quinta-feira, 23 de julho de 2009

Eu tenho medo de casas sem livros



Cresci numa casa com grandes estantes, livros em abundância, consumidos vorazmente pela minha mãe e pelo meu irmão, mais do que por mim. Eu era mais da música do que da literatura. Se eu tivesse lido mais, certamente escreveria melhor hoje. Sorry, leitores.

Hoje, tenho uma estante razoavelmente farta, mas me desespero com a fila de livros aguardando para serem lidos crescendo sem que eu tenha tempo de dar cabo dela. Ir às livrarias, a cada vez, se torna mais angustiante. Olho, folheio, leio trechos, quero levar pra casa. Mas aí lembro da fila. E da fatura do cartão no mês passado. E deixo os volumes por lá até, quem sabe, qualquer dia. “Me espera, amor, que um dia, eu volto”.

Quando visito a casa de alguém e não vejo livros, eu estranho. Parece que os moradores são inertes intelectualmente. Eu tenho medo de casas sem livros.

No entanto, li outro dia uma frase de Paulo Coelho em que ele dizia dar todos os livros que lê, assim que acaba a leitura. Justificava o comportamento afirmando que os livros na estante só serviam para envaidecer o dono, como demonstração de presumida erudição.

Faz sentido.

Parênteses para outras considerações: 1. Alguém pode dizer que Paulo Coelho não tem livros, porque, na verdade, não os lê. Discordo e acho preconceituoso. 2. Antes de jogar pedra em Paulo Coelho, leia-o. Até para poder criticar. 3. Eu queria vender livros como vende Paulo Coelho. Eu não queria escrever como escreve Paulo Coelho. Eu o respeito. 4. Paulo Coelho presta um serviço à literatura nacional. Seus livros podem ser porta de entrada para que, após tomar gosto e hábito de leitura, a pessoa escolha outros textos mais sofisticados. 5. Definitivamente, é melhor ler Paulo Coelho do que não ler coisa alguma. Fecha parênteses. Abre polêmica.

Eu ainda não consegui exercer esse desapego de passar adiante os livros que leio. Ainda os mantenho mais ou menos organizados na estante, ilustrando minha suposta cultura. Mas eu acho que deveria repassá-los. Em minha defesa, devo dizer que, ao menos, eu empresto meus livros, sem medo. E também faço algumas indicações bibliográficas para os amigos.

Se eu doar os meus livros, terei medo de ficar sozinho em casa.

Por outro lado, os livros que lemos nos tornam solitários, porque nos fazem únicos.

Ih, viajei.

É árduo e longo o caminho.

2 comentários:

Gabriela disse...

Adorei o texto, e ainda não se diz escritor. rs (:

Nay disse...

Taí, gostei! Um escritor despretensioso (o que é muito raro!)com um texto desprovido de provações intelectuais.