Não vou alugar vcs com cantilenas anti-consumistas e clamores pelo verdadeiro espírito do Natal perdido em algum lugar do passado. Sua caixa de e-mails vai ficar entupida de apresentações em power point com musiquinhas ridículas te lembrando que vc é um desnaturado materialista. E que há mais de dois mil anos, um homem morreu para te salvar etc etc etc. Longe de mim ser anti-Cristo, Jesus foi um cara incrível que mudou a história da humanidade, mas essa catequese é sacal.
Pois bem, chega essa época de final de ano e junto com o espírito arrebatador de confraternização, vem também o desejo por aquelas orgias gastronômicas e a motivação para as compras desenfreadas.
É também um período de pragas. A primeira, claro, é o verão em si. Com um calor literalmente infernal nos trópicos a gente se aglomera para comprar lembrancinhas (o termo é repugnante) para todo mundo. Dá-lhe lojinha de R$ 1,99, produtos piratas e trocentas porcariadas nas áreas de comércio popular como a Saara, no Centro do Rio, ou a Feirinha do Paraguai, em Brasília.
O sol rachando a moleira do caboclo e a gente fica vendo em todos os lugares aquela propaganda toda de Bom Velhinho, neve branquinha, pinheiros, renas, trenó, vinho, nozes e o cara@#$%! a quatro.
Daí a gente se refugia num shopping center, porque a modernidade é o inferno com ar refrigerado. Um caos para estacionar. Congestionamento na garagem, todo mundo respirando monóxido de carbono e buzinando. Um esbarra daqui, esbarra dali em corredores, escadas rolantes e lojas lotadas como se fosse final de campeonato no Maraca.
Aí chegamos aos vendedores, esses jovens de interesseira gentileza que conseguem um emprego temporário nessa época do ano, quando sua chatice fica ainda mais aguçada.
Estou olhando a vitrina e sai a vendedora para perguntar se desejo alguma coisa. Não respondo e nem entro. Passo à loja seguinte.
Entro na loja, dois curtos passos apenas, e a vendedora vem perguntar, com o sorriso congelado:
- Quer alguma ajuda?
A resposta, advinhe, é a de sempre:
- Não, estou só olhando.
Daí, ela insiste:
- Procurando alguma coisa em especial?
- Não, só dando uma geral.
- É para vc mesmo ou é presente?
Já nem respondo mais.
- Como vc se chama?
- Leandro (com vontade de dizer “Porra, me deixa em paz!”).
- Se precisar de alguma coisa, meu nome é fulana, tá? É só me chamar.
- Tá. Obrigado (num esforço final de educação)
Passa um tempinho e lá vem ela de novo:
- E aí, gostou de alguma coisa? Se quiser, eu pego lá pra vc experimentar. Qual é o seu número?
Dá vontade de responder:
Pois bem, chega essa época de final de ano e junto com o espírito arrebatador de confraternização, vem também o desejo por aquelas orgias gastronômicas e a motivação para as compras desenfreadas.
É também um período de pragas. A primeira, claro, é o verão em si. Com um calor literalmente infernal nos trópicos a gente se aglomera para comprar lembrancinhas (o termo é repugnante) para todo mundo. Dá-lhe lojinha de R$ 1,99, produtos piratas e trocentas porcariadas nas áreas de comércio popular como a Saara, no Centro do Rio, ou a Feirinha do Paraguai, em Brasília.
O sol rachando a moleira do caboclo e a gente fica vendo em todos os lugares aquela propaganda toda de Bom Velhinho, neve branquinha, pinheiros, renas, trenó, vinho, nozes e o cara@#$%! a quatro.
Daí a gente se refugia num shopping center, porque a modernidade é o inferno com ar refrigerado. Um caos para estacionar. Congestionamento na garagem, todo mundo respirando monóxido de carbono e buzinando. Um esbarra daqui, esbarra dali em corredores, escadas rolantes e lojas lotadas como se fosse final de campeonato no Maraca.
Aí chegamos aos vendedores, esses jovens de interesseira gentileza que conseguem um emprego temporário nessa época do ano, quando sua chatice fica ainda mais aguçada.
Estou olhando a vitrina e sai a vendedora para perguntar se desejo alguma coisa. Não respondo e nem entro. Passo à loja seguinte.
Entro na loja, dois curtos passos apenas, e a vendedora vem perguntar, com o sorriso congelado:
- Quer alguma ajuda?
A resposta, advinhe, é a de sempre:
- Não, estou só olhando.
Daí, ela insiste:
- Procurando alguma coisa em especial?
- Não, só dando uma geral.
- É para vc mesmo ou é presente?
Já nem respondo mais.
- Como vc se chama?
- Leandro (com vontade de dizer “Porra, me deixa em paz!”).
- Se precisar de alguma coisa, meu nome é fulana, tá? É só me chamar.
- Tá. Obrigado (num esforço final de educação)
Passa um tempinho e lá vem ela de novo:
- E aí, gostou de alguma coisa? Se quiser, eu pego lá pra vc experimentar. Qual é o seu número?
Dá vontade de responder:
-“Porra, se eu quisesse alguma coisa, eu já teria te pedido. E claro que vc pegaria para eu experimentar. Afinal, vc é a vendedora, esta á a sua função, certo? Vc quer que eu olhe pouco, experimente rápido e compre logo para vc poder ir atender a outro cliente e aumentar sua produtividade e sua comissão. É justo e legítimo. Mas não me enche o saco. Eu não preciso de ninguém me seguindo pela loja, nem de babá. Me deixe olhar quietinho, se eu quiser alguma coisa, eu juro que te chamo.
