sábado, 31 de julho de 2010

Curtas



Férias curtas é pleonasmo.


Tiro férias por cerca de dez dias e vou fazer o que mais gosto: viajar.

Na volta, a gente se encontra aqui no mar.

Sim, eu sei. Vou sentir saudades.

implicante

A chuva antes de cair



“Todos sorriem nas fotografias. É por isso que nunca devemos confiar nelas.” Foram estas frases, impressas na quarta capa que me fizeram comprar e ler “A chuva antes de cair”, romance do inglês Jonathan Coe (Editora Record, 2009 – título original: “The rain before it falls”, 2007).


(É mais ou menos o que acontece nas redes sociais, não é? Todos lindos, felizes, viajandões, baladeiros, seres humanos incríveis no Orkut e no Fakebook).

Bem, não foram só essas frases que me seduziram. A capa toda é bonita, misteriosa, instigante. E o título também é tudo isso, além de poético. Falemos do livro.

Na noite em que comete suicídio, a septuagenária Rosamond reúne 20 fotos e a partir da descrição dessas imagens ela grava em fitas cassete a história da família desde a década de 1940. Para sua sobrinha Gill fica a missão de entregar as fotos e as fitas para sua única herdeira: Imogen, a neta de uma prima, cega desde a infância e com quem Rosamond perdera o contato.

O livro prende, emociona, surpreende. Um dos melhores que li nos últimos tempos. Recomendo entusiasticamente.

Me diga, você consegue juntar 20 fotos que representem toda a sua vida? No mínimo, é um exercício interessante de ser feito.



“- Bem, eu gosto da chuva antes de cair.
(...)
- Veja, a chuva antes de cair não existe. Ela tem que cair, ou então não é chuva.
(...)
- Claro que não existe – ela disse – É por isso que é o meu tipo favorito. Mesmo as coisas que não são reais podem deixar a gente feliz, não podem?”

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Marlindo

Reef, o "marlindo"

Meu cachorro atrai mulheres. E fica com todas. Verdade, ele é bonito pacas e tem uma cara de “me leva pra casa” irresistível. Bonito como a “mãe” e treinado pelo “pai”, sabe usar malandramente o que a natureza lhe deu. Esbanja charme e canastrice para cima da mulherada.

Marley perde. Meu cachorro é Marlindo (que é como os cariocas de verdade pronunciam “mais lindo”). Hoje mesmo, uma dona fez o marido parar o carro, abriu a janela, chamou meu cachorro e o beijou ali mesmo na frente do homem traído.

Uma senhora que ainda pensa, mas não pratica mais essas coisas, não se conteve e gritou “Oi, lindão!”

“Bonito”, “Lindo”,  “Fofo” são adjetivos que ele cansa de ouvir quando desfila pelas ruas. E eu só vou acompanhando, segurando a coleira e tentando conter o assanhamento.

Outra noite, estava esperando minha mulher na porta da academia (Não sei se já lhes disse isso, mas da porta pra dentro eu não passo de jeito nenhum) quando veio uma morenaça exuberante exclamando “- Ai, que lindo! Que gato!”. Embora estivesse se dirigindo a um cachorro. No caso, o Reef, e não eu. Pois bem, a bonitona puxou um papo e no vai-e-vem da conversa mole, disse que só gostava de cachorro grande. E macho. E eu pensando o quanto eu gosto de duplos sentidos e de cachorras. Com ou sem pedigree.

Mais recentemente, duas moças conversavam e quando passamos, uma disse à outra: “Ai, dá uma vontade de passar a mão, né?” Meu ego inflou. As moças não se fizeram de rogadas e partiram pra cima, acariciando.

Só ao cachorro, evidentemente. Eu fiquei na minha, rabo entre as pernas. Afinal, eu só atraio malucos.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Malucos

Atraio malucos. Como ímã. Só gente doida. Há uns anos, um barbudão que circulava pela Tijuca com um cajado me parou para dizer que tinha sonhado comigo. Felizmente, não fora um sonho erótico. Mas tive que ouvir longamente suas histórias non-sense até conseguir me desvencilhar sem tomar uma cajadada na cabeça.


Outro dia, passei por uma mulher, ela na maior manguaça. Vira-se para mim e diz: “ah, a evolução da medicina...” Qualé, tia? Não fiz plástica nem uso botox!

