domingo, 18 de dezembro de 2011

A moto do Mauricinho

foto: Leandro Wirz


Recentemente, realizou-se o Rio Harley Days, evento que reúne proprietários e aficionados pelas motos, pela mítica e pelo estilo de vida da Harley-Davidson.

Na sexta-feira de manhã, dia da abertura do Encontro, encontrei um colega de trabalho vestido a caráter: calça e camisa jeans, bota de couro, cinto com fivela HD, jaqueta de couro preta e laranja com a marca estampada acintosamente nas costas. Um visual bem distante do seu costumeiro terno e gravata. Ele então me convidou para dar uma olhada em sua moto na garagem do escritório. Uma Heritage preta, ano 2010, em substituição à Fat Boy que possuía anteriormente. Montei, liguei, acelerei e ouvi o inconfundível ronco que só as Harleys têm.

Eu tenho alguns sonhos de consumo. Mas o único que me acompanha desde muito jovem e é o de ter uma Harley-Davidson. Ainda hei de satisfazê-lo.

No final da tarde, encontro o colega novamente na porta do prédio. Estava acompanhado de outros dois e todos excitados para irem ao evento. Minutos depois, pára o carro com motorista, abre a porta e eles entram.  Eu perguntei: “Ué e a moto? Vai ficar aqui na garagem?!”

Ele então responde: “É, lá não ia ter lugar para eu estacionar.” 

Definitivamente, deus não dá Harley à cobra.

Doutor Coragem

foto: operamundi/UOL
No domingo em que seu time de coração, o Corinthians, sagrou-se campeão brasileiro de 2011, morreu Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, o “Doutor” ou o “Magrão”, em decorrência de doenças hepáticas causadas pelo alcoolismo. Tinha 57 anos.
Para apresentar o ex-jogador, tomo emprestadas palavras de José Miguel Wisnik, extraídas da crônica “Sócrates Brasileiro”, publicada no jornal O Globo em 10.12.2011:

“Sócrates pertenceu a uma geração de jogadores brilhantes e excepcionalmente pensantes, sob a égide de Telê Santana, como Zico, Júnior e Falcão. Nada das numerologias regressivas e supersticiosas de Zagallo, do academicismo abstrato de Parreira, da cabeça dura de Dunga, nesse período feliz de uma derrota (Nota: a da Copa de 1982) que só honra a nossa memória. Entre eles, Sócrates é o que se jogou na vida, inconformado por ela não ser melhor, mas apaixonado por ela. A alegria e a liberdade eram para ele a prova dos nove para se jogar bem. Elas tinham a ver com a integridade de quem o faz. E, pare ele, eram inseparáveis dos prazeres que dão sentido a tudo. Um custo fatal, em forma da doença provocada pelo álcool, ele não negou em nenhum momento, sem a menor intenção de apagar seus próprios passos.”    

Graduado em medicina, cidadão politizado, um dos alicerces da então revolucionária Democracia Corintiana, Sócrates era um craque com a bola nos pés. Com corpo desproporcional (mais de 1,90m e pés tamanho 38), Sócrates, que gostava de beber e fumar, nunca teve fôlego nem físico de atleta. Compensava com inteligência, visão de jogo e habilidade, como nos toques precisos de calcanhar que ajudaram a torná-lo célebre, a desconcertar adversários e a driblar o tempo despendido para girar o corpo antes de tocar a bola. 

Este texto não pretende enaltecer suas qualidades como jogador de futebol e cidadão, embora reconhecê-lo também por isso fosse justo e necessário. Quero registrar sua coragem. Médico e esclarecido, sempre teve plena consciência dos malefícios causados pela bebida e pelo cigarro.  E aqui também não se trata de romancear o alcoolismo ou o tabagismo, sabidamente danosos à saúde.  Pouco antes de morrer, em entrevista ao canal SporTV, Sócrates declarou:  “Arrependimentos? De jeito nenhum! Eu vivi intensamente quase 60 anos. Como eu poderia viver careta?”

Sócrates morreu como viveu. Corajosamente. Sem apelar para lamúrias e conversões de última hora, tão comuns quando a coisa aperta e a morte se avizinha. Eu admiro gente assim.  Sócrates fez suas escolhas e não existem certas ou erradas. Cada escolha implica uma renúncia. Todas trazem ganhos e perdas. É muito mais nobre e digno do que, diante do medo, borrar-se nas calças e apelar de forma oportunista pra deus ou por outra chance. Arrepender-se pode ser tão fácil e covarde. Quando chegar a minha hora, eu também quero ter a hombridade de morrer em pé. Consciente do que fiz e das conseqüências das minhas escolhas.  Sou responsável até por minhas irresponsabilidades. “Os prazeres dão sentido a tudo.”

domingo, 9 de outubro de 2011

O homem da maçã

criação de Jonathan Mark em homengaem a Steve Jobs


A morte de Steve Jobs, o popstar da tecnologia, criador da Apple e da Pixar, causou comoção mundial. Considerado gênio por muitos que não temem banalizar o termo, Jobs deixou uma legião de órfãos e admiradores. Quase devotos. Morto, virou iGod.


Não entendo de tecnologia para sequer entrar no mérito se as alcunhas de gênio e de revolucionário eram merecidas ou exageradas. Sou um reles usuário de produtos da Apple. Gosto da beleza, da usabilidade, da facilidade, da interface, mas estou longe de utilizá-los em toda a sua potencialidade. O que penso é que Jobs detinha um talento absurdo para, sim, tecnologia, design e marketing. Ele foi capaz de fazer com que milhões de pessoas se perguntassem como puderam viver até então sem um produto Apple, o qual, antes de sua invenção, sequer imaginavam precisar. Gerou milhões de “escravos de Jobs”, como bem disse Arnaldo Bloch. Pessoas histéricas em filas gigantescas madrugadas afora em um exemplo extremo de consumismo frenético. Jobs foi, portanto, uma espécie de Eva contemporânea. Devo dizer que não vejo, moralmente, nada de errado nisso.

Jobs nunca foi – nem pretendeu ser – santo. Foi um homem que teve uma vida difícil pela rejeição familiar na infância, e depois pelo câncer que o destruiu lentamente. No entanto, foi extremamente bem sucedido nos negócios e ganhou rios de dinheiro. Era um personagem controverso e fascinante. Cheio de contradições. Vigoroso nos negócios. Nem sempre ético. Budista, mas explosivo por motivos fúteis. Intolerante como muitas vezes são as mentes mais brilhantes. Eu estava entre seus admiradores. Lamentei sua morte. Fiquei um pouco iSad, bem sacado nome de um trend topic nas redes sociais.

Jobs também se celebrizou pelas palavras. Foi ácido, doce, mordaz, irônico, sábio, inteligentíssimo. E são algumas dessas frases geniais ou nem tanto, que compartilho aqui.

Não sem antes reproduzir uma frase precisa do publicitário Marcos Bassini, no Facebook, logo após a morte de Jobs: “Desde a descoberta da lei da gravidade um gênio e uma maçã não eram tão importantes.”

"Eu trocaria toda a minha tecnologia por uma tarde com Sócrates"
( E eu, e não Jobs, indico a leitura de “Café da manhã com Sócrates”, de Robert Rowland Smith)

"Você quer passar o resto da sua vida vendendo água com açúcar ou você quer uma chance de mudar o mundo?"

"Ser o homem mais rico do cemitério não me importa... Ir para a cama à noite dizendo que fizemos algo maravilhoso... Isso é o que importa para mim"

"Esse tem sido um de meus mantras - foco e simplicidade. O simples pode ser mais difícil que o complexo: você tem de trabalhar duro para deixar o seu pensamento limpo e manter a simplicidade. Mas vale a pena no fim das contas porque, quando você chega lá, você pode mover montanhas"

"Seu tempo é limitado, então não o desperdice vivendo a vida de outra pessoa. Não fique preso pelo dogma - que é viver pelos resultados do que outras pessoas pensam. Não deixe o ruído da opinião dos outros afogar a sua voz interior. E o mais importante, tenha a coragem de seguir seu coração e sua intuição. Eles de alguma forma já sabem o que você realmente quer se tornar. Tudo o mais é secundário"

"Você não consegue ligar os pontos olhando em frente; você apenas consegue conectá-los olhando para trás. Então você tem que confiar que os pontos irão, de alguma forma, se conectar no futuro. Você tem de acreditar em algo - nas suas vísceras, no destino, na vida, no karma, que seja. Essa abordagem nunca me decepcionou e tem feito toda a diferença na minha vida"

"Lembrar que morrerei em breve é a ferramenta mais importante que encontrei para me ajudar a tomar as grandes decisões na vida. Porque quase tudo - todas as expectativas externas, todo o orgulho, todo o medo do constrangimento e da falha -, essas coisas simplesmente desabam na face da morte, deixando apenas o que realmente é importante. Lembrar que você vai morrer é a melhor forma que conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir o seu coração... Continue faminto. Continue tolo"





sábado, 8 de outubro de 2011

Eu não fui. E não vou mais.

Perdi o timing jornalístico e escrevo sobre coisas que aconteceram há uma ou duas semanas. Ou seja, velhíssimas. Como eu estou ficando, já que capitulei e comecei a usar óculos para vista cansada. Tornei-me assim, inapelavelmente, um tiozão.


Por outro lado, algum distanciamento temporal pode nos permitir maior lucidez ao comentar assuntos fora do calor da hora.

E o tema é Rock in Rio. Ou Pop in Rio, como preferem alguns detratores puristas inconformados com a miscelânea nem sempre de bom gosto da escalação das atrações. Eu mesmo continuo achando inconcebível um festival que leva esse nome ter Cláudia Leite e Ivete Sangalo na programação. A Cláudia pelo menos é gostosa, embora, reconheço, este também não seja um critério musical. “Rock” com Ivete é tão esquisito como o “in Rio” em Lisboa ou Madri.

