Farejei besteira. Tenho olfato bom para isso. Com todo respeito a quem acredita, eu não creio em astrologia. Já me disseram que sou Virgem com ascendente em Áries e um monte de luas de novo em Virgem e acho que isso não significa coisa alguma. Divertido é ler horóscopo no dia seguinte e ver que nada aconteceu conforme o previsto.

Mas vamos lá, colher na horta: “Na tradição astrológica, Jesus já teve vários signos. Alguns acham que ele era de Áries - porque este é o símbolo do cordeiro. Outros garantem que ele só poderia ter nascido em Libra, porque conseguiu ser manso sem ser fraco, e por que foi um condutor de almas, e não de homens. Há ainda quem defenda o signo de Virgem, porque tinha como pai um simples carpinteiro e como mãe a Virgem Maria.”

Peraí! Pausa, pelamordideus! O que uma coisa tem a ver com outra!? Se o pai fosse pescador, e não carpinteiro, Jesus seria de Peixes? Ou de Aquário? Não sei, melhor consultar os astros. Se fosse médico, Jesus seria de Câncer? Se o pai fosse açougueiro, seria de Touro? Se a mãe não fosse virgem, poderia ter tido Gêmeos? Talvez tivesse sido melhor, porque um só Jesus não dá conta de aturar isso tudo, não.

Durma-se com um barulho desses

Governo sai (mais ou menos, né?), governo vem, e as trapalhadas continuam. O deputado Pedro Novais, que assumirá a pasta do Turismo, virou notícia porque, em junho, pagou uma festa para 15 casais no Motel Caribe, em São Luís, e apresentou recibo para usar verba indenizatória da Câmara.


Como a camisinha do assunto furou, o bem disposto Novais, de 80 anos, se disse ofendido e alegou que na noite da tal suruba, estava em casa com a mulher assistindo a Passione. Ou seja, então ele só estava pagando a conta para a turma se divertir. Eu não estou nem aí para a vida sexual do ministro, eu não quero é pagar a conta da trepada de quem quer que seja.

Solidário, o novo ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, tentou defender seu colega e, nesta semana, tornou a emenda pior do que o soneto: “dormir num motel não significa fazer amor.” Ou seja, o futuro ministro das Relações Institucionais não entende muito de relações. Ao motel, ninguém vai para dormir ou para fazer amor. Vai para fazer sexo.

Será que o ministro das Relações quis insinuar que o ministro do Turismo vai ao motel só para dormir? Mas com trinta pessoas na mesma suíte, como conseguir dormir?

Essa história toda é mais uma das de foder (no mau sentido). Agora é torcer para a Tia Dilma dar um jeito nessa zona de país.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Vidas em livros



Entre os presentes que Papai Noel me trouxe, destaco “Confesso que vivi”, memórias de Pablo Neruda, e “Vida”, biografia de Keith Richards. Dois lados meus bastante fortes ficam, assim, muito bem atendidos: o poeta e o rocker.


O chileno Neruda está entre meus autores favoritos: “Talvez não vivi em mim mesmo, talvez vivi a vida dos outros. Do que deixei escrito nestas páginas se desprenderão sempre – como nos arvoredos de outono e como no tempo das vinhas – as folhas amarelas que vão morrer e as uvas que reviverão no vinho sagrado. Minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta.”

O stone(d) Richards é, para mim, a personificação do rock’n’roll. Na orelha do livro, ele rabisca: “Esta é a vida. Acredite ou não, eu não me esqueci de nada.” Estou ávido para mergulhar nessas vidas.

E já que falamos em biografias, Celso Cavalcanti, no blog olhodeprosa, escreveu muito bem sobre a biografia de Richards e a do polêmico Lobão. Vale a leitura em http://olhodeprosa.blogspot.com/2010/11/travados-sem-travas-na-lingua.html. Tanta uma como outra são vidas ricas, intensas, e cheias de passagens interessantes. Ao contrário de outras biografias inócuas que proliferam por aí, sem nada a dizer, a não ser exalar pretensão e vaidade, como as recém-lançadas de Justin Bieber (o astro teen americano) e Fiuk (o júnior do Fábio). Biografias sem vida.

Voltando aos presentes de Natal, valeu também pelo CD do Nando Reis. O “Bailão do Ruivão” é um set costumeiro em seus shows, em que ele põe todo mundo pra dançar ao som de músicas populares, algumas com acento brega. Seja como for, é uma delícia ouvir as releituras de “Fogo e paixão”(Wando), “Whisky a go-go” (Roupa Nova), “Lindo balão azul”(Turma do Balão Mágico) e “Chorando se foi” (Kaoma). Vai dizer que você nunca tomou todas, cantou a plenos pulmões e dançou essas músicas, sob luzes estroboscópicas e um globo espelhado?

Ah, e obrigado também a quem não me deu gravatas, meias ou cuecas.

Um homem histórico

Nesses dias de confraternizações, festas, ceias, orgias gastronômicas, excessos, etilismo e gulodices, eis que surge uma mulher que diz:


“Um homem sem barriga é um homem sem história” (Kátia Lopes, do bar Aconchego, falando à coluna Gente Boa, de Joaquim Ferreira dos Santos).

Acho que me apaixonei por esta senhora...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A presente

Eu tenho uma prima chamada Laura.


Era véspera de Natal, por volta de 11 horas da manhã. Sol em Brasília, escaldando a Asa Norte. Minha então mulher, duas de suas irmãs e o irmão ainda dormiam. Tinham vindo passar as festas conosco e a conversa estendera-se até tarde na noite anterior.

O porteiro toca o interfone e anuncia que Laura quer subir. Minha prima mora no Rio, seus pais em Brasília, mas como é aeromoça, nunca se sabe em que cidade ela está. Laura e eu somos próximos, e ela veio fazer uma visita surpresa, já que é Natal etc e tal.

Quando atendo a porta, não é Laura. É outra loura. Também bonita. Bem bonita.

- Leo? - ela pergunta.

Vocês sabem que eu sou Leandro. Como o finado da dupla. Mas tenho vários amigos que me chamam de Leo, talvez para contornar a eterna confusão que fazem entre nós e os leonardos.

- Bem, na verdade, eu sou Leandro. Mas posso ser Leo. Muita gente me chama assim.

- Eu sou Laura.

- E?

- Foi você que chamou a massagista?

Olhei bem para o corpo dela, marcado pela roupa justa, e quase voltei a acreditar em Papai Noel. Mas lembrei de todos os que estavam dormindo em casa.

Gentilmente, esclareci que deveria ter havido alguma confusão, o porteiro deveria ter me confundido com outro felizardo, digo, morador, e assim, lamentavelmente, eu me via obrigado a declinar do presente, da presente, sei lá, àquela altura eu já estava em dúvida até sobre qual é o meu nome.

Laura sorriu simpática e desculpou-se, ligeiramente envergonhada pelo engano. Uma vergonha charmosa, que só as putas são capazes de sentir.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Bom lembrar




É bom lembrar também que esta iniciativa dos artistas do Reino Unido - O Band Aid, capitaneado por Bob Geldof - precedeu o projeto USA For Africa, liderado por Michael Jackson e Quincy Jones.

Feed the world. Let them know it's Xmas time!



ps 1.: Gosh! Eu vivi os anos 1980!
ps 2.: E  - grave - eu me lembro deles!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Eu voltei...

Voltei a fumar. Faz uns três meses já. Nesses quase quatro anos de abstinência, não houve dia sequer que eu não tivesse pensado em ou desejado fumar. Poupem-me da cantilena de que cigarro causa envelhecimento precoce, gangrena, enfisema, infarto, câncer, morte. E impotência, oh céus! Sei disso tudo, vocês estão certos. Fumar é escolher como morrer.


Posso argumentar apenas que fumar me dá prazer. E a coletânea de pequenos prazeres banais é o que mais se aproxima do mito da felicidade que tanto buscamos. Prazer tem sido a minha mais honesta busca.

E assim voltou aquela deliciosa primeira tragada da manhã. E voltei a fazer as refeições pensando no cigarro de sobremesa. E não espero mais nada ou ninguém, porque o tempo de espera é agora preenchido pela companhia do cigarro. O fôlego, que nunca foi de campeão, foi para as cucuias. A voz, vaidade confessa, está mais bonita.

No sentido oposto, um amigo está naquele período inicial em que deixou de fumar. Ou seja, anda de péssimo humor, mascando abelhas. Outra noite, ele cogitou não transar com uma mulher. Não queria abrir mão do clássico cigarrinho do depois...

Fumo desde os 16 e já parei e voltei diversas vezes. Dois anos sem fumar numa vez e outras duas temporadas de quatro anos sem. Posso qualquer dia parar de novo. Afinal, o que é definitivo?

Neste preciso momento, o cigarro, quase paradoxalmente, traz enorme sensação de liberdade. A liberdade de não renunciar ao desejo.

Elas todas




Minha amiga-irmã me enviou este hilário cartoon, segundo ela, em honra e glória ao meu passado. No entanto, devo dizer, como Caetano já cantou, que “não sou proveito, sou pura fama”. Isso mesmo antes de eu me tornar o que sou, este velho leão da savana. Casado, muito bem.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Cartas de navegação e despedida

Blogroll é coisa séria. Afinal, recomendar leituras é sugerir rotas de navegação nesse mar de coisa que é a internet. E é também revelar-se. Somos o que lemos.


Sendo assim, por puro senso de responsabilidade e algum critério, me despeço, com pesar, de alguns endereços admiráveis indicados na minha lista, mas que deixaram de ser atualizados há mais de ano.

É o caso do Infomaré, da amiga Flávia Lima, um dos blogs que me motivou a iniciar o meu. Saem também o Quarto de leitura, da jornalista Nahima Maciel, que trazia ótimas críticas literárias; e o Some flowers in my hair, em que a publicitária Giovanna Amorim falava um pouco de seu cotidiano em San Francisco. A dedicação à maternidade interrompeu o blog e agora que a família está deixando Frisco de mudança para NYC, espero que ela o retome. Torço para que a retirada desses endereços tenha o efeito de estimular essas mulheres inteligentes e criativas a produzirem novos textos. Se assim for, voltam correndo ao blogroll. Por uma razão técnica, tiro da lista também o Veredas, da poeta Jac Rizzo, porque inexplicavelmente o link nunca funcionou.

