sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O ébrio

Andava por Copacabana, o bairro tem-de-tudo. O radar focou no casal de sem teto que dialogava em alto e bom som no meio da rua. Ambos com os olhos injetados, a aparência castigada pela vida e pelos vícios. Os dois, bêbados a ponto de mal conseguirem permanecer parados em pé.


E ele dizia: “E se eu me apaixonar por você, eu caso”.

O amor é embriaguez.

Ao Hugh!

Hugh Hefner, o cara


- “Quer romance lê um livro, quer fidelidade compre um cachorro e quer amor volta pra casa da mamãe!”


- “Eu sou um cara de muitas mulheres, mas das mesmas muitas mulheres”

- “A putaria nada mais que é que sexo com alegria”

- “Um boquete e um copo d’agua não se nega a ninguém”

Todas essas pérolas foram proferidas pelo funkeiro carioca MC Catra no documentário “90 dias com Catra”, que circula pela internet.

Não sou fã de Catra, nem do artista, nem do “filósofo”, embora ele tenha alguma dose de razão no que diz. O lance do copo d’água é sério.

Mas eu vou propor mesmo aos companheiros do Sindicato moção de apoio ao Hugh Hefner. Sim, o criador da revista que tem sido fonte inesgotável de alegrias e dono de um estilo de vida hedonista capaz de causar inveja em Calígula.

O milionário Mr.Hefner, que sempre gostou de se divertir com três coelhinhas simultaneamente na lendária Mansão Playboy, resolveu descansar e optou pela monogamia aos 84 anos. Anunciou nesta semana que vai casar-se pela terceira vez. A noiva, Crystal Harris, loura espetacular, tem 24 anos. E o ama sinceramente, lógico.

Pegando um pra cristo

Eu falo coisas idiotas. Eu escrevo coisas idiotas. Mas nem que eu me esforçasse muito, conseguiria superar o que a astróloga de quem pouparei o nome escreveu no texto intitulado “O mapa astral de Jesus”, publicado na internet em 23/12/2010.


Li o texto atraído pelo título. Farejei besteira. Tenho olfato bom para isso. Com todo respeito a quem acredita, eu não creio em astrologia. Já me disseram que sou Virgem com ascendente em Áries e um monte de luas de novo em Virgem e acho que isso não significa coisa alguma. Divertido é ler horóscopo no dia seguinte e ver que nada aconteceu conforme o previsto.

Mas vamos lá, colher na horta: “Na tradição astrológica, Jesus já teve vários signos. Alguns acham que ele era de Áries - porque este é o símbolo do cordeiro. Outros garantem que ele só poderia ter nascido em Libra, porque conseguiu ser manso sem ser fraco, e por que foi um condutor de almas, e não de homens. Há ainda quem defenda o signo de Virgem, porque tinha como pai um simples carpinteiro e como mãe a Virgem Maria.”

Peraí! Pausa, pelamordideus! O que uma coisa tem a ver com outra!? Se o pai fosse pescador, e não carpinteiro, Jesus seria de Peixes? Ou de Aquário? Não sei, melhor consultar os astros. Se fosse médico, Jesus seria de Câncer? Se o pai fosse açougueiro, seria de Touro? Se a mãe não fosse virgem, poderia ter tido Gêmeos? Talvez tivesse sido melhor, porque um só Jesus não dá conta de aturar isso tudo, não.

Durma-se com um barulho desses

Governo sai (mais ou menos, né?), governo vem, e as trapalhadas continuam. O deputado Pedro Novais, que assumirá a pasta do Turismo, virou notícia porque, em junho, pagou uma festa para 15 casais no Motel Caribe, em São Luís, e apresentou recibo para usar verba indenizatória da Câmara.


Como a camisinha do assunto furou, o bem disposto Novais, de 80 anos, se disse ofendido e alegou que na noite da tal suruba, estava em casa com a mulher assistindo a Passione. Ou seja, então ele só estava pagando a conta para a turma se divertir. Eu não estou nem aí para a vida sexual do ministro, eu não quero é pagar a conta da trepada de quem quer que seja.

Solidário, o novo ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, tentou defender seu colega e, nesta semana, tornou a emenda pior do que o soneto: “dormir num motel não significa fazer amor.” Ou seja, o futuro ministro das Relações Institucionais não entende muito de relações. Ao motel, ninguém vai para dormir ou para fazer amor. Vai para fazer sexo.