Toda honra e toda glória ao Sr.Medina que com a megalomania do Rock in Rio inseriu o Brasil no circuito internacional. Minha carreira de espectador de shows começou em 1982, com Peter Frampton, no Maracanãzinho. No ano seguinte, Kiss no Maraca. Naquela época as opções não eram tantas. E na maioria das vezes o Brasil só entrava no roteiro de astros decadentes.

Por justificáveis razões mercadológicas, estranhos no ninho do Rock fazem parte da escalação desde o primeiro festival. Naquele longínquo 1985, havia Al Jarreau, o açucarado e insosso James Taylor, Elba Ramalho. Em outras edições, teve New Kids On The Block, A-ha e Carlinhos Brown entre outros disparates. Enfim, são exemplos de que o festival nunca foi exclusivo dos roqueiros.

Como lhes disse, envelheci. E não tenho mais saco para muitas coisas. A gente se torna mais seletivo. Eu não fui ao Rock in Rio deste ano. E desisti antes mesmo de conhecer a escalação, com o perrengue para comprar ingressos. Eu até (re)veria com prazer algumas das atrações, como Red Hot Chilli Peppers, Metallica, Capital Inicial, Skank, e até mesmo as deliciosas Shakira e Rihanna que fazem pop e pole dance com irrefutável apelo estético. Joss Stone é a mais linda de todas, ma já a vi descalça no palco, e prefiro ouvir seus discos.

Eu veria essas atrações se fossem shows isolados. Ter que ficar horas lá assistindo a um bando de porcarias lamentáveis como Ke$ha, para depois sim ver alguma coisa que preste, quando já morto de cansaço, não dá mais pra mim. Passei da idade. Arthur Dapieve, veterano roqueiro, escreveu que assistiria ao System of a Down se tivessem inventado o teletransporte. “Não curto mais interagir com cem mil pessoas. Só em pensar em me deslocar até a Barra Profunda noites a fio, dou tapinhas no tatame.” É por aí. Eu ainda interajo com muita gente. Fui ao U2 neste ano e irei ao Eric Clapton nesta semana e ao Pearl Jam no mês que vem. E iria todas as vezes que o recém finado R.E.M. retornasse ao Brasil. Mas, definitvamente, tem coisas que aos 43 você não encara mais, como se tivesse 18 anos.

Não tenho nenhuma nostalgia da noite dos metaleiros em 19/01/1985 (Whitesnake, Scorpions, Ozzy e AC/DC), quando os shows foram maravilhosos, mas a gente chafurdava na lama e no cheiro de bosta. Meu amigo Celso Cavalcanti (do blog olho de prosa), outro roqueiro das antigas, bem definiu a Cidade do Rock como uma Disneylândia do Rock, com sua cenografia artificial, sua assepsia, sua grama sintética bonitinha e sua população flutuante que pouco tinha a ver com o estilo musical que está na marca mais que no palco. Mesmo que o festival tenha sido bem organizado em sua logística.

Eu não fui e nem vou mais. Mas pelo Facebook (também sei ser moderninho) acompanhei meu primo Victor, 20 anos mais jovem, se divertir por lá.

Outra evidência de minha senilidade galopante está no fato de que mesmo pela TV eu não consegui assistir a nenhum dos últimos shows de cada noite ao vivo. Capotei, chapei, dormi e ronquei ao final do penúltimo show. Falando nisso, eram constrangedoras as atuações dos comentaristas do Multishow. Até mesmo Beto Lee, que entende de rock e apresenta bem outros programas, foi um fiasco na telinha.

O que ficou deste Rock in Rio foi o tragicômico bordão que a atriz Cristiane Torloni, incorporando o estilo de sua personagem em uma telenovela, disse em uma entrevista: “Hoje é dia de rock, bebê!”. Pois é, eu não sou um bebê. E não gosto de criancices.

Tendo a concordar mais com o Lobão que há muito anos, em trocadilho tão infame quanto acertado, batizou um disco seu de “O Rock errou”.



sábado, 10 de setembro de 2011

Temos nosso próprio tempo

Quando garoto, eu adorava assistir ao seriado “Túnel do Tempo”, no qual, a cada episódio, dois caras eram transportados aleatoriamente para momentos relevantes da História.


Fui assistir à comédia “O Homem do Futuro”, filme escrito e dirigido por Cláudio Torres e protagonizado por Wagner Moura e Alinne Moraes. Bem realizado, divertido, e, claro, bebe de outras fontes como o já clássico “Back to the future”.

Meu ponto não é crítica cinematográfica, mas sim o fato de que um filme tipo sessão da tarde me inspirou umas reflexões baratas.

A questão central é voltar ou não para dar uma photoshopada no passado e as implicações disso. É ficção (ainda), óbvio, mas se pudéssemos voltar ao passado, talvez fosse a morte do futuro, como assinala o personagem. Ficaríamos em um eterno retorno, querendo apagar, consertar, refazer, melhorar as coisas. E como estamos todos interligados, uma mexidinha que eu fizesse na minha vida mudaria também a de outras pessoas e vice-versa.

Claro que eu faria muitas coisas diferentes do que fiz. Mas se o fizesse eu seria um homem diferente do que sou hoje. E eu não quero isso. Sou causa e conseqüência de tudo que fiz. Gosto de quem sou. Estou quite com o meu passado, o que inclui pequenos erros e cagadas monumentais.

Outro ponto é que a vida não é editável. Ela é ao vivo. E é única. Então, o que você está fazendo com o seu tempo? É tão somente o presente que está em suas mãos.

O filme me trouxe alguma nostalgia na empolgação juvenil dos universitários em 1991 cantando, não por acaso, “Tempo perdido”, da Legião Urbana. Eu me graduei em 1990 e sempre ouvi muito Legião. Renato Russo foi um dos porta-vozes daquela geração. Quando jovens, acreditamos que temos todo o tempo do mundo.

A nostalgia soprou em mim outra vez na cena em que Alinne Moraes diz “eu te amo” ao Wagner Moura, com a vitalidade própria das paixões jovens (as paixões jovens, não necessariamente apaixonados jovens). Paixão não envelhece. Morre. Aqui cabe tomar emprestado o título do ótimo romance de Marçal Aquino: “Eu ouviria as piores notícias dos teus lindos lábios”. Ouvir um enfático “eu te amo” dos lábios da belíssima Alinne é benção que confere a toda paixão o status de verdade incontestável e longevidade possível.

É preciso saber viver

Não tenho vindo muito ao mar. Na verdade, nunca fui muito praiano. Prefiro a montanha. O clima é ameno e eu não gosto de calor. No alto, você tem a sensação de liberdade, e não há nada de que eu goste mais. No mar, você está inserido, está dentro, há a sensação de pertencimento. E eu não sou de mergulhar, exceto nas paixões. Sou do vento e não d’água.


A montanha também me parece mais solitária. Eu sou só. Intrinsicamente. E vez em quando gosto de me isolar, em fases anti-sociais. Música incidental: “... por que temer viver só, já que morremos sozinhos? ...” (Hojerizah)

Perguntaram-me se ando ausente daqui por que o mar está flat ou por que está em fúria, levantando lodo do fundo. Talvez seja esta segunda opção, embora eu quase preferisse a primeira.

Águas paradas são profundas. Eu sou?

É fato que estou escrevendo menos. E o pouco que tenho escrito é impublicável. Não estou a fim de brincar de querido diário em público. Carne exposta no mercado digital. Ninguém tem nada a ver com a vida de ninguém. Que cada um se ocupe da sua.

Eu ando com apetite pela vida e com preguiça da vida, alternadamente. Quero sempre mais e melhor. Mas estou mais cético, ácido, desesperançado.

É preciso coragem para vida. Coragem para os excessos e para as carências. Coragem para as escolhas e as renúncias. Coragem para o grandioso e para o cotidiano. Para a rotina e para o extraordinário.

É preciso coragem para o gozo e para a brochada. É preciso coragem para destruir (há destruições positivas) e para preservar. Coragem para dar valor e para abrir mão. É preciso coragem para ser verdadeiro, sem deixar de ser diplomático e gentil. Coragem para ser autêntico. Ser básico e múltiplo.

É preciso coragem para abrir o peito e meter os pés na vida. Hay que tener cujones. Mas uma amiga diz que somos uma geração de cuzões.

A vida não é curta, mas é rápida. Somos todos cada vez mais imediatistas e refratários aos sentimentos que não exalam a felicidade aparente dos anúncios. Frustração, tristeza, desilusão, injustiça, perda, fracasso também fazem parte do repertório da vida. “Fail. Try again. Fail better” (Samuel Beckett). O único caminho é o do aprendizado contínuo.

Bah, embora esteja sóbrio, estou filosófico pacas para uma manhã ensolarada. Será que dá pra simplificar? É só ir tocando em frente. Sem problematizar. ‘Bora?

domingo, 14 de agosto de 2011

Paternidade e pegabilidade

Angelina Jolie já declarou que nunca Brad Pitt é tão lindo como quando está cuidando dos filhos. Bem, eu duvido que a recíproca seja verdadeira, na opinião do Brad.


Outro dia li declaração da Angélica sobre o marido Mauricinho, digo Luciano, Huck: “Admiro a disposição, o carinho e a paixão com que ele vive a paternidade” .

Uma amiga me confidenciou que acha atraentes homens com seus filhos no supermercado.

No jornal mural da empresa, fizeram uma exposição de fotos de pais com seus filhos, em homenagem ao Dia dos Pais. E as mulheres paravam diante de cada foto, embevecidas e enternecidas.

Ouvi de várias mulheres que a paternidade torna os homens mais desejáveis. Elas se comovem com o cuidado e com o afeto que eles têm com a prole. Ou seja, a paternidade aumenta a pegabilidade. Neste sentido, estou em baixa. Três casamentos, zero filho. Talvez eu tenha que aprender a fazer paella e a tocar violão para compensar.

Há exceção: as namoradas que George Clooney enfileira sabem que, para ele, existem duas palavras proibidas: “casamento” e “crianças”. Nem por isso, sua pegabilidade anda em baixa.

