quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Feliz 2009!

Iemanjá. Praia da Conceição, Fernando de Noronha. Foto: Leandro Wirz


Aos leitores de 2008, minha gratidão e o desejo de que continuem por aqui em 2009.
Tem sido muito prazeroso escrever este blog.
A todos, um mar de coisas positivas no Ano Novo.

Sobre malas, poemas e musas

Manuel Bandeira, Por Cândido Portinari

Li hoje cedo que a eleição da Mala do Ano, promovida pela mala hors-concours Artur Xexéo, teve a atriz Luana Piovani como vencedora. Entre tapas e beijos, performances no palco e principalmente fora deles, não se pode dizer que a escolha da bela fera pelos leitores daquele colunista tenha sido injusta.

Seja como for, Luana está em ótimo ensaio fotográfico sensual na revista VIP, edição de janeiro de 2009, e já nas bancas.

Há quem diga que poesia é coisa de mala. Até eu, que sou poeta, às vezes me vejo obrigado a concordar. Mas não neste caso.

As fotos de Luana na revista estão muitíssimo bem acompanhadas por poema de Manuel Bandeira, Madrigal Melancólico.

Para ilustrar este texto escolhi, não uma foto de Luana, mas do poeta, retratado quando jovem por Portinari.
Madrigal Melancólico, de Manuel Bandeira

O que adoro em ti
não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
mas pelo que há nela de fragilidade e incerteza.

O que adoro em ti
não é a tua inteligência,
não é o teu espírito sutil,
tão ágil, tão luminoso
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
do coração dos homens e das coisas.
O que adoro em ti
não é a tua graça musical,
sucessiva e renovada a cada momento,
graça aérea como teu próprio pensamento.
Graça que perturba e satisfaz.

O que adoro em ti
não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E nem meu pai.

O que adoro em tua natureza
não é o profundo instinto maternal
em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que adoro em ti, é a vida.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

2008: “Beijo, me liga” ou “É o beijo de despedida, cachorro!”

Foto: Leandro Wirz

Um mar de coisas importantes aconteceu neste ano. O assunto mais comentado foi a crise econômica mundial, deflagrada a partir das tais hipotecas subprime norte-americanas. Em 2009, ainda vai se falar muito dela.

Felizmente, o mulato sarado Barack Obama foi eleito para a Casa Branca, trazendo novas esperanças para boa parte do mundo. George W.Bush, em seu ocaso, quase levou uma sapatada, mas o jornalista iraquiano era ruim de mira. Fidel Castro ainda não morreu. Nicolas Sarkozy continuou sorridente (com a Carla Bruni é fácil...). A libertação de Ingrid Betancourt, somada à morte de líderes importantes, enfraqueceu as Farc colombianas. Chávez e Morales continuaram sua coreografia do atraso.

O terrorismo continuou brutal, selvagem, injustificável e burro como sempre.

Na última semana do ano, israelenses voltaram ao confronto com palestinos na faixa de Gaza.

Milhões de pessoas continuaram a se contaminar com o vírus da Aids, principalmente na África, por falta de políticas públicas de saúde decentes, por falta de informação e por irresponsabilidade.

No Brasil, de maneira geral, o Executivo e o Legislativo continuaram fazendo vergonha. Para ficar no exemplo mais recente, a criação de mais sete mil cargos de vereadores. O Supremo Tribunal Federal autorizou as pesquisas científicas com células-tronco. Um belo avanço em direção à modernidade. Mas ainda falta liberar o aborto, a eutanásia, o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Lula continuou muito popular e falando também algumas bobagens populares. A classe média continuou a sifu. O prefeito César Maia só fez escrever no seu blog e construir sua pirâmide, a absurdamente supérflua Cidade da Música. Sérgio Cabral continuou viajando ao exterior e Aécio Neves continuou indo às melhores festas. Metade do Rio de Janeiro votou certo. E Gabeira quase se elegeu prefeito.

O Rio de Janeiro foi assolado por outra epidemia de dengue, causada tanto pela incompetência das autoridades, quanto pela falta de consciência da população que permanece criando condições para a proliferação do mosquito.

As ruas da cidade continuaram sendo ótimas pistas de rally.

Em Santa Catarina, a tragédia das enchentes e dos desmoronamentos nos lembrou como os homens podem ser solidários para superar as dificuldades e inescrupulosos a ponto de furtar donativos destinados às vítimas.

A lista de crimes hediondos que comoveram o País foi extensa: Isabella Nardoni; Eloá de Santo André; o menino João baleado pela polícia dentro do carro; soldados do Exército que entregaram uns rapazes para a quadrilha de traficantes da favela rival; o austríaco psicopata que manteve a filha em cativeiro por décadas e ainda a estuprava sistematicamente gerando filhos/netos. Que as vítimas descansem em paz e os culpados sejam punidos.

Falou-se exaustivamente dos 50 anos da Bossa-Nova e dos 40 anos do AI-5, que cerceou dramaticamente as liberdades individuais no Brasil durante os anos da ditadura militar.