Mas tem gente nova que chega com força. É o meu soul brother Celso Cavalcanti, que começou há pouco, lá de Brasília, o seu http://www.olhodeprosa.blogspot.com/. Observação arguta, temas interessantes (muito rock’n’roll) e um texto elegantíssimo. Vai lá! É um dos lugares por onde andei enquanto você me procurava.

Réquiem para a Modern Sound

Modern Sound. Foto: Leandro Wirz


Meu melhor amigo me mandou um e-mail avisando. No dia seguinte, a notícia saiu no jornal. A Modern Sound, melhor loja de discos do Rio de Janeiro, fechará as portas no dia 31, depois de 44 anos em atividade.


O fim é, de certa forma, previsível. A outrora toda-poderosa indústria fonográfica, tal e qual a conhecemos, está moribunda. Ninguém mais compra discos. Eu mesmo contribuí, involuntariamente, para a ruína da Modern Sound. Se antes fui comprador compulsivo, nos últimos anos, muito pouco comprei. Jamais adquiri CDs ou DVDs piratas, mas a internet e os downloads tornaram a vida dos consumidores de música mais fácil e mais barata.

Houve uma época em que CD era a minha unidade monetária. Antes de comprar um tênis ou uma camisa, eu calculava mentalmente quantos CDs eu compraria com aquela mesma quantia. Muitas e muitas vezes, eu desistia das outras tentações para gastar com os discos. Sempre que eu vinha de Brasília, nos oito anos em que lá vivi, visitar a loja em Copacabana era programa obrigatório. Lembro de um aniversário em que minha mãe me presenteou com uma grana legal e torrei tudo na Modern Sound, felizão.

O cronista Arthur Dapieve escreveu que sem a Modern Sound, o Rio fica menos inteligente. Com certeza, menos culto. A Modern era uma espécie de santuário para quem gosta de música. Fuçando prazerosamente em seus enormes balcões e estantes, encontrávamos de tudo, nacionais, importados, raridades e éramos atendidos por vendedores que entendem do assunto.

A Modern fez parte da formação musical de muita gente e tem lugar na minha memória afetiva (assim como a já finada Subsom, no subsolo de uma galeria da Tijuca). Hoje de manhã, fui lá me despedir. Encontrei uma amiga que tinha ido fazer o mesmo, pesarosa. A loja estava razoavelmente cheia, mas deu para sentir o clima de adeus, o ocaso. Havia lacunas nas prateleiras, nada mais em estoque. Desconto de 30% nas compras à vista acima de R$ 100. Comprei cinco discos. Mas desta vez, saí de lá entristecido pela primeira vez. E última.

Toquem o réquiem.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Believe it or not

                                                                   Fotos: AP


Grupo ateísta publicou um outdoor próximo à entrada do Túnel Lincoln, em North Bergen, Nova Jersey, uma das entradas para a cidade de Nova York, com o seguinte texto: “Você sabe que é um mito. Neste ano, celebre a razão”. A Liga Católica contra-atacou, colocando seu cartaz no outro lado do túnel. O texto diz: “Você sabe que é real. Neste ano, celebre Jesus”.



Coisa de americanos, que adoram uma polêmica e pensar que estão sempre certos.

Em um primeiro momento, o outdoor dos ateus pode parecer desnecessário e agressivo, mas, na verdade, é apenas democrático. Se há milhares de anos os ateus são tachados de tolos pelos religiosos, também têm o direito de pensar o mesmo sobre os que crêem. Se os religiosos têm o direito de pregar a sua fé, os ateus também têm de propagar a sua não-fé.


Tenho alguma implicância com agremiações de ateus. Elas podem resvalar para uma espécie de “Church of No-God”, e virarem, pelo modo avesso, também uma religião. Mas isso é outra história.


Penso que o homem criou deus à sua imagem e semelhança. As religiões provêem conforto e esperança e são um recurso válido para ajudar o homem a lidar com a consciência da finitude e com a aspereza do presente. Enfim, cada um tem o ópio que precisa, certo, Marx?


O Natal, para mim, significa o feriado em que se convencionou celebrar o nascimento de um extraordinário filósofo. Afinal, foi Jesus quem introduziu a ideia de que todos os homens são iguais. Parece óbvio, não é? Mas ninguém havia defendido isso até então e soou revolucionário há dois mil anos. Talvez por ser uma ideia historicamente tão jovem, ela ainda não foi bem assimilada por nós.


No mais, viva a liberdade e a diferença. E, claro, a tolerância.


Feliz dia 25 para todos nós!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A minha conversão

Não posso dizer que nasci de ventre tricolor porque minha mãe não chega a ser torcedora, mas apenas simpatizante do Fluminense. Mas posso afirmar que fui criado no seio de uma família tricolor.

Meu tio se aplicava com dedicação à minha catequese, a de meu irmão mais velho e de nossos primos. Levava-nos ao Maracanã, comprava camisa do time, fazia a nossa cabeça. Deu certo com os outros. Mas, contrariando o ditado, quem sai aos seus às vezes degenera, sim.

Ou se regenera. Eis a história da minha conversão. Corria o ano de 1977 e eu estava na terceira série do ensino fundamental, com oito ou nove anos. Vivia intensamente meu primeiro e – pensava eu – definitivo amor pela Bianca, uma morena de coxas grossas e nariz empinado a quem eu seguia na escola. E por quem, claro, eu era sumariamente desprezado.

Certo dia, eclodiu na hora do recreio uma briga generalizada entre meninos torcedores do Vasco e do Flamengo, rixa que, a princípio, não me dizia respeito.

Até que Bianca gritou “Mengo!”

Imediatamente, entrei na briga ao lado dos flamenguistas, tomado de súbita e inflamada coragem. Irremediável paixão. Ali, me converti. Ou virei casaca, como diziam meus detratores. Pouco me importa. Vocês sabem, é como diz a letra do hino: “uma vez Flamengo, sempre Flamengo”.

Pude então testemunhar, já como torcedor fanático mirim, o antológico gol de cabeça de Rondinelli (o “deus da raça”) contra o Vasco na decisão de 1978 e anos gloriosos do melhor Flamengo que já existiu, com um time inesquecível, naquele final da década de 1970 e início da de 1980: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico.

Mesmo depois do meu ato heróico, Bianca continuou a me ignorar e a paixão passou – sempre passa. Há poucos anos, tive breve contato com ela via redes sociais, mas ela jamais soube dessa história. E do quanto foi, de forma inusitada, importante na minha vida.

Desde então, tem sido assim. Eu sou obra das minhas mulheres.

Toda essa conversa é para dizer que, honrando as origens, estou torcendo para o Fluminense ser campeão brasileiro no próximo domingo. Fui tricolor quando criancinha. Considerando que o Flamengo está fora do páreo , talvez até eu conseguisse torcer pelo Botafogo, mas só porque minha mulher é botafoguense (pois é, nem ela é perfeita). Mas torcer pelo Vasco, jamais! Seria contra a minha religião.

sábado, 27 de novembro de 2010

Preparar! Apontar! ...


Nessa semana em que os confrontos entre narcotraficantes e a polícia ganharam contornos de guerra civil no Rio de Janeiro, umas das imagens mais impressionantes foi a de um bando fugindo por uma estrada de terra que liga a Vila Cruzeiro ao Complexo do Alemão, após combate com policiais.


A pergunta que muita gente fez foi por que a polícia não aproveitou esse momento exato para, com os helicópteros que acompanhavam a operação, abrir fogo contra os bandidos desbaratados em fuga?

Certamente não foi falta de vontade, nem de recursos materiais e humanos. Suponho que o que tenha segurado o dedo dos policiais no gatilho tenha sido a mídia. Com as lentes das câmeras e os olhos do mundo voltados para o conflito, se metralhassem os bandidos em fuga aqueles ativistas defensores dos direitos humanos dos bandidos fariam um escarcéu.

Aliás, se espalhou pelo Twitter o post: “Policial que matar três bandidos pede música no Fantástico”. Para quem é de fora e não entendeu, é o seguinte: jogador que faz três gols em uma rodada do campeonato pede para tocar a sua música favorita no programa Fantástico.

A guerra contra o narcotráfico no Rio tardou a começar. Tomara que não tarde a terminar. E que vença o menos pior, ou seja, a polícia.





ps.: o Rio de Janeiro continua lindo.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Som bom








Quer saber mais sobre Adele? Indico o texto de Flavia Durante no link a seguir, o qual eu não escreveria melhor.

http://revistatpm.uol.com.br/notas/adele-esta-de-volta.html

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O shopping duca

Quando a gente pensa que já viu de tudo nessa vida, aparece isso.

Quem convive comigo diz, quase injustamente, que eu maldo as coisas. Ponho pitadas de sacanagem em tudo. Vejo sexo na mais singela e inocente palavra. Freud explica e eu aplico.

Mas vamos combinar que o pessoal da agência também estava de sacanagem (ou não) quando criou a campanha para esse shopping em Teresina, no Piauí.

“Pintos Shopping: tudo que você mais gosta no lugar que você sempre quis.”

O que que é isso, meu Deus do céu??!!!


Leia mais e veja os filmes da campanha estrelada por Reynaldo Gianecchini, na reportagem do Meio e Mensagem.
http://www.mmonline.com.br/noticias.mm?url=Agencia_fica_famosa_com_campanha_do_Pintos_Shopping&id_noticia=145750

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Louco, mas limpinho

Eu sou um caminhante. Não apenas porque gosto, mas porque tenho um cachorro grande e ele precisa de exercícios diários.


Outra vantagem é que flanar pelas trilhas urbanas costuma render pauta para cronistas (desins)pirados como este que vos digita estas mal traçadas. Ainda mais em Copacabana, bairro repleto de velhos, putas, putos velhos e figuraças em geral.

Hoje cedo, topei com um sujeito que já vi outras vezes por ali lendo as manchetes nos jornais pendurados na banca. Apesar da barba grisalha, é jovem demais para ser aposentado e largado demais para estar empregado. Está sempre de bermuda, chinelos e tem aquele hábito terrível de usar a camisa desabotoada no peito, até onde começa o pronunciado barrigão de chopp.

