sábado, 10 de setembro de 2011

É preciso saber viver

Não tenho vindo muito ao mar. Na verdade, nunca fui muito praiano. Prefiro a montanha. O clima é ameno e eu não gosto de calor. No alto, você tem a sensação de liberdade, e não há nada de que eu goste mais. No mar, você está inserido, está dentro, há a sensação de pertencimento. E eu não sou de mergulhar, exceto nas paixões. Sou do vento e não d’água.


A montanha também me parece mais solitária. Eu sou só. Intrinsicamente. E vez em quando gosto de me isolar, em fases anti-sociais. Música incidental: “... por que temer viver só, já que morremos sozinhos? ...” (Hojerizah)

Perguntaram-me se ando ausente daqui por que o mar está flat ou por que está em fúria, levantando lodo do fundo. Talvez seja esta segunda opção, embora eu quase preferisse a primeira.

Águas paradas são profundas. Eu sou?

É fato que estou escrevendo menos. E o pouco que tenho escrito é impublicável. Não estou a fim de brincar de querido diário em público. Carne exposta no mercado digital. Ninguém tem nada a ver com a vida de ninguém. Que cada um se ocupe da sua.

Eu ando com apetite pela vida e com preguiça da vida, alternadamente. Quero sempre mais e melhor. Mas estou mais cético, ácido, desesperançado.

É preciso coragem para vida. Coragem para os excessos e para as carências. Coragem para as escolhas e as renúncias. Coragem para o grandioso e para o cotidiano. Para a rotina e para o extraordinário.

É preciso coragem para o gozo e para a brochada. É preciso coragem para destruir (há destruições positivas) e para preservar. Coragem para dar valor e para abrir mão. É preciso coragem para ser verdadeiro, sem deixar de ser diplomático e gentil. Coragem para ser autêntico. Ser básico e múltiplo.

É preciso coragem para abrir o peito e meter os pés na vida. Hay que tener cujones. Mas uma amiga diz que somos uma geração de cuzões.

A vida não é curta, mas é rápida. Somos todos cada vez mais imediatistas e refratários aos sentimentos que não exalam a felicidade aparente dos anúncios. Frustração, tristeza, desilusão, injustiça, perda, fracasso também fazem parte do repertório da vida. “Fail. Try again. Fail better” (Samuel Beckett). O único caminho é o do aprendizado contínuo.

Bah, embora esteja sóbrio, estou filosófico pacas para uma manhã ensolarada. Será que dá pra simplificar? É só ir tocando em frente. Sem problematizar. ‘Bora?

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