Foto: Giscard (picasa)
Então ele disse:
- Não posso falar agora.
- Mas vc atendeu ao celular...
- Só pra te dizer que não posso agora.
- Eu só queria te avisar pra vc ler logo um e-mail que eu te mandei.
- Agora não dá. Mais tarde.
- Tá tudo bem? Que que tá acontecendo?
- Tá chovendo.
Aí me caiu a ficha, como um raio na cabeça: estava chovendo em Brasília. Depois de seis meses sem cair uma gota, desaba aquele temporal maravilhoso que lava a cidade, a garganta e a alma, tudo ao mesmo tempo. Quem vive ou já viveu em Brasília sabe o que é essa sensação.
O céu, que de maio a setembro foi uma redoma azul sobre nossas cabeças e proporcionou os mais lindos pores-do-sol, torna-se cinza chumbo e feroz. A gente vê os raios distantes e a chuva vindo em cascata do horizonte. A terra, que arde vermelha com os últimos fiapos resistentes de grama, solta aquele cheiro de terra molhada que não tem igual. E o Eixão, a L2 e a W3 ganham a espuma do óleo que sobe do asfalto. E parece que todo mundo suspira aliviado nas entrequadras.
Meu amigo tem toda razão. A primeira chuva em Brasília justifica sustar qualquer urgência. O mundo que pare, eu não tô nem aí. O melhor mesmo é só olhar a chuva. E ouvi-la. E cheirá-la. E deixar-se molhar, corpo e (c)alma.
5 comentários:
Excelente!!! Pelas boas notícias e pela descrição da chuva que aplaca a secura capital... apesar de muitas vezes contrastantes, Brasília realmente tem seus encantos!
Abraço!
Lindo!
Que lindo! Quanta poesia em suas palavras! Quisera eu poder descrever tamanha emoção... Realmente a chuva em Brasília é tão encantadora que me emudece os adjetivos!
Beijos no coração
Aaaaaai, como eu entendo essa sensação. A terra vermelha que corre nas minhas veias me faz entender de chuva que nem índio. De dentro do buraco do metrô eu digo "coloca a capa que tá chovendo" e quando a gente chega lá fora meu interlocutor me pergunta como eu sabia. Eu sou de Brasília, beibe. Eu sinto cheiro de chuva. :o) Esse post foi uma viagem-literalmente-relâmpago.
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