Bem, o cara estava com um cotonete enfiado no ouvido esquerdo. Ou seja, é louco, mas é limpinho. O objeto parecia esquecidão lá, mas não se pode descartar outras hipóteses: o sujeito não quer ouvir os ruídos do mundo? Ele ia dar um mergulho na praia e supôs que assim evitaria que entrasse água?

Cogitei avisá-lo, mas temi a reação. Ele poderia não gostar e esbravejar. Mas pior ainda seria se quisesse pegar amizade e puxar conversa toda vez que nos encontrássemos.

Deixei quieto. Punks já espetaram alfinetes nas orelhas, moderninhos usam piercings. Vai que o cotonete é tendência fashion para o verão?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Duas ou mais

Andando à minha frente em Copacabana, um casal de jovens, as duas na casa dos 20 e poucos, uma morena e outra loura.


A morena, especialmente, linda. Caminhavam enamoradas, de mãos dadas, conversando animadamente, sorridentes, genuinamente felizes. Pararam, beijaram-se na boca a luz do dia, no meio da rua, como todas as pessoas deveriam poder fazer sem temer hostilidades homofóbicas.

Poucas coisas são tão poderosas no imaginário masculino do que duas mulheres se pegando. Fantasia sexual de 99,9% dos machos.

"E por quê?" Me pergunta uma amiga. "Por que vocês gostam tanto de duas mulheres juntas?" Não creio que a razão seja a ilusão machista da incompletude. Ou seja, o equívoco de achar que duas mulheres precisam de um falo para alcançar o pleno prazer.

Somos mais simples e rasos. Gostamos de duas mulheres porque, homens, somos bichos quantitativos.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Última parada (em um futuro longínquo)

Sem nenhum demérito ao jazigo familiar no Cajú, o cemitério carioca com nome de fruta tropical, onde serei deitado na boa companhia dos Wirz que me antecederem (sem pressa, pessoal! Há lugar para todos), eu quero ser enterrado em Berlim.


Não é nem por conta do calor que faz por aqui. A Morte mantém sempre o ar condicionado ligado. Mas eu não vou estar em condições de sentir nada mesmo.

Enterrado em Berlim. Precisamente em Friedhofspark Pappelallee, que traz na porta a seguinte inscrição: “Viva agora, bem e com beleza, pois não há o outro lado e nem ressurreição.” Embora se equivalham em realismo, a inscrição alemã é bem mais simpática do que o “Revertere ad locum tuum” que está na porta do Cajú, né não?

domingo, 31 de outubro de 2010

Desalentador


Embora “Tropa de Elite 2” comece com um aviso (e alguma ironia) de que apesar de “possíveis coincidências”, aquela é uma obra de ficção, o filme traz tamanha carga de realidade – dura, nua e crua – que mais parece um documentário sobre o crime no Rio de Janeiro dos dias de hoje. Aliás, sobre o Brasil e a sua classe, digo, corja política.


Este segundo filme é excelente, assim como o primeiro. E desalentador. A nós - eleitores, trabalhadores, cidadãos honestos - resta torcer para que o acaso nos proteja enquanto andamos distraídos por esse campo minado diariamente. Mudar o “sistema”?! Ora, ele entrega a mão para não perder o braço e se recria em mil cabeças de serpente sempre e sempre.

Faz sol e um calor dos infernos no balneário. A esperança morreu de bala perdida.

O desejo é o último que morre.

sábado, 30 de outubro de 2010

Eu sei

Volta e meia, a Carol Nogueira, do Le Croissant, posta o que ela chama de “música fofa da semana”. Obviamente, “fofa” é um adjetivo que inexiste em meu vocabulário.


Mas vai aí a dica de uma música bacana, com ótima letra: “Porque eu sei que é amor”, dos Titãs. O sugestivo clipe é dirigido com sensibilidade por um deles, o Branco Mello, junto com a apresentadora Diana Bouth. Os dois aparecem em algumas cenas. Mas quem as rouba e as ilumina são mesmo o olhar e o sorriso de Dora Vergueiro.

http://www.youtube.com/watch?v=v6h6Hpie7Ao

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Malhação

Em agosto, a Playboy trouxe em sua edição especial de 35º aniversário a perfeita Cléo Pires. Se photoshopada ou não, só as recalcadas se importam. Vendeu uma barbaridade.


No mês seguinte, o ensaio de capa foi com a paraguaia Larissa Riquelme, que, pelo hábito de depositar o celular entre os peitões enquanto torcia por sua seleção, foi catapultada à efêmera fama durante a Copa do Mundo. Sua propalada gostosura era, digamos, paraguaia mesmo. E a invencionice da revista em fazer um ensaio 3D para ser visto com desconfortáveis óculos especiais, não ajudou em nada.

A playmate da edição de outubro é a modelo Nicole Bahls, assistente de palco do programa de humor Pânico. A imprensa de celebridades diz que ela já faturou o filho mais velho do bilionário Eike e o rapper Akon. Nicole faz a linha bombadona superlativa que está na moda: bundão (104 cm de quadril), siliconão, cabelão, narigão, abdomen saradão. Não sou louco de dizer que, por esses atributos quase exagerados, ela deixa de ser gostosíssima.

O que quero mesmo comentar é a resposta dela a uma das perguntas da entrevista/perfil feita pela revista:

- “Você prefere malhar ou fazer sexo?

- Prefiro malhar.”

Ok, então tá, mas depois não reclame se o cara for se entreter com uma mulher que prefira a opção B, “fazer sexo”.

Nicole ainda complementou a resposta:

- “Sexo eu consigo resolver sozinha.”

Puxa, que bom que ela saudavelmente se masturba. Mas não consegue malhar sozinha?!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Peas & Apple


Domingo à noite fui à Apoteose para assistir ao show do Black Eyed Peas. Bom voltar ao lugar onde dei o primeiro beijo na minha mulher, sob acordes do Pearl Jam, em 2005.


O show do BEP foi um animado desfile de hits dançantes, tudo muito bem produzido e high-tech. will.i.am e seus coadjuvantes Fergie, Taboo e APL são competentíssimos no pop que fazem.

A surpresa ficou por conta da efusiva reverência de will.i.am a Jorge Benjor que, chamado ao palco, cantou “Chove chuva”, que, por sinal, choveu. O líder dos Peas declarou que conheceu o Brasil e se apaixonou pelo País por meio da música de Benjor, Sérgio Mendes e Tom Jobim. E que Benjor era um de seus heroes.

O ponto negativo foi o costumeiro, e nem por isso menos irritante, atraso de 1h15 para o início do show, patrocinado pela Blackberry. Por conta disso, uns gaiatos puxaram um coro de “Iphone, Iphone”.

Por falar nisso, a Apple subestimou feio a demanda do mercado brasileiro. Não é possível encontrar para compra o Iphone 4. No site, nas lojas da Apple e nas lojas de todas as operadoras de telefonia, a resposta é a mesma: “Tem, mas acabou”.

domingo, 24 de outubro de 2010

Pílula rocker de sabedoria


O Green Day estourou em 1994 com o vigoroso álbum de estreia “Dookie”. “Basket case”, “She” e “When I come around” puxaram as vendas à época. De lá para cá, discos irregulares, alguns hits até o mais recente e pretensioso “21st Century Breakdown”, lançado em 2009, com um som quase punk, limpinho e mais politizado.


Neste mês, a banda esteve em turnê pelo Brasil e o guitarrista vocalista Billy Joe Armstrong, explicou assim a longevidade do trio:

"É como em um casamento. O segredo é manter o sexo sujo e as brigas limpas".

Yeah! Ótima receita para a vida toda: putaria e lealdade.

sábado, 23 de outubro de 2010

Som e luz



No preâmbulo do ótimo espetáculo “A alma imoral”, a atriz Clarice Niskier diz que não lê os livros que ganha de presente. Porque sequer tem tempo para ler todos os que escolheu comprar.


Sigo mais ou menos a mesma lógica, mas quando quem me presenteia é pessoa muito querida e acerta o meu gosto, o livro ganho fura a fila dos comprados.

Foi assim com “Ao som do mar e à luz do céu profundo”, romance de Nelson Motta ambientado na charmosa Copacabana de 1960.

Delícia de leitura. Do tipo que prende. Há em algumas passagens um preciosismo enfadonho nos detalhes, mas que não chega a comprometer a fluência da história. Nos capítulos finais, a narrativa fica mais seca e ágil, melhor. E há reviravoltas surpreendentes.

O livro faz uma belíssima crônica dos costumes da época, em uma história repleta de desejos, traições, preconceitos, superações, generosidades e mesquinharias típicas de todos nós.

Se você gosta de “A vida como ela é”, de outro Nelson, o Rodrigues, vai gostar dessa leitura também.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Saúde é o que interessa

Os analistas políticos formaram consenso de que uma suposta posição favorável ao aborto da candidata petista prejudicou seu desempenho nas urnas a ponto de fazer com que ela não atingisse o quorum necessário de votos para vencer no 1º turno.


O que me espanta é que o tema do aborto tenha força para decidir uma eleição a favor ou contra quem quer que seja.

Se o Brasil fosse um país super desenvolvido, com suas questões prioritárias bem resolvidas, vá lá, eu entenderia. Mas estamos muito longe do 1º mundo.

Ficou patente – e isso é patético – que somos ultra conservadores e que a excrescência do voto religioso tem muita força.

Fique claro que este não é um texto pró candidato A ou B. Mas é, sim, um texto pró descriminalização do aborto, que deve ser tratado na esfera política como questão de saúde pública e não moral.

Ser a favor da descriminalização do aborto também não significa ser entusiasta do aborto. Legalizar não significa achar legal, no sentido de bacana. Ninguém faz aborto just for fun. E aborto não pode ser método contraceptivo. Um comportamento responsável que evite doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada é que o todo adulto sensato deveria adotar.

Voto de silêncio

Não titubeio. Perco o amigo, mas não perco a piada. Mas quando o assunto é política, calo para não perdê-los. Prefiro não declarar voto. Embora tenha opinião própria, guardo-a para a urna.