Uma vez, um cara se aproximou para brincar com meu cachorro e começou a me contar sua longa trajetória de evolução espiritual. Lá pelas tantas, out of the blue, me avisa para tomar cuidado com meu fígado. E diz que não é exatamente ele quem está me dizendo isso, mas que “estão mandando essa mensagem” para ele me transmitir. Ok, obrigado. Alerta dado. Vou beber melhor.

Há algumas semanas, um cara na rua vizinha, começa a puxar assunto sobre cachorros, e do nada, avisa que a Megasena está acumulada em não sei quantos milhões. Opa, sinal dos deuses. Ou do louco. Por via das dúvidas, joguei. E se você está lendo este texto agora, é porque obviamente eu não ganhei na loteria.

Mais recentemente, eu estava na ante-sala do estúdio, esperando para fazer mais uns rabiscos na pele, quando outro cliente esquisitão e cheio de tatuagens, pensando alto, exclamou: “eu não sou desse planeta, eu não posso ser desse planeta”. Eu concordei, mas me mantive quieto, porque até mesmo concordar com ele podia ser arriscado.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Pilar de José

“Como foram os últimos momentos com ele? Saramago falava da morte, houve um ritual de despedida?

PILAR: Não se falava da morte, porque desde sempre soubemos, como todos, que esse é nosso destino. Não se falava nem se evitava o tema, ele simplesmente estava, com naturalidade, sem dramaticidade.

Não houve ritual de despedida, como não havia ritual de vida: houve cumplicidade ao longo de 24 anos de vida em comum. Ou talvez houvesse, sim, um ritual: viver cada dia como o primeiro e o último.

Com a intensidade e a alegria de escolher como singular e destacada toda ocasião.”



Trecho da entrevista concedida à jornalista Sandra Cohen, por Pilar Del Rio, viúva do escritor José Saramago, publicada em O Globo, em 25 7 2010.
 
 

domingo, 25 de julho de 2010

Você que se cuide

Uma família de Jersey passeia no Central Park. Enquanto o pai fotografa a mulher e o filho sorrindo, um galho cai sobre eles. O bebê de dez meses morre a mulher é hospitalizada. Aconteceu em junho.


No mesmo mês, um casal de americanos passeia por Copacabana quando um bueiro explode. A mulher foi arremessada a metros de distância e teve 80% do corpo queimado. Ela e o marido estão internados.

Qual a chance desses acidentes acontecerem? Estatisticamente, probabilidades mínimas. Mas a gente nasce num espirro, vive num sopro, morre num susto.

Qual a chance de eu morrer hoje? Passei dos 40, não sou hipertenso, nem cardíaco, nem diabético. Mas sou sedentário, bebo pequenas doses de álcool quase todos os dias e já fumei inveteradamente.

Tudo o que eu gosto teoricamente faz mal à saúde. A vida é injusta ao cobrar esse preço de quem gosta de beber, fumar, comer junkie food e prefere passar horas numa poltrona do que correndo numa esteira.

É uma pressão diária, incessante, para renunciar ao que gosto. Você, que é geração saúde, já imaginou que saco seria a sua vida se todos os dias você fosse bombardeado com a mensagem de que essa saladinha vai te matar? Olha, essa rúcula é cancerígena, viu? Ou que malhar faz mal? Viver com o pé no freio é muito chato.

No início de julho, morreu o jornalista e produtor musical Ezequiel Neves, um cara que sempre viveu sob o trinômio sexo, drogas e rock’n’roll. Há alguns anos, Zeca lutava contra câncer, enfisema e cirrose, todas doenças influenciadas pelo modo como escolheu viver. Ele morreu aos 74 anos. Não está de bom tamanho? Provavelmente, quando chegar lá, vou querer mais. Minha mãe já passou dessa idade e eu quero que ela ainda viva longamente.

Outro dia, numa conversa, um conhecido ficou fazendo a apologia do “você é o que você come”, e disse “meu corpo é um templo”. Argh! O meu corpo não é um templo. É um parque de diversões.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

É desse jeito

É como diz meu amigo: "Eu não estou só. E eu não sei fazer fortuna das coisas que penso."


terça-feira, 20 de julho de 2010

A ser melhor

Hoje é o Dia do Amigo. Uma babaquice, evidentemente. Ninguém ousou me enviar um power point cafona com fotos de pôr-do-sol, flores, cachoeiras, ao som de um pianinho. Ou de "You've got a friend", do James Taylor.