Por outro lado, a maternidade muitas vezes torna as mulheres menos desejáveis. Elas se dedicam com tal afinco à missão que esquecem de continuarem sendo amantes. Essa queixa é muito recorrente entre os homens. Mas isso é assunto para outro texto. Hoje falamos de pais.

É Dia dos Pais. Para mim, sempre foi um dia de ausência, nos dois sentidos da árvore genealógica. Perdi meu pai quando eu era pequeno e dele não guardo nenhuma memória. Sou bem resolvido quanto à minha escolha de não ter filhos, o que não impede que de vez em quando eu sinta uma ponta de inveja - passageira e benigna - de alguns pais que encontram nos filhos motivo de justificado orgulho, e vice-versa. Para os meus amigos que são pais, um abraço e boa sorte.

A revista da entrevista

Nunca pensei que fosse dizer isso de verdade, e não apenas como justificativa cínica por comprar a revista, mas o melhor da Playboy com a Adriane Galisteu é mesmo a entrevista da Sandy.


Entrevista honesta, lúcida, ponderada, de uma mulher adulta e discreta sobre sua vida íntima aos 28 anos. Ela não tenta ser vista como devassa – a campanha que protagonizou para a cerveja homônima foi uma ironia – mas tenta desconstruir a mitologia de “a virgem do Brasil”.

Fez-se muito barulho por nada na mídia acerca de sua resposta sobre a possibilidade de se sentir prazer com o sexo anal. Considerando sua imagem recatada, a resposta poderia até servir como argumento para parceiras reticentes em explorar essa forma de sexo: “Pô, se até a Sandy, por que você não?”. Mas não é nada disso. Contextualizada, não há nada de mais na resposta, sobretudo quando descolada da tal mitologia falsa.

Além do mais, ninguém tem nada a ver com o sexo que cada um pratica. Ao invés de se importar com a vida alheia, se quiser falar sobre sexo anal, experimente introduzir o assunto em seu pudico lar. Como bem sugeriu o jornalista Zeca Camargo, em ótimo texto publicado em seu blog sobre a entrevista da cantora.
Sobre o ensaio fotográfico da Galisteu, bem, o cenário é lindo. A louríssima apresentadora não é nenhuma baranga, mas também não é de embasbacar.

A mignon Sandy, em seu 1,58 m, não é nenhuma opulência de gostosura, mas é campeã de pedidos dos leitores para fazer ensaios sensuais na Vip e na Playboy.

Na atual edição que circula nas bancas e nas rodas de comentários, eu preferia o inverso: ver um ensaio da Sandy nua e uma entrevista da Galisteu. Pensando melhor, nesse caso, eu preferiria uma edição sem entrevista. Afinal, sem hipocrisia, compramos a revista só mesmo por causa das garotas da capa.



terça-feira, 26 de julho de 2011

Um dia




Concluí a leitura de “Um dia”, de David Nicholls, romance que conta a vida de Emma Morley e Dexter Mayhew entre 1988 e 2007, sempre narrada no dia 15 de julho de cada ano.


Aproveitando todas as brechas na agenda levei dez dias para ler o livro. Mas a vontade era ler no tempo do título: um dia.

Desde o início tive a sensação de estar acompanhando uma novela – sem querer soar com um rabugento saudosista, uma novela da época em que as telenovelas eram irresistíveis. Terminei cada capítulo – ou cada ano – ansioso pelas cenas do próximo, curioso para saber o que viria a seguir e desfrutando cada página.

“Um dia” é envolvente, divertido, emocionante, sutilmente profundo. Agora é recomendar aos amigos e esperar pelo filme, que teve roteiro adaptado pelo próprio Nicholls.

E admito publicamente que chorei.

sábado, 23 de julho de 2011

And I go back to black

Em 6 de setembro de 2008, escrevi sobre uma exposição em Londres - "Forever 27"- em homenagem aos roqueiros que morreram precocemente nessa idade. Publiquei também um post intitulado "Será que Amy chega aos 27?", em que comentava a sua via crúcis pública.

Pois é, Amy chegou aos 27. E foi tudo. Hoje ela ratificou a maldição do 27 para a música e morreu de overdose. Uma perda enorme. Amy, integrava junto com Adele, Joss Stone e Duffy uma geração de cantoras britânicas que faz soul music da melhor qualidade neste início de século.

Não há muito o que escrever. Há muito o que lamentar. Era previsível, claro, mas quem há de condená-la? Só ela sabia a intensidade de sua dor. As drogas a corroeram. Pena mesmo que ela não tenha segurado o rojão que é esta vida.

Vamos apenas ouvi-la. Por muitos e muitos anos. Obrigado, Amy, pela boa música que você nos deu.




ps.: leiam também no blog Olho de Prosa, o que Celso Cavalcanti escreveu sobre Amy.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Mixnuts

Enquanto o avião ganhava altitude, o som da turbina parecia o de uma velha Harley-Davidson.


A lua cheia estava ainda baixa e me senti um romântico cosmonauta. Parecia que a aeronave voava em torno dela. Não sou astrônomo, nem vampiro ou lobisomem, e “eu não devia te dizer, mas essa lua, esse conhaque, botam a gente comovido como o diabo”(Drummond).

Bebi Sol, a cerveja, e comi o horroroso mixnuts que serviram a bordo. Saudade da barrinha de cereal da companhia aérea concorrente. Na telinha, passava um documentário suuuuuuper interessante sobre escargots.

Eu via as imagens sem áudio. Mostraram também haras e cavalos e havia uma placa numa baia com o nome da égua. Ursula, mesmo nome da minha tia, que, naturalmente, não é égua e foi, quando jovem, mulher muito bonita, de pela alva e olhos claros, suíça que se casou com iugoslavo e teve três filhos, um dos quais é tatuador na Califórnia. A vida é grande em possibilidades, o mundo é pequeno e cada vez menor. Nós podemos ser o que quisermos.

Depois, mergulhei na leitura de “Um dia”, de David Nicholls, que a Simone e a Iara tinham elogiado no Facebook, despertando minha curiosidade. Envolvente, não dá vontade de parar de ler. Às vezes me parece literatura um pouco feminina, mesmo sem saber exatamente o que isso significa. Não importa. O feminino é irresistível para mim.

Desembarco em Brasília com saudade de quem está noutra cidade.

Brasília sempre me emociona de um jeito estranho. Como se a vida estivesse à espreita, prestes a acontecer numa entrequadra. Gosto da cidade onde morei quase oito anos. Os mais intensos que vivi, para o bem e para o mal. Mas agora parece que não me encaixo mais aqui.

Qual é o meu lugar? O meu tempo é um dia.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

carta de mãe


o escritor português valter hugo mãe só usa letras minúsculas. mas escreveu esta belíssima e sensível carta maiúscula, que leu em sua participação na flip, em paraty, na semana passada, e que tomo a liberdade de reproduzir aqui.

carta de mãe, de filho, de tio, de amigo, de escritor, de fã. eu sou seu fã.



"quando eu tinha 8 anos veio morar para a casa ao lado da dos meus pais um casal de brasileiros com duas filhas moças. ao chegar, o casal ofereceu uma ambulância ao quartel de bombeiros da nossa vila e toda a vila se emocionou. foram os primeiros brasileiros que eu vi fora da tv, fora das novelas. eu e os meus amigos fomos ao quartel dos bombeiros apreciar a ambulância nova, bem pintada, que se mostrava a todos como prova bonita da bondade de alguém. o meu pai tinha um carro pequeno, velho, difícil de levar a família inteira dentro. a ambulância era enorme, um luxo, como se fosse para transportar doentes felizes. eu e os meus amigos ficamos estupefactamente felizes.

depois, algumas mulheres e alguns homens mais delicados reuniam-se diante da senhora e das moças brasileiras e faziam perguntas sobre as novelas. naquele tempo, passavam com muito atraso em relação ao brasil, e todos queriam saber avidamente quem casava com quem na gabriela.

a senhora e as suas duas filhas, porque sabiam o que ia acontecer nas novelas, eram aos olhos de todos como adivinhas, gente que via coisas do futuro, gente que viveu o futuro e que se juntou a nós para reviver o passado. por causa disto, eram mágicas e as pessoas queriam a opinião delas para cada decisão.

a minha mãe pediu à nova vizinha a receita para fazer pizza, porque ainda não havia pizzarias e só víamos nas revistas como deviam ser bonitos e saborosos aqueles círculos de pão e queijo coloridos pousados nas mesas. passámos a comer uma pizza de atum com muitas azeitonas pretas. ainda hoje peço nos restaurantes pizza de atum com a esperança de que seja exactamente igual à da minha infância, mas nunca é.

as moças brasileiras eram mais velhas do que eu e ficaram amigas das minhas irmãs. as minhas irmãs saíam com elas à rua inchadas de orgulho, porque as pessoas todas, sempre comovidas com a ambulância, fazia vénia e sorriam. havia gente que dizia que as moças brasileiras eram as mais belas de todas. elas eram, na verdade, sorridentes, e eu senti que também seriam muito felizes na nossa pequena vila.

um dia a minha imã mais velha fez anos e foi festejá-los com uma festa na garagem das brasileiras. na noite desse dia, ali pelas oito horas, uma outra menina, filha de um vizinho português, mostrou-me tudo. não foi a primeira vez, mas eu queria sempre ver, embora ela não quisesse sempre mostrar. um amigo meu surpreendeu-nos e quis ver também, mas a menina respondeu que não. ela disse que mostrava apenas a mim porque eu era amigo das brasileiras. entendi que as brasileiras eram como um toque de midas que me transformava num menino de ouro.

aos dezoito, aquele que é o meu amigo mais irmão chegou do brasil e ingressou na minha escola. eu instintivamente corri atrás dele. queria ser amigo dele como se fosse vital para mim. ele mostrou-me titãs e legião urbana. eu achava que o renato russo ia salvar a minha vida com aquela canção do tempo perdido. quando o renato russo morreu, chorei muito e passei só a chorar quando ouço o tempo perdido. eu não sei se a arte nos deve salvar, mas tenho a certeza de que pode conduzir ao melhor que há em nós, para que não nos desperdicemos na vida.

o alexandre, esse meu amigo brasileiro, mudou tudo em mim para melhor. adorava viajar de comboio com ele quando entalávamos as meias mal cheirosas nas janelas para que arejassem durante a marcha. nesse tempo, o alexandre ensinou-me a perder aquela vergonha que só atrapalha. porque os portugueses sempre foram meio envergonhados.

hoje, temos quase quarenta anos, ele casou com uma portuguesa e tem filhos. eu, não. fiquei para tio a escrever romances, e os romances tornaram-se fundamentais na minha vida, como a máquina de fazer espanhóis. sonhei sempre em vir ao brasil e vim várias vezes, faltava vir como escritor, publicado e recebido. pois aqui estou, a flip fez isso, não esquecerei nunca, sinto que fazem de mim um homem de ouro, agradeço a todos muito por isso."