Tenho recebido muitos e-mails de aguerridos militantes pró-Dilma e pró-Serra. Tantos uns como outros muito mais fundamentalistas do que fundamentados. Discursos inflamados, passionais, mentirosos, hipócritas. Parece que as pessoas emburrecem no período pré-eleitoral. Isso é assustador. E é mais uma razão que me faz querer distância dessa política irracional e vil.

Depois das eleições, meus amigos de um lado e de outro voltarão a ser pessoas melhores. Mais inteligentes e interessantes. Eu, certamente, me tornarei melhor aos olhos deles também, quando superarem o inconformismo por essa minha suposta alienação. E continuaremos amigos.

O silêncio preserva amizades.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Mudanças demais


Não gosto de me explicar nem de dar satisfações demais, mas lá vem elas, again. Vocês, fiéis leitores, merecem. Andei ausente desse mundinho virtual porque estava às voltas com mudança de casa.


A sétima mudança em onze anos. Mudanças de cidade, casamentos, separações (tudo isso no plural mesmo), compra de imóvel, venda, aluguel de apto maior, enfim... foram várias as razões para esse nomadismo. Mas sem demérito dessas, a principal talvez seja mesmo este meu espírito irrequieto.

Depois da ralação entre malas e cuias e caixas desses últimos dias, a imperiosa conclusão é que preciso fazer um downsizing: roupas demais, livros, papéis, discos demais.

Daí a conseguir, é promessa para o ano novo...

domingo, 3 de outubro de 2010

Voto consciente


"- Já votou?
- Já.
- Votou consciente?
- Votei.
...
- Consciente de que não vai mudar porra nenhuma."

de Bruno Drummond, publicado na Revista do Globo de 3.10.2010.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A babá e o taxista

No táxi em São Paulo, o motorista banca o guia e avisa que aquela avenida fica cheia de putas e travecos à noite. Expliquei que não me chamo Ronaldo e não curto travecos. Ele então começou a contar a noite em que uma prostituta pediu para trocar de roupa em seu carro.


- Posso trocar de roupa aqui atrás?
- Claro, fique à vontade, mas eu não tenho insul-film. Se você não se incomodar...
- Não, tudo bem, tá tranquilo.

Minutos depois, o taxista viu pelo retrovisor que a moça, completamente nua, começava a vestir uma roupa discreta, comportada.

Ela explicou que é garota de programa, mas troca de roupa antes de chegar em casa, porque diz para o marido que é babá. E que não dá telefone fixo do emprego, porque a patroa proíbe que ela receba ligações particulares no serviço. Bem, tem gente que acredita em Papai Noel, em duendes, na idoneidade dos governantes. Então, deixa o marido acreditar no que lhe convém.

Em súbita crise de consciência, ela comentou:

- Chato, né, mentir para o marido...

O taxista contrapôs:

- Mas quem disse que você está mentindo? Só muda o tamanho da criança...

E assim, sábio e cínico, consolou a pobre moça.

domingo, 26 de setembro de 2010

Eu quero distância

Uma amiga recente me perguntou qual a minha posição política, se sou de direita ou de esquerda. Respondi que minha posição é distante.


Na verdade, faço o possível para me manter distante. Pura auto-defesa. Política no Brasil só causa frustração, nojo, revolta, raiva. Então, tento me manter longe e impassível.

Difícil. Semana passada, fui a São Paulo assistir a um seminário de Comunicação. Estava almoçando com colegas em um restaurante – e as TVs nas paredes dos restaurantes são uma praga – quando passou a propaganda eleitoral gratuita.

A primeira candidata a se apresentar foi Cameron Brasil, atriz pornô que, vestindo espartilho e cinta liga, mostrou sua proposta flácida. De longe e com dezoito doses de uísque, posso achar que ela lembra vagamente a Cameron Diaz. Depois, veio uma tal de Mulher Pêra, que de sainha e top, rebola cantando seu jingle brega. Enfim, nem pela bunda eu conseguiria diferenciá-la das outras mulheres horti-fruti. Aí veio o ex-pugilista Maguila que murmura qualquer coisa inintelegível e esmurra o ar. Pronto. Resolveu na porrada.

Então, surgiu o palhaço Tiririca que, segundo as pesquisas, será o candidato a deputado mais votado do Brasil, com cerca de 900 mil votos. Tiririca diz que não sabe o que faz um deputado, mas que quando for eleito, conta “pá nóis”. Diz que todo mundo vai votar nele, até a sua sogra. E o seu slogan é “Pior do que está não fica.” Uma titica.

Enquanto isso, nosso salomônico STF empata na decisão sobre o projeto de lei da Ficha Limpa (incrível não ter um mecanismo de desempate!) e Maluf, Jader e outros continuam elegíveis por aí. Sem falar em Roriz que, num escárnio, retira sua candidatura e lança a esposa em seu lugar.

Entende, minha amiga, por que prefiro me manter longe da política? Não há solução que torne o Brasil viável neste século. Esta é a dimensão do meu desencanto.

E Chávez será eleito para mais um mandato.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Vale a pena ver de novo

O peixe mais recente no cardume deste mar de coisa é Robert Frost. Não sei se é nome de batismo ou apenas um heterônimo. Mas resolvi lhe dar as boas-vindas e, por seu intermédio, estender meu agradecimento a todos os que nadam por estas águas.

Por isso, reproduzo aqui um post que publiquei originariamente em 7 de setembro de 2008, nos primórdios do blog. Nunca é demais reler Mr.Frost.

“Quando eu era adolescente, minha mãe me apresentou a este poema do norte-americano Robert Frost, escrito em 1915. Imediatamente, tornou-se meu poema de cabeceira e pautou algumas de minhas escolhas. Publico o original em inglês, seguido de uma tradução livre.


THE ROAD NOT TAKEN

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;


Then took the other, as just as fair
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that, the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.


I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
two roads diverged in a wood, and I -
- I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.


A ESTRADA NÃO SEGUIDA

Duas estradas divergiam em um bosque amarelo
e lamentando não poder seguir por ambas
e ser um viajante, longamente eu permaneci
e olhei uma delas até o mais longe que pude,
para onde ela sumia entre os arbustos.


Então, segui a outra, igualmente bela
e tendo talvez clamor maior
porque era gramada e convidativa;
Embora quanto a isso, as passagens
houvessem lhes desgastado quase que o mesmo,


e ambas naquela manhã se estendiam
em folhas que nenhum passo enegrecera,
Oh, eu guardei a primeira para um outro dia!
Contudo, sabendo como um caminho leva a outro,
eu duvidei de que um dia voltasse.


Eu estarei contando isso com um suspiro
a eras e eras daqui:
Duas estradas divergiam em um bosque, e eu –
Eu escolhi a menos percorrida,
e isto fez toda a diferença.


Quando lecionei Ética e Legislação Publicitária, eu costumava encerrar o semestre letivo com estes versos. Afinal, falamos de liberdade, de responsabilidade, de escolhas, de ousadia e da possibilidade de fazer um mar de coisas de um modo diferente.”

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Favor não confundir

Ontem, na coluna do Joaquim Ferreira dos Santos:


“Homem bom é...

Domingo, durante a peça ‘Não existe mulher difícil’, Marcelo Serrado perguntou à platéia qual o tipo de homem que mulher gosta. Uma senhora gritou logo ‘Riiiiico’. Não só foi aplaudida como ninguém citou outra qualidade masculina. Morreu aí.”

Depois, a mulherada reclama daquele ditado/brincadeira que diz “mulher gosta de joia, quem gosta de homem é viado.”

Calma, não se ofendam, ninguém aqui está chamando vocês de interesseiras, mercenárias ou putas (eu particularmente não acho uma ofensa chamar alguém de puta). Mas vamos olhar friamente, sem preconceitos e juízos morais. “Mulher gosta de joia”. Ou “de dinheiro”, em uma variante do mesmo dito popular. No sentido lato, podemos entender que mulher gosta do conforto e da segurança que a estabilidade financeira traz. É uma atualização do bom e velho neanderthal caçador capaz de prover e assegurar a sobrevivência da mulher e de sua prole. Será isso? E qual o mal? Um amor e uma cabana só funciona em conto de fadas e novela ruim.

Acho que mais até que a segurança material, mulher gosta mesmo de segurança emocional. E é claro que mulheres também gostam de sexo. Mais ainda, gostam de se sentir desejadas.

Vamos expandir também o “quem gosta de homem é viado” e sua variação mais grosseira que é “quem gosta de pau é viado”. De maneira geral, mulher se interessa menos por sexo do que o homem. Antes de negar essa afirmação, minha cara, pense em quantas vezes você não esteve a fim nessa semana. Contou? Mal coube em uma das mãos, não é?  Vamos lá: um homossexual masculino é um homem que sente tesão por outro, como o próprio termo expressa. E qual a prioridade de um homem, gay ou hetero? Sexo. Pode apostar todo o seu dinheiro nisso, moça. E favor não confundir com amor.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Independência ou morte?

O artista pernambucano Gil Vicente tem muitos inimigos. E os executa, impiedosamente. Ao menos em seus desenhos, que serão exibidos na Bienal de São Paulo, a partir de terça feira.


As obras fazem parte da série Inimigos, que reúne desenhos bem realistas em carvão sobre papel, nos quais o próprio artista é retratado apontando uma arma para a cabeça de FHC ou segurando uma faca, prestes a degolar Lula. Entre seus desafetos, todos na iminência de serem mortos nos desenhos, estão a rainha da Inglaterra, Elizabeth II; o papa Bento XVI, o ex-presidente americano George W. Bush; o ex-secretário geral da ONU, Kofi Anan; o ex-premier israelense Ariel Sharon; e dois candidatos ao governo de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos e Eduardo Campos.

Você pode ver os desenhos em http://www.gilvicente.com.br/inimigos/inimigos.html

Talvez seja a única chance de vê-los, porque a seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) quer impedir a exposição, alegando apologia ao crime.

O presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Heitor Martins, assegurou que as obras não serão retiradas da mostra. "Um dos pilares da Bienal, que vai completar 60 anos, é a independência curatorial e a liberdade de expressão dos artistas. Não vamos exercer nenhum tipo de censura", afirmou.

Caso a posição da curadoria da Bienal não mude, a OAB-SP promete recorrer ao Ministério Público Estadual para pedir a retirada das obras e o indiciamento dos responsáveis.