Por outro lado, uma antiga conhecida dos tempos em que éramos guias de turismo fez chegar às minhas mãos este belíssimo texto:

Para os amigos
"De entre todos, apenas vós tendes direito a ver-me fracassar.
Onde caio entre a vossa irônica doçura implacável,
convosco partilho o pão e o espaço
e a rapidez dos olhos sobre o que fica (sempre) para dar ou dizer.
E de vós me levanto e vos levo pesando e ardendo até onde me ajudais a ser melhor
ou talvez menos só."



Vítor Matos e Sá, in "Companhia Violenta"

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Onde é?


Domingo cinza, friozinho, dando uma volta no shopping à tarde. Programinha ordinário de tanta gente nesta nossa sociedade de consumo. Sorry, patrulha, mas acho um saco quem julga o consumo como algo moralmente incorreto. Eu sou consumista e adoro um shopping.


Então, estava eu lá felizmente à toa quando numa agência bancária em reforma, vi a porta de vidro toda adesivada em preto com esta singela frase porrada:

“Você está onde você quer estar?”

Não é do shopping que estamos falando, obviamente.

Eu fiquei pensando...

E você?

sábado, 17 de julho de 2010

O Jogador Sincero

Sem limites

Eu costumo dizer que só existem duas coisas ilimitadas no homem: a maldade e a burrice.

Esse crime hediondo no qual está envolvido o goleiro Bruno, lamentavelmente, atesta a afirmação.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O beijo dele




Todo mundo sabe, todo mundo viu que, depois de conquistar a Copa do Mundo, o goleiro da Espanha, Iker Casillas deu uma entrevista à jornalista Sara Carbonero. Que é também sua namorada. De surpresa, ao final da conversa, ele lhe deu um beijo na boca.


Teve gente que achou lindo, teve gente que achou romântico, teve mulher suspirando mundo afora. Conforme saiu na coluna do Joaquim Ferreira dos Santos, a antropóloga Miriam Goldenberg disse que o beijo emocionou “porque mostrou um outro tipo de masculinidade. É um cara que não tem medo de ser homem, de chorar e mostrar sua paixão. Ele é seguro e sabe que não vai ser menos macho por isso”.

Até aí tudo bem, também acho que homem chora e não deve ter medo de mostrar sua paixão. Mas eu não achei que o beijo mostra um novo tipo de masculinidade. Menos, né? Na verdade, achei o beijo inapropriado, quase desrespeitoso. Explico: tudo bem que o cara estava emocionado, porque não há glória maior para um atleta do que ser campeão do mundo, mas ele não precisava beijá-la diante das câmeras. Pela única razão de que ela estava lá trabalhando como jornalista. Ele desrespeitou o trabalho dela, cruzou uma fronteira entre pessoal e profissional. Imagine se ela, eufórica porque foi promovida a âncora no telejornal de maior audiência da TV espanhola invadisse o campo e tascasse um beijo no goleiro enquanto jogassem Real Madrid e Barcelona? Seria inadequado. O William Bonner não pode beijar a Fátima Bernardes na bancada do Jornal Nacional.

A manifestação eufórica dele foi um pouco egoísta, desconsiderou a posição dela naquele momento. Nesse sentido, pareceu mais um exemplo de velha masculinidade, na qual o trabalho do homem era visto como mais importante que o trabalho da mulher. Reconheço que devo dar uma aliviada, não ser tão rígido, porque na situação dele, eu também não estaria raciocinando direito.
Fora do ambiente profissional, que dêem todos os beijos do mundo. Porque, sim, o amor é lindo.

terça-feira, 13 de julho de 2010

A escolha de Paul


A escolha de Paul. Ou será de Sofia? 

Ouça alto





13 de julho, Dia Mundial do Rock.
O som é "Rock 'n'Roll ain`t noise pollution", do australiano AC/DC. Música do álbum "Back in Black", de 1980, o primeiro com o vocalista Brian Johnson, substituindo o finado Bon Scott. Quando adolescente, eu ouvia direto esse vinil. Minha mãe, sempre tão tolerante, às vezes não aguentava e batia na porta do quarto me pedindo para abaixar o volume dessa poluiçao sonora. E eu ainda cantava junto, batia cabeça e tocava air guitar. Minha mãe preferia quando eu escutava The Smiths ou Echo and The Bunnymen...

domingo, 11 de julho de 2010

O mar é de coisa

Praia Grande, Arraial do Cabo, 2008. Foto: Leandro Wirz


"Brigam Espanha e Holanda
Pelos direitos do mar
O mar é das gaivotas
Que nele sabem voar
O mar é das gaivotas
E de quem sabe navegar.