Será que o ministro das Relações quis insinuar que o ministro do Turismo vai ao motel só para dormir? Mas com trinta pessoas na mesma suíte, como conseguir dormir?

Essa história toda é mais uma das de foder (no mau sentido). Agora é torcer para a Tia Dilma dar um jeito nessa zona de país.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Vidas em livros



Entre os presentes que Papai Noel me trouxe, destaco “Confesso que vivi”, memórias de Pablo Neruda, e “Vida”, biografia de Keith Richards. Dois lados meus bastante fortes ficam, assim, muito bem atendidos: o poeta e o rocker.


O chileno Neruda está entre meus autores favoritos: “Talvez não vivi em mim mesmo, talvez vivi a vida dos outros. Do que deixei escrito nestas páginas se desprenderão sempre – como nos arvoredos de outono e como no tempo das vinhas – as folhas amarelas que vão morrer e as uvas que reviverão no vinho sagrado. Minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta.”

O stone(d) Richards é, para mim, a personificação do rock’n’roll. Na orelha do livro, ele rabisca: “Esta é a vida. Acredite ou não, eu não me esqueci de nada.” Estou ávido para mergulhar nessas vidas.

E já que falamos em biografias, Celso Cavalcanti, no blog olhodeprosa, escreveu muito bem sobre a biografia de Richards e a do polêmico Lobão. Vale a leitura em http://olhodeprosa.blogspot.com/2010/11/travados-sem-travas-na-lingua.html. Tanta uma como outra são vidas ricas, intensas, e cheias de passagens interessantes. Ao contrário de outras biografias inócuas que proliferam por aí, sem nada a dizer, a não ser exalar pretensão e vaidade, como as recém-lançadas de Justin Bieber (o astro teen americano) e Fiuk (o júnior do Fábio). Biografias sem vida.

Voltando aos presentes de Natal, valeu também pelo CD do Nando Reis. O “Bailão do Ruivão” é um set costumeiro em seus shows, em que ele põe todo mundo pra dançar ao som de músicas populares, algumas com acento brega. Seja como for, é uma delícia ouvir as releituras de “Fogo e paixão”(Wando), “Whisky a go-go” (Roupa Nova), “Lindo balão azul”(Turma do Balão Mágico) e “Chorando se foi” (Kaoma). Vai dizer que você nunca tomou todas, cantou a plenos pulmões e dançou essas músicas, sob luzes estroboscópicas e um globo espelhado?

Ah, e obrigado também a quem não me deu gravatas, meias ou cuecas.

Um homem histórico

Nesses dias de confraternizações, festas, ceias, orgias gastronômicas, excessos, etilismo e gulodices, eis que surge uma mulher que diz:


“Um homem sem barriga é um homem sem história” (Kátia Lopes, do bar Aconchego, falando à coluna Gente Boa, de Joaquim Ferreira dos Santos).

Acho que me apaixonei por esta senhora...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A presente

Eu tenho uma prima chamada Laura.


Era véspera de Natal, por volta de 11 horas da manhã. Sol em Brasília, escaldando a Asa Norte. Minha então mulher, duas de suas irmãs e o irmão ainda dormiam. Tinham vindo passar as festas conosco e a conversa estendera-se até tarde na noite anterior.

O porteiro toca o interfone e anuncia que Laura quer subir. Minha prima mora no Rio, seus pais em Brasília, mas como é aeromoça, nunca se sabe em que cidade ela está. Laura e eu somos próximos, e ela veio fazer uma visita surpresa, já que é Natal etc e tal.

Quando atendo a porta, não é Laura. É outra loura. Também bonita. Bem bonita.

- Leo? - ela pergunta.

Vocês sabem que eu sou Leandro. Como o finado da dupla. Mas tenho vários amigos que me chamam de Leo, talvez para contornar a eterna confusão que fazem entre nós e os leonardos.

- Bem, na verdade, eu sou Leandro. Mas posso ser Leo. Muita gente me chama assim.

- Eu sou Laura.

- E?

- Foi você que chamou a massagista?

Olhei bem para o corpo dela, marcado pela roupa justa, e quase voltei a acreditar em Papai Noel. Mas lembrei de todos os que estavam dormindo em casa.