- valter hugo mãe, 8 de julho de 2011, flip

sábado, 25 de junho de 2011

Paris é mais bonita na chuva.


Fitzgerald (Scott e Zelda), Hemingway, Cole Porter, Gertrude Stein, Picasso, Dalí, Man Ray, Buñuel, Toulouse-Lautrec, Degas, Gauguin..


E Gil Pender, claro. Gil Pender. Vai me dizer que não o conhece?!. Ele é o roteirista com aspirações literárias que viaja ao passado e convive com os geniais talentos listados no parágrafo acima no novo filme de Woody Allen, “Meia-noite em Paris”. E ainda há citações a Modigliani, Braque, Rodin e Camille Claudel.

O filme é uma delícia, leve, gostoso de assistir. Comédia romântica com o refinamento humorístico de Allen, em plena forma aos 76 anos.

A sedução se consuma logo no início da projeção. Ao som de uma bela trilha, a sequência de tomadas nem tão óbvias de uma das cidades mais bonitas, românticas e charmosas do mundo dá de dez em qualquer vídeo promocional que o bureau de turismo da capital francesa poderia produzir.

Paris é ainda mais bonita na chuva.



Outra excelente opção em cartaz é o francês legítimo “Potiche”, dirigido por François Ozon, com interpretações magistrais de Catherine Deneuve, Gérard Depardieu e Fabrice Luchini. Divertida comédia passada em 1977, em que a esposa troféu (Deneuve) assume a direção da fábrica de guarda-chuvas da família depois que o marido (Luchini) é sequestrado por operários grevistas e tem um infarto. Depardieu, político comunista, é um dos ex-amantes da esposa que aos poucos revela não ser exatamente um mero troféu. Retrato engraçado e ácido das relações profissionais, do casamento e do papel da mulher.

Cada um que case com quem quiser

O livre-pensar e a liberdade de expressão são direitos inalienáveis.


Depois de saborear as fotos da ex-BBB Maria qualquer coisa, com a roupa fetiche espartilho e cinta liga, de uma loura maravilhosa num Opalão anos 70 e da Lizzy Jagger (feia e sem a boca do pai famoso), de olhar o editorial de moda e a coleção de carros de Ralph Lauren, me dei ao trabalho de ler a entrevista do deputado Jair Bolsonaro à Playboy.

Discordo de tudo o que ele pensa e diz. Mas felizmente vivemos em uma democracia e ele tem o mesmo direito que eu de pensar e de se expressar. Ainda que eu considere absurdas e deploráveis suas ideias.

Sou hetero e totalmente gay friendly. A favor da união civil entre homossexuais e a favor do direito desses casais adotarem filhos. Homofobia é crime.

Esta semana um juiz de Goiânia anulou a união civil de um casal gay. A anulação foi revogada, na sequência, por uma desembargadora. Felizmente.

Claro que o juiz tem o direito de, pessoalmente, ser contrário a esse tipo de união. Mas seu ato foi desrespeitosa afronta ao Supremo Tribunal Federal que recentemente manifestou-se favoravelmente às uniões civis entre pessoas do mesmo sexo. O juiz, evangélico, foi homenageado pela bancada de parlamentares que compartilham a mesma religião no Congresso. Um juiz de primeira instância que afronta o Supremo, sem alçada para isso, deveria ser repreendido e não homenageado.

Claro que o juiz tem também o direito inalienável a professar a sua fé. Total liberdade de credo. Ele declarou que anulou a união civil porque “Deus me incomodou, me impingiu a decidir.” Isso é o que me incomoda. Ou seja, tomou uma decisão jurídica baseado em sua fé. Julgou-se investido de uma autoridade divina. E embaralhou religião e poder. O Estado é laico, seu juiz! E o mundo é gay.

Um amigo sabiamente diz: “se você fala com Deus, você está orando; se Deus fala com você, você é louco”.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Barrigas e dentes

Conversa informal, mesa do bar, pós-trabalho. Alguns, amigos há tempos. Outros, melhores amigos há dez minutos.


Papo vai, papo vem, ela diz, sem mais, que não gosta de homem sarado. Porque o homem sarado, de abdômen tanquinho, vai cobrar dela que seja sarada também. Muita pressão. Mulher sofre. Ela diz ao meu amigo que prefere um cara com uma barriguinha, para que eles possam tomar uma cervejinha e se divertirem juntos, sem neuras.

Eu mandei avisar que a minha barriga é maior que a do meu amigo. Em vão. Meu sagaz amigo é quem conquista a moça que não gosta de tanquinhos. Diz que o importante é a roupa lavada. E que é melhor usar a máquina.

Horas depois, o destino faz com que meu amigo Brastemp e a moça de franjinha que não gosta de sarados sentem-se lado a lado nas poltronas apertadas da TAM.

Chamaram-no para trocar de lugar. Ele, claro, recusou, usando um argumento racional. Tinha que ficar naquela poltrona porque vai que o avião cai e para identificá-lo, precisam saber que ele estava na poltrona definida no check-in.

Se encontrassem sua arcada dentária, estaria sorrindo.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Pegabilidade #2

Estávamos no Centro de Estudos Acadêmicos Avançados de Filosofia do Buteco, discutindo o já célebre conceito de pegabilidade, desenvolvido pelo meu amigo G, homônimo ao tal ponto.


Além das aulas de dança de salão e culinária, elencávamos o que mais poderia enriquecer nossos currículos e aumentar nosso valor de mercado. Homens e mulheres palpitavam e durante o brainstorm etílico foram saindo sugestões como:

- se vestir bem, de maneira casual e descolada (tira o terno, "que eu quero vc sério");

- fazer exercícios físicos, cuidar da saúde e da aparência (sem metrossexualidades);

- ter pouca barriga (nem precisa ser abdômen tanquinho tipo assim, o meu, onde dá pra contar os gominhos de chopp);

- aprender a tocar um instrumento musical (violão, sax ou gaita, na lista de preferências);

- gostar de fazer programas culturais de vez em quando (“velozes e furiosos” não conta);

- ter um cachorro (E é melhor se o seu for grande e esperto. Ah, poodle não é cachorro);

- usar a aliança no anelar esquerdo (é uma espécie de certificado de qualidade, produto já testado e aprovado. Por outro lado, a aliança no anelar direito é desabonadora. Quem ainda fica noivo hoje em dia, pelamordideus?!)

Dinheiro é hors-concours para aumentar a pegabilidade. É afrodisíaco natural. “Um amor e uma cabana” só funciona se a cabana for um bangalô sobre palafitas numa praia paradisíaca da Polinésia. Mesmo assim, só até bater a crise de abstinência de shopping.

E enquanto a gente ficava bobamente na teoria, na mesa em frente um casal ia ao que interessa e se pegava para valer. Como só se pegam em público aqueles que estão ficando juntos pela primeira, no máximo, segunda vez.

domingo, 29 de maio de 2011

Indefectível

Florença. Foto: Leandro Wirz


Ela ligou para contar a novidade. Uma colega havia sido demitida. Estava radiante. Não era uma colega. Era a colega. A calipígia. Indefectível. Sim, daquelas em que as mulheres procuram minuciosamente defeitos no vestiário da academia e não acham. (Os homens nem perdem tempo procurando)


- Mas por que ela foi mandada embora?

- Ora, porque o que tinha de bunda tinha de incompetência.

- Ninguém pode ser tão incompetente.

Os homens decretaram luto oficial de três dias.

As mulheres saíram para comemorar bebendo caipivodkas de kiwi.

domingo, 22 de maio de 2011

Sobre fones e poltronas

Subitamente, ela fechou o livro. Quase no mesmo instante, eu fiz o mesmo com o meu, “A segunda vez que te conheci”, de Marcelo Rubens Paiva. Na sequência, meu amigo fechou a revista de bordo. Eu olhei para a desconhecida ao meu lado, agora cúmplice, companheira, solidária, e disse: “Tá difícil.” Ela concordou.


Passou o comissário. Ela lhe pediu um fone de ouvido. “Dois”, disse meu amigo; “Três”, acrescentei. Na fileira ao lado, um casal também pediu o acessório. Naquele momento, alçado a item básico de sobrevivência.

Algumas poltronas atrás, uma criança pentelha (o que é praticamente uma redundância) se esgoelava no choro estridente. Mas não era o pior. Atrás de nós, um cara de Recife e duas garotas de João Pessoa, que haviam acabado de se conhecer, conversavam em volume alto, muito mais alto do que o tom educado que deve ser mantido em locais públicos. E vez ou outra uma delas atentava contra a concordância, “igual qual que nem” alguns livros que o Ministério de Educação compra para os estudantes da rede pública.

Eu sou um sujeito anti-social. Um velho rabugento. Mais rabugento quanto mais velho fico. Mas, santo Deus, por que algumas pessoas precisam conversar com quem está ao lado berrando como se estivessem a quilômetros de distância?! Por que, Deus meu, precisam falar tão alto?! E por que, carajo, precisam falar tanto??!!