Na música, Madonna veio ao Brasil de novo e arrasou, Roberto Carlos cantou com Caetano Veloso; os Los Hermanos deram um tempo e a Mallu Magalhães, com seu folk naif e chatinho virou cult. As bandas emo, especialmente aquelas com irritante sotaque paulista, continuaram a fazer sucesso entre os jovens de pouco Q.I. Amy Winehouse continuou bebendo litros de álcool e se drogando em quantidades industriais, para tristeza dos apreciadores da boa música e alegria dos tablóides sensacionalistas. Mas terminou o ano livre da droga do marido e pegando um base..., quero dizer, bronzeado no Caribe. Britney Spears transformou sua via crucis em Circus, seu novo álbum, e deu a volta por cima, por enquanto. Michael Jackson continuou esquisitão. Rihanna confirmou que veio para ficar. O rap norte americano continuou dominando o topo da lista de mais vendidos e propagando valores morais edificantes, na linha de “eu sou o cara, eu sou o melhor, eu tenho jóias, eu tenho carrões, eu compro o que quiser, eu adoro garotas gostosas, safadas e de bunda grande (tipo a da Beyoncé), eu tenho muitas mulheres, eu sou rico e você é um nada, um looser.” Altamente educativo.

A mídia deu espaço em excesso para celebridades e respectivos satélites: Luana Piovani, Dado Dolabella, Belo, Gracyanne, Viviane Araújo, Suzana Vieira, Marcelo Silva, Juliana Paes, Mulher Melancia e mais um monte de nomes que estou fazendo esforço para esquecer, apesar do bombardeio dos sites, jornais e revistas.

A programação dos canais abertos da televisão brasileira continuou abaixo da crítica.

O filme Meu nome não é Johnny foi o grande sucesso nacional de público, confirmando o talento de Selton Mello. Falando nisso, Selton, Lázaro Ramos, Wagner Moura e Matheus Nachtergaele firmam-se, a cada trabalho, como atores excepcionais.

O São Paulo foi tricampeão brasileiro, demonstrando que administração profissional e regularidade são ingredientes poderosos para a conquista de resultados. Eurico Miranda finalmente largou o osso da presidência do Vasco. O Fluminense deixou a Taça Libertadores escorrer entre as chuteiras. O Flamengo continuou sendo mais um balcão de compra e venda de jogadores do que propriamente um time de futebol. Ronaldo (uma vez Fenômeno,...) foi flagrado com três travestis em situação constrangedora. E terminou o ano driblando o Flamengo e indo jogar no Corinthians, que subiu da Segundona.

Lewis Hamilton foi o primeiro negro campeão mundial de Fórmula 1. Felipe Massa foi vice, e confirmou que pode dar mais alegrias aos torcedores brasileiros, carentes de bons resultados desde que Senna foi correr em pistas mais elevadas.

2008 foi também o ano dos Jogos Olímpicos na China, país que no campo político, não tem nenhum espírito esportivo. Méritos para César Cielo e Maureen Maggi e outros medalhistas brasileiros. Que grande pena a perda da medalha para Diego Hypólito que fez tudo perfeito até os instantes finais de sua apresentação no solo. Injustiça dos deuses do Olimpo.

Claro que outras coisas muito importantes aconteceram neste ano que se encerra, mas eu não lembro de todas. Nem quero.

Melhor é olhar para frente. Seguir adiante. Conduzir a própria vida, a partir das escolhas que fazemos.

“Sonha o que queres sonhar, vai onde queres ir, concretiza o que queres ser, simplesmente desfruta ao máximo o que estiver no seu caminho.”
Bom caminhar em 2009.

ps 1: o título deste texto é um dos principais bordões do CQC, um oásis de inteligência na grade de programação das TVs brasileiras. Toda segunda, às 22h, na Band.
ps 2.: considerando que, em função da crise econômica mundial, 2008 é um ano que não vai deixar saudade para muita gente, outro título possível seria “É o beijo de despedida, cachorro!”, frase gritada por Muntazer Al-Zadi, repórter iraquiano que atirou o sapato em Bush.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Surrealismo à carioca

Foto: Leandro Wirz



Cena carioca. Local: Lagoa Rodrigo de Freitas, Zona Sul. Quando: Dezembro, domingo de mormaço, final da tarde.

Personagem 1: Balzaquiana pedala na ciclovia da Lagoa, faz a linha esportista, bem cuidada, nenhuma pinta de dondoca metida a besta.

Personagem 2: Vendedor estaciona sua carrocinha de churros, ou milho, ou tapioca ou pipoca (na pressa, não observei) em plena ciclovia. Em um trecho estreito.

Personagem 3: Família (casal de meia idade, mais um idoso e dois jovens) caminha pela ciclovia lentamente. Muito lentamente. E todos lado a lado. Praticamente fecham a passagem. Pelas roupas, estilos e modo de andar na ciclovia aparentam não fazer isso com freqüência. Parecem ter vindo de longe para ver a árvore da Natal que flutua nas águas da Lagoa.

O fato: a ciclista educadamente freia, pede licença, passa bem devagar e roça o guidão sem querer no braço do idoso. O vendedor de churros ou milho ou tapioca ou pipoca reclama:
“- Devia ser proibido pedalar aqui!.”

Como assim, meu amigo?! Proibido devia ser você estacionar sua carrocinha na ciclovia. Aliás, é proibido. Mas no Rio de Janeiro de hoje, o que se diz é: “Ilegal, e daí?”

