Todo mundo já sabe, Gabeira não foi eleito prefeito do Rio. Mas mesmo perdendo, Gabeira saiu vencedor. Gabeira ganhou reconhecimento, admiração, respeito, visibilidade, importância.
Reproduzo trecho de texto que a jornalista Cora Ronai escreveu, publicado no blog http://marcelotas.blog.uol.com.br/ : ” Em compensação, como carioca, perdeu a chance de viver um momento histórico, em que a prefeitura seria, afinal, ocupada por um homem de bem, com idéias novas e um novo jeito de fazer política; perdeu a chance de ver o Rio de Janeiro sair do limbo a que foi condenado nas últimas décadas, e ganhar projeção pela singularidade da sua administração.Se Gabeira tivesse sido eleito prefeito, o Rio, que hoje não significa nada em termos políticos, voltaria a ter relevância, até pelo inusitado da coisa. Um prefeito eleito na base do voluntariado, do entusiasmo dos eleitores e da vontade coletiva de virar a mesa seria alguém em quem o país seria obrigado a prestar atenção.”
Votei com tesão e fé em Gabeira.
Sobre as eleições cariocas, o jornalista Ricardo Noblat escreveu em seu blog:
“Gabeira acreditou que a comunicação direta com o eleitor poderia levá-lo à vitória. Quase levou. Mas ao fim e ao cabo ganhou a política real. E o que é isso? Em resumo é a política de alianças, do loteamento futuro da máquina administrativa, dos gastos milionários, da propaganda massiva e das manobras sujas, às favas todos os escrúpulos.
- Você está disposto a pagar qualquer preço para vencer, eu não - disse Gabeira a Paes durante debate promovido pela Rede Bandeirantes de Televisão.
Acertou quanto a Paes. Acertou quanto a ele mesmo".
Merval Pereira escreveu que Paes terá que governar ciente de que metade da população carioca se manifestou dizendo que quer um outro jeito de fazer política.
Eu sempre fui contra a obrigatoriedade do voto. Voto é direito, não obrigação. E concordo com Herbert Vianna quando compôs a letra da canção dos anos 1990 – e ainda atual – “Luís Inácio (300 picaretas): ”Eu me vali deste discurso panfletário, mas a minha burrice faz aniversário ao permitir que num país como o Brasil ainda se obrigue a votar por qualquer trocado, por um par de sapatos, por um saco de farinha, a nossa imensa massa de iletrados”. A propósito, o escritor João Ubaldo Ribeiro publicou, em 5/10, interessante artigo no O Globo criticando a obrigatoriedade do voto, intitulado “Vamos cumprir essa formalidade”.
Dito isso, devo confessar que senti uma dor no peito quando vi o número de abstenções. Apesar de o voto ser obrigatório, no Rio as abstenções chegaram perto de um milhão. Só na Zona Sul, reduto eleitoral onde Gabeira deu uma banho de votos em Paes, foram 158 mil ausências. E no cidade toda, Paes ganhou por uma margem de apenas 55 mil votos. Ou seja, o resultado da eleição mais disputada que o Rio já viu poderia ter sido diferente. Mas a vida não é feita de “E se...”. Não foi. E ponto. Vamos lá, Gabeira Senador em 2010.
Já tivemos coisa muito, mas muito pior por aqui do que o Eduardo Paes. Acho que o problema maior de Paes está no “a qualquer preço”. Ou seja, nas alianças espúrias que fez, essas sim, com uma corja de políticos para os quais a gente precisa tapar o nariz quando se aproximam. Paes também é um sujeito ambicioso, que muda de partido (e de idéia) como sua mulher (que afirmou, em entrevista, não ler jornais) troca de vestidos. E hoje bajula quem outrora criticou. Aliás, esta é uma velha e asquerosa prática da política, essa coisa muito suja, como disse Dona Marta Suplicy.
Paes irá governar uma Cidade Partida (leiam o livro homônimo de Zuenir Ventura). Vou torcer para que, apesar de tudo, ele faça uma boa administração, porque o Rio precisa e muito. Mas estou certo de com Gabeira seria beeemmm melhor.
Arthur Dapieve sintetizou : "O Rio deu bobeira". A rima é fácil de completar.
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