quarta-feira, 8 de abril de 2009

Gimme a Kiss


Hoje é noite de Beijo na Praça. Quem baixa lá para fazer sua apoteose são os veteranos norte-americanos do Kiss. Os mascarados – com duplo sentido, por favor – voltam ao Rio depois do antológico show de 1983 no Maracanã. Eles vieram ao Brasil outras duas vezes, mas não ao Rio.

Eu fui ao show de 83, com a banda no auge, tinindo depois do recém-lançado álbum Creatures of The Night , que trazia o hit I love it loud e a balada I still love you (Não confundir com a chatíssima e açucarada Still loving you, do Scorpions).

O Kiss, na ativa desde 1973, sempre foi o sexy e meio andrógino Paul Stanley (voz e guitarra base) e o bad boy macabro Gene Simmons (voz, baixo em forma de machado e língua). Na formação original, havia ainda o virtuose Ace Frehey (guitarra solo) e Peter Criss (bateria). Após idas e vindas na banda, ambos foram definitivamente demitidos porque, segundo Simmons, são loosers nos seus vícios em álcool e drogas. Na legião de músicos que ocupou esses postos, merece destaque apenas o batera Eric Carr, prematuramente falecido de câncer, quando já não integrava mais o grupo.

Stanley e Simmons são suficientes para fazer um showzaço ao lado de seus coadjuvantes. Desde os primórdios, com máscaras (paira a dúvida se eles se inspiraram no Secos & Molhados), figurino ousado, efeitos pirotécnicos, sangue cenográfico, lança chamas e baratos afins, sempre souberam muito bem o que fazer musical e mercadologicamente. O Kiss é a banda que mais despudoradamente une a música ao marketing. E faz ambos bem, sem nenhum conflito ético. Seu site oferece centenas de produtos licenciados, desde babadores para bebês até caixões. Do berço ao inferno, a banda te acompanha. E a recíproca é verdadeira: o Kiss conta com fã clube fiel e entusiasmado, o Kiss Army.

O set list desta noite é fortemente calcado no álbum Alive I (depois, vieram o II e o III), que completa 35 anos em 2010. Um desfile de clássicos da banda, até porque faz tempo que eles não lançam nada de novo que preste.

Faltam poucas horas para o tradicional grito de abertura: “Alright, (nome da cidade)! You wanted the best, you got the best. The hottest rock n’ roll band in the world, Kiss!” e ainda não decidi se vou. Puro receio de macular as lembranças daquele show de décadas atrás. Eu era um moleque ainda e aquele foi meu segundo show de rock. O primeiro havia sido o de Peter Frampton, no Maracanãzinho, em 1982. Fui com bons amigos (amigos até hoje) e minhas primas gostosas (gostosas até hoje) que eram loucas pela banda. Eu imaginava o que faria se tivesse aquela língua solta e comprida do Gene Simmons. Também não esqueci o dia em que um grande amigo, que já deixou este mundo, me ensinou a tocar na guitarra o riff inicial de War Machine, do mesmo Creatures of The Night.

Lembro de chegarmos ao Maracanã e sermos abordados por um monte de evangélicos distribuindo panfletos pedindo para não entrarmos no show, porque Kiss , supostamente, queria dizer Knights In Satan Service. Patético. É impressionante como as religiões prosperam na ignorância.
Eu saí do Maraca naquela noite com a fé mais absoluta de que minha alma estava lavada e salva, e jamais deixei de querer Rock’n’Roll All Nite.

Um comentário:

Denise disse...

Lê, outro dia fui a uma exposição de pintura do Paul Stanley. Ele estava lá, de cara lavada - irreconhecível sem toda a maquiagem, naturalmente. Depois de ver os quadros devo dizer que ele canta bem melhor do que pinta :-)