terça-feira, 30 de novembro de 2010

A minha conversão

Não posso dizer que nasci de ventre tricolor porque minha mãe não chega a ser torcedora, mas apenas simpatizante do Fluminense. Mas posso afirmar que fui criado no seio de uma família tricolor.

Meu tio se aplicava com dedicação à minha catequese, a de meu irmão mais velho e de nossos primos. Levava-nos ao Maracanã, comprava camisa do time, fazia a nossa cabeça. Deu certo com os outros. Mas, contrariando o ditado, quem sai aos seus às vezes degenera, sim.

Ou se regenera. Eis a história da minha conversão. Corria o ano de 1977 e eu estava na terceira série do ensino fundamental, com oito ou nove anos. Vivia intensamente meu primeiro e – pensava eu – definitivo amor pela Bianca, uma morena de coxas grossas e nariz empinado a quem eu seguia na escola. E por quem, claro, eu era sumariamente desprezado.

Certo dia, eclodiu na hora do recreio uma briga generalizada entre meninos torcedores do Vasco e do Flamengo, rixa que, a princípio, não me dizia respeito.

Até que Bianca gritou “Mengo!”

Imediatamente, entrei na briga ao lado dos flamenguistas, tomado de súbita e inflamada coragem. Irremediável paixão. Ali, me converti. Ou virei casaca, como diziam meus detratores. Pouco me importa. Vocês sabem, é como diz a letra do hino: “uma vez Flamengo, sempre Flamengo”.

Pude então testemunhar, já como torcedor fanático mirim, o antológico gol de cabeça de Rondinelli (o “deus da raça”) contra o Vasco na decisão de 1978 e anos gloriosos do melhor Flamengo que já existiu, com um time inesquecível, naquele final da década de 1970 e início da de 1980: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico.

Mesmo depois do meu ato heróico, Bianca continuou a me ignorar e a paixão passou – sempre passa. Há poucos anos, tive breve contato com ela via redes sociais, mas ela jamais soube dessa história. E do quanto foi, de forma inusitada, importante na minha vida.

Desde então, tem sido assim. Eu sou obra das minhas mulheres.

Toda essa conversa é para dizer que, honrando as origens, estou torcendo para o Fluminense ser campeão brasileiro no próximo domingo. Fui tricolor quando criancinha. Considerando que o Flamengo está fora do páreo , talvez até eu conseguisse torcer pelo Botafogo, mas só porque minha mulher é botafoguense (pois é, nem ela é perfeita). Mas torcer pelo Vasco, jamais! Seria contra a minha religião.

sábado, 27 de novembro de 2010

Preparar! Apontar! ...


Nessa semana em que os confrontos entre narcotraficantes e a polícia ganharam contornos de guerra civil no Rio de Janeiro, umas das imagens mais impressionantes foi a de um bando fugindo por uma estrada de terra que liga a Vila Cruzeiro ao Complexo do Alemão, após combate com policiais.


A pergunta que muita gente fez foi por que a polícia não aproveitou esse momento exato para, com os helicópteros que acompanhavam a operação, abrir fogo contra os bandidos desbaratados em fuga?

Certamente não foi falta de vontade, nem de recursos materiais e humanos. Suponho que o que tenha segurado o dedo dos policiais no gatilho tenha sido a mídia. Com as lentes das câmeras e os olhos do mundo voltados para o conflito, se metralhassem os bandidos em fuga aqueles ativistas defensores dos direitos humanos dos bandidos fariam um escarcéu.

Aliás, se espalhou pelo Twitter o post: “Policial que matar três bandidos pede música no Fantástico”. Para quem é de fora e não entendeu, é o seguinte: jogador que faz três gols em uma rodada do campeonato pede para tocar a sua música favorita no programa Fantástico.

A guerra contra o narcotráfico no Rio tardou a começar. Tomara que não tarde a terminar. E que vença o menos pior, ou seja, a polícia.





ps.: o Rio de Janeiro continua lindo.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Som bom








Quer saber mais sobre Adele? Indico o texto de Flavia Durante no link a seguir, o qual eu não escreveria melhor.

http://revistatpm.uol.com.br/notas/adele-esta-de-volta.html

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O shopping duca

Quando a gente pensa que já viu de tudo nessa vida, aparece isso.

