sexta-feira, 30 de outubro de 2009

The fun theory

A Vokswagen fez na Suécia uma experiência interessante, chamada “The Fun Theory”. A ideia é de que é possível mudar comportamentos por meio da diversão. Na escada de uma estação de metrô, a empresa instalou sensores sob os degraus e fez com que cada degrau parecesse uma tecla de piano. Conforme as pessoas pisavam os degraus, eram emitidas notas musicais. Na hora do rush, deveria rolar uma anárquica melodia atonal, já que ninguém é Beethoven com os pés. Mas tudo bem, o que vale é a diversão.

Resultado da iniciativa: aumento de 66% no número de pessoas que preferiram usar a escada (ou escala) musical ao invés da escada rolante ao lado. Ou seja, preferiram a alegria à comodidade.

E você?

Alegria ou comodidade?

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Contra é chique



Há algumas semanas, o caderno de entretenimento do Le Figaro, divulgou o resultado de uma pesquisa com os leitores para escolher quem representa “o ápice do chique, a classe urbana e a incontestável elegância da mulher parisiense”.

A vencedora foi a ex-modelo Inès de La Fressange, durante anos o rosto da Channel. Depois, na sequencia, as atrizes Emma de Caunes, Chiara Mastroianni (que tem nome lindo e respeitável pedigree, filha de Marcelo Mastroianni e Catherine Deneuve), e Valérie Lemercier. A cantora e primeira-dama Carla Bruni amargou um mero 5º lugar.

Tudo isso é uma bobagem, claro, mas um detalhe me chamou a atenção. De acordo com o caderno, a vencedora deveria ser “urbana, curiosa, rebelde, contraditória, elegante, apaixonante e culta”. Peraí. “Contraditória”?! Desde quando ser contraditório é atributo de elegível? Eu me perdi ou antes a gente apreciava a coerência?

Pensando bem, é isso mesmo. Somos todos metamorfoses ambulantes, radicais até mudar de idéia. Esquece a velha opinião formada sobre tudo e toca Raul! “Quem mergulha em si mesmo só encontra contradições”, quem foi mesmo que disse isso? Não sei, mas da hora em que acordo até o momento em que me deito, eu tenho um monte de contradições.

No mais, sempre me interessou a utilidade do fútil.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Casamentos



Neste mês, um casal de tios faz Bodas de Ouro. Meus avós maternos viveram juntos por 52 anos. Estou certo que outro casal de tios também teria chegado ao cinqüentenário de casamento, se um câncer no pulmão não tivesse levado meu tio prematuramente. Em todos estes casais, havia - ou há – amor e harmonia quando chegaram à data festiva.

Nada tem que durar para sempre. O amor, que já é lindo, não precisa ser eterno. Mas acho bonito pacas quando um casamento dura esse tempão todo. Desde que, é claro, com amor, harmonia, respeito, companheirismo. Porque casamento por acomodação ou de fachada, não, obrigado. Se o sentimento acaba, então que cada um siga para o seu lado e busque o seu jeito de ser feliz.

Neste mês, eu faço três anos de casado. Eu casei pela última vez aos 38. Com sorte, eu espero que ainda dê tempo de chegar lá nas Bodas de Ouro. Vontade não falta.

Por outro lado, houve época em que eu queria ser como Vinicius de Moraes, não apenas pelo extraordinário talento como escritor, mas pela quantidade de casamentos. Foram nove os casamentos de Vinicius, que faleceu em 1980, aos 62 anos.

Um dia, ele foi questionado pelo parceiro Tom Jobim: "Afinal, Poetinha, quantas vezes você vai se casar?". Num improviso de sabedoria, Vinicius respondeu: "Quantas forem necessárias."

Eu estou no meu terceiro casamento. E último, gosto de frisar. Mas se, neste quesito, já fui aprendiz de Vinicius, este é aprendiz de outro poeta, Thiago de Mello, autor de “Os Estatutos do Homem”. Nesta semana, o amazonense casou-se pela vigésima oitava vez! De acordo com nota publicada em 21/10 na coluna do jornalista Ancelmo Góis, a mais recente esposa tem pouco mais de 30 anos e chama-se Poliana.

Pollyana é a protagonista do clássico da literatura infanto-juvenil, de Eleanor H.Porter, publicado em 1913. O nome da personagem, por seu eterno otimismo e sua capacidade de ficar feliz nos piores momentos, acabou se convertendo em sinônimo de ingenuidade.

Os casamentos são os mais belos - e poéticos - rituais de ingenuidade.

Separações

domingo, 18 de outubro de 2009

O capítulo 82



Já recomendei aqui antes (“O barbeiro de Brasília”, 01.08.2009) a leitura do blog Desabusado, onde o jornalista e escritor Paulo Paniago vem publicando os capítulos de seu romance em construção. Ainda sem título, o “livro virtual” tem capítulos publicados diariamente desde julho.

