sábado, 1 de novembro de 2008

O pêndulo




No dia seguinte à vitória da Eduardo Paes, o jornal O Globo publicou em sua primeira página uma lista com 39 promessas do candidato que a população deve cobrar. A lista veio demarcada por uma linda pontilhada, para ser recortada e mantida na agenda, na porta da geladeira, ou em algum lugar visível.

Independente do jornal e do candidato, a iniciativa é ótima e deveria virar rotina. Nós nunca cobramos de quem elegemos. Mea culpa: eu sequer lembro em quem votei para vereador neste ano. Nem mesmo para deputado estadual nas eleições anteriores.

No outro dia, o mesmo jornal anunciava em manchete que o prefeito eleito já descumprira três das promessas da lista. Ou seja, o sinal foi claro: o jornal não pretende dar tréguas. Será de oposição.

E aí chegamos ao ponto: a propalada imparcialidade da imprensa. Para mim é um mito. Uma falácia.

Quando um jornal qualquer, por exemplo, anuncia-se como imparcial, como aquele que narra os fatos, sem distorcê-los, oferecendo a verdade aos seus leitores, isto é muito mais do que uma informação. O jornal pretende convencer os seus leitores – e potenciais leitores – disso. Assim, eles poderão sentir-se inclinados a comprar o jornal. Todo discurso é persuasivo. Pretendemos sempre convencer o interlocutor da nossa verdade e para isso oferecemos-lhe algo verossímil.

Portanto, não há discurso que seja isento de subjetividade, não há neutralidade. Não há a verdade na imprensa. Existem as verdades. Realidade é relativa.

A impressão que eu tenho é a de que antes havia uma tentativa dos veículos de comunicação em disfarçar suas opções políticas. Havia mais cuidado em não deixar transparecer. Hoje, parece que estão mais despudorados.

Obviamente, não estou falando aqui dos jornais e emissoras de rádio pertencentes a políticos. Nesses casos, tudo sempre foi às claras. Era o jornal do Collor em Alagoas, o jornal do ACM na Bahia e por aí vai.

Sem nenhum esforço, me vem à mente a revista Veja fazendo oposição ao governo Lula e a Carta Capital posicionando-se a favor. Os jornalistas mais prestigiados também não escondem suas opções. Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, Elio Gaspari de um lado. Jorge Bastos Moreno, do outro, ao lado do PT. Colunistas também escancaram suas preferências nas últimas eleições municipais: Martha Medeiros e Arnaldo Jabor, por exemplo, apoiaram Gabeira.

Como fica a credibilidade de um veículo quando assume a sua posição? Como confiar no conteúdo de informação que ele traz? Será que a credibilidade realmente fica abalada? Ou assumir é melhor do que a imparcialidade velada? É melhor escrachar do que ser hipócrita? Penso que é melhor assumir, ninguém mais é tão ingênuo hoje em dia a ponto de acreditar na neutralidade.

Então se os veículos assumem suas posições políticas, assumem de que lado estão, em que medida eles deixam de ser imprensa para ser material publicitário?

Nos EUA, os grandes jornais fazem editoriais assumindo suas posições. Compra quem quer. Cada um sabe o que vai encontrar lá. Li uma notícia recentemente que dizia que cerca de 70% (não me recordo bem do número, é algo próximo a isso) dos jornais americanos haviam se manifestado pró-Obama. Ou seja, é campanha aberta.

E há, ainda, o grupo de veículos que são como pêndulo. Mudam de lado conforme o quinhão de verbas publicitárias que recebem. Nutrem fidelidade sincera pelo dinheiro.
E você, de que lado está? Eu estou do lado do bem.

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