Gentilmente, esclareci que deveria ter havido alguma confusão, o porteiro deveria ter me confundido com outro felizardo, digo, morador, e assim, lamentavelmente, eu me via obrigado a declinar do presente, da presente, sei lá, àquela altura eu já estava em dúvida até sobre qual é o meu nome.

Laura sorriu simpática e desculpou-se, ligeiramente envergonhada pelo engano. Uma vergonha charmosa, que só as putas são capazes de sentir.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Bom lembrar




É bom lembrar também que esta iniciativa dos artistas do Reino Unido - O Band Aid, capitaneado por Bob Geldof - precedeu o projeto USA For Africa, liderado por Michael Jackson e Quincy Jones.

Feed the world. Let them know it's Xmas time!



ps 1.: Gosh! Eu vivi os anos 1980!
ps 2.: E  - grave - eu me lembro deles!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Eu voltei...

Voltei a fumar. Faz uns três meses já. Nesses quase quatro anos de abstinência, não houve dia sequer que eu não tivesse pensado em ou desejado fumar. Poupem-me da cantilena de que cigarro causa envelhecimento precoce, gangrena, enfisema, infarto, câncer, morte. E impotência, oh céus! Sei disso tudo, vocês estão certos. Fumar é escolher como morrer.


Posso argumentar apenas que fumar me dá prazer. E a coletânea de pequenos prazeres banais é o que mais se aproxima do mito da felicidade que tanto buscamos. Prazer tem sido a minha mais honesta busca.

E assim voltou aquela deliciosa primeira tragada da manhã. E voltei a fazer as refeições pensando no cigarro de sobremesa. E não espero mais nada ou ninguém, porque o tempo de espera é agora preenchido pela companhia do cigarro. O fôlego, que nunca foi de campeão, foi para as cucuias. A voz, vaidade confessa, está mais bonita.

No sentido oposto, um amigo está naquele período inicial em que deixou de fumar. Ou seja, anda de péssimo humor, mascando abelhas. Outra noite, ele cogitou não transar com uma mulher. Não queria abrir mão do clássico cigarrinho do depois...

Fumo desde os 16 e já parei e voltei diversas vezes. Dois anos sem fumar numa vez e outras duas temporadas de quatro anos sem. Posso qualquer dia parar de novo. Afinal, o que é definitivo?

Neste preciso momento, o cigarro, quase paradoxalmente, traz enorme sensação de liberdade. A liberdade de não renunciar ao desejo.

Elas todas




Minha amiga-irmã me enviou este hilário cartoon, segundo ela, em honra e glória ao meu passado. No entanto, devo dizer, como Caetano já cantou, que “não sou proveito, sou pura fama”. Isso mesmo antes de eu me tornar o que sou, este velho leão da savana. Casado, muito bem.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Cartas de navegação e despedida

Blogroll é coisa séria. Afinal, recomendar leituras é sugerir rotas de navegação nesse mar de coisa que é a internet. E é também revelar-se. Somos o que lemos.


Sendo assim, por puro senso de responsabilidade e algum critério, me despeço, com pesar, de alguns endereços admiráveis indicados na minha lista, mas que deixaram de ser atualizados há mais de ano.

É o caso do Infomaré, da amiga Flávia Lima, um dos blogs que me motivou a iniciar o meu. Saem também o Quarto de leitura, da jornalista Nahima Maciel, que trazia ótimas críticas literárias; e o Some flowers in my hair, em que a publicitária Giovanna Amorim falava um pouco de seu cotidiano em San Francisco. A dedicação à maternidade interrompeu o blog e agora que a família está deixando Frisco de mudança para NYC, espero que ela o retome. Torço para que a retirada desses endereços tenha o efeito de estimular essas mulheres inteligentes e criativas a produzirem novos textos. Se assim for, voltam correndo ao blogroll. Por uma razão técnica, tiro da lista também o Veredas, da poeta Jac Rizzo, porque inexplicavelmente o link nunca funcionou.

Mas tem gente nova que chega com força. É o meu soul brother Celso Cavalcanti, que começou há pouco, lá de Brasília, o seu http://www.olhodeprosa.blogspot.com/. Observação arguta, temas interessantes (muito rock’n’roll) e um texto elegantíssimo. Vai lá! É um dos lugares por onde andei enquanto você me procurava.