Quem convive comigo diz, quase injustamente, que eu maldo as coisas. Ponho pitadas de sacanagem em tudo. Vejo sexo na mais singela e inocente palavra. Freud explica e eu aplico.

Mas vamos combinar que o pessoal da agência também estava de sacanagem (ou não) quando criou a campanha para esse shopping em Teresina, no Piauí.

“Pintos Shopping: tudo que você mais gosta no lugar que você sempre quis.”

O que que é isso, meu Deus do céu??!!!


Leia mais e veja os filmes da campanha estrelada por Reynaldo Gianecchini, na reportagem do Meio e Mensagem.
http://www.mmonline.com.br/noticias.mm?url=Agencia_fica_famosa_com_campanha_do_Pintos_Shopping&id_noticia=145750

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Louco, mas limpinho

Eu sou um caminhante. Não apenas porque gosto, mas porque tenho um cachorro grande e ele precisa de exercícios diários.


Outra vantagem é que flanar pelas trilhas urbanas costuma render pauta para cronistas (desins)pirados como este que vos digita estas mal traçadas. Ainda mais em Copacabana, bairro repleto de velhos, putas, putos velhos e figuraças em geral.

Hoje cedo, topei com um sujeito que já vi outras vezes por ali lendo as manchetes nos jornais pendurados na banca. Apesar da barba grisalha, é jovem demais para ser aposentado e largado demais para estar empregado. Está sempre de bermuda, chinelos e tem aquele hábito terrível de usar a camisa desabotoada no peito, até onde começa o pronunciado barrigão de chopp.

Bem, o cara estava com um cotonete enfiado no ouvido esquerdo. Ou seja, é louco, mas é limpinho. O objeto parecia esquecidão lá, mas não se pode descartar outras hipóteses: o sujeito não quer ouvir os ruídos do mundo? Ele ia dar um mergulho na praia e supôs que assim evitaria que entrasse água?

Cogitei avisá-lo, mas temi a reação. Ele poderia não gostar e esbravejar. Mas pior ainda seria se quisesse pegar amizade e puxar conversa toda vez que nos encontrássemos.

Deixei quieto. Punks já espetaram alfinetes nas orelhas, moderninhos usam piercings. Vai que o cotonete é tendência fashion para o verão?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Duas ou mais

Andando à minha frente em Copacabana, um casal de jovens, as duas na casa dos 20 e poucos, uma morena e outra loura.


A morena, especialmente, linda. Caminhavam enamoradas, de mãos dadas, conversando animadamente, sorridentes, genuinamente felizes. Pararam, beijaram-se na boca a luz do dia, no meio da rua, como todas as pessoas deveriam poder fazer sem temer hostilidades homofóbicas.

Poucas coisas são tão poderosas no imaginário masculino do que duas mulheres se pegando. Fantasia sexual de 99,9% dos machos.

"E por quê?" Me pergunta uma amiga. "Por que vocês gostam tanto de duas mulheres juntas?" Não creio que a razão seja a ilusão machista da incompletude. Ou seja, o equívoco de achar que duas mulheres precisam de um falo para alcançar o pleno prazer.

Somos mais simples e rasos. Gostamos de duas mulheres porque, homens, somos bichos quantitativos.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Última parada (em um futuro longínquo)

Sem nenhum demérito ao jazigo familiar no Cajú, o cemitério carioca com nome de fruta tropical, onde serei deitado na boa companhia dos Wirz que me antecederem (sem pressa, pessoal! Há lugar para todos), eu quero ser enterrado em Berlim.


Não é nem por conta do calor que faz por aqui. A Morte mantém sempre o ar condicionado ligado. Mas eu não vou estar em condições de sentir nada mesmo.

Enterrado em Berlim. Precisamente em Friedhofspark Pappelallee, que traz na porta a seguinte inscrição: “Viva agora, bem e com beleza, pois não há o outro lado e nem ressurreição.” Embora se equivalham em realismo, a inscrição alemã é bem mais simpática do que o “Revertere ad locum tuum” que está na porta do Cajú, né não?