domingo, 23 de novembro de 2008

MSN

Poesia em fuga. Instalação no MAC-Niterói. Claudiopartes




Noite dessas, não faz muito tempo, eu estava recebendo casais de amigos e uísque vai, vinho vem, falamos de poesia. Nove entre os onze presentes têm preconceito contra a poesia. Do tipo, se o cara diz que é poeta na noite em que vocês se conhecem, fortíssima probabilidade do cara ser mala.

Sou poeta, todos sabiam, e não tinham a intenção de me agredir. Não creio que precise trocar de amigos. Não os culpo. Ouso dizer que concordo com eles. Para a maioria das pessoas a poesia ou é hermética e incompreensível ou é de um romantismo barato, brega, cafona. E o pior é a empáfia pseudo-intelectual. O sujeito julgar-se cabeça. E avançando na cruel sinceridade, grande parte da poesia produzida é um lixo. O que inclui grande parte da minha própria produção literária. Faço uns gols vez em quando, mas chuto muita bola fora.

Acho ainda que a poesia demanda do leitor mais do que a prosa. Isso torna seu consumo mais árduo. E o fato é que quase todo mundo que lê poesia se arrisca a escrever também, o que torna a poesia uma tremenda ação entre amigos. Nem todos chatos. Por isso, eu valorizo imensamente os meus leitores que eu não conheço. Aqueles que não compraram meus livros por educação.

Minha mãe comprou por uns trocados um livro artesanal de poesia vendido no metrô por um jovem de, segundo ela, “uns dezoito ou dezenove anos”. Ela, que tem coração grande, como convém às mães, comprou o livro por misericórdia. Ela se lembrou de quando eu tinha aquela idade e também fui mala a ponto de vender meus livros de bar em bar, junto com hare krishnas vendendo incenso, senhores vendendo rosas murchas e fotografias em polaróide.Vê-se, que os tempos eram completamente diferentes. Naquela época, não era tão ridículo assim.

Ontem, depois do almoço, minha mãe me mostrou o livro do rapaz. Não apenas por questões éticas é que omito o título do livro e o nome do autor. Não os guardei mesmo.
Folheei as páginas, li alguns poemas e, como minha mãe alertara, é péssimo. Não dá mesmo para ler.

Mas a introdução me chamou muita atenção. O jovem poeta escreveu um curto texto de apresentação no qual afirma que é muito bom o seu trabalho estar recebendo elogios (pergunto-me de quem). E que ele acha que de fato os merece. Porque, palavras dele, escreve “com muita profundidade sobre o amor e a natureza”. A presunção não pára aí. Nos agradecimentos, ele diz obrigado a Deus, a mamãe, a vovó, e a um certo alguém que o incentiva em seu “talento”. Ah, os jovens! MSN: muito sem noção.

Salve Rimbaud, o jovem poeta, o gênio precoce, que chutou o balde da poesia e se mandou para a África.

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