domingo, 16 de novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona

Foto: Divulgação


Assisti ontem à noite a Vicky Cristina Barcelona. Aviso: vou contar o filme. Se você ainda não assistiu, mas pretende, deixe para ler este texto quando voltar do cinema.

Já tinha visto o trailer e o argumento do filme me pareceu interessante. Além disso, é um filme com a assinatura do genial Woody Allen e tem no elenco Javier Barden, Penélope Cruz e Scarlett Johansson. Nem precisava tudo isso. Eu assistiria até peça de teatro infantil com a Scarlett. Até comprei o CD “Anywhere I lay my head”, em que canta com voz miúda canções do bardo Tom Waits.

O filme tem uma narração em off bastante freqüente, a história nos é contada como se alguém estivesse lendo um livro para ouvirmos. Recurso bem interessante e funcional, mas que tem o risco de parecer aquela leitura de cabeceira, que a gente usa para o sono chegar. Fica didático, mas esfria um pouco a história.

Vamos às apresentações: Javier é Juan Antonio, um pintor que teve um divórcio tumultuado de sua mulher, também artista plástica, Maria Elena (Penélope). Ou dois formarão um triângulo com a desocupada de plantão Cristina (Scarlett), no verão que ela passa em Barcelona com sua amiga Vicky (a excelente Rebecca Hall) e seu noivo/marido mauricinho Doug. Se contarmos que Juan Antonio também pega Vicky, então temos, na verdade, um quadrado amoroso.

Juan Antonio faz jus ao nome e merecia o título de Don. Seduz todas com charme e estilo, mas, no fundo é carente, incapaz de ficar só, que se une a mulheres instáveis para que ele não pareça tão fraco. Sua ex, atual e eterna, Maria Elena faz a linha sexy, criativa, brilhante, passional, temperamental, pirada. Uma mulher que faz lembrar a personagem maluca mala, otimamente interpretada por Leandra Leal em “Nome próprio”. Aliás, esta é uma característica comum entre os dois filmes. Tanto VCB quanto “Nome próprio” têm excelentes argumentos/roteiros que, no final, nos deixam a impressão de que poderiam ter virado filmes melhores do que são.

Scarlett Johansonn é a experimentadora, que busca não sabe o quê. Repete apenas que só sabe o que não quer. É uma insatisfeita crônica. Mas quem melhor a define é Doug, o marido de Vicky. Ele diz que ela é faz o tipo criativa-artista que ainda não se encontrou, julga-se pretensiosamente mais especial do que realmente é, porque, na verdade, esse tipo é apenas um clichê cansativo. Bingo! Conheço várias pessoas assim...

Cristina forma então um triângulo amoroso bem sucedido com Juan & Maria, em que todo mundo transa com todo mundo. Tudo vai indo bem, até que ela, claro, cansa. E resolve que quer outra novidade. Afinal, ela só sabe o que não quer... Daí, sem o elemento estabilizador, a relação de Juan & Maria entra de novo em sua espiral auto-destruidora. Na verdade, os dois estão presos um ao outro, dançando sua música doentia.

Vicky chega à Barcelona só para concluir o mestrado em Identidade Catalã, antes de casar-se com Doug, o certinho. Numa cena que ilustra bem o pragmatismo, o “what for?” dos nossos tempos, um amigo lhe indaga: “E o que vai fazer com isso?” (o mestrado). Vicky cai na sedução de (Don) Juan Antonio e é a única no filme que parece sentir dor verdadeiramente. Diante dessa situação inesperada ela se vê confrontada com seus sentimentos, seus planos e certezas. Ao final, depois de levar um tiro acidental de raspão da louca da Maria Elena, escolhe manter-se ao lado do marido, dizendo que não tem estrutura para levar aquele tipo de vida insana.

Talvez tenha sido isso o que mais me incomodou no filme. O maniqueísmo entre a paixão vibrante intensa louca versus o relacionamento estável, careta e chato. Isso é tão déjà vu. Todos os personagens são meio estereotipados nesse sentido. Fica aquela disputa tola entre a coragem da paixão contra a covardia do casamento ou da acomodação. Quando nenhuma das duas coisas é assim, na verdade.

Entre Vicky e Cristina, eu fico mesmo é com Barcelona. Cidade apaixonante, que parece um Rio de Janeiro que deu certo.

Eu esperava mais do filme. Mas, com todos os prós e contras, vale o ingresso, a pipoca e o refrigerante.

2 comentários:

Unknown disse...

Ai, eu adorei o filme... na verdade o que eu queria mesmo era ir para Oviedo com o Javier Barden, com toda aquela proposta de dias felizes...

Anônimo disse...

Ah, eu adorei o filme... (eu tb comprei o CD da Scarlett cantando Tom Waits c/ a sua voz pequena).
A Rebecca Hall é o alter ego do Woody Allen, falando compulsivamente, neurótica, inteligente, engraçada. E entre o Javier c/ a mulher louca e o noivo caretão eu escolheria ficar solteira em NY,linda, inteligente, com mestrado e uma experiência super rica de arte catalã (hiper exótico). Mas a amiga é uma insatisfeita crônica, Vicky pouco corajosa - assim como sua tia... Então, todos voltam p/ NY infelizes, os que ficam tb e segue o roteiro Mr. Allen, é assim mesmo!!!