Naufrágio da confiança

Há vinte anos, a irmã da minha madrinha embarcou feliz da vida para passar o reveillon com o namorido. Era uma pessoa alegre, loura bonita, quarenta e poucos anos, cheia de energia, que trabalhava na Petrobras e adorava viajar nas férias. No início da adolescência, eu, minha prima e um amigo pegávamos carona com ela para a praia.

Tia Norma morreu no naufrágio do Bateau Mouche, na praia de Copacabana, minutos antes de 1988 acabar. Ela e mais 54 pessoas.

O Bateau Mouche estava superlotado e não tinha condições técnicas para enfrentar o alto mar. Foi interceptado naquela noite pela Capitania dos Portos e, mesmo assim, autorizado a seguir mar adentro.

O Brasil tem leis que parecem estar a serviço dos criminosos. Até hoje, graças aos infindáveis recursos e a morosidade da Justiça, ninguém foi punido. Dois dos condenados em regime semi-aberto fugiram para a Espanha.

Reproduzo então as palavras do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto: - “Afunda a credibilidade do Poder Judiciário e faz naufragar as esperanças daqueles que, um dia, acreditaram ser possível a justa reparação judicial. O Judiciário aí não cumpre seu papel fundamental na conservação do Estado Democrático de Direito e na tarefa de levar a palavra da justiça àqueles que dela necessitam.”

A Justiça Brasileira ainda não aprendeu que tardar já é falhar.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Desembrulhe

Cooperativa de reciclagem de lixo em Porto Sauípe (BA). Foto: Leandro Wirz
Na manhã seguinte ao Natal, ao pôr o lixo para fora, você reparou a enorme quantidade de sacolas e caixas de papelão, folhas de papel de seda, sacos plásticos, papéis coloridos de presente, laços de fita etc etc etc?

Honestamente, precisava de tanta embalagem para os presentes? Precisávamos gerar tanto lixo? Nas minhas próximas compras, eu vou dar preferência a embalagens de material reciclável. E vou pedir menos embrulhos, caixas, laços, bolsas.

Eu quero a minha vida mais simples. E o planeta mais limpo.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Árvores de Natal

Menton, França. Foto: Leandro Wirz

Costa do Sauípe-BA. Foto: Leandro Wirz

Lido - Veneza, Itália. Foto: Leandro Wirz

Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro. Foto: Leandro Wirz

Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro. Foto: Leandro Wirz


Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro. Foto: Leandro Wirz

Lopes Mendes, Ilha Grande-RJ. Foto: Leandro Wirz


Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro. Foto: Leandro Wirz

Enseada de Botafogo, Rio de Janeiro. Foto: Leandro Wirz

Ilha Grande-RJ. Foto: Leandro Wirz




segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Veneno antimonotonia


Você provavelmente anda ensandecido, às voltas com as compras de Natal que deixou para a última hora, só para variar.

Então aí vai uma dica bacana. Corre em uma livraria e compre “Caderno de rabiscos para adultos entediados no trabalho”. Pelo título, já deu para sacar que dá para você presentear meio mundo com este livro. Até porque é barato, só R$ 14,90. O único pré-requisito é que o presenteado tenha bom humor. Preferencialmente do tipo incorreto, ácido, sarcástico. Ou seja, o melhor.

O livro publicado recentemente no Brasil pela Editora Intrínseca é versão do original francês da jovem Claire Fay, lançado em 2006 na Europa.

Em pouco menos de 50 páginas, com pouquíssimo texto, Claire propõe atividades sacanas para você descarregar a ira, a frustração, a impaciência, o inconformismo, o tédio e mais uma série de sentimentos positivos e nobres provocados pelo seu trabalho, seus colegas, seu estimado chefe.

O livro não é manual de auto-ajuda e claro que não vai resolver sua vida. No ano que vem, você continuará de saco cheio do trabalho. Mas o livro é garantia de boas risadas, mesmo para quem não está entediado. Eu, por exemplo, adoro meu trabalho. Mas eu ia gostar muito mais se fosse rico a ponto de não precisar trabalhar e pudesse passar os dias de bundalelê, viajando por esse mundo afora.

Eu daria este livro para umas dez pessoas, no mínimo. Mas como ia ficar caro comprar para todos, preferi dar a dica aqui no blog e cada um que se vire, porque a crise tá braba.

Divirta-se! Rir é o melhor remédio.

ps.: Este texto é dedicado especialmente a D.V, do 5º andar e A.F, do 6º.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Argumento de venda

anúncio de Sapólio Radium, criação DPZ.


Eu tenho a mente poluída e a boca suja, é fato. Freud disse que às vezes um charuto é só um charuto. Mas às vezes não é.

Quando eu olhei este anúncio, criado pela DPZ, para o Sapólio Radium da Bombril, eu vi outra coisa.

Nada contra. Símbolos fálicos podem ser um argumento de venda bastante viril para o público-alvo. Coisas da publicidade. E a embalagem do produto ajuda bastante.

E me lembrei que tenho um grupo de amigos gays que usava um código para se referir a homens bem dotados: “tubo de Limpol”. A marca é outra, mas agora entendo melhor o porquê da expressão.

Mais Vicky


Nos últimos dois meses, muito se falou de Vicky Cristina Barcelona. O filme em que Woody Allen brinca de ser Almodóvar foi assunto em círculos acadêmicos, em rodas de cinéfilos, em mesas filosóficas de bar, em sessões de terapia, em discussões de relação.