E então? A arte estimula matar? Ou o que mata é a censura?

domingo, 19 de setembro de 2010

Desbloqueando

Recebi propaganda eletrônica para participar da Bloqueata, que é uma manifestação em favor da liberdade criativa e da espontaneidade do Carnaval de Rua do Rio de Janeiro. Óbvio que não vou.


Na tarde deste domingo, diversos blocos de rua se concentram na Praça XV para o Bailão Pró Carnavalesco da Cidade. Os (des)organizadores afirmam: “a gente não quer promover bagunça, mas o excesso de normatização pode acabar com a espontaneidade dos blocos de carnaval do Rio de Janeiro. Queremos cair na folia com o povo no meio da rua, cantar hinos e marchinhas a plenos pulmões, criar nossos roteiros ao sabor do acaso e da vontade dos participantes, estimular o livre dançar e aproveitar a melhor época do ano na cidade do Rio”

Democraticamente, sinta-se à vontade para ler o Manifesto Momesco:

http://desligadosblocos.blogspot.com/2010/09/manifesto-momesco.html

Democraticamente, eu me sinto à vontade para ser contra. Vocês sabem, eu sou um sujeito antipático, rabugento, anti-social e odeio a zona que os blocos impõem como se todos na cidade tivessem que se submeter ao caos que o Carnaval traz. Os blocos de rua pleiteiam o seu livre direito de ir e vir, cerceando o mesmo direito daqueles que não estão a fim de se enturmar. Eu quero saber quando e onde será a folia para poder ir em direção oposta. Já que sou o incomodado, eu que me mude.

Sou a favor da máxima normatização dos blocos para que a sua festa seja ótima. Inclusive para os que não querem participar dela.

Sim, a praça é do povo. E eu sou tão povo quanto você, folião. Não quero bloquear o bloco, mas não quero que sua marchinha me bloqueie.

sábado, 18 de setembro de 2010

Deus não tem nada com isso

Primeiro foi aquele pastor evangélico na Flórida, Terry Jones, que ameaçou queimar exemplares do Alcorão em 11/9 em protesto contra a construção de uma mesquita próxima ao Marco Zero, em NY. A mídia equivocadamente se encarregou de dar a um sujeito irrelevante com uma ideia idiota na cabeça toda a notoriedade que ele queria. O assunto ganhou proporções mundiais, incitou a fúria de grupos muçulmanos radicais e poderia ter tido consequências gravíssimas.


Depois, foi um professor de Direito quem fez a coisa errada. Alex Stewart, australiano, ateu, resolveu enrolar tabaco em páginas arrancadas do Alcorão e da Bíblia e fumar para supostamente ver qual é o melhor. Fez um videozinho de 12 minutos e postou a babaquice no You Tube. O vídeo já foi retirado do ar. E o professor também, suspenso por tempo indeterminado pela Universidade de Queensland.

Daí, vem o papa Bento XVI em visita ao Reino Unido e declara: "Nós conseguimos lembrar como a Grã-Bretanha e seus líderes se levantaram contra a tirania nazista que queria erradicar Deus da sociedade e negava nossa humanidade comum a muitos, especialmente os judeus, que eram vistos como indignos de viver. Quando formos refletir sobre as lições sombrias do extremismo ateísta do século 20, nunca nos deixemos esquecer de como a exclusão de Deus, religião e virtude da vida pública leva em última instância a uma visão truncada do homem e da sociedade e, portanto, a uma visão reducionista das pessoas e seus destinos."

Insinuar relação entre ateísmo e nazismo é perverso, porque uma coisa não tem nada a ver com outra. Olhe antes para o seu próprio umbigo papal e lembre-se que o catolicismo produziu barbáries como a Inquisição e tantos outros crimes (in)justificados pela fé.

Religião e virtude nem sempre caminham de mão dadas. A verdade é que existem pessoas idiotas e más em todas as religiões e também entre os ateus. Todas as religiões merecem igual respeito, mas não é a sua religião que torna um indivíduo melhor ou pior. É o caráter.





...

Ainda sobre religião e preconceito, a matéria que li sobre o caso do professor australiano o definia com seguinte expressão: “ateu confesso”. Ora bolas, eu conheço “réu confesso”. É preciso confessar ser ateu? Como se fosse algo errado? Você, por acaso, é católico confesso, judeu confesso, evangélico confesso? Ateu. E ponto.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

All I got and all I want...

A Ausländer é uma grife moderninha com algumas roupas descoladas. Tenho uma camiseta com uma caveira de headphone fumando que eu adoro. Entrei lá há algumas semanas, atraído pela palavra mágica “sale” e olhando despretensiosamente as araras, parei numa camiseta onde estava escrito:


-“I went to Salvador and all I got was this herpes.”

Eu não sou, nem quero ser e não gosto do politicamente correto. Mas fiquei perplexo. Que escroto! Quem veste isso?!

Mas não vou só lançar pedras na vidraça alheia. Em uma coleção anterior, a marca acertou em cheio em duas camisetas que sintetizam os desejos masculinos e femininos. Na versão testosterona, estava escrito: “Money & Beer & Poker & Cicciolina”. Não necessariamente nessa ordem, mas nossos interesses não variam muito além disso, não. Ficando claro que a “Cicciolina” não é a própria, evidentemente, mas um ícone. Afinal, ela já deu o que tinha que dar.

A versão para as mulheres estampava a seguinte wishing list: “Chocolate & Shoes & Diamonds & Jude Law.” Me digam vocês, meninas, se não é isso. Ou quase.

Ricardão pop-up no Aurélio

No ano do centenário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, crítico, tradutor e lexicógrafo brasileiro, a editora Positivo lança a 5ª edição do Dicionário Aurélio, revista e ampliada.


Segue uma amostra das novidades: agrobusiness, allnews, bandeide, barwoman, biojoia, blue tooth, blu-ray disc, blu-ray player, bollywoodiano, botox, bullying, chef, chocólatra, chororô (certamente, em homenagem aos botafoguenses!), ciabatta, combo, cookie, data-show, donut, doula, e-book, ecobag, ecojoia, ecotáxi, ecoturismo, empreendedorismo, Enem, flex, fotolog, glamorizar, hora-aula, hotspot, mix, mochileiro, nerd, odontogeriatria, pet shop, petit gâteau, pop-up, pré-sal, ricardão, saidinha de banco, SAMU, sex shop, tablet, test drive.

E também entraram no dicionário os verbos blogar e tuitar. Agora meu pai já sabe o que eu faço.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Ralação

Sei lá de onde tiraram mais essa ideia esdrúxula que alguns veículos de comunicação estão tentando fazer pegar: hoje é o Dia do Sexo. Seis do nove remete a sessenta e nove, aquela posição, sacou? Dãããã.

Mas para que um Dia do Sexo? Para lembrar de fazer sexo? O dia que eu precisar de um lembrete desses, prefiro estar morto. Eu já acordo pensando é no sexo do dia. Como, onde, quando. Com quem, já está definido.

Então o Dia do Sexo serve para as pessoas falarem sobre sexo? Ah, então tá, umas sacanagens ao pé do ouvido funcionam super bem em certos momentos. Se for para falar do assunto com viés de educação sexual também é válido e útil. Mas se for para discutir a relação (sexual), então, pelamordideus, arruma coisa melhor para fazer. E aproveita que hoje é dia.

Propósito comercial? Ok, vai se vender mais preservativos, vibradores, brinquedos sexuais, lingeries, lubrificantes, filmes eróticos, e tudo mais que essa indústria movimenta, além de corpos dignamente remunerados ou não.

Enquanto isso, os americanos comemoram hoje o Labor Day. Sim, lá não 1º de maio como no Brasil e na Europa, é na primeira segunda-feira de setembro. O Dia do Trabalho deles é o nosso Dia do Sexo. Huum, acho que a gente está melhor de motivo, mesmo sem ser feriado por aqui. Amanhã, Dia da Independência, a gente descansa. De hoje.





ps 1.: posso contar uma piada horrível?

- Vamos fazer um sessenta e oito?
- Sessenta e oito?! Como assim? Como é que é?
- Você faz em mim e eu fico te devendo uma...


ps 2.: Eu avisei antes que a piada era horrível.

domingo, 5 de setembro de 2010

A história de todos nós



Sua avó já dizia que homem é tudo igual. Seu avô já dizia que as mulheres são assim mesmo. Todo mundo é parecido quando ama e quando sente dor.


Por isso, fomos assistir à “História de Nós 2”. Que é, de forma bem realista, a história de todos nós. A peça mostra com bom humor todas as fases de um relacionamento amoroso. Do início, onde até os defeitos parecem perfeitos, até o fim, destino mais provável de todas as relações. Passando pelo período do meio, onde nada acontece na cama e tudo acontece fora dela.

Os casais na platéia invariavelmente se identificam com as situações e se cutucam aqui e ali, querendo dizer: “Viu? Eu te digo” ou “Igualzinho a você”. Na prática, é como passar um monte de recados, sem você precisar passar pelo tormento de discutir a relação. Muito embora algumas discussões, ou mesmo conversas, sejam monólogos, já que há mulheres que, como a personagem do espetáculo, sofrem de “incontinência verbal”.

O abismo entre expectativas e visões masculinas e femininas fica evidente desde o início, quando ele descreve a noite perfeita como “chegar do trabalho, beber uma cervejinha, assistir ao futebol e namorar a minha mulher.” Ao que ela retruca: “Ele só pensa nisso: cerveja, futebol e sexo. Sinceramente, isso é vida?”. Preciso responder?

Depois que o filho nasce as distâncias aumentam. Ele quer a mulher de volta. Ela quer um pai para o filho. Sexo torna-se artigo raro. Ela concentrada no papel de mãe, com a libido a zero e pressionada pelas “obrigações conjugais” diz: “Já dei essa semana. Agora, se Deus quiser, só semana que vem!”. Ele, por sua vez, cansado de ter que criar mil climas para conseguir o básico, capitula: “Desisto, é muita firula pra uma trepadinha só!”

Mas nem tudo é guerra dos sexos. Há entendimento e harmonia. Há amor. Na história deles dois e nas nossas também. Suas risadas, e até mesmo um ou outro nó na garganta, sinalizarão que, de algum modo, você também está retratado ali. No início, no fim do início, no meio, no começo do fim, no fim. Se há final feliz? Todo final que implica recomeço, juntos ou separados, é um final feliz.