Reforço a indicação de leitura, e lendo vocês saberão por que, especialmente do capítulo 82, “Gentileza e ausência de”, postado horas atrás por esse “romancista amador, jardineiro de jardins que se bifurcam”.

O desabusado tem gradualmente conquistado mais seguidores e já recebeu mais de cinco mil visitas. Vá lá, leia todos os capítulos anteriores (são curtos) e passe a acompanhar o romance. O texto de Paniago é excelente.

http://desabusado.blogspot.com/2009_10_01_archive.html

Tattoo na lombar



Tatuagem na lombar é sempre um risco. Pode ser bonita e estilosa (como esta aí da foto, trabalho do artista Jun Matsui, que atua na ponte São Paulo-Tóquio) e ficar super sexy, como pode ser um desastre. Tribais básicas costumam funcionar bem. Mas, assim como na vida, é preciso muito cuidado com as palavras. Desnecessário lembrar que estas, quando tatuadas, literalmente marcam. E erros podem ser eternos.

Se o desenho descer mais um pouco e ficar sobre o cóccix, é preciso ainda mais cuidado. Pimentinhas tatuadas ali ficam no limiar da vulgaridade, o que não aconteceria se estivessem noutra parte do corpo. Vi as fotos de uma modelo, em que ali já na parte coberta pelo biquíni estava escrito: “Love me”. Meu amor, fala sério. Ali, bem ali, na hora H, a gente vai embaralhar as letras e ler “Me come”.

Um conhecido, desses que não perdem viagem, fazia um lanche na praça de alimentação de um shopping na Zona Norte do Rio quando se encantou pela atendente de uma rede de fast food (sem trocadilhos, por enquanto). Troca de olhares, sorrisos, conversa vai, conversa vem, “que horas você sai?” “”vai fazer alguma coisa depois?”, “vamos tomar um chopp?”, “vamos lá pra casa?”

Foram. Já no quarto, tudo apagado, ela pediu para desligar uma luz lá na sala, que nem levava tanta claridade assim. Justificou, meio encabulada, dizendo que tinha uma coisa que não queria que ele visse.
- “Ah, a tatuagem com o nome do Thiago?”. Estava ali, na lombar.
- “É, não te incomoda?!”
- “Sinceramente, acho que, dada a situação em que estamos, acho que quem teria que se incomodar é o Thiago...”

Pano rápido. Cena 2:

Outro amigo conheceu mulher na balada e foram fechar a noite no motel. Lá pelas tantas, ela se virou, posição quatro apoios e estava escrito na lombar: “Deus é fiel”.

Pode ser. Mas é broxante.

Eu li as notícias de hoje

Ler os jornais diariamente durante uma semana nos convence de que a humanidade é um projeto que deu errado.

Violência urbana, guerras, fome, epidemias, custo de vida, desemprego, corrupção em todos os níveis, a ignorância, o jogo sujo da política, os políticos, a precariedade do sistema de saúde e de previdência, o tráfico e as vidas perdidas para as drogas, os meninos nos sinais, os crimes hediondos, a crueldade, a morosidade da Justiça, a impunidade, a falta de grana, a falta de infra-estrutura nas comunidades carentes, a falta de educação, os valores distorcidos, a pedofilia, o discurso imbecilizante das religiões, os ataques velados e declarados a democracia, o cerceamento das liberdades individuais, o preconceito, o racismo, a homofobia, a quase ausência de consumo cultural e de reflexão, e mais um longo etc de mazelas são de tirar o ânimo.

Tem horas que penso que só existem duas coisas ilimitadas no homem: a burrice e a maldade.

Haja capacidade de abstração. Ou de superação.

Mas vamos em frente. Porque hoje é domingo. E todo dia pode ser útil. Faz sol lá fora, depois de tantos dias no Rio de Chuveiro.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Bukowski




Vestiu o velho jeans, camiseta preta e all star igualmente preto. Seguiu rua escura até o Bukowski, o bar com nome de poeta bêbado. Bandinha boa levando os indefectíveis clássicos do rock.

A inspiração para a noite era o bluesman John Lee Hooker, “One bourbon, one scotch, one beer”.

Sentou-se solitário a um canto, filmou à distância a mulherada, tomou algumas várias doses de destilados e fumou uns Marlboro Light. Sentia-se em casa. Aquele era o seu habitat, desde sempre. Meia-luz, música alta, fumaça. Num punhado de velhas canções reside a esperança para toda a dor.

Cantou a plenos pulmões, batucou nas próprias pernas, dedilhou guitarras imaginárias. Seu sonho sempre foi estar em um palco tocando suas próprias composições.