Discutiu-se o talento inconfundível do diretor, o beijo lésbico entre Penélope e Scarlett, o poder de sedução de Bardem, a presença de ex na relação atual, ménage-a-trois, a insaciabilidade de Cristina, a covardia de Vicky, os desvairios de Maria Elena, e, principalmente, como somos parecidos com todos os personagens, de uma forma ou de outra.

O filme também rendeu incontáveis crônicas e críticas (vide o post Vicky Cristina Barcelona, de 16/11/2008). Eu escolhi a minha favorita para compartilhar com vocês. O autor é o psicanalista Contardo Calligaris e o texto foi originalmente publicado na Folha de São Paulo em fins de novembro.

Vicky Cristina Barcelona, por Contardo Calligaris
“O amor-paixão é uma tentação irresistível, é o protótipo da vida intensamente vivida.
"Vicky Cristina Barcelona", de Woody Allen, estreou no Brasil na semana passada. Com muita leveza e muito bom humor, o filme me levou a pensar nos percalços da vida amorosa.
A história do verão em Barcelona de Vicky e Cristina é um pequeno tratado do amor-paixão: os espectadores terão o prazer (ou desprazer) de se reconhecer em algum lugar do leque de experiências amorosas que o filme apresenta -é um leque pequeno, mas do qual escapamos pouco.
Sem resumir, eis umas notas:
1) Os casais que se amam de paixão, cujos parceiros parecem ser feitos um para o outro, em regra, acabam tentando se matar -com faca, revólver ou qualquer outro instrumento (cf. Juan Antonio e Maria Elena). É porque, se o outro me completa e vice-versa, o risco é que nenhum de nós sobreviva à nossa união - ao menos, não como ente separado e distinto. Mas, por mais que seja ameaçadora, a paixão amorosa é uma tentação irresistível (cf. Cristina, Vicky, Judy) por uma razão simples: nas narrativas de nossa cultura, ela é o protótipo ideal da experiência plena, da vida intensamente vivida.
2) Por sorte ou não, o amor-paixão é raro. A maioria de nós vive relações menos "interessantes" e menos fatais - relações em que a gente se preocupa em criar os filhos, decorar a casa, ganhar um dinheiro ou jogar golfe (cf. Vicky e Doug, Judy e Mark). Não seria tão mal, salvo pelo detalhe seguinte: em geral, nesses casais "normais", ao menos um dos parceiros vive com a sensação de que sua escolha amorosa é resignada, fruto de um comodismo medroso: "O outro não é bem o que eu queria; culpa minha, que não tive a coragem de me arriscar a amar..."Detalhe: como o amor-paixão é um ideal cultural, não é preciso ter atravessado a experiência da paixão para idealizá-la (as más línguas diriam, aliás, que é mais fácil idealizá-la sem tê-la vivido em momento algum).
3) Os que parecem não idealizar o amor-paixão passam o tempo se protegendo contra ele. Deve ser por isto que a "normalidade" amorosa pode ser insuportavelmente chata: porque ela exige a construção esforçada de defesas contra a paixão - argumentos morais e sociais, sempre mais "razoáveis" do que racionais (cf. Mark, Doug). Num casal, quem critica a doidice da paixão não parece sábio aos olhos de sua parceira ou de seu parceiro; ao contrário, ele parece, quase sempre, pequeno e um pouco covarde (cf. Vicky e Doug, Judy e Mark).
4) A paixão não é uma coisa que a gente possa encontrar saindo pelo mundo como um turista da vida (cf. Cristina). Pois não basta esbarrar na paixão; ainda é preciso encará-la quando ela se apresenta.
Pode ser que, um dia, se ela conseguir matar Juan Antonio com um tiro certeiro, Maria Elena seja internada ou presa. Pode ser que Juan Antonio seja um sujeito amoral e, por isso, perigoso. Pode ser que Vicky seja desesperadamente normal, trocando a chance de amar por uma casa num subúrbio norte-americano (estou sendo injusto com Vicky: na verdade ela tenta...).

Mas, para mim, a mais "patológica" de todas as personagens do filme é Cristina. Sua aparente abertura para a vida ("Ela não sabia o que queria, mas sabia o que não queria", narra a voz em off) é apenas uma versão "bonita" e literária de sua "insatisfação crônica" (diagnosticada por Maria Elena, com razão). Nisso, Cristina é muito próxima da gente: ela quer e consegue brincar com a paixão, mas sem perder a ilusão da liberdade ou o sonho do que ela poderia encontrar na próxima esquina.Por isso, sua voracidade é a do turista: tira muitas fotos pelo mundo afora, mas será que ela se deixa tocar pela vida?
5) Disse que "Vicky Cristina Barcelona" trata dos percalços da vida amorosa com leveza e bom humor; de fato, saí do cinema sorrindo, e não era o único. Mas a amiga que me acompanhava comentou: "Adorei, mas é um filme triste". "Como assim?", estranhei. Ela respondeu, com razão: "É um filme triste porque os personagens se apaixonam, vivem sentimentos fortes, mas, no fim, tudo isso não transforma ninguém. Vicky e Cristina vão embora iguais ao que elas eram no começo, sobretudo Cristina...".
Minha amiga tinha razão. O amor e a paixão não nos fazem necessariamente felizes, mas são uma festa e uma alegria porque deles podemos esperar ao menos isto: que eles nos tornem um pouco outros, que eles nos mudem. Agora, nem sempre funciona...“

ps.: Entre as razões para o título deste texto ser Mais Vicky, está a atuação de Rebeca Hall, a melhor do filme, como Vicky.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

pop-down

O UOL, um dos principais portais brasileiros, anuncia o fim do pop-up em suas páginas a partir do próximo mês. É ver para crer. Tomara que a chatice dos pop-ups não seja substituída por algo ainda pior.