Em tempo: ao contrário do que costuma acontecer a muitos casais, os atores Alexandra Richter e Marcelo Valle não perderam o tesão depois de um ano e meio em cartaz. A dupla está muito afinada em cena. Enfim, recomendo.



Serviço

“A peça conta a história de Edu, dividido entre o desejo de ascender profissionalmente, a vontade de manter um casamento e o sonho de ser eternamente livre, e Lena, uma mulher 'partida' entre carreira, maternidade e paixão.
A trama começa na noite em que Edu, separado de Lena há algum tempo, vai ao apartamento buscar seus últimos pertences. Assim, o derradeiro encontro do casal converte-se num ajuste de contas cômico e emocionante, no qual eles tentam descobrir de quem afinal foi a culpa da separação: da mulher, da mãe, da advogada bem sucedida, do marido, do adolescente eterno ou do publicitário workaholic. Por meio de humorados e reflexivos flashbacks, seis personagens ocupam a cena para mostrar A História de Nós 2.

Ficha Técnica:
Autora: Licia Manzo
Diretor: Ernesto Piccolo
Elenco: Alexandra Richter e Marcelo Valle
Local: Teatro Vanucci, Shopping da Gávea, Rio de Janeiro”

Desinspirado

Vocês sabem, tenho que garantir o leite das crianças. No caso, a ração do cachorro e meus supérfluos imprescindíveis. Por isso, o excesso de transpiração (no escritório, evidentemente) e a falta de inspiração me mantiveram ausente do blog nesses últimos dias.


Não tive cabeça para narrar surreais histórias verdadeiras ou inventar ficções verossímeis. Suspeito que essa depressão criativa também possa ser associada ao período pré-eleitoral. É que nessa época, a coisa toda, “tudo isso que está aí”, vem à tona, ainda mais feia e fedida. E a gente se envergonha e se revolta com a quantidade de pulhas e pândegos que são candidatos, especialmente a cargos no Legislativo. É deprimente.

A falta de ideias também pode ser consequência dos dias secos e do calor que voltou pra valer. Alguém me diz: “Nossa, está um dia lindo, vamos sair!”. Daí eu abro a janela, vejo aquele sol de lascar e sinto o bafo quente. E volto correndo para dentro de casa, em busca de sombra e ar condicionado. Dia lindo para mim é dia cinza, sacou?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Cheio de graça e graxa

Bermuda, camiseta, chinelo e caixa de madeira velha de engraxate na mão. Então, o moleque chegou junto, cheio da ginga malandra carioca:


- Aí, Doutor, vai uma força na graxa aí, por gentileza?

Serviço feito.

- Valeu, Mestre, leva mais dois contos aí pela educação.

- Aí, mestre eu não sou ainda, não, mas eu chego lá. Agora, educação, claro que tenho, Doutor. Sou botafoguense, não sou flamenguista.

Foi nessa hora que este rubro-negro aqui quase esqueceu a sua própria educação...

Manual da redação

Preciso, direto e conciso este comentário de Ricardo Noblat, que tomo a liberdade de reproduzir aqui. O texto foi postado hoje 26/8, às 16h56, lá no Blog do Noblat. http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/08/26/sobre-imparcialidade-do-jornalista-319321.asp


"Sobre a imparcialidade do jornalista

Este é um dos mitos cultivados há mais de século: jornalista é imparcial. Ou tem obrigação de ser.

Ninguém é imparcial. Porque você é obrigado a fazer escolhas a todo instante. E ao fazer toma partido.

Quando destaco mais uma notícia do que outra faço uma escolha. Tomo partido.

Quando opino a respeito de qualquer coisa tomo partido.

Cobre-se do jornalista honestidade.

Não posso inventar nada. Não posso mentir. Não posso manipular fatos.

Mas posso errar - como qualquer um pode. E quando erro devo admitir o erro e me desculpar por ele.

Cobre-se do jornalista independência.

Não posso omitir informações ou subvertê-las para servir aos meus interesses ou a interesses alheios.

Se me limito a dar uma notícia devo ser objetivo. Cabe aos leitores tirarem suas próprias conclusões.

Se comento uma notícia ou analiso um fato, ofereço minhas próprias conclusões. Cabe aos leitores refletir a respeito, concordar, divergir ou se manter indiferente.

Jornalista é um incômodo. E é assim que deve ser. Se não for não é jornalista."

terça-feira, 24 de agosto de 2010

42

42 hoje. Mesma idade com que Elvis morreu. Se Elvis tivesse morrido, é óbvio. Nem novo, nem velho. Mais ou menos. No meio do caminho (espero). Experiente. Maduro. Homem feito. Pronto. Ok, vá lá, semi-pronto. Afinal, pronto mesmo nunca se está.


Vivi pra caramba. Me falta outro tanto. Mas estou quite. É. Estou quite com meu passado e quite com meus sonhos. Não consegui tudo o que queria, não sou tudo o que gostaria. Mas tô bem legal. Me perdôo. Me aceito. Me curto.

Fico mais reflexivo que contente em aniversários. Não gosto que cantem parabéns. Mas recebo de bom grado abraços, beijos, palavras. Fico meio sem graça e olha que é difícil eu ficar envergonhado. É sempre assim, todo ano. Sou virginiano. Mas não acredito em horóscopo. Tampouco em religiões. Não acredito em muita coisa. “Homem de pouca fé”, diz um amigo. Homem de muita sorte, digo eu. Sou afortunado. Bem humorado. Feliz.

E sigo tentando fazer da vida uma coletânea de alegrias, pequenas e grandes. E aproveito para dizer o quanto é bom viver ao lado de quem faz eu me sentir assim. Renovado.





ps.: Quer me dar um presente? Torne-se seguidor(a) deste mar de coisa. É só clicar ali, à direita, no cardume. Valeu!

domingo, 22 de agosto de 2010

A voz não engorda

Mariah Carey sempre esteve ali no tênue limite entre a gordura e gostosura, e em seus clipes ela dá a impressão de se achar a mais maravilhosa das mulheres. Usa todos aqueles clichês: caras & bocas, decotes para valorizar o peitão e roupas curtíssimas ou tão justas que não sei como ela consegue respirar. Mas ok, nós homens, somos assim mesmo: gostamos dessa sensualidade óbvia que tangencia o vulgar.


Somos fáceis e isso nos impressiona. Assim como é impressionante como as mulheres, de maneira geral, se incomodam e adoram falar mal dos corpos das outras. Li no portal Terra que na noite da última quinta-feira, 19/8, a jornalista da Rede Globo, Renata Capucci, usou o Twitter para detonar a cantora Mariah Carey que veio se apresentar na festa de Barretos, no interior de São Paulo. "O que é a Mariah Carey?????????????????? Que bucho!!!! Uma baleia, gente!!!", escreveu. Em seguida, completou: "Desculpem as exclamações, mas é que tomei um susto! Ela tá enooooome. Ainda bem que a voz não engorda."

A questão aqui não é se Mariah está ou não muito acima do peso. O que me causou estranheza foi uma jornalista, ainda que usando um canal de comunicação pessoal, pegar pesado com a personagem da pauta que ela foi cobrir. É ético, do ponto de vista profissional?

Se a Mariah está a fim de se tornar Aretha Franklin, deixa ela, pô.

Mariah em SP, em 19/8. Foto: Grizar Junior/AE

Humor livre

Condenável é a censura. E não há eufemismo para o que determina a lei eleitoral que proíbe emissoras de rádio e TV de usarem “trucagem, montagem ou outro recurso de áudio e vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação.”


A censura é torpe, deplorável, revoltante, nojenta, vergonhosa e ridícula. Praticamente os mesmos adjetivos aplicáveis a maior parte dos políticos de nosso País.

Não há tema ou tabu que não possa ser objeto de trabalho do humor. Seja política, seja religião, seja grupo social, seja doença, seja tragédia. A piada pode ser boa ou ruim. Engraçada ou idiota. Grosseira ou inteligente. De bom ou de mau gosto. Mas não pode ser vetada.

Hoje, acontece passeata na orla em Copacabana pelo humor sem censura. Os humoristas não podem perder a piada.

Ela e ele

A trilha sonora da minha noite de sábado foi Tok Tok Tok. Não, não foi ninguém batendo à porta insistentemente, mas sim o duo formado pela cantora nigeriana Tokunbo Akinro (linda) e o multi-instrumentista alemão Morten Klein. A banda existe desde 1998 e já lançou doze álbuns, mesmo número de anos em que eu estou atrasado em conhecê-los e em dar esta dica.


Passei a noite ouvindo ao álbum “She and He”, o penúltimo, de 2008. Tinha lido há tempos uma crítica favorável e ontem, fuçando prateleira, me deparei com o disco. Sou antigo, vocês sabem. Não vivo só de downloads. Sim, eu ainda compro CD (pirata, jamais!). Hoje, são cerca de 1.300 organizados na estante. Já foram muitos mais, mas em um dos divórcios, tivemos que dividir a coleção, já que ela também era aficionada por música. Posso lhes assegurar que dividir os discos é tarefa dolorosíssima, dentre as várias que uma separação envolve.

Enfim, vamos ao som do Tok Tok Tok. Misto de soul e de jazz, sensual, gostoso de ouvir. Foi bom pra mim.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Eles

Maria e João se casaram e tiveram um menino, o Filho A.
Poucos anos depois, Maria e João se separaram.
Mais adiante, Maria conheceu José, se casaram e nasceu outro menino, o Filho B.
Não tardou e Maria e José se separaram.
Numa reunião de pais e mestres na escola das crianças, João e José tiveram a oportunidade de conversar mais, já que antes só se cumprimentavam naqueles encontros breves entre atuais e ex-cônjuges no rodízio de filhos.
Num chopp na semana seguinte, descobriram muitas afinidades, além de falar mal da Maria.
João e José se casaram e criam juntos os meninos A e B.
Maria faz terapia.
A terapeuta faz cara de parede.

Johnnyzinho

Teacher:
“Can you tell me the name of 3 great Kings who have brought happiness & peace into people's lives?”


