sábado, 19 de setembro de 2009

Simplesmente



Assisti no CCBB à “Simplesmente eu, Clarice Lispector”, monólogo em que Beth Goulart interpreta a escritora, a partir de fragmentos de textos dela. Não foi a primeira vez. Em Brasília, 2005, assisti outro espetáculo com proposta similar, daquela vez protagonizado por Aracy Balabanian. A razão de ser dessas produções pode residir no fato de que, como escrito no programa da atual montagem, talvez seja a própria autora a personagem mais enigmática do universo de Clarice.

Tudo na peça é bem feito, azeitado. Beth Goulart tem o talento e o physique du rôle, os figurinos são lindos e funcionais, o cenário é clean e prático e a luz também atua para que o conjunto forme um belo espetáculo. Bem, o texto é de Clarice Lispector, então é ótimo. Com direito às muitas frases de efeito que frequentam sua excelente prosa.

Mas ainda assim, apesar de tudo ser tão perfeitinho, a peça é chata. Talvez porque falte ação, talvez porque eu simplesmente não estivesse no clima. Talvez porque esteja me tornando menos sensível. Talvez porque eu tenha aceitado a sugestão de Cazuza e já tenha pago a conta do analista para nunca mais ter que saber quem eu sou. O fato é que ando muito sem paciência para essas questões existencialistas. Quem sou? Por que faço? O que sinto? Por que escrevo? Escrevo o que sou? Sou autor ou personagem? Por que respiro? Ah, não, cansei. Quero tudo mais simples, simplesmente.

Já fui de Shakespeare, mas agora eu quero Shakesbeers. É, “Two beers or not two beers?”. É mais divertido que o tal do “to be”.

Um amigo, que também sentiu vergonha de admitir que não gostou da peça diante da patrulha intelectual, definiu-a assim: "É muito mulher. Ela fica lá andando de um lado para outro, falando um monte de coisa, se questionando o tempo todo...Enfim, ela é uma maluca" . Eu garanto que meu amigo não é nenhum bronco, muito pelo contrário. Seu comentário tem menos preconceito de gênero do que constatação sobre como muitas se comportam.

E eu gosto muito de ler os livros de Clarice, que fizeram parte da minha “descoberta do mundo”.

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