"15/12/2008 - 13h07 UOL abandona pop-up a partir de janeiro

O UOL deixará de oferecer ao mercado publicitário o pop-up, um dos formatos mais tradicionais e controvertidos da Internet, a partir de janeiro de 2009.

"A Internet é um meio novo, no qual alguns formatos, como o pop-up, são ultrapassados, enquanto outros se consolidam. Trata-se de uma evolução natural", afirma Enor Paiano, diretor de publicidade do UOL.

O UOL, sabendo da restrição de alguns internautas sobre este formato, considerado "intrusivo e irritante", fornece gratuitamente desde 2003 um programa AntiPop-up, permitindo que os internautas naveguem sem visualizar este tipo de peça.

"O formato sobreviveu, pois o número de usuários que interagem com os pop-ups do UOL é muito maior do que a quantidade dos que reclamam. E os resultados para os anunciantes sempre foram excelentes", explica Paiano.

Recentemente, no entanto, o portal registrou um crescimento expressivo do uso do AntiPop-up: cerca de 65% dos visitantes do UOL usam a ferramenta. Esta constatação precipitou a substituição do pop-up pelo dhtml -- recurso que permite a veiculação de um anúncio publicitário sem a abertura de uma nova janela sobre o conteúdo da página."Fizemos estudos com variações do dhtml e conseguimos resultados semelhantes ou melhores para os anunciantes, em relação ao pop-up", diz Paiano. "E para o usuário é melhor, já que a peça se fecha automaticamente", conclui."

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Darling, stand by me

Recomendo assistir no You Tube a um vídeo simples, mas com uma idéia super bacana: artistas (alguns com pinta de serem artistas de rua, desses que se apresentam em estações do metrô e praças por uns trocados) tocam o clássico Stand By Me, de Ben E.King.

Tem gente dos EUA, Rússia, África do Sul, Itália, Brasil, França, Venezuela, Holanda, Congo e por aí afora demonstrando mais uma vez que a linguagem da música é universal.

Chame quem você gosta para ficar ao seu lado e assistir.

The Queen


Fui ao show da Madonna na segunda-feira, 15, a noite que não choveu no Rio. Trânsito tranqüilo, entrada idem, sem filas, sem tumulto. Tudo organizado, serventes recolhendo lixo toda hora na pista, muita gente trabalhando no apoio, identificados com camisetas numeradas. Antes do show começar, um dos homens de apoio parou à minha frente, com a camiseta preta na qual estava escrito “Posso ajudar? 169”. Declinei da oferta, porque homens não fazem o meu tipo e eu estava lá para ver o show e não para ficar de sacanagem.

Público diversificado, em estilos e idades, composto majoritariamente por casais, grupos de meninas e gays. Metade da comunidade gay carioca estava lá. A outra metade tinha ido ao show da véspera. Em comum, todos tinham animação de sobra.

Mas Madonna começou mal. Ou melhor, não começou. O show teve 1h40 de atraso. Atraso é sempre um desrespeito. Em qualquer situação, ninguém tem o direito de desvalorizar o tempo do outro. Nem artista, nem noiva, nem convidado, nem anfitrião, nem médico, nem chefe.

Entediado com a espera, tive um sonho tão utópico quanto maquiavélico. Que o público abandonasse o estádio e a artista ao entrar em cena se deparasse com o espaço vazio. Isso fere mais do que perder cachê.

O público ficou impaciente e após algumas rodadas de vaias, começou o coro afetuoso de “piranha”, que contou com minha entusiasmada adesão. Claro que ela, se ouviu, não entendeu. Mas é provável que algum assessor de seu staff tenha traduzido o termo para “amada” em inglês.

Finalmente, o show começou. Madonna entra em cena como convém, no trono, de pernas escancaradamente abertas, ao som de Candy Shop, faixa que dá título ao seu último álbum.

Madonna sabe o que faz. Poucas coisas na vida podem ser tão sexy quanto uma loura de body preto, botas de couro de cano alto empunhando uma guitarra.

A galera tira o pé do chão na quarta música, Vogue. E aí já tinha esquecido o atraso, embasbacado com a perfeição de cada detalhe da mega produção, do profissionalismo, da qualidade tecnológica. As computações gráficas nos telões, as coreografias dos bailarinos, os figurinos, a iluminação, o som, tudo estava impecável. Claro que ela precisa do apoio dos backing vocals e usa bases pré-gravadas em vários momentos. Qualquer mortal que dançasse e cantasse como ela, teria que fazer o mesmo, para não perder o fôlego. Além disso, isso é showbizz, e o que assistimos foi um espetáculo, em maiúsculas, e no sentido mais exato do termo.

Madonna é a rainha do pop, assim como Michael Jackson um dia foi rei. Ela desfilou sua coleção de hits que fazem a alegria das pistas de dança mundo afora há três décadas. Música ruim no show? Nenhuma.