Réquiem para a Modern Sound

Modern Sound. Foto: Leandro Wirz


Meu melhor amigo me mandou um e-mail avisando. No dia seguinte, a notícia saiu no jornal. A Modern Sound, melhor loja de discos do Rio de Janeiro, fechará as portas no dia 31, depois de 44 anos em atividade.


O fim é, de certa forma, previsível. A outrora toda-poderosa indústria fonográfica, tal e qual a conhecemos, está moribunda. Ninguém mais compra discos. Eu mesmo contribuí, involuntariamente, para a ruína da Modern Sound. Se antes fui comprador compulsivo, nos últimos anos, muito pouco comprei. Jamais adquiri CDs ou DVDs piratas, mas a internet e os downloads tornaram a vida dos consumidores de música mais fácil e mais barata.

Houve uma época em que CD era a minha unidade monetária. Antes de comprar um tênis ou uma camisa, eu calculava mentalmente quantos CDs eu compraria com aquela mesma quantia. Muitas e muitas vezes, eu desistia das outras tentações para gastar com os discos. Sempre que eu vinha de Brasília, nos oito anos em que lá vivi, visitar a loja em Copacabana era programa obrigatório. Lembro de um aniversário em que minha mãe me presenteou com uma grana legal e torrei tudo na Modern Sound, felizão.

O cronista Arthur Dapieve escreveu que sem a Modern Sound, o Rio fica menos inteligente. Com certeza, menos culto. A Modern era uma espécie de santuário para quem gosta de música. Fuçando prazerosamente em seus enormes balcões e estantes, encontrávamos de tudo, nacionais, importados, raridades e éramos atendidos por vendedores que entendem do assunto.

A Modern fez parte da formação musical de muita gente e tem lugar na minha memória afetiva (assim como a já finada Subsom, no subsolo de uma galeria da Tijuca). Hoje de manhã, fui lá me despedir. Encontrei uma amiga que tinha ido fazer o mesmo, pesarosa. A loja estava razoavelmente cheia, mas deu para sentir o clima de adeus, o ocaso. Havia lacunas nas prateleiras, nada mais em estoque. Desconto de 30% nas compras à vista acima de R$ 100. Comprei cinco discos. Mas desta vez, saí de lá entristecido pela primeira vez. E última.

Toquem o réquiem.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Believe it or not

                                                                   Fotos: AP


Grupo ateísta publicou um outdoor próximo à entrada do Túnel Lincoln, em North Bergen, Nova Jersey, uma das entradas para a cidade de Nova York, com o seguinte texto: “Você sabe que é um mito. Neste ano, celebre a razão”. A Liga Católica contra-atacou, colocando seu cartaz no outro lado do túnel. O texto diz: “Você sabe que é real. Neste ano, celebre Jesus”.



Coisa de americanos, que adoram uma polêmica e pensar que estão sempre certos.

Em um primeiro momento, o outdoor dos ateus pode parecer desnecessário e agressivo, mas, na verdade, é apenas democrático. Se há milhares de anos os ateus são tachados de tolos pelos religiosos, também têm o direito de pensar o mesmo sobre os que crêem. Se os religiosos têm o direito de pregar a sua fé, os ateus também têm de propagar a sua não-fé.


Tenho alguma implicância com agremiações de ateus. Elas podem resvalar para uma espécie de “Church of No-God”, e virarem, pelo modo avesso, também uma religião. Mas isso é outra história.


Penso que o homem criou deus à sua imagem e semelhança. As religiões provêem conforto e esperança e são um recurso válido para ajudar o homem a lidar com a consciência da finitude e com a aspereza do presente. Enfim, cada um tem o ópio que precisa, certo, Marx?


O Natal, para mim, significa o feriado em que se convencionou celebrar o nascimento de um extraordinário filósofo. Afinal, foi Jesus quem introduziu a ideia de que todos os homens são iguais. Parece óbvio, não é? Mas ninguém havia defendido isso até então e soou revolucionário há dois mil anos. Talvez por ser uma ideia historicamente tão jovem, ela ainda não foi bem assimilada por nós.


No mais, viva a liberdade e a diferença. E, claro, a tolerância.


Feliz dia 25 para todos nós!