domingo, 2 de agosto de 2009

Cenas enfumaçadas



A Folha de S.Paulo dedica um espaço enorme na edição de hoje à Lei Antifumo do Serra: chamada de capa, três páginas da editoria Cotidiano, e capa e a página três do caderno de cultura, a Ilustrada.

O ator Antonio Fagundes, que estréia o monólogo “Restos”, de Neil LaBute, no dia 20 em São Paulo avisou que vai desafiar a lei e acender cigarros em cena. Seu personagem é fumante inveterado que faz reflexões nostálgicas enquanto o corpo da mulher, recém falecida de câncer, é velado. Diz Fagundes:

“Vou peitar isso e fumar. Temos um problema de censura. É um precedente grave se a gente não fala nada. Fiquei surpreso que os fumantes tenham ficado quietos. O brasileiro está muito quieto para tudo. Espero que os fumantes não votem nas pessoas que aprovaram essa lei. É engraçado porque parece que o Serra é ex-fumante. Não tem coisa pior do que ex”.

Não sei se o Serra é ex-fumante ou não. Eu não sou. Sou um fumante que está sem fumar há dois anos e sete meses. Mas já avisei à minha mulher que quando eu estiver lá pelos 80 anos, chegando na prorrogação, indo para os pênaltis, eu volto, porque fumar, mesmo sendo prejudicial à saúde, é, sim, uma delícia. Para mim. Você pode pensar diferente, ok?

O que não pode é proibir ator de fumar em cena. Isso faz parte da caracterização do personagem. Proibir o ator de fumar em cena é, sem eufemismos, censura. E fumantes e não fumantes não podem se calar diante da censura.

No mais, eu discordo do Fagundes. Não tenho nada contra as minhas ex.

2 comentários:

Ciça Calvoso disse...

Sem dúvidas, proibir um ator de fumar em cena é censura! E surreal! A lei não prevê essa brecha??? Eu sou fumante, como você acho uma delícia fumar, mas gostaria muito de parar... Não acho que as pessoas tenham que conviver com a minha fumaça, não acho que deva ser permitido fumar em lugares fechados, como restaurantes e até mesmo bares que não tenham circulação de ar... Por outro lado, o incentivo ao caguente ou, nesse caso, à censura numa peça de teatro... aí não... se o Antônio Fagundes quisesse acender um cigarro no palco porque estava com "vontade", aí ok., mas o per-so-na-gem dele é fumante... Aa história tange o tabagismo (e pelo que me parece é central na peça), então, como fazer? Proibir a peça? Tirá-la de cartaz? Prender o cara em cena? Acho que não, né?

Leandro Wirz disse...

Ciça, ainda há lucidez. Em nota datada de hoje, a Secretaria de Justiça de São Paulo informa que para garantir a liberdade artística, "aplica-se o princípio da insignificância". Liberado em cena, o fumo continua proibido nas outras dependências dos teatros e casas de show. Justo, justíssimo. Também acho que não se deva fumar em locais fechados.