E algumas boas surpresas: Borderline ganhou arranjo heavy metal, beeemmm melhor do que o original. Isla Bonita ganhou roupagem mais cigana e ótima coreografia. Hung up também ganhou peso.

Outro bom momento, possível apenas para quem tem uma longa história como ela, foi cantar She’s not me, contracenando com as bailarinas vestidas com os principais looks das diversas fases de sua carreira. Ao final, tascou um beijou na noiva, figurino da época de Like a Virgin. A uma delas, chamou de puta, em bom português.

Enquanto fazia mais uma troca de roupa, imagens no telão e dois bailarinos dançavam ao som de um clássico dos anos 1980, Here Comes The Rain Again, do Eurythimics. O número antecedeu a uma das duas únicas baladas do show, Devil wouldn’t recognize you, com Madonna cantando em cima do piano à frente do palco envolta numa estrutura onde eram projetadas belíssimas imagens de água e de chuva. Emocionante mesmo.

No show há o momento em que ela pergunta a alguém da platéia que música antiga quer ouvir, mas ela tem o direito de recusar o pedido. No domingo, um cara pediu Everybody, que ela disse não gostar. E não cantou. Atendeu quando pediram Express yourself. Na segunda-feira, o pedido foi Dress you up, cantada à capela, com o reforço do coro da platéia.

No domingo chuvoso, Madonna vociferou “Fuck this rain!”. Na noite seguinte, disse que nós devíamos ter rezado muito e nossas preces foram atendidas, porque não chovia. Madonna é isso: orações e palavrões, misturados.

Em seguida, ao violão, emendou Miles away, dedicando-a ao Rio de Janeiro.

Mandonna manda bem. Propôs um acordo com o público. Para continuar cantando, queria mais aplausos. E cutucou a platéia: “Show the queen you love her!” Garota esperta, está no Rio há menos de uma semana e já aprendeu a ser marrenta.

A seqüência que mais levantou o público foi 4 Minutes (To save the world), Like a prayer e Ray of light. O pique foi alto até a última música, Give it 2 me, que ela cantou vestindo a indefectível camisa da seleção brasileira, com seu nome e o número 10 às costas, presente do governador Sérgio Cabral.

No fim, ela brincou de tourear com uma bandeira do Brasil e deixou o palco com ela enrolada no corpo enquanto os telões avisavam “Game over”. Sem bis. O público deixou o estádio extasiado, cantando Holiday e batendo palmas. O show valeu cada centavo do ingresso, o perrengue para comprar, o atraso. Dá vontade de correr a São Paulo para assistir outra vez no próximo final de semana.

Tudo é perfeito, competente, criativo, relacionado, profissional, planejado. Espetáculo para ficar na memória.

Madonna esteve no Rio há 15 anos, em 1993 (eu fui também), e se ela voltar em 2023, eu assistirei de novo. Ela estará com 65 anos. Mas alguém duvida do que ela é capaz? Quem diria, há alguns anos, que Mick Jagger, estaria ainda esbanjando energia nos palcos com essa idade?
Para encerrar, para quem andou falando que ela está magra demais, sarada demais, eu diria que é verdade, ela já esteve com o corpo mais bonito. Mas mesmo assim, se solteiro fosse, eu pegaria a Magronna. Sóbrio.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

As idéias não correspondem aos fatos

A seguir, trechos do texto "As idéias não correspondem aos fatos", de Arnaldo Jabor, publicado hoje em jornais brasileiros:

"Que palavras para designar a paralisia do político brasileiro que vai muito além do conservadorismo, do desejo do fixo? Que nome dar a este melaço da alma que odeia as reformas e o novo? Podemos chamar políticos de reacionários - tudo bem - mas como nomear a linfa ancestral que os alimenta? Que visgo brasileiro é esse que anima os empatadores do progresso? É uma pasta feita de egoísmo, preguiça, escravismo colonial que movimenta essas matilhas de canalhas. Que nome dar a isso? A gosma do mesmo?"
...

"Que outra palavra para nomear a idéia atual de felicidade? Ser feliz hoje é excluir o mundo em torno, como grades em edifícios de luxo. Ser feliz é pelo não. Hoje no Brasil é não ver a miséria, não se preocupar com o país, não acreditar em nada.

Ser feliz: nada ver, nada ouvir. Ouvidos moucos, antolhos, visão seletiva. Neofelicidade? Ou in-feliz-cidade?"

...

"Não há mais palavras para exprimir nossa indignação ou será que não temos mais indignação para exprimir em palavras?"

Então é Natal


Não vou alugar vcs com cantilenas anti-consumistas e clamores pelo verdadeiro espírito do Natal perdido em algum lugar do passado. Sua caixa de e-mails vai ficar entupida de apresentações em power point com musiquinhas ridículas te lembrando que vc é um desnaturado materialista. E que há mais de dois mil anos, um homem morreu para te salvar etc etc etc. Longe de mim ser anti-Cristo, Jesus foi um cara incrível que mudou a história da humanidade, mas essa catequese é sacal.

Pois bem, chega essa época de final de ano e junto com o espírito arrebatador de confraternização, vem também o desejo por aquelas orgias gastronômicas e a motivação para as compras desenfreadas.

