domingo, 6 de setembro de 2009

Eu não rio, tia

Foto: Leandro Wirz




Fui ao Centro da cidade no sábado de manhã. Como algumas faixas de ruas são fechadas ao tráfego e convertidas em estacionamento, o trânsito fica ruim mesmo no final de semana.

Estacionei ali perto do Teatro Municipal, em restauração para celebrar seu centenário. A moça que estava lá de “dona da rua” me abordou com aquela simpatia irritante que pretende fabricar uma intimidade que não existe. Forçar a amizade.

- “Oi, bom dia. Veio trabalhar ou veio passear? Vai demorar? Você está sério, meu querido, tá tudo bem? Eu quero ver todo mundo sorrindo aqui.”

Dito isso, me extorquiu os regulamentares R$ 2 para fingir que toma conta do carro. Eu fui fazer o que tinha para fazer numa loja de informática e voltei meia-hora depois.

Ao lado do meu carro, perto da porta traseira, encontrei um enorme cocô, digamos, recém-feito. Humano e não canino.

Quando estou manobrando para sair da vaga, vem a simpática guardadora, me pede para abaixar o vidro e pergunta, como se fosse da conta dela:

-“Já vai? Tá cedo ainda. Vai pra casa?”

E, então, bancando a tia gente boa, ela veio com a proposta:

-“Me devolve o talão do estacionamento, que eu aproveito em outro carro.”

Desse jeito, ela daria um recibo a menos e poderia embolsar o dinheiro direto. Só mais um pequeno delito. Tudo tão normal, tudo tão carioca, tudo tão Rio de Janeiro, a cidade mais feliz do mundo.

Recusei e fui embora sem olhar para trás.

Um comentário:

Carol Nogueira disse...

Ai.
Te entendo.
Que falta de saudade que eu sinto disso tudo.