Há virtude no silêncio.

Todos os passageiros em um raio de quatro fileiras de poltronas eram obrigados a participar da conversa daqueles jovens. E eu lhes asseguro que os três falaram ininterruptamente, sem pausas sequer para respirar durante todo o vôo entre Salvador e Rio. Eles seguiriam para Buenos Aires. Tive muita pena de quem iria se sentar naquele lugar, depois do meu desembarque no Galeão (Tom Jobim, coitado, não merece ter seu bom nome associado àquele aeroporto). Quando finalmente desci, exclamei apenas: “Puta que pariu!”. Alívio imenso.

Nenhum de nós conseguiu se concentrar na leitura. Era humanamente impossível com a incessante e ruidosa tagarelice dos vizinhos. A solução desesperada foi pedir os fones. A rádio da companhia aérea só funcionava em uma única estação, que, naquela noite, apresentava um especial da cantora Diana Krall, bela representante daquele jazzinho anódino e sem alma, típico de ante-sala de consultório.

Eu desejei poltronas ejetáveis.

domingo, 15 de maio de 2011

Novidade no blog desatualizado

Foto: Leandro Wirz


Eu vim ao mar na esperança de encontrar uma concha, uma estrela do mar caída do céu, um tesouro de pirata do século XVI, uma sereia. Enfim, só coisas prováveis. Como Atlântida. Ou um post novo. Esperança vã, óbvio, porque só quem posta aqui sou eu. E mesmo minha combalida memória tem consciência que há semanas não escrevo nada. Falta de inspiração, cansaço em excesso, sei lá, mil coisas.

Eu vim ao mar tirar as teias de aranha. E as garrafas pet e os sofás velhos aqui jogados.

Eu vim ao mar me enganar, aumentando os page views no contador do Google Analytics.

Eu vim ao mar em busca, quem sabe, de um comentário novo para algum texto antigo.

Mas achei uma surpresa. Eu não costumo gostar tanto assim de surpresas. Sou virginiano, lembram-se? E não acredito em astrologia. Mas esta surpresa, que é constante para si mesma, é boa pra mim. Cruzou o Atlântico e veio dar nesta praia, onde vivem e morrem textos desatualizados. Uma nova seguidora, a de número 80. Pode ser pouco para vocês, mas cada carinha nova que surge me alegra.

Não a conheço. Felizmente. Sem querer ofender nem à ela, nem a meus amigos. É que vibro mais quando sou lido por quem não me conhece. Assim, tenho certeza de que a motivação para integrar o heterogêneo e belo cardume que habita este mar, não se deve à gentileza da amizade.

A novidade quem traz é o leitor.

Obrigado, moça. Tô aqui na beira d’água, nesta ensolarada manhã de domingo. Eu vim ao mar contemplar, porque acredito quando o Nando Reis canta “a gente que enfrenta o mal, quando a gente fica em frente ao mar, a gente se sente melhor”.

sábado, 30 de abril de 2011

E que sejam felizes

Antes mesmo do casamento de William e Kate começar eu já não aguentava mais ouvir falar dele. Saturado por sua presença quase unânime na mídia (exceção foi o jornal The Guardian, que ofereceu uma versão alternativa do seu site na qual ignora solenemente qualquer notícia sobre o casamento e, assim, suscita questões interessantes sobre decisões editoriais).


Pelo Facebook, pelas ruas e no escritório, me deparei com centenas de comentários sobre o vestido da noiva e das convidadas, o cabelo, a tiara, a maquiagem, o buquê, os brincos e mais um longo etc de detalhes que, claro, só as mulheres reparam.

Honestamente, eu não estou lá muito interessado no casamento real da monarquia britânica. Acho também que as pessoas não estão interessadas em casamentos reais, mas sim em casamentos de fantasia. Contos de fada. Ilusões.

Vi mulheres maduras envolvidas pelo casamento a tal ponto que pareciam adolescentes românticas em quartos ainda cor de rosa. É impressionante como a educação que recebemos em casa, os filmes, os livros, as telenovelas, as canções, a publicidade, tudo isso nos catequiza em mitos e contos cinderelescos de “príncipe encantado”, “amor da minha vida”, “felizes para sempre”.

A única coisa que me interessou no casamento, além de algum eventual decote das convidadas, foi o Aston Martin azul conversível no qual o casal partiu para sua lua-de-mel. Carrinho vintage maneiríssimo.

Pensando bem, não são só as meninas que continuam as mesmas...


sexta-feira, 22 de abril de 2011

Cabeludo



O irreconhecível aí da foto soy yo. Há uns 20 e poucos anos. Quando eu ainda tinha cabelo, que chegou ao meio das costas, e a barba não era grisalha.


Quando era adolescente, assisti com dois amigos e uma prima ao filme “Hair”, lançado em 1979. Foi um desbunde, fiquei chapado, outra forma de ver o mundo. Comprei o vinil com a maravilhosa trilha e fita em VHS. Depois, devidamente atualizados para CD e DVD. Nas décadas seguintes, perdi as contas de quantas vezes assisti ao filme. Umas trinta, eu acho.

Flertei com o ideário e a estética hippies. Isso, claro, antes dos 20 anos e de ceder ao capitalismo, o pior sistema econômico que a humanidade desenvolveu, fora todos os outros. Virei até publicitário.

“Hair”, fiel retrato de uma época, é datado. E ingênuo. Fascinante apologia do pacifismo, do desapego, do amor livre e das drogas como forma de expansão da consciência. Todas possibilidades que deram errado. Continuamos guerreando feroz e estupidamente por aí, pelas razões econômicas e étnicas de sempre; consumimos freneticamente; longe de ser moralista, mas ninguém segurou a onda do amor livre, porque posse, ciúmes, desejos de exclusividade, ainda que equivocados, estão em todos nós, em maior ou menor grau, e a única relação com chance de dar certo no longo prazo tem sido a boa e velha relação a dois (a Aids nos anos 80 também foi um freio nessa suruba deliciosa); e as tais portas da percepção abertas pelas drogas são uma falácia: a violência e as perdas causadas pela então glamourizada cocaína yuppie nos anos 80 e 90 e, especialmente o crack, já neste século, destituíram as drogas de qualquer charme e as reduziram à sua real dimensão destrutiva.

Ainda assim, apesar de (ou justamente por) ser tão naif, “Hair” continua encantando em seu discurso dionisíaco, embalado pelas músicas compostas por MacDermot, com letras de Ragni e Rado.

O filme deriva, com adaptações, do musical encenado nos EUA e aqui mesmo no Brasil no iniciozinho dos anos 1970 em montagens polêmicas e marcantes.

Em 2009, passamos meu aniversário em Nova York e, sabedora da minha relação emocional com “Hair”, minha mulher me deu de presente os ingressos para assistirmos à montagem na Broadway. Eu rejuvenesci vinte anos, fiquei felicíssimo, vendo toda aquela celebração. “Hair” é isso, essencialmente, uma celebração. Obrigado, de novo.

Ontem, fomos assistir à elogiadíssima nova montagem brasileira, da dupla mestre dos musicais, Charles Muller e Cláudio Botelho. A peça está em cartaz há quase um ano e encerra temporada carioca no final deste mês. Não sei porque demorei tanto para assistir. Receio da sensação de déja vú, talvez. Conheço a história de trás para frente, sei diálogos de cor, sou capaz de cantar desafinadamente todas as músicas. Mas estava curioso para, pela primeira vez, ouvir as letras em português.

E, novamente, foi bom demais. “Hair” segue arrebatador, incólume ao tempo. Excelentes versões das letras, elenco, cenário, figurinos, banda ao vivo. Acho que, mesmo calvo, eu nunca vou perder meu cabelo.

domingo, 17 de abril de 2011

360 graus

Foto: Leandro Wirz


A semana foi pauleira e eu não tive tempo de escrever sobre o show do U2 no Morumbi, ao qual assisti no domingo passado.


Eu já havia assistido aos shows das turnês “Pop Mart”, no desorganizadíssimo show no Autódromo do Rio em 1998, e “Vertigo”, no próprio Morumbi, em São Paulo, 2006. U2 é sempre maravilhoso. Desta vez, na turnê 360º, não foi diferente. Entraram no palco, misto de aranha, catedral e nave espacial, ao som da execução mecânica de Space Oddity, de David Bowie, e abriram com “Even better than the real thing”. Daí até o fim, foi even better than the best dream.

Antes, tocou o Muse, em show quase heavy metal, muito bom, e com o mérito de ter começado britanicamente no horário marcado. Pontualidade é respeito. Muita gente no estádio não conhecia a banda e eles abriram mão de tocar sua versão do clássico “Can’t take my eyes off you”, de Frankie Valli, que poderia gerar identificação com o público. E, pena, não tocaram a ótima “Undisclosed desires”, talvez por terem priorizado um repertório mais pesado, para aquecer a massa para o U2.

Música de boa qualidade à parte, chamou a atenção o transtorno que o show causou na cidade. No hotel em que fiquei, no Ibirapuera, filas grandes para check-in de quem foi ao show no domingo e check-out de quem havia assistido no sábado. No entorno do estádio, com suas ruas estreitas, engarrafamento e estacionamento a R$ 140. Na rua. Com flanelinha.

À saída do estádio, taxistas cobravam entre R$ 100 e R$ 150 para levar ao hotel. Nada de taxímetro. Na segunda-feira, no aeroporto de Congonhas, as filas para o check-in e para o embarque eram imensas, dando voltas e voltas. Todos os paulistanos eram unânimes em dizer que tudo estava assim por causa do show.

Eu saí do Rio para encontrar amigos de Brasília e irmos juntos ao show. Perto de nós uma galera de Fortaleza e uma turma de Belo Horizonte. Todos em São Paulo só para o U2. Era de se esperar.