Nem todos os sonhos se realizam. Disso ele não apenas sabia, como era prova.

Voltou para casa quando todas as luzes da noite se apagaram.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Não basta limpar. Tem que educar.

Estou a maratonas de distância de ter fôlego olímpico ou físico de atleta. Mas, chuva ou sol, frio ou famigerado calor, caminho os 7,2km da orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos cenários mais embasbacantes desta cidade pródiga em belas paisagens.

A Lagoa vem tendo seu projeto de despoluição patrocinado pelo bilionário Eike Batista, em iniciativa louvável. A olhos vistos, a água está mais clara e as aves voltaram em bandos, o que indica que os peixes também estão lá em grande quantidade.

Vale ressaltar que sempre vejo garis fazendo a limpeza da pista ao redor. Mas ainda me espanto diariamente com a quantidade de lixo que há na água, próxima às margens, boiando ou presa na vegetação. São garrafas pet, sacos plásticos, pacotes de biscoito, copos descartáveis e mais um monte de porcarias. Outro dia, havia uma caixa de isopor boiando. O que leva um filho de uma égua a jogar uma caixa de isopor na Lagoa?!

Este problema não é exclusividade da Lagoa, infelizmente. Padecem do mesmo mal todos os rios urbanos, as lagoas da Zona Oeste e as praias cariocas, sobretudo aquelas dentro da Baía de Guanabara.

Não há dinheiro no mundo que seja suficiente para despoluir qualquer um desses lugares se o Zé Povinho continuar a jogar lixo nas águas. Quando escrevo “Zé Povinho”, friso que isso não tem nada a ver com condição socioeconômica, mas sim com educação e consciência, não importando o saldo da conta bancária.

Não adianta. Na base de tudo está a educação.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Rio 2016. Ao trabalho!



Confesso que no início eu não levava nenhuma fé na candidatura carioca à sede da Olimpíada 2016. Achava que era factóide e a empolgação estava mais na imprensa e nos políticos, que queriam estimular um clima ufanista.

Mas há algumas semanas, eu assisti ao filme que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) fez para promover o projeto do Rio. E achei muitíssimo bem feito. Capaz de convencer qualquer um, especialmente se esse qualquer um não vive no Rio e não conhece de perto as mazelas locais.

Eu torci a favor e estou feliz que o Rio tenha vencido a concorrência.

É claro que há muito a ser feito. Muito mesmo. O Rio tem problemas gigantescos, tão grandes quanto sua beleza.

Acho ótimo que os Jogos Olímpicos sejam realizados aqui. Junto com a Copa do Mundo de 2014, irão gerar uma onda de investimentos e de valorização da cidade. Isso vai mexer com nossa auto-estima. E vai projetar ainda mais o Rio no exterior. Esta é uma cidade que tem que assumir sua vocação turística e de prestação de serviços.

Claro que, junto com os investimentos, os empregos, as obras, as reformas, as melhorias, virão os aproveitadores de plantão, e muita gente vai ganhar dinheiro. A maioria, honestamente. Alguns, ilegalmente.

As Olimpíadas criam motivação, melhoram a possibilidade de retorno para os investimentos e geram prazos improrrogáveis para conclusão dos projetos. Precisamos é aproveitar a oportunidade de fazer com que os Jogos deixem na cidade uma herança positiva concreta e outra, de valores imateriais, talvez até mais importante.

Ah, por favor, não venham com o discurso de que a Olimpíada não é prioridade. Temos outras urgências, muito mais graves. Deveríamos investir esse dinheiro em saúde, educação, saneamento, habitação, infraestrutura, combate à violência etc etc etc

Ok, concordo, só que isso não aconteceria, mesmo que a Olimpíada não fosse realizada aqui. Afirmar o contrário é tão fantasioso quanto protestar porque os trilhões de dólares gastos para abrandar a crise financeira mundial em 2008 poderiam ter sido usados para acabar com a fome no mundo. Poderiam, mas...

Então, celebremos! Rio 2016, com orgulho, alegria e consciência. Mas, sobretudo, trabalhemos. Pode ser que assim, com seriedade e empenho, esta cidade volte a ser maravilhosa. Eu vou arregaçar as mangas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O piano do outono

O tempo passa – cada vez mais – rápido e eis que já é outubro. Outono no Hemisfério Norte é a mais bonita e poética das estações.

E justamente porque o tempo passa tão apressado, vale buscar, lá em 1981, a música que dá título ao segundo álbum do U2: “October”.

Ouça atentamente o piano do outono.

October (by U2)

October
And the trees are stripped bare
Of all they wear
What do I care?

October
And kingdoms rise
And kingdoms fall
But you go on …and on…