Student ("Johnnyzinho"):
“Smo-king, Drin-king and Fuc-king”.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O mundo vai ser nosso outra vez

O mundo vai ser nosso outra vez. Bem, na real, nunca foi, nem nunca será. The dream is over desde 1970.


Mas estive lá no primeiro Rock in Rio, em 1985, e estarei lá no final de setembro e início de outubro de 2011. Minha carreira de espectador shows começou em 1982, com Peter Frampton. Em seguida, Kiss no Maracanã em 1983 e depois alguns Rock in Rio, vários Hollywood Rock e dezenas de shows avulsos.

No clipe oficial do ainda empolgante tema do festival, causam estranheza as presenças de Sandra de Sá, Ivo Meirelles e Ivete Sangalo (com um dedinho ao estilo chacrete ao final do vídeo). Mas houve estranhos no ninho desde a primeira edição.

Entre os que seriam bem-vindos, senti falta de Herbert Vianna. Os Paralamas fizeram uma apresentação consagradora naquela época.

No mais, fiquemos com o uivo sexy da Pitty.

E com o sonho. Sempre com o sonho.

domingo, 15 de agosto de 2010

Original


Eu não devoraria Leonardo Di Caprio como um dia Caetano Veloso disse que faria. Mas admiro o trabalho do ator desde que, aos 19 anos, foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante interpretando um adolescente excepcional em “Gilbert Grape, o Aprendiz de Sonhos”. Isso foi bem antes de ele se tornar The King of The World na proa do “Titanic”.


Então, fui assistir a “A Origem” (“Inception”, no título original), o novo blockbuster em que ele atua. Resumindo toscamente, ele é um cara que entra no cérebro das pessoas durante os sonhos e rouba suas ideias. Só que desta vez, ao invés de extrair, ele tem que inserir uma ideia na cabeça do herdeiro de uma mega corporação.

E aí chegamos ao ponto. Não o final, mas o de partida. Sempre que assisto a filmes assim, fico tentando imaginar como funciona a cabeça do autor. Como é que surge a ideia de criar um roteiro cheio de nuances, em que as pessoas descem a quatro níveis dentro do subconsciente e em cada camada se travam lutas, conflitos e há revelações, habitantes, cenários, regras, mundos paralelos. Ufa, uma confusão do cacete. O que me fascina é como são os sujeitos e como eles criaram coisas malucas como, por exemplo, este “A Origem”, “Minority Report”, “Senhor dos Anéis”, “Matrix”, e outros tantos e tais. Enfim, quero saber a origem mesmo. Em vão.

Sobre o filme, endosso as palavras do jornalista Maurício Stycer (http://mauriciostycer.blog.uol.com.br/): “Não há o que entender ou deixar de entender em ‘A Origem’. É só diversão”. E, de fato, ele diverte.

Aliás, em relação à vida, também deveria ser assim, né não?

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Adiós, palomas

Li no Pelo Mundo, o blog dos correspondentes da Folha de S.Paulo, que “a Prefeitura de Barcelona contratou a morte de mais 64.700 pombas até o final do próximo ano. As aves são mortas asfixiadas por dióxido de carbono depois de serem capturadas por uma empresa especializada, com redes.


Um levantamento indicou que havia até 6.500 pombas por quilômetro quadrado em Barcelona, número considerado muito acima do recomendado por especialistas em questões sanitárias.

Funcionários da prefeitura criticam o hábito de alimentar as pombas na rua. Mas o método que escolheram para matar as aves é criticado por ambientalistas.”

O texto foi escrito por Roberto Dias e cerca de 10 horas após sua publicação havia 31 comentários, a maioria contrária ao extermínio dos pombos. Quer saber o que eu acho? Sou a favor, claro. Já escrevi aqui no Mar de Coisa duas vezes pró-columbicídio. E você, o que pensa?

Fonte: http://pelomundo.folha.blog.uol.com.br/arch2010-08-08_2010-08-14.html

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Sem GPS

A loura nos abordou numa esquina com acentuado sotaque nordestino:


- Brasileiros?

- Sim. Respondemos, eu já com certo receio de ter dado a resposta errada.

- Mas brasileiros mesmo? Insistiu ela como se houvesse gente de outras nacionalidades em “Brasiloche”. Mal há argentinos por lá.

- Sim. Repetimos.

- É que eu estava andando com meu noivo e me perdi dele...

- Hã?! Como assim?!

Não fizemos o teste do bafômetro, mas eram 11h da manhã e posso lhes assegurar que ela estava sóbria.

- Eu estava andando, olhando as coisas, me distraí e a gente se perdeu um do outro.

Minha mulher, boa samaritana, tentou ajudar.

- Você não sabe em que hotel você está?

- Não. Quer dizer, eu sei qual é, mas não sei o nome da rua, nem do hotel...

- Um ponto de referência, um restaurante talvez.

- Ah, tem. O fondue.

Até a santa da minha mulher já estava perdendo a paciência.

- Mas quase todos os restaurantes de Bariloche servem fondue. Você não sabe o nome?

- Não...

- Olha só, para não desencontrar de novo, é melhor você ficar por aqui, perto de onde vocês estavam. Ele também deve estar te procurando.

Na boa, se fosse eu o noivo, não estaria procurando, não. Estaria feliz da vida num táxi rumo ao aeroporto.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Conversas na mesa ao lado I


Minha mulher é jornalista e também não desliga nunca. O radar está sempre funcionando. E não é que nos falte assunto (felizmente não somos aqueles casais deprimentes que não trocam palavra durante o jantar), mas prestamos muita atenção em tudo que se desenrola ao redor. Inclusive conversas alheias, ô coisa feia. Fazemos as duas coisas ao mesmo tempo. Conversamos e prestamos atenção no entorno.

Então, inaugurando a série conversas na mesa ao lado, estávamos jantando um bom filé com vinho quando ouvimos que “ela é um dragão”.

Volta a fita: um casal janta com um guri de cerca de 10 anos. Filho dela, enteado dele. Ela, loura, olhos claros, bonita hoje, mas menos do que deve ter sido uns anos atrás. Estilo ex-modelo. Ele, marrento, metido a mais jovem do que é, pretenso estilo, contador de vantagem. Falou para o guri que tinha ficado com a Camila Pitanga no início da adolescência. Aqueles namoricos quase infantis.

A loura, despeitada, reagiu: “huum, mas eu acho ela um dragão”.

Primeira e óbvia conclusão: tem gente que não tem espelho em casa. Para chegar à segunda conclusão, precisei esperar que acabassem de jantar. Quando a loura se levantou, vi que, além de despeitada, ela era também desbundada.

Já a Camila Pitanga, linda, valha-me meu São Jorge...

sábado, 31 de julho de 2010

Curtas



Férias curtas é pleonasmo.


Tiro férias por cerca de dez dias e vou fazer o que mais gosto: viajar.

Na volta, a gente se encontra aqui no mar.

Sim, eu sei. Vou sentir saudades.

implicante

A chuva antes de cair



“Todos sorriem nas fotografias. É por isso que nunca devemos confiar nelas.” Foram estas frases, impressas na quarta capa que me fizeram comprar e ler “A chuva antes de cair”, romance do inglês Jonathan Coe (Editora Record, 2009 – título original: “The rain before it falls”, 2007).


(É mais ou menos o que acontece nas redes sociais, não é? Todos lindos, felizes, viajandões, baladeiros, seres humanos incríveis no Orkut e no Fakebook).

Bem, não foram só essas frases que me seduziram. A capa toda é bonita, misteriosa, instigante. E o título também é tudo isso, além de poético. Falemos do livro.

Na noite em que comete suicídio, a septuagenária Rosamond reúne 20 fotos e a partir da descrição dessas imagens ela grava em fitas cassete a história da família desde a década de 1940. Para sua sobrinha Gill fica a missão de entregar as fotos e as fitas para sua única herdeira: Imogen, a neta de uma prima, cega desde a infância e com quem Rosamond perdera o contato.

O livro prende, emociona, surpreende. Um dos melhores que li nos últimos tempos. Recomendo entusiasticamente.

Me diga, você consegue juntar 20 fotos que representem toda a sua vida? No mínimo, é um exercício interessante de ser feito.



“- Bem, eu gosto da chuva antes de cair.
(...)
- Veja, a chuva antes de cair não existe. Ela tem que cair, ou então não é chuva.
(...)
- Claro que não existe – ela disse – É por isso que é o meu tipo favorito. Mesmo as coisas que não são reais podem deixar a gente feliz, não podem?”

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Marlindo

Reef, o "marlindo"

Meu cachorro atrai mulheres. E fica com todas. Verdade, ele é bonito pacas e tem uma cara de “me leva pra casa” irresistível. Bonito como a “mãe” e treinado pelo “pai”, sabe usar malandramente o que a natureza lhe deu. Esbanja charme e canastrice para cima da mulherada.

Marley perde. Meu cachorro é Marlindo (que é como os cariocas de verdade pronunciam “mais lindo”). Hoje mesmo, uma dona fez o marido parar o carro, abriu a janela, chamou meu cachorro e o beijou ali mesmo na frente do homem traído.

Uma senhora que ainda pensa, mas não pratica mais essas coisas, não se conteve e gritou “Oi, lindão!”

“Bonito”, “Lindo”,  “Fofo” são adjetivos que ele cansa de ouvir quando desfila pelas ruas. E eu só vou acompanhando, segurando a coleira e tentando conter o assanhamento.

Outra noite, estava esperando minha mulher na porta da academia (Não sei se já lhes disse isso, mas da porta pra dentro eu não passo de jeito nenhum) quando veio uma morenaça exuberante exclamando “- Ai, que lindo! Que gato!”. Embora estivesse se dirigindo a um cachorro. No caso, o Reef, e não eu. Pois bem, a bonitona puxou um papo e no vai-e-vem da conversa mole, disse que só gostava de cachorro grande. E macho. E eu pensando o quanto eu gosto de duplos sentidos e de cachorras. Com ou sem pedigree.

Mais recentemente, duas moças conversavam e quando passamos, uma disse à outra: “Ai, dá uma vontade de passar a mão, né?” Meu ego inflou. As moças não se fizeram de rogadas e partiram pra cima, acariciando.