Então, como pode um evento para, no máximo, 90 mil pessoas, causar tanto transtorno na maior cidade do Brasil? Como temos a pretensão de organizar Copa do Mundo e Olimpíadas?! Se só com um show, fica evidente que não temos infraestrutura, nem serviços de qualidade a oferecer?

Outro ponto é o milagre da multiplicação dos ingressos. Eu fiquei pendurado na internet todas as madrugadas em que as vendas eram iniciadas. Não consegui comprar ingressos, que se esgotaram, invariavelmente em menos de duas horas. Foi assim com Madonna, com U2 e com Paul McCartney. No entanto, conforme se aproximam as datas dos shows, os ingressos reaparecem na mão de cambistas, empresas patrocinadoras e agências de turismo. Daí, eu consegui comprar.

Tenho certeza de que o Leandro Wirz ou José da Silva, cidadãos comuns, não vamos conseguir comprar ingressos para a Copa ou os Jogos Olímpicos. Afinal, além dos cambistas, patrocinadores e agências, teremos também os vereadores, deputados, senadores e ministros que irão querer suas cotas. E as celebridades, claro. Espero queimar a minha língua e, em 2014 e 16 , conseguir comprar um ingressozinho que seja. Não tenho problema em encarar fila ou passar a madrugada na internet tentando.

Finalmente pararam de dizer que o Brasil é o país do futuro. Até o Baminha, jogando pra plateia no Teatro Municipal do Rio, disse que somos o país do presente. Mas continuamos como no passado, um país deseducado e corrupto. Com infraestrutura vergonhosamente precária e obras atrasadas e superfaturadas. O Japão estará reconstruído antes que terminemos um único estádio para a Copa.

Este texto era sobre música e acabou político. O U2 também é assim.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Credo

“Respeite os seus desejos: o menor desejo de um homem deve ser atendido o mais depressa possível. Ouviram bem, meninas?


Melhor se arrepender de ter feito: diante de uma dúvida, não fazer é uma atitude do século XIX. Chama-se cautela. Uma atitude careta, por assim dizer.

Liberdade: não há nada que um homem deseje mais e não há nada de que ele tenha mais medo. Um homem é responsável por todos os seus atos.

Terminar tudo aquilo começa: é o segredo, que ninguém nos ouça, da produtividade e, portanto, da riqueza. Somente terminando o que você começou é que você vê se era uma merda ou uma maravilha.

Livre-se da culpa: ninguém pode te culpar de nada. De ser vagabundo, galinha, egoísta ou mal comportado. Você é inocente. Inocente por ausência de uma intenção culposa.

Viva cada dia como se fosse o último: não é ficar pensando na morte. É prezar a vida. Saber de todos os prazeres que ela pode dar e aproveitá-los gulosamente.

Tudo é sexo: esqueça a pornografia. É o mito de que é possível trepar indiferentemente. Se existe algo na vida que desperta sentimentos modificadores, isto é o sexo.

Um homem deve ser maior do que o seu sofrimento: o importante é amar a vida. O mundo é uma beleza. Se eu não tivesse o mundo dentro de mim, eu ficaria cego quando abrisse os olhos.”


Estes são os oito mandamentos do dramaturgo Domingos de Oliveira, publicados hoje no jornal O Globo.

Domingos é o meu pastor e nada me faltará.

sábado, 9 de abril de 2011

Então você quer ser escritor?


Há um par de semanas, me deparei com um livro inevitável: “Então você quer ser escritor?”, contos do paranaense Miguel Sanchez Neto. O título é desafiador, provocativo e, em uma rápida folheada, me certifico que não se trata de volume de dicas e fórmulas inúteis para quem quer brincar de ser escritor.


Sim, eu quero ser escritor. Respondo ao chamado do mundo. Ou do meu mundo. Todo escritor tem mais vida interior do que vida real. Eu quis ser cantor de rock, mas cresci e envelheci, sem a dignidade e a capacidade de continuar a ser ridículo. Eu quis ser ator, mas tive receio e preguiça. Bailarino era a quarta escolha, porque não há uso mais belo e consciente do corpo, mas nunca tive o menor talento para a dança. Sim, eu quero ser escritor, opção terceira em meu rol da infância. (Se é que é opção, visto que para muitos é maldição, um embrenhar-se na solidão).

Li, certa vez, em crônica de Arthur Dapieve, que todo homem de caráter tem suas obsessões. Sobre o caráter podem pairar dúvidas, mas entre minhas obsessões inequívocas estão árvores desfolhadas, galhos secos. Como se fosse sempre inverno ou estivesse no cerrado. Não bastasse o título, então, a capa do livro também era igualmente irrecusável, com a imagem de árvores que parecem emergir (ou estão semi-afogadas) em águas paradas. Peças mortas de resistência vã.

Aproveitei viagens a trabalho durante esta semana para ler no avião que, em alguns trechos, sacudiu não mais que um carro sobre o asfalto vergonhosamente esburacado do Rio.

O livro é de fatias da vida. Personagens sem nobreza, sem grandiosidade em recortes que tangenciam o banal, mas ocultam profundidade, como, talvez, as raízes das árvores da capa. Na maioria das vezes, sem grand finale.

Mas ao final do último conto, que dá título à coletânea, parecia que tinha levado um soco. Um soco bom, se é que isso é possível. Faltou ar e a primeira palavra que me ocorreu foi: estupendo.

Durante a leitura deste conto, pensei muito em um escritor, paranaense como o autor, que tem sido, há década e meia, uma referência para mim. Um homem que me ensinou muito sobre literatura e sobre a vida. Um grande amigo, um irmão mais velho, uma espécie de pai (no bom sentido da palavra). Valeu, Bwana!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Em vôo

Foto: Leandro Wirz


Tive um dia cansativo e por isso, na viagem de volta, quando passa o serviço de bordo, peço à aeromoça, loura de sorriso artificial e corpo de Barbie, apenas uma cerveja e amendoim. Não me queixo, para a maioria, é muito pior. Uma das moças à minha frente reclama com a colega que, em três anos, só conseguiu quinze dias de férias e que um mês inteiro longe do trabalho é completamente fora de questão. Outro diz ao amigo que está indo ao Rio às 16h e pretende voltar a São Paulo ainda no vôo das 21h.


Minha poltrona é a do corredor, sempre prefiro. Agora deram para cobrar adicional por aquelas cadeiras junto às saídas de emergência, que têm mais espaço para acomodar as pernas. A turma do marketing inventou que são assentos comfort. Com preço plus, claro.

O vôo tem muitos estrangeiros, dois grupos de franceses e americanos. Não vêm a passeio. Business trip. Um dos americanos diz, ironicamente: “we’re clearly in the wrong plane”, queixando-se do apertadíssimo espaço entre as poltronas.

Na outra fileira, um brucutu, com caneta e um monte de papéis no bolso da camisa de manga curta, ronca altíssimo. Ninguém merece. Minha mulher diz que às vezes faço o mesmo. Não acredito. Ela fala isso só quando está na TPM.

Ao meu lado um casal mais idoso e elegante. Ele começou a ler um livro, mas adormeceu logo. Ela folheia a Vogue. Ele veste calça cáqui, camisa azul clara com gravata marinho e blazer clássico, marinho com botões dourados. Ela, um terninho azul marinho, com lenço de seda no pescoço. Bolsa Gucci, bagagem de mão Louis Vuitton, tudo original. Ele pousa serenamente a mão sobre a perna dela. Quando acorda, ela carinhosamente lhe ajeita os cabelos brancos. Acho comovente a intimidade e o afeto entre eles, after all.

Isolada na primeira fileira viaja a veterana atriz a quem as rugas dignas inviabilizam novos papéis de protagonista em telenovelas. Ela conserva ares de quem não perde a majestade. Pura ilusão.

“Tripulação, preparar para o pouso”. Acabei a cerveja.

sábado, 2 de abril de 2011

Cão de capa

                                                                        Reef


Nosso cachorro tem pêlos longos. Daí que quando chove, a gente bota uma capa nele na hora de passear. Porque com qualquer tempo lá fora, ele tem que sair para as necessidades. Detesto frescuras em cachorros, fico envergonhado de sair com ele encapado, embora as mulheres digam “ai, que fofo!”. Referindo-se a ele, claro. E fofo é uma das piores coisas que uma mulher pode dizer de um homem.


A capa se justifica porque mesmo com todo amor e fidelidade canina (falo da minha para com ele), murrinha de cachorro molhado não dá. Enfim, não é a única ocasião em que me sinto meio ridículo, então vamos em frente, rua após rua.

Nessas noites chuvosas, o que me incomoda mesmo são os sem-teto preparando suas camas de papelão e usando cobertores de plástico e trapos. Certa vez, uma dessas pessoas disse-nos: “Pô, esse aí tá melhor que eu.”

Incomodou muito o fato de ele ter razão. Menos pela capa e mais pelo cão ter um lar amoroso e o cara da rua não.

domingo, 27 de março de 2011

sábado, 19 de março de 2011

Sendo homem

Hoje cedo, li a coluna de estreia de Reinaldo Moraes no caderno Ela. É, eu sempre começo a leitura do jornal de sábado pelo Ela. Moraes é autor do excelente “Pornopopéia”, que muitos apontam como um dos melhores livros brasileiros deste século. No jornal, ele substitui o ótimo e ácido João Ximenes Braga, que assinou o espaço quinzenalmente por catorze anos.


Em seu texto, Moraes anuncia-se um “Macho Light”, hetero que “tem seus momentos de delicadeza e relativa elegância visual que aprendeu com las chicas desde a mais tenra meninice”. Afirma que seu “zelo com a conduta e a estampa” era parte de seu “aprendizado civilizatório com as mulheres” e que vivia em busca da “menor oportunidade de abrir portas ou catar coisas caídas no chão pras mulheres, e também de tocá-las, nem que fosse só num cotovelo para atravessar a rua.”