Então, eu prefiro não dizer isso tudo. É melhor virar as costas em silêncio e ir embora. Aí, ela manda a infame:
- Não gostou de nada?
As respostas contidas na garganta podem ser:
- Não, não gostei de porra nenhuma, essa loja é uma merda e vc é chata pra c....
Ou
- Gostei de uma porrada de coisas, mas essa porra dessa loja é cara pra cacete, mete a mão, rouba muito...
Mas eu sou um lorde.
Outra mania chata é o amigo oculto. Se vc não participa é visto como sovina ou anti-social. Se participa, vai ter que comprar lembrancinha (aaargh!) para quem mal conhece e ganhar uma bobagem qualquer que nem merece o trabalho de vc ir trocar. Ainda mais com os shoppings lotados. Mais grave ainda é quando resolvem fazer a entrega dos presentes com alguma brincadeira do tipo “dê pistas para o grupo adivinhar quem vc tirou”.
E tem as festas corporativas! Lembre-se que festa da empresa é ambiente de trabalho, mesmo que finjam que não. Então, não encha a cara, não dance I will survive como se o mundo fosse acabar amanhã e vc quisesse sair do armário. E vc, tchutchuca, não desça rebolando até o chão, ok? E, a não ser que vc queira ser vista como a presa mais fácil para o abate, maneire os decotes e o comprimento das saias, certo? E, básico, vc, pegador, não azare todas. Melhor ainda, não azare ninguém. No dia seguinte, todo mundo vai comentar se vc pegou a fulana ou se vc levou um sonoro não. As duas opções são péssimas.
Na reunião da família, rola amigo oculto também. Ou então o discurso do “é só uma lembrancinha para cada um”, porque os tempos estão duros. Daí vc ganha cueca, meia, chaveiro, caneta, camisa cafona.
Ainda na seara familiar, rola o dilema para saber na casa de quem será a ceia. Os seus pais vão ficar chateados se for na casa dos seus sogros e vice-versa. Normalmente, ganham as mulheres. A tradição indica que a ceia fica sendo na casa dos pais da namorada/esposa.
Outro round é entre os filhos. Ou melhor, entre noras. Que entram em competição velada para ver quem prepara o prato mais gostoso e agrada mais a sogra. O tender de uma versus o chester da outra. O arroz versus a farofa. O lombo contra a rabanada. O salpicão versus a maionese. E as sobremesas, então....
No fim, depois de muita sidra, reina a paz. E todo mundo tem que demonstrar que gosta de todo mundo e perdoou as sacanagens e mágoas antigas. Assim são as famílias.
O Natal é uma época iluminada. Sim, por uma infinidade de luzinhas coloridas piscantes penduradas nas janelas e varandas, disputando o troféu decoração natalina mais cafona do ano.
O Natal é também uma época de generosidade. Distribuímos dinheiro: tem as “caixinhas”: dos porteiros, do balcão da padaria, do entregador do jornal, do cara que lava o teu carro, dos copeiros do escritório, da diarista, do blogueiro....
Na TV, tem especial do Roberto Carlos, e, na semana seguinte, retrospectiva do ano, show do “melhor” da música brasileira (que significa axé, pagode, sertanejo e funk), contagem regressiva. Uma novidade atrás da outra.
É também época de dar outra chance a dupla de canções do Lennon, “Give peace a chance” e “Happy Xmas”. Mas nada, nada, pode ser pior do que ter que ouvir exaustivamente a insuportável versão tupiniquim dessa última canção, na voz da Simone: “Então, é Natal!”
Que venha o Carnaval!
Então, eu prefiro não dizer isso tudo. É melhor virar as costas em silêncio e ir embora. Aí, ela manda a infame:
- Não gostou de nada?
As respostas contidas na garganta podem ser:
- Não, não gostei de porra nenhuma, essa loja é uma merda e vc é chata pra c....
Ou
- Gostei de uma porrada de coisas, mas essa porra dessa loja é cara pra cacete, mete a mão, rouba muito...
Mas eu sou um lorde.
Outra mania chata é o amigo oculto. Se vc não participa é visto como sovina ou anti-social. Se participa, vai ter que comprar lembrancinha (aaargh!) para quem mal conhece e ganhar uma bobagem qualquer que nem merece o trabalho de vc ir trocar. Ainda mais com os shoppings lotados. Mais grave ainda é quando resolvem fazer a entrega dos presentes com alguma brincadeira do tipo “dê pistas para o grupo adivinhar quem vc tirou”.
E tem as festas corporativas! Lembre-se que festa da empresa é ambiente de trabalho, mesmo que finjam que não. Então, não encha a cara, não dance I will survive como se o mundo fosse acabar amanhã e vc quisesse sair do armário. E vc, tchutchuca, não desça rebolando até o chão, ok? E, a não ser que vc queira ser vista como a presa mais fácil para o abate, maneire os decotes e o comprimento das saias, certo? E, básico, vc, pegador, não azare todas. Melhor ainda, não azare ninguém. No dia seguinte, todo mundo vai comentar se vc pegou a fulana ou se vc levou um sonoro não. As duas opções são péssimas.
Na reunião da família, rola amigo oculto também. Ou então o discurso do “é só uma lembrancinha para cada um”, porque os tempos estão duros. Daí vc ganha cueca, meia, chaveiro, caneta, camisa cafona.
Ainda na seara familiar, rola o dilema para saber na casa de quem será a ceia. Os seus pais vão ficar chateados se for na casa dos seus sogros e vice-versa. Normalmente, ganham as mulheres