Foto: De olho na bandeira do Brasil, Katia Franke, 2004. Hoje, 15 de novembro, celebra-se a Proclamação da República do Brasil. Daqui a 4 dias, 19, comemora-se o Dia da Bandeira. Quando criança, semanalmente participava do ritual de hastear a bandeira e cantar o Hino Nacional no pátio da escola. Eram os tempos da ditadura. Eu, menino, não sabia nada disso. Com o tempo, esqueci parte da letra e hoje faço questão de não cantar o Hino Nacional em nenhuma ocasião. Embora o reconheça como um dos mais belos musicalmente, dentre todos seus similares.
Eu respeito a bandeira. A propósito, uma atitude muito educada e respeitosa que presenciei foi no show da banda americana Pearl Jam em dezembro de 2005, no Rio. Depois de se enrolar na bandeira brasileira jogada por um fã – clichê da diplomacia em apresentações – o vocalista Eddie Vedder, ao invés de simplesmente tirá-la de sobre os ombros e jogá-la em um canto do palco, fez questão de estendê-la e ir dobrando solenemente a bandeira em vários pontos até depositá-la cuidadosamente junto à bateria. Um show de civilidade e simbolismo.
Nascido no Rio, filho de mãe suíça e pai baiano, sou brasileiro, sim. Mas não sou patriota ou nacionalista ao extremo de pegar em armas para defender uma nação. Ou uma religião. “Imagine there’s no countries / it isn’t hard to do / nothing to kill or die for / and no religion too / imagine all the people living life in peace” (John - “vocês podem dizer que eu sou um sonhador, mas não sou o único” - Lennon)
Torço pelo Brasil na Copa, nas Olimpíadas, no Oscar. Até gosto de samba (Pagode, não).
Acho que a Amazônia é nossa.
Temos uma natureza generosíssima, exuberante. Um povo cordial, alegre, hospitaleiro, extremamente criativo. Lembro agora de um comercial das sandálias Havaianas, protagonizado pelo ator Lázaro Ramos, em que ele comenta com o cara que trabalha no quiosque da praia as mazelas do Brasil. Um argentino entra na conversa dizendo que é realmente uma pena, um país tão lindo etc etc. É imediatamente interrompido pelos brasileiros, que passam a defender o Brasil como uma terra sem problemas. O mais legal dessa campanha, ainda no ar, é que retrata uma característica muito própria da nossa passionalidade: só nós podemos falar mal do Brasil. Estrangeiro nenhum pode. Somos orgulhosos defensores de nosso País.
Eu não sou mais. Por volta dos meus 18 anos, segunda metade da década de 1980, aconteceu um episódio que hoje soa absurdo de tão anacrônico. Impedida pela Justiça de funcionar 24 horas por dia (vejam só!), a rede de postos de gasolina Itaipava distribuiu adesivos para os motoristas, nos quais aparecia parte da bandeira nacional e os dizeres: “País do futuro uma ova”. Eu aderi imediatamente. Já naquela época eu não acreditava nesse discurso ufanista prometendo um eldorado futuro. Como chegaremos à prosperidade se não pavimentamos o caminho com educação e saúde?
Desde a chegada dos europeus no século XVI, o Brasil foi uma terra explorada, pilhada, saqueada inescrupulosamente. A corrupção disseminada desde aqueles tempos entranhou-se nocivamente em nosso DNA cultural. Somos uma nação de individualistas em que prevalece a Lei de Gérson – levantar vantagem em tudo.
Hoje, o Brasil me envergonha mais do que orgulha. Trabalho de forma honesta e dedicada. Cumpro as leis, pago os impostos, procuro ser ético e respeitar os direitos dos outros cidadãos. Mas sou sistematicamente roubado, enganado, cerceado, achacado, desrespeitado.
Há controvérsias se a frase foi mesmo dita, na metade do século passado, pelo general Charles De Gaulle, então presidente da França. De qualquer modo, às vezes fica difícil discordar da sentença: "Le Brésil n’est pas un pays serieux" (O Brasil não é um país sério.)
O Brasil poderia ser tão melhor...
ps.: A trilha sonora para este texto não é o lindíssimo Hino Nacional. Mas sim a indignada canção “Que País é Esse?!”, da Legião Urbana. Especialmente, em suas versões ao vivo, quando o público responde à pergunta título: “É a porra do Brasil!”
Um comentário:
Não preciso nem dizer o que penso do nosso país, né?!
Pra mim, Brasil é para se visitar uma vez ano, ir para o Nordeste, descansar naquelas praias maravilhosas, tomar caipirinhas e comer camarão, mas, depois de 1 mês...cair fora! Civilização, por favor!
Sou brasileira e já desisti!
E Viva Le Québec!
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