Eu me enquadraria nesse perfil, mas não curto esse negócio de rótulos. Gosto do mundo masculino: futebol (Mengo!), cerveja & uísque, muscle-cars, Harley-Davidson, rock & blues, churrasco, filmes do Tarantino, pornografia e falar muita sacanagem e baixaria. E, claro, amo mulher sobre todas as coisas. Mais até do que algumas mulheres com quem me relacionei gostariam, considerando que nem sempre minhas paixões foram sequenciais, mas simultâneas. Desculpem aí pela sinceridade. Atire a primeira pedra quem nunca foi cafa.

Por outro lado, me identifico tanto quanto com algumas coisas comumente associadas ao gosto feminino: moda, shopping, decoração, arquitetura, poesia, arte, comédias românticas, para ficar em alguns exemplos. Até discuto a relação de vez em quando. Bem, raramente. E com objetividade.

O fato é que, desde pequeno, sempre preferi estar nas rodas de conversa femininas do que nas do Clube do Bolinha. Ouvindo-as, aprendi. O que só aumentou meu fascínio pelo universo das mulheres.

Acredito que não há combinação mais poderosa do que força e delicadeza. Gentileza, elegância e sensibilidade podem – e devem – se equilibrar com a indispensável virilidade.

Macho classic, light, diet ou zero, eu não quero nem saber. Só quero continuar sendo simplesmente homem. Imperfeito assim.

domingo, 13 de março de 2011

Eca!

Palitar os dentes para remover aquele fiapo de carne ou couve que teimou em fixar residência na sua boca é um troço horrível. Só deve ser feito se não houver fio dental disponível em um raio de 10 km e mesmo assim na solidão do banheiro. Aliás, tudo o que se faz em um banheiro deve ser feito na mais absoluta solidão. Portas fechadas, sempre. Intimidade demais é uma merda. Vamos combinar que vê-la enxaguando a boca com Listerine não é a mais estimulante preliminar para uma sessão de sexo oral, por exemplo.


Dia desses, eu estava sob marquise do prédio onde trabalho, pitando um cigarrinho, quando passou um sujeito palitando. Os ouvidos.

Isso mesmo. Nada de cotonete. Palito de dente orelha adentro. Sem medo de furar os tímpanos.

A cena bizarra me fez lembrar – sem traço de saudade – de um colega de trabalho que tive no início da carreira, em fins dos anos 1980. Era um senhor bigodudo que ainda usava gel no cabelo. Ele tinha o hábito de usar a tampa da caneta Bic para dar aquela coçadinha nos ouvidos, enquanto limpava a garganta ruidosamente como se tivesse um roto-rooter embutido. Alternava com o uso do mindinho. Ato contínuo, usava a tampa para eliminar resíduos sob a unha comprida. Fazia isso sem a menor cerimônia, na frente de todos no escritório.

Ele tinha outro hábito desagradável. Colecionava artefatos orgânicos retirados das amplas narinas sob o tampo da mesa ou o assento da cadeira do escritório. A gente o chamava de Zé Meleca, alcunha que ele fazia jus por merecer. E acho até que se orgulhava.

domingo, 6 de março de 2011

Até a Sandy

Sandy deu o que falar nesta semana. O que falar, eu disse. A cantora, ex-ela & Júnior, é a nova estrela da campanha da cervejaria Devassa, em substituição a realmente devassa Paris Hilton, gelada demais até mesmo para uma cerveja. Em propaganda, vale a máxima de Oscar Wilde: “Não importa que falem mal, desde que falem de mim”.


Sandy, como todos sabem, tem sua imagem atrelada à castidade e a um bom-mocismo que beira a chatice. Tem o rosto bonito, mas aquela cara de que a qualquer momento pode se internar em um convento. O mote da campanha é “todo mundo tem um lado devassa.” No caso, da Sandy, é difícil de acreditar. Mas tudo bem, o jogo é este mesmo. O antagonismo entre sua imagem e a da cerveja. Achei a escolha acertada e gosto da campanha. Ruim seria se todo mundo tivesse um lado Sandy santa.

Putas e santas habitam o imaginário masculino. As putas para satisfazer nossos desejos e fantasias. As santas, porque queremos corrompê-las. Lembre-se do clássico da literatura “As ligações perigosas”, de Choderlos de Laclos.

Logo pipocaram na internet entrevistas anteriores à campanha, em que Sandy declara não gostar de cerveja e afirma só gostar “de bebida docinha.” Ah, que mimo. E qual o problema dela só beber cerveja mediante cachê? Eu também só beberia Devassa se me pagassem. Além disso, alguém acredita que a Xuxa só usava produtos Monange e a Tônia Carrero, Leite de Aveia Davene? Hellooouu!

No primeiro filme da campanha, Sandy sobe ao palco do bar, ameaça um strip e uma dancinha com a cadeira. No segundo filme, Sandy diz o texto com propriedade, é convincente. Mas aí ela dança “Conga”(da saudosa Gretchen, precursora das popozudas hipertrofiadas) sobre o balcão de um bar. Bem, sobre sua performance, ela é bem humorada, mas posso dizer que a minha querida vovozinha faria algo mais sensual...

Sandy também estará no camarote da cervejaria durante o Carnaval carioca na Marquês de Sapucaí. Pelo jeito, será um calmarote.






ps.: se quiser ler sobre a campanha da Devassa com a Paris Hilton, clique aqui
http://mardecoisa.blogspot.com/2010/02/devassidao-gelada.html  e  http://mardecoisa.blogspot.com/2010/03/puritana.html

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Bravura do cisne



Bailarino é uma das profissões que eu gostaria de ter tido. E gostar de balé foi um dos motivos pelos quais fui assistir a Cisne Negro. Mas não é um filme sobre balé. A dança é pretexto e contexto para falar de emoções, limites, disciplina, obsessão, repressão, estímulo, competição, coaching, frustração, moral, sexo, transformação, amadurecimento.


Cisne Negro é sufocante, surpreendente, soturno, arrebatador e incomodativo. Ou seja, é muito bom. Fica difícil distinguir exatamente realidade e o que é o turbilhão de pensamentos e sentimentos que consomem a protagonista. Há exagero na escatologia de algumas cenas, desnecessárias. Por outro lado, há momentos sublimes, como a cena em que Natalie Portman se permite e dança o lado negro do cisne de forma selvagem e apaixonante. Sou homem e não fujo à regra. Linda é também a cena lésbica entre Natalie e a sensualíssima Mila Kunis (e lingus - já pedindo perdão pelo trocadilho que li em uma revista, e não pude evitar reproduzir).

Vi o filme como uma ode à emoção, ao deixar-se levar por elas. A perfeição requer a imperfeição, a impureza. Ao final, cabem reflexões e a indagação provocadora que meu amigo psicanalista Marcus Quintaes fez via Facebook: ‎"Quem em você se chama Cisne Negro"?

(...silêncio...)

(pigarro) Mudando de assunto, em Bravura Indômita, remake do clássico western em que John Wayne interpretou o papel que agora Jeff Bridges defende, também é um bom filme. Mas confesso que não consegui enxergar méritos para as dez indicações ao Oscar que recebeu.

Já Natalie Portman é barbada para levar para casa a estatueta de melhor atriz na premiação desta noite.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Homem de visão

Copacabana é um bairro chacoalhado de turistas, todos sabem. Ainda mais nesta época do ano quando multidões chegam em busca de belas paisagens, diversão, sexo e desse sol hostil.


Eu caminhava pela orla tentando impressionar nórdicas desavisadas com minha camiseta autopromocional, onde se lê “Cariocas do it better”. Não que eu venda, alugue ou faça leasing do meu corpo, até porque já estou meio gasto. Mas, enfim, ainda dou minhas cacetadas, como se diz em linguagem chula.

Até que me deparei com um senhor sentado com uma placa pendurada no peito, onde estava escrito em português-english: “I’m blind and diabetic. Please help me”. Ou seja, esmolante bilíngue, usando o indefectível apelo emocional. Aceita real, dólar, euro, peso, yen e em breve, muito em breve, presumo que Visa, Mastercard e Amex.

É dele o prêmio Marketing Best.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O restaurador

Eu estava na esquina com meu cachorro, quando ele parou de procurar algo no lixo e puxou conversa:


“ – Esse cachorro é aquele que ajuda cego? Outro dia eu estava na Central, onde fui vender latinha, e achei uma filhote de Yorkshire pequeninha, ela estava comendo as coisas do chão, do lixo. Eu catei ela, mas , no momento, não estou em condições de criar. Eu dei banho nela, levei ao veterinário, gastei uma grana. Daí eu estava andando no Largo do Machado e uma senhora olhou para a cachorrinha, gostou dela. Eu dei pra ela. Ela perguntou como se chamava. Eu dei o nome de Tarsila. Sabe por quê, Tarsila? Tarsila do Amaral, a pintora. Eu sou pintor, sou restaurador de igrejas. Ela perguntou porque eu estou nessa vida. Eu falei que é coisa de família, briga por dinheiro. Meu irmão é dono de cooperativa de vans, eu quero que ele cuide dos táxis e das vans e fique lá com o dinheiro dele. Eu sou dependente químico, eu sou alcoólatra. Estou em tratamento em uma clínica lá em Botafogo. Outro dia eu fui ao convento, onde tem quadro meu, onde restaurei a igreja. A irmã me chamou para entrar, eu falei que só vou entrar quando estiver bom. Um dia você vai escutar toda a minha história. Prazer em te conhecer. As pessoas, na rua, às vezes a gente não dá nada por elas.”

O cachorro ajuda este cego que sou. O homem me restaura.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

lisergia de sexta

quatro pessoas falando ao mesmo tempo agora:



- minha filha me perguntou se pode usar uma fantasia de barriga de fora no Carnaval. Eu disse que não fica bem, porque ela está com uma barriguinha. Fica o dia inteiro no computador.

- que maldade, ela tem vinte anos.

- ela disse: "mas, mãe, eu só peso cinqüenta e dois quilos".