É também um período de pragas. A primeira, claro, é o verão em si. Com um calor literalmente infernal nos trópicos a gente se aglomera para comprar lembrancinhas (o termo é repugnante) para todo mundo. Dá-lhe lojinha de R$ 1,99, produtos piratas e trocentas porcariadas nas áreas de comércio popular como a Saara, no Centro do Rio, ou a Feirinha do Paraguai, em Brasília.

O sol rachando a moleira do caboclo e a gente fica vendo em todos os lugares aquela propaganda toda de Bom Velhinho, neve branquinha, pinheiros, renas, trenó, vinho, nozes e o cara@#$%! a quatro.

Daí a gente se refugia num shopping center, porque a modernidade é o inferno com ar refrigerado. Um caos para estacionar. Congestionamento na garagem, todo mundo respirando monóxido de carbono e buzinando. Um esbarra daqui, esbarra dali em corredores, escadas rolantes e lojas lotadas como se fosse final de campeonato no Maraca.

Aí chegamos aos vendedores, esses jovens de interesseira gentileza que conseguem um emprego temporário nessa época do ano, quando sua chatice fica ainda mais aguçada.

Estou olhando a vitrina e sai a vendedora para perguntar se desejo alguma coisa. Não respondo e nem entro. Passo à loja seguinte.

Entro na loja, dois curtos passos apenas, e a vendedora vem perguntar, com o sorriso congelado:
- Quer alguma ajuda?
A resposta, advinhe, é a de sempre:
- Não, estou só olhando.
Daí, ela insiste:
- Procurando alguma coisa em especial?
- Não, só dando uma geral.
- É para vc mesmo ou é presente?
Já nem respondo mais.
- Como vc se chama?
- Leandro (com vontade de dizer “Porra, me deixa em paz!”).
- Se precisar de alguma coisa, meu nome é fulana, tá? É só me chamar.
- Tá. Obrigado (num esforço final de educação)

Passa um tempinho e lá vem ela de novo:
- E aí, gostou de alguma coisa? Se quiser, eu pego lá pra vc experimentar. Qual é o seu número?

Dá vontade de responder:
-“Porra, se eu quisesse alguma coisa, eu já teria te pedido. E claro que vc pegaria para eu experimentar. Afinal, vc é a vendedora, esta á a sua função, certo? Vc quer que eu olhe pouco, experimente rápido e compre logo para vc poder ir atender a outro cliente e aumentar sua produtividade e sua comissão. É justo e legítimo. Mas não me enche o saco. Eu não preciso de ninguém me seguindo pela loja, nem de babá. Me deixe olhar quietinho, se eu quiser alguma coisa, eu juro que te chamo.

Então, eu prefiro não dizer isso tudo. É melhor virar as costas em silêncio e ir embora. Aí, ela manda a infame:

- Não gostou de nada?

As respostas contidas na garganta podem ser:
- Não, não gostei de porra nenhuma, essa loja é uma merda e vc é chata pra c....
Ou
- Gostei de uma porrada de coisas, mas essa porra dessa loja é cara pra cacete, mete a mão, rouba muito...

Mas eu sou um lorde.

Outra mania chata é o amigo oculto. Se vc não participa é visto como sovina ou anti-social. Se participa, vai ter que comprar lembrancinha (aaargh!) para quem mal conhece e ganhar uma bobagem qualquer que nem merece o trabalho de vc ir trocar. Ainda mais com os shoppings lotados. Mais grave ainda é quando resolvem fazer a entrega dos presentes com alguma brincadeira do tipo “dê pistas para o grupo adivinhar quem vc tirou”.

E tem as festas corporativas! Lembre-se que festa da empresa é ambiente de trabalho, mesmo que finjam que não. Então, não encha a cara, não dance I will survive como se o mundo fosse acabar amanhã e vc quisesse sair do armário. E vc, tchutchuca, não desça rebolando até o chão, ok? E, a não ser que vc queira ser vista como a presa mais fácil para o abate, maneire os decotes e o comprimento das saias, certo? E, básico, vc, pegador, não azare todas. Melhor ainda, não azare ninguém. No dia seguinte, todo mundo vai comentar se vc pegou a fulana ou se vc levou um sonoro não. As duas opções são péssimas.

Na reunião da família, rola amigo oculto também. Ou então o discurso do “é só uma lembrancinha para cada um”, porque os tempos estão duros. Daí vc ganha cueca, meia, chaveiro, caneta, camisa cafona.

Ainda na seara familiar, rola o dilema para saber na casa de quem será a ceia. Os seus pais vão ficar chateados se for na casa dos seus sogros e vice-versa. Normalmente, ganham as mulheres. A tradição indica que a ceia fica sendo na casa dos pais da namorada/esposa.

Outro round é entre os filhos. Ou melhor, entre noras. Que entram em competição velada para ver quem prepara o prato mais gostoso e agrada mais a sogra. O tender de uma versus o chester da outra. O arroz versus a farofa. O lombo contra a rabanada. O salpicão versus a maionese. E as sobremesas, então....

No fim, depois de muita sidra, reina a paz. E todo mundo tem que demonstrar que gosta de todo mundo e perdoou as sacanagens e mágoas antigas. Assim são as famílias.

O Natal é uma época iluminada. Sim, por uma infinidade de luzinhas coloridas piscantes penduradas nas janelas e varandas, disputando o troféu decoração natalina mais cafona do ano.