Só ao cachorro, evidentemente. Eu fiquei na minha, rabo entre as pernas. Afinal, eu só atraio malucos.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Malucos

Atraio malucos. Como ímã. Só gente doida. Há uns anos, um barbudão que circulava pela Tijuca com um cajado me parou para dizer que tinha sonhado comigo. Felizmente, não fora um sonho erótico. Mas tive que ouvir longamente suas histórias non-sense até conseguir me desvencilhar sem tomar uma cajadada na cabeça.


Outro dia, passei por uma mulher, ela na maior manguaça. Vira-se para mim e diz: “ah, a evolução da medicina...” Qualé, tia? Não fiz plástica nem uso botox!

Uma vez, um cara se aproximou para brincar com meu cachorro e começou a me contar sua longa trajetória de evolução espiritual. Lá pelas tantas, out of the blue, me avisa para tomar cuidado com meu fígado. E diz que não é exatamente ele quem está me dizendo isso, mas que “estão mandando essa mensagem” para ele me transmitir. Ok, obrigado. Alerta dado. Vou beber melhor.

Há algumas semanas, um cara na rua vizinha, começa a puxar assunto sobre cachorros, e do nada, avisa que a Megasena está acumulada em não sei quantos milhões. Opa, sinal dos deuses. Ou do louco. Por via das dúvidas, joguei. E se você está lendo este texto agora, é porque obviamente eu não ganhei na loteria.

Mais recentemente, eu estava na ante-sala do estúdio, esperando para fazer mais uns rabiscos na pele, quando outro cliente esquisitão e cheio de tatuagens, pensando alto, exclamou: “eu não sou desse planeta, eu não posso ser desse planeta”. Eu concordei, mas me mantive quieto, porque até mesmo concordar com ele podia ser arriscado.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Pilar de José

“Como foram os últimos momentos com ele? Saramago falava da morte, houve um ritual de despedida?

PILAR: Não se falava da morte, porque desde sempre soubemos, como todos, que esse é nosso destino. Não se falava nem se evitava o tema, ele simplesmente estava, com naturalidade, sem dramaticidade.

Não houve ritual de despedida, como não havia ritual de vida: houve cumplicidade ao longo de 24 anos de vida em comum. Ou talvez houvesse, sim, um ritual: viver cada dia como o primeiro e o último.

Com a intensidade e a alegria de escolher como singular e destacada toda ocasião.”



Trecho da entrevista concedida à jornalista Sandra Cohen, por Pilar Del Rio, viúva do escritor José Saramago, publicada em O Globo, em 25 7 2010.
 
 

domingo, 25 de julho de 2010

Você que se cuide

Uma família de Jersey passeia no Central Park. Enquanto o pai fotografa a mulher e o filho sorrindo, um galho cai sobre eles. O bebê de dez meses morre a mulher é hospitalizada. Aconteceu em junho.


No mesmo mês, um casal de americanos passeia por Copacabana quando um bueiro explode. A mulher foi arremessada a metros de distância e teve 80% do corpo queimado. Ela e o marido estão internados.

Qual a chance desses acidentes acontecerem? Estatisticamente, probabilidades mínimas. Mas a gente nasce num espirro, vive num sopro, morre num susto.

Qual a chance de eu morrer hoje? Passei dos 40, não sou hipertenso, nem cardíaco, nem diabético. Mas sou sedentário, bebo pequenas doses de álcool quase todos os dias e já fumei inveteradamente.

Tudo o que eu gosto teoricamente faz mal à saúde. A vida é injusta ao cobrar esse preço de quem gosta de beber, fumar, comer junkie food e prefere passar horas numa poltrona do que correndo numa esteira.

É uma pressão diária, incessante, para renunciar ao que gosto. Você, que é geração saúde, já imaginou que saco seria a sua vida se todos os dias você fosse bombardeado com a mensagem de que essa saladinha vai te matar? Olha, essa rúcula é cancerígena, viu? Ou que malhar faz mal? Viver com o pé no freio é muito chato.

No início de julho, morreu o jornalista e produtor musical Ezequiel Neves, um cara que sempre viveu sob o trinômio sexo, drogas e rock’n’roll. Há alguns anos, Zeca lutava contra câncer, enfisema e cirrose, todas doenças influenciadas pelo modo como escolheu viver. Ele morreu aos 74 anos. Não está de bom tamanho? Provavelmente, quando chegar lá, vou querer mais. Minha mãe já passou dessa idade e eu quero que ela ainda viva longamente.

Outro dia, numa conversa, um conhecido ficou fazendo a apologia do “você é o que você come”, e disse “meu corpo é um templo”. Argh! O meu corpo não é um templo. É um parque de diversões.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

É desse jeito

É como diz meu amigo: "Eu não estou só. E eu não sei fazer fortuna das coisas que penso."


terça-feira, 20 de julho de 2010

A ser melhor

Hoje é o Dia do Amigo. Uma babaquice, evidentemente. Ninguém ousou me enviar um power point cafona com fotos de pôr-do-sol, flores, cachoeiras, ao som de um pianinho. Ou de "You've got a friend", do James Taylor.

Por outro lado, uma antiga conhecida dos tempos em que éramos guias de turismo fez chegar às minhas mãos este belíssimo texto:

Para os amigos
"De entre todos, apenas vós tendes direito a ver-me fracassar.
Onde caio entre a vossa irônica doçura implacável,
convosco partilho o pão e o espaço
e a rapidez dos olhos sobre o que fica (sempre) para dar ou dizer.
E de vós me levanto e vos levo pesando e ardendo até onde me ajudais a ser melhor
ou talvez menos só."



Vítor Matos e Sá, in "Companhia Violenta"

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Onde é?


Domingo cinza, friozinho, dando uma volta no shopping à tarde. Programinha ordinário de tanta gente nesta nossa sociedade de consumo. Sorry, patrulha, mas acho um saco quem julga o consumo como algo moralmente incorreto. Eu sou consumista e adoro um shopping.


Então, estava eu lá felizmente à toa quando numa agência bancária em reforma, vi a porta de vidro toda adesivada em preto com esta singela frase porrada:

“Você está onde você quer estar?”

Não é do shopping que estamos falando, obviamente.

Eu fiquei pensando...

E você?

sábado, 17 de julho de 2010

O Jogador Sincero

Sem limites

Eu costumo dizer que só existem duas coisas ilimitadas no homem: a maldade e a burrice.

Esse crime hediondo no qual está envolvido o goleiro Bruno, lamentavelmente, atesta a afirmação.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O beijo dele




Todo mundo sabe, todo mundo viu que, depois de conquistar a Copa do Mundo, o goleiro da Espanha, Iker Casillas deu uma entrevista à jornalista Sara Carbonero. Que é também sua namorada. De surpresa, ao final da conversa, ele lhe deu um beijo na boca.


Teve gente que achou lindo, teve gente que achou romântico, teve mulher suspirando mundo afora. Conforme saiu na coluna do Joaquim Ferreira dos Santos, a antropóloga Miriam Goldenberg disse que o beijo emocionou “porque mostrou um outro tipo de masculinidade. É um cara que não tem medo de ser homem, de chorar e mostrar sua paixão. Ele é seguro e sabe que não vai ser menos macho por isso”.

Até aí tudo bem, também acho que homem chora e não deve ter medo de mostrar sua paixão. Mas eu não achei que o beijo mostra um novo tipo de masculinidade. Menos, né? Na verdade, achei o beijo inapropriado, quase desrespeitoso. Explico: tudo bem que o cara estava emocionado, porque não há glória maior para um atleta do que ser campeão do mundo, mas ele não precisava beijá-la diante das câmeras. Pela única razão de que ela estava lá trabalhando como jornalista. Ele desrespeitou o trabalho dela, cruzou uma fronteira entre pessoal e profissional. Imagine se ela, eufórica porque foi promovida a âncora no telejornal de maior audiência da TV espanhola invadisse o campo e tascasse um beijo no goleiro enquanto jogassem Real Madrid e Barcelona? Seria inadequado. O William Bonner não pode beijar a Fátima Bernardes na bancada do Jornal Nacional.

A manifestação eufórica dele foi um pouco egoísta, desconsiderou a posição dela naquele momento. Nesse sentido, pareceu mais um exemplo de velha masculinidade, na qual o trabalho do homem era visto como mais importante que o trabalho da mulher. Reconheço que devo dar uma aliviada, não ser tão rígido, porque na situação dele, eu também não estaria raciocinando direito.
Fora do ambiente profissional, que dêem todos os beijos do mundo. Porque, sim, o amor é lindo.

terça-feira, 13 de julho de 2010

A escolha de Paul


A escolha de Paul. Ou será de Sofia? 

Ouça alto





13 de julho, Dia Mundial do Rock.
O som é "Rock 'n'Roll ain`t noise pollution", do australiano AC/DC. Música do álbum "Back in Black", de 1980, o primeiro com o vocalista Brian Johnson, substituindo o finado Bon Scott. Quando adolescente, eu ouvia direto esse vinil. Minha mãe, sempre tão tolerante, às vezes não aguentava e batia na porta do quarto me pedindo para abaixar o volume dessa poluiçao sonora. E eu ainda cantava junto, batia cabeça e tocava air guitar. Minha mãe preferia quando eu escutava The Smiths ou Echo and The Bunnymen...

domingo, 11 de julho de 2010

O mar é de coisa

Praia Grande, Arraial do Cabo, 2008. Foto: Leandro Wirz


"Brigam Espanha e Holanda
Pelos direitos do mar
O mar é das gaivotas
Que nele sabem voar
O mar é das gaivotas
E de quem sabe navegar.


Brigam Espanha e Holanda
Pelos direitos do mar
Brigam Espanha e Holanda
Porque não sabem que o mar
É de quem o sabe amar. "

Leila Diniz


O mar é dessas coisas.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Rock 'n' Roll



“Eu nunca planejo nada. Essa é provavelmente a diferença entre mim e o Mick. Mick precisa saber o que vai fazer amanhã. Enquanto eu me limito a acordar e ver quem anda por perto. Mick é o Rock, eu sou o Roll (risos)”


Keith Richards, vulgo Roll, no documentário Exile on Main Street, dirigido por Stephen Kijak, e que mostra os bastidores da gravação do clássico álbum homônimo dos Rolling Stones, lançado em 1972, quando a banda se auto-exilou na França.