A nada simpática moça do caixa do estacionamento do shopping repete automaticamente diante de todo cliente que lhe entrega uma cédula: “Não tem menor, não?”.
Seu emprego é ruim. Oito horas diárias em um cubículo envidraçado, lidando com dinheiro sujo, e aturando o barulho dos carros na garagem.
Ela não disse bom dia.
O cliente lhe entregou uma nota de R$50 para pagar R$5. O caixa eletrônico do banco é programado para fornecer o menor número de cédulas para a quantia sacada.
Ele não disse bom dia.
Ele respondeu então que não tinha nota menor. Mas como sou alto, pude ver sobre seus ombros que na carteira havia outras notas.
A moça fez uma expressão de incredulidade. Fechou a cara e então deu o troco, literal e metaforicamente. Deu-lhe duas notas de R$20 e para os R$5 restantes devolveu tudo em moedas de R$0,50 e R$0,25.
Nem ele nem ela fizeram nada de ilegal. Ambos estavam dentro do seu direito. Ele de pagar como quisesse e ela de dar o troco como quisesse.
Mas os dois perderam boa oportunidade de, simplesmente, serem gentis. Ao invés disso, preferiram ficar emburrados um com o outro.
“Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, só ficaram no muro tristeza e tinta fresca...” (Gentileza – Marisa Monte)
4 comentários:
Cara, esse é o pensamento de sempre levar vantagem em cima dos outros, que infelizmente assola o Brasil e percebo com maior força aqui no Rio. Se não pode levar vantagem saindo sem pagar ou dando o troco errado, deixa eu ganhar trocando minha nota alta e deixa eu descontar enchendo o bolso do cara de moedas... Na cabeça de cada um, eles estão levando sua vantagem em cima do outro, e o ciclo continua...
Triste realidade...
leandro, como sempre, observação extremamente acurada do comportamento humano. e a narrativa? perfeita, com interpolações e depois considerações pessoais. mandou benzaço de novo. cansa não? ou melhor, por favor, não se canse. grande abraço.
Qdo alguém me pergunta: "Não tem menor, não?", respondo: "Poxa, existe nota menor do que esta? Não sabia! Pensei que fossem todas do mesmo tamanho!"
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