O Natal é também uma época de generosidade. Distribuímos dinheiro: tem as “caixinhas”: dos porteiros, do balcão da padaria, do entregador do jornal, do cara que lava o teu carro, dos copeiros do escritório, da diarista, do blogueiro....

Na TV, tem especial do Roberto Carlos, e, na semana seguinte, retrospectiva do ano, show do “melhor” da música brasileira (que significa axé, pagode, sertanejo e funk), contagem regressiva. Uma novidade atrás da outra.

É também época de dar outra chance a dupla de canções do Lennon, “Give peace a chance” e “Happy Xmas”. Mas nada, nada, pode ser pior do que ter que ouvir exaustivamente a insuportável versão tupiniquim dessa última canção, na voz da Simone: “Então, é Natal!”

Que venha o Carnaval!

sábado, 6 de dezembro de 2008

Chique no último


É a última moda entre os últimos colocados.
Houve um momento em que cheguei a lamentar pelo Roberto Dinamite, que foi um craque, um homem digno e que não merecia passar pelo rebaixamento, para não ter que ficar ouvindo a corja dizer que o time só caiu porque o Eurico Miranda deixou de ser presidente.
Aliás, Eurico declarou nesta semana à imprensa que não não há a menor possibilidade dele torcer para o Flamengo, mesmo que uma vitória rubro-negra evite a queda do Vasco para a Segundona.
Eu sou flamenguista, Eurico. Não há a menor possibilidade de eu torcer para o Vasco.
Bom tombo.

Di-vi-no


Já está à venda nas bancas de Roma o calendário 2009 com as fotos de padres para inspirar pensamentos libidinosos (não confundir com pecaminosos). O calendário é publicado desde 2003 e não é uma iniciativa oficial da Igreja Católica.

No verso de cada uma das 12 fotos, há informações sobre o Vaticano e, segundo os editores, o intuito é promover o turismo no Estado do Vaticano. Ah, tá, entendi. E acreditei.

Para quem aprecia, as imagens dos padres top-models podem incentivar a freqüentar mais a igreja. E a se confessar. E a ajoelhar e rezar...

Eu acho que não vai emplacar nas paredes das borracharias. Mas enfim, e vc de que lado está? O calendário é uma forma legítima e moderna de chamar a atenção para uma igreja que envelhece e não atrai mais os jovens como antes? O calendário é uma sem vergonhice, padre tem que se dar ao respeito? O calendário é objeto de desejo para a comunidade gay e beatas assanhadas? O calendário é lindo? O calendário é uma perversão? O calendário é um sinal de que a Igreja está evoluindo? Não há nada de errado em usar a beleza dos padres como argumento persuasivo? O calendário é só uma picaretagem caça-níqueis? As fotos são artísticas? O calendário estimula vaidade dos padres e luxúria dos fiéis? O calendário tem tudo a ver com a Igreja Católica, recheada de escândalos e boatos sobre a homossexualidade dos padres? O calendário não tem nada a ver com a Igreja Católica, é um apelo vulgar e distorce o verdadeiro espírito da fé cristã? Confesse seus pensamentos.

Eu continuo preferindo os calendários da Pirelli, que, para 2009, traz mulheres na África. Eu sou um velho leão da savana.

Dinheiro vivo


Li nesta semana no Estado S.Paulo, coluna da Sonia Racy, que “o escritor mineiro Murilo Carvalho já resolveu o que vai fazer com parte do dinheiro que ganhou com o Prêmio Leya de Literatura: ‘Vou gastar com livros, mulheres e vinhos’”.

Acrescente viagens a essa lista tríplice e não consigo imaginar melhor uso para o dinheiro.

E é dinheiro pacas: 100.000 € (cem mil euros). O Prêmio Leya tem o objetivo de apoiar os autores que escrevem em Português e contribuir para a sua maior difusão na área geográfica da língua portuguesa e em todo o mundo. Do concurso podem participar autores que, independentemente da sua nacionalidade, escrevam em português e que apresentem romances inéditos e nunca premiados.

Méritos ao Murilo Carvalho pelo prêmio e pelo destino que dará a uma parte da grana.

Frase mais antiga, atribuída ao jornalista e humorista Jaguar diz: “Metade do meu dinheiro eu gastei com bebida e mulheres. A outra metade eu desperdicei mesmo.”

Familiaridade



No dia em que completamos três anos juntos, comemos pizza em um restaurante tradicional do bairro onde passamos nossa infância, adolescência e juventude, antes de nossos respectivos primeiros casamentos. Fiquei pensando no quanto é gostosa a sensação de familiaridade.

Depois, assistimos no cinema ao filme Romance, dirigido por Guel Arraes. Em uma palavra, estupendo! O filme é uma espécie de Tristão e Isolda, história do século XII, devidamente modernizada, abrasileirada e com final mais feliz do que a clássica morte dos amantes.

No elenco, Wagner Moura, Letícia Sabatella, Andréa Beltrão, Vladmir Britcha, Marco Nanini e José Wilker têm ótimas performances em roteiro muito bem costurado de Jorge Furtado e do próprio Guel Arraes.

É bom caminhar abraçado ao lado de quem a gente conhece, pelas ruas da vizinhança, em noites de lua. Alguém que goste de pizza, cinema, conversas banais, risadas, simplicidade, romance...

A rotina destrói um casamento. A ausência de rotina destrói muito mais.