Brigam Espanha e Holanda
Pelos direitos do mar
Brigam Espanha e Holanda
Porque não sabem que o mar
É de quem o sabe amar. "

Leila Diniz


O mar é dessas coisas.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Rock 'n' Roll



“Eu nunca planejo nada. Essa é provavelmente a diferença entre mim e o Mick. Mick precisa saber o que vai fazer amanhã. Enquanto eu me limito a acordar e ver quem anda por perto. Mick é o Rock, eu sou o Roll (risos)”


Keith Richards, vulgo Roll, no documentário Exile on Main Street, dirigido por Stephen Kijak, e que mostra os bastidores da gravação do clássico álbum homônimo dos Rolling Stones, lançado em 1972, quando a banda se auto-exilou na França.

A nossa música nunca mais tocou

7/7/2010 - 20 anos sem Cazuza. Faz falta.





“O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível. Uma pureza que está sempre se pondo, indo embora. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraíso que nos persegue. Bonita e breve. Como borboletas que só vivem 24 horas. Morrer não dói.”
Cazuza

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Eclipse inofensivo

                                 

Torci o tornozelo jogando futebol e meu pé esquerdo abriu 90 graus. Ou seja, quase virei Curupira. Com a perna imobilizada, não dá para ficar saracoteando por aí. No cinema do shopping perto de casa as opções eram Eclipse ou Toy Story. Optamos pelo primeiro e a história do tornozelo é só meia desculpa. Afinal, já tínhamos assistido ao Lua Nova. Então, por que não ver o terceiro filme da saga?

Antes da sessão começar um bando de adolescentes histéricas fazia a maior zona no cinema, aguardando frenéticas o galã que é vampiro e/ou o galã que é lobisomem. Diante da algazarra infanto-juvenil, minha mulher lembrou bem porque decidimos não ter filhos. Aliás, filhos e peidos só os nossos. Aguentar os dos outros não dá.

Enfim, o filme. E uma frase do galã vampiro resume bem o incômodo masculino durante a sessão. Referindo-se ao menino lobo saradão, o branquela sanguessuga diz: “Ele não tem uma camisa?”. É o que o cara está sempre exibindo o tanquinho. Visão do inferno.

Então, o filme inteiro é aquela competição para ver quem fica com a menina. O lance é a polarização entre o amor romântico (do vampiro) e o amor carnal (do lobisomem). O primeiro é compromisso, proteção, amor eterno. No entanto, é frio e assexuado. Com o outro é o oposto: há desejo, há calor, mas ela resiste a assumir o que sente, embora não queira perdê-lo. Dilema mais teen impossível.

Se fosse pela manifestação ruidosa da platéia, a parada estaria ganha para o lobisomem. Com ele em cena, o frisson é maior. Inclusive entre as mulheres que já passaram da adolescência há muito tempo.

Entre vampiros e lobisomens, salvou-se o Saci Pererê que vos digita estas mal traçadas. É porque o Eclipse é inofensivo. Mera diversão de sessão da tarde.

Sob certas condições


Há algumas semanas, uma decisão da mais alta instância do Judiciário alemão manifestou-se favoravelmente à eutanásia, ou ao suicídio assistido, como alguns preferem chamar. Não é o primeiro país a fazê-lo. A Suíça também tem legislação que permite o procedimento, em determinados casos, e, em geral, quando há manifestação prévia e expressa do paciente. O que nem sempre é possível. E aí a decisão recai sobre entes próximos, que podem ter outros interesses além de abreviar o sofrimento. Certamente, há outros países que buscaram equalizar a questão. No Brasil, com a imensa bancada parlamentar de católicos e evangélicos, creio que dificilmente teremos um dia alguma decisão similar.


Bem, o assunto é polêmico, mas você já percebeu que eu sou favorável à eutanásia. Creio que cada pessoa tem o direito de decidir como e o quanto quer viver. E igualmente decidir como e quando morrer.