- e quanto ela tem de altura?

-1,63m.

- então, ela está ótima! eu não acredito que ela tenha barriguinha.

- eu não acredito que eu tenha barriga.

- mas você é homem, sua barriguinha é charme.

- ah, me poupe, né? a gente tem barriga e chamam a gente de bucho. homem tem barriga e é charme?!

- a gente depila, menstrua, tem que ter o corpo perfeito, a vida é muito injusta com as mulheres.

- na próxima encarnação, eu quero vir planta.

- panda?! panda não, eles quase não trepam, são praticamente assexuados, não se interessam pela coisa.

- os pandas devem ser cocoons.



eu juro que estávamos todos sóbrios. é que sextas-feiras são, por natureza, dias lisérgicos.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Todo mundo espera

Ela veste short jeans e regata branca. O que quase sempre é bem sexy. Bolsa paraguaia pequena Luiz Vittão. Cinto fino com estampa de oncinha. Que se repete no sutiã parcialmente revelado pela transparência.


É baixa. Bem baixinha. Mas disfarça com saltos altos que servem também para empinar a bunda. Tem o corpo bem feito. Está inteira. Quarenta e vários, talvez mais. Cabelos pintados de louro, unhas com esmalte vermelho.

Está à minha frente na fila do caixa de uma popular loja de departamentos. Vai pagar em dinheiro o único item de sua compra.

R$ 7,90. Calcinha fio dental preta.

Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Amor & Outras Drogas


Fui assistir a “Amor & Outras Drogas” (título ótimo) vestindo uma camiseta com a minha lista de favoritas: alcohol, nicotine, caffeine. Amor é hors-concours.


É uma história de amor bacana entre duas pessoas que evitavam relacionamentos mais sérios e preferiam sexo casual. Ela, porque tinha Parkinson precoce e a doença lhe anunciava dias sombrios. Ela tinha consciência de que a doença degenerativa iria gradualmente impossibilitar uma vida satisfatória junto ao companheiro. Ele, porque era uma daqueles sujeitos que pega uma, pega geral. O cara é expert na matéria. No filme, prestem atenção na estratégia do nome errado.

O final é previsível, mas quem disse que final feliz é ruim? Além do mais, às vezes acontece de a gente esbarrar em alguém na vida que muda nossa trajetória. Aconteceu comigo há pouco mais de cinco anos. Mais precisamente em dezembro de 2005, num chopp despretensioso em Laranjeiras. Mas isso é outra história.

Jake Gyllenhaal (de “O segredo de Brokeback Mountain”) e Anne Hathaway (de “O diabo veste Prada”) defendem bem seus papéis, há química entre o casal. 

Para além do romance, há um retrato interessante da indústria farmacêutica (o personagem de Jake é representante comercial) em sua inescrupulosa busca para persuadir, raramente de forma ética, os médicos a prescreverem os remédios que cada laboratório desenvolveu. O filme foca nos anti-depressivos e, depois, na explosão de vendas e lucros provocada pela milagrosa pílula azul que resolve o “mais sério” problema masculino.

Por sinal, numa dessas festinhas sexualmente animadas para agradar médicos, um deles relata o desencanto com a profissão: como atender bem, se atende a 50 pacientes por dia? Os planos de saúde forçando o jogo para pagar cada vez menos por consulta ou procedimento. Os laboratórios oferecendo “mimos” para que eles receitem o remédio que querem. Os escritórios de advocacia sobre eles como abutres esperando para processá-los ao primeiro erro médico. Não é para sentir pena do doutor, não, mas ele é bem realista.

Enfim, “Amor & Outras Drogas” não é bad trip. Dá uma onda legal. E com pipoca e Coca-cola não causa ressaca no dia seguinte.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Movimento

Sexta à tarde no escritório, calor da porra. Do nada, o L. disse que o que move o mundo é a preguiça. Defendeu sua tese aparentemente contraditória, argumentando que o homem investe algum tempo em descobrir uma forma de não mais fazer aquela coisa, porque tem preguiça de fazê-la. Exemplos: inventou o santo controle remoto para não ter que levantar para mudar o canal da TV, o são micro-ondas para não ter tanto trabalho na hora de assar, cozinhar ou esquentar um comida. E para fazer pipoca sem muito esforço. Voltando na história, o homem inventou a roda porque tinha preguiça de andar tanto.


Sem preguiça alguma, a polêmica se instalou.  A. levantou uma hipótese brutal ao dizer que o que move o mundo é a guerra. Que todas as tecnologias e progressos a que o homem chegou derivam de pesquisas com fins bélicos.

A M. disse que o que move o mundo é a culpa. É por ela que as mães chegam em casa depois de um dia inteiro de trabalho estressante cheias de paciência com os filhos, ao invés de lhes darem uns tabefes pela bagunça e pelas travessuras. Sem parecer se importar com a razão pela qual o cônjuge estaria se sentindo culpado, M. disse que não há nada melhor que um marido culpado, porque ele satisfaz todas as vontades de sua mulher. E a recíproca é verdadeira, se for a mulher quem estiver costurando para fora.

Donde se pode inferir que se o motivo da culpa for um caso extraconjugal, amantes melhoram um casamento ao invés de destruí-lo. A C. disse que essa conclusão faz sentido. E ela também defendeu a culpa: as mulheres malham na hora do almoço porque se sentem culpadas pela Coca-Cola e pelo chocolate que comeram vorazmente na TPM.

Eu pensei em dinheiro. Pensei em sexo. Porque todo o resto é atividade-meio. Cogitei falar que é o amor. Mas iria me sentir culpado se dissesse essa inverdade, por mais romântica que seja.

Preferi simplificar. O que move o mundo é o movimento de rotação.

111

Ouço na praia, e confirmo lendo o jornal, que um matemático "tarado" descobriu que, em 2011, se qualquer pessoa somar a idade que fará este ano com os dois últimos algarismos do ano de seu nascimento, o resultado será invariavelmente 111.


No meu caso, farei 43 em agosto. Nasci em 68. A soma dá...

Sabem o que isso significa?

Porra nenhuma. É apenas um fato curioso.

Não se preocupem. O mundo só vai acabar em 2012.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Longo prazo de dias curtos

Foto: Leandro Wirz


Eu poupo livros. É uma poupança forçada, é verdade. Ou melhor, é um fundo de previdência. Espero sacá-los da estante quando me aposentar. Creio, realista, que só depois que eu pendurar as chuteiras no trabalho terei tempo para ler todos os volumes que se acumulam. Por certo, na companhia dos livros, meus dias de il dolce far niente não serão tediosos.


Visitando as prateleiras, constato que já há mais livros por ler do que lidos. O que desconheço é muito mais vasto do que aquilo que conheço. E eu continuo comprando aqueles que me interessam e recebendo presentes generosos. Claro que leio alguns, mas é como enxugar gelo ou empurrar pedra morro acima.

Não é o tipo de poupança que tranquiliza à medida que o saldo aumenta. Ao contrário, gera angústia. Não gosto de postergar a vida. Ela é imprevisível. Mas os dias, esses sim, são curtos.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Escolha de Sofia

Eu não assisto a novelas. Mesmo. E não é por pedantismo pseudo-intelectual, não. As telenovelas são um gênero legítimo, com tramas e diálogos desenvolvidos por escritores talentosos como Gilberto Braga, Silvio de Abreu, Manoel Carlos (o “garoto” do Leblon), Benedito Ruy Barbosa, Gloria Perez, e o finado Cassiano Gabus Mendes, entre outros.


Assisti a algumas no passado, acho que “O Clone” foi a última. Faz tanto tempo que ela já foi até reprisada. Hoje, não tenho nem tempo, nem interesse, nem saco.

Mas eu leio notícias e vejo propaganda de maneira geral. Então sei que hoje estréia uma novela chamada “Insensato Coração”. E que o triângulo amoroso é formado pelo ator felizardo Eriberto Leão e pelas atrizes Fernanda Machado e Paola Oliveira.

Neste caso específico, não há outra escolha sensata que não seja ficar com as duas ao mesmo tempo agora.







ps 1.: apesar desse forte duplo apelo, não, não vou acompanhar a novela.

ps 2.: em tempo e para registro: nem por dinheiro, nem por gostosas, eu assisto ao Bíceps Bundas Boçais.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Dissonância cognitiva

                                                                           Reef 


Quem acompanha o blog, sabe que temos um Golden Retriever. E o bicho é grande. Parrudo, ótimo pedigree, porte de campeão. Modéstia às favas.



Por natureza e temperamento, o Reef é super dócil, cachorro estilo corrimão ou maçaneta, em que todo mundo passa a mão. Mas ele é anti-social com outros machos.


Estávamos no elevador quando uma moradora abriu a porta e seu cachorro, um desses tipo salsicha, que já foi “garoto-propaganda” da marca de amortecedores Cofap, latiu bravamente e, sem noção, ameaçou partir para cima.


Temi que, em uma briga, ele pudesse matar o Reef. Engasgado. Mas nosso cachorro ficou impassível, apenas olhando o miúdo, provavelmente “pensando”: “Tá de sacanagem, né?”


Enquanto isso, a dona do salsicha – uma vizinha argentina (não sei porque, mas acho que isso tem a ver) – gritava com sotaque forte buscando conter a ferinha: “Apolo! Apolo!”


- “Apolo?!”. E pensei como o Reef.

sábado, 1 de janeiro de 2011

um do um de um um

Foto: Tereza Wirz



"Para ser grande, sê inteiro: nada
teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
brilha, porque alta vive."

Fernando Pessoa
 
 
É isso, caros e caras, pão e poesia pra vocês em 2011.
Ou melhor, croissant. Leiam o belo texto em que Carol Nogueira saúda o novo ano.
http://le-croissant.blogspot.com/2010/12/viva-2011.html
 
 
E já que ontem é passado e o futuro a ninguém pertence, faça o melhor que puder. Seja feliz hoje. E tente colecionar hojes felizes.