quarta-feira, 22 de abril de 2009

Amanhã é 23





“O que significa um novo autor?
Esta foi a indagação matriz que me fez refletir sobre a apresentação de um jovem que inicia nesta obra uma caminhada no dialogar silencioso da palavra escrita.
O que significa um novo autor?
A pergunta ressoa em busca de resposta e vai aos poucos clareando as próprias dimensões de sua indagação, conduzindo o pensamento a perscrutar as razões (ou sentimentos) que levam alguém a deixar registrado um muito de si num punhado de poesias, imagens pintadas com as cores que as palavras evocam no horizonte da imaginação.
Um jovem autor que nos faz sentir de uma forma suave mas firme toda a luta contida no esforço de dar a existência seu sentido maior. De buscar em cada momento a plenitude que ele encerra, mesmo oculta sob os limites do finito e do temporal. Alguém que nos faz sentir o desejo adormecido de romper os limites do cotidiano e viver uma forma de vida onde a eterna insatisfação e desejo de crescer deixam entrever um pouco da paz louca dos poetas e sonhadores.
Um jovem autor que deixa fluir em seus versos romantismo e sensualidade e os transforma em asas que nos levam a contemplar panoramas esquecidos do nosso próprio viver, e a pousar em nossa infância ou juventude.
Um jovem autor que expõe neste seu primeiro desafio literário e que ao fazê-lo relembra a muitos de nós a dimensão de aventura em que a vida está imersa e da qual fugimos por medo ou acomodação, e que na maioria das vezes, literalmente, retira de nossa vida toda a poesia.
Sem dúvida, um jovem autor com muita promessa pela frente, e que nesta primeira incursão no mundo dos poetas promete deixar seu sinal e seu estilo.
Mas ainda assim - o que significa um novo autor?
Quem sabe um novo autor não seja para você também um desafio?
Não apenas ler – mas encarar face a face, no vigor ou na fraqueza de cada verso uma pessoa que ousou sair de si para melhor encontrar com você.”

Foi deste modo generoso que o professor Ronald S.Mohrstedt escreveu o texto de apresentação “A aurora doeu”, o primeiro livro de poemas, dos cinco que publiquei até hoje. O lançamento do livro aconteceu na noite de 23 de abril de 1987. Eu tinha 18 anos. E era inocente.

“A aurora doeu” reúne alguns dos poemas que escrevi entre 1982 e 1987 e traz ilustrações de Walter Wacholz Neto. A edição foi independente, amadora e, claro, tosca. A tiragem do meu primeiro “best seller” foi de 400 exemplares. Eu o distribuí em algumas poucas livrarias e ía de bar em bar, vendendo, junto com os hare krishnas e seus incensos, os floristas de rosas murchas e os senhores de fotos instantâneas. Como disse, eu tinha 18 anos e era inocente. Mas eu me propus a realizar. E comecei.

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