Eu não acredito em vida pós-morte. Simplesmente, deixarei de existir e não sentirei nada nem de bom, nem de ruim. Game over. E justamente por isso, não tenho medo da morte. Que fique claro que não temer a morte não significa desejá-la. Quero viver plenamente por muitos anos ainda.

Por outro lado, temo a decrepitude da velhice. Aliás, temo já a fase anterior, a da decadência severa, aquela que nos confina a uma existência dolorosa, sem prazeres e sem objetivos. Prolongar a vida só para acumular dias não faz sentido para mim. Daí que manter-se vivo deve ser uma escolha e não uma obrigação.

A dificílima decisão deve ser tomada de forma racional e não ser um ato desesperado. É uma decisão individual que deve ser respeitada. Depende exclusivamente do quanto cada pessoa acha que consegue suportar e quer sobreviver (ou “subviver”) a todo custo. Claro que há pessoas admiráveis que, embora padeçam de graves enfermidades ou limitações, são felizes. Já outras, por muito menos, acham que não vale a pena prosseguir.

Eu sou do bloco dos que acham que a vida requer certas condições.

Mesma tecla

Quando a gente se apaixona. Quando a gente leva um inesperado pé na bunda da pessoa que ama. Quando a gente engravida e ainda durante os primeiros anos de vida do bebê. Quando tem Copa do Mundo.


A gente fica monotemático.

Aos leitores e leitoras, especialmente aos que não enxergam este planeta redondo como uma imensa bola de futebol, obrigado pela compreensão.

domingo, 4 de julho de 2010

Meio por cento

Uruguai, nem pensar. Não dá para perdoar o Maracanazo, mesmo que ele tenha acontecido há seis décadas. Sou rancoroso até com o que aconteceu muito antes de eu nascer. Para cima de mim, não cola esse papo de identidade sul-americana. Tô nem aí. Além disso, o anti-jogo acabou sendo premiado, graças àquela defesa do “goleiro” Suarez no último minuto da prorrogação contra a Gana. O Gyan não converteu o pênalti que levaria uma nação africana às semifinais, mas foi muito macho ao iniciar a série de cobranças de penalidades. Pena que não dá para trocar um pênalti pelo outro. Já o goleiro de Gana se tivesse feito o dever da casa saberia que El Loco Abreu bate pênalti sempre com a “cavadinha”, que beira a irresponsabilidade e justifica seu apelido. Outro ponto que me faz torcer contra o Uruguai é esse: imagina ter que aturar que o Brasil não foi campeão, mas um jogador do Botafogo, sim. Nem pensar.


Espanha passou aperto contra o Paraguai e é um time que tem tradição em Copa do Mundo. Tradicionalmente, chega cheia de moral, alçada a melhor seleção européia, e tem desempenho frustrante, tombando logo do alto de seu ego. A Espanha é igual jogador de clube: joga muito no seu time e quando chega na seleção não faz o mesmo. A seleção da Espanha arrasa na Europa, mas a Fúria chega mansinha nas Copas. É um país maravilhoso que ainda não foi campeão. Mas acho que vão mesmo para a disputa do bronze.

Holanda. Já escrevi mais de uma vez o quanto gosto. Tenho bisavó holandesa. Sobrenome Hoogterp. O país é lindo, tem a zona vermelha e os cafés em Amsterdã. Todo mundo pedala (e não só o Robinho). Além disso, perdeu injustamente as finais das Copas de 74 e 78, com um futebol encantador. Nos mundiais seguintes, também se apresentou muito bem, melhor até do que neste ano. O título seria uma reparação a uma injustiça histórica. Não merecem ser tri-vice como o Botafogo foi do Flamengo em 2007, 2008 e 2009.

Se superar a Espanha e chegar à final, será a oitava decisão alemã, uma a mais que o Brasil, que chegou à última rodada sete vezes e venceu cinco. Alemanha venceu três e perdeu quatro. Não merece a sina vascaína e ser vice mais uma vez. Penta vice é demais até mesmo para os fortes alemães. Além disso, tem, disparado, o melhor futebol da Copa (apesar do inexplicável apagão contra a Sérvia na primeira fase), o uniforme mais bonito, um brasileiro naturalizado alemão (Cacau) no seu time multinacional e, como bônus, ainda nos fez a gentileza de despachar a Argentina na mesma fase que o Brasil.

Acho que prefiro ver a Holanda conquistar um título inédito. Tem 0,5% a mais na minha preferência do que a Alemanha.

