domingo, 28 de setembro de 2008

Pérola em copo de leite


Circulando entre balcões, mesas e prateleiras, encontrei Ostra feliz não faz pérola, de Rubem Valente. Já tinha lido a crítica ao livro e esse título é brilhante. Para quem não sabe, a pérola resulta da dor, de uma ferida causada por um grão de areia. A ostra vai, aos poucos, embalsamando esse grão até que surge a pérola. A beleza nasce da dor. Não é disso que precisam os poetas? De um grão de areia apenas?

O livro reúne pequenos textos, anotações, pensamentos, de modo que em cada página o leitor pode encontrar um início e um fim.

Eu estou no meio.

E segui adiante até estancar diante de Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite. Como resistir a um título assim?! O livro é o terceiro da blogueira Fal Azevedo (http://www.dropsdafal.blogbrasil.com/) e expressões da nova literatura nacional têm me atraído muito ultimamente.

O romance conta a história de Alma, artista plástica de 44 anos, sóbria há 4 anos, 7 meses e 19 dias. Alma está recolhida em sua casa na cidade praiana de Bertioga, mas em um bairro pobre e longe do mar. Lá, entre cães, gatos e bolos caseiros, ela compartilha sua história, seus sentimentos, suas perdas, seus momentos felizes. Alma nos conduz por seu universo com extrema sensibilidade e um senso de humor aguçado, mordaz. Faz isso com tamanha força e lirismo que um pouco de nós surge nas páginas.
Outro dos meus hábitos virginianos é ler tendo em mão uma caneta marca-textos, para destacar boas sacadas ou trechos que considere especialmente bem escritos. Minúsculos assassinatos ficou bastante riscado.

A orelha do livro anuncia que esse é um livro inadiável. Foi para mim. E como todos os capítulos têm títulos de comes & bebes, eu o devorei prazerosamente.

Um comentário:

f. disse...

Querido, que delicadeza. Muito obrigada, de coração.