Lápides lapidares



Mais você encontra em http://diariodafoice.wordpress.com/

sábado, 3 de julho de 2010

O azar

O azar foi a Jabulani.


O azar foi não termos time.

O azar foi Kaká, Robinho e Lúcio

jogar um futebol soçaite

que só dá celebridade.

Faltaram bons jogadores em campo.

Faltou Ronaldo, faltou Ronaldinho,

faltou Neymar e Ganso.

Faltou tempo para aprender

a humildade

de ser brasileiro

e jogar só pra ganhar.



Thereza Christina R. Motta

2/07/2010 - 13h52

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Chupa essa laranja



Verdade seja dita, em todos os escritórios em que há expediente nesta tarde pós derrota e pró cerveja, o que está rolando mesmo é mesa redonda. Com sobras de petiscos e discussões sobre o jogo.


No início, parecia que seria fácil para o Brasil vencer a Holanda e foi assim até o intervalo. Na volta, o time desconcentrou, achando que tinha o jogo nas mãos. Ou melhor, nos pés. Ledo engano.

Júlio César, que realmente é o melhor goleiro do mundo, falhou quando não podia e junto com o F. Merdo, fez o primeiro gol da Holanda. Daí em diante, o time mostrou só destempero, especialmente o já citado elemento, que deu um injustificável pisão em um jogador holandês e levou merecido cartão vermelho.

O Agamenon, colunista de humor, disse que o Dunga cometeu mais um equívoco na convocação: deveria ter chamado o goleiro Bruno que, suspeitam, seria eficaz na fase mata-mata. Piada maldosa. Mas a vida é  assim, o que não mata engorda. Falando nisso, Ronaldo ex-Fenômeno escreveu no Twitter: “Felipe Melo não deve passar as férias no Brasil”. Por esse raciocínio, diria que Ronaldo também não deveria depois de ter amarelado na final da Copa de 1998. Mas ele até já mora aqui, comprovando que somos um povo de memória curta. Quer dizer, aqui não. Ele mora em São Paulo.

Lorde Dunga, na coletiva, disse que a culpa era de todos e não só do Felipe Melo. Concordo e achei correta a resposta do técnico . Mas o lado bom da eliminação do Brasil é que termina a famigerada Era Dunga, de futebol medíocre, e que este timezinho chinfrim montado por ele não terá a glória de ser campeão do mundo.

Agora, vamos ao hexa em 2018. É, porque em 2014, temo um novo Maracanazo, por conta de um clima de “já ganhou” porque jogaremos em casa. A euforia leva à debilidade.

Nesta Copa, fico em dúvida sobre quem torcer agora. Gosto da Holanda, mas o melhor futebol até agora é o da Alemanha. Gana é a simpática zebra. Normalmente, a Argentina estaria descartada, mas queria ver o Maradona pagar a promessa de ficar nu no Obelisco, só pela bizarrice da coisa. Nudez por nudez, eu quero mesmo ver a da modelo paraguaia Larissa Riquelme, que prometeu desfilar assim pelas ruas de Assunção. Embora eu ache que se não for o título de sua seleção, Larissa vai arrumar um outro motivo qualquer para expor ao mundo seu muitíssimo bem-sucedido implante de silicone.

Difícil escolher para quem torcer. Mas é fácil saber quem vai perder. Basta ver, antes do jogo, em qual torcida se sentará Mick Jagger. Hoje, Mr.Cold Foot estava de novo lá no estádio. Do nosso lado. E assim selou nosso destino.

Árdua tarefa


Diante de argumentos tão, digamos, contundentes, é difícil torcer contra a Holanda , mas vamos lá, rumo a final contra a Argentina!

Difícil também será o jogo com a Holanda, acredito eu. E mais difícil ainda será a Argentina passar pela Alemanha.

No mais, sem querer soar como aqueles chatos nostálgicos que acham que tudo no passado era melhor, eu concordo com o Cruyff: cadê a magia do futebol brasileiro? Nesta Copa, mesmo ganhando, ela ainda não entrou em campo.



ps.: sim, mais uma foto de torcedoras. Vocês não esperam que eu vá postar uma foto do Kaká, não é?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Pior que o Galvão

Então, o impossível acontece: tem narrador pior que o Galvão Bueno. O italiano fica desesperado com a eliminação da Azzurra na primeira fase  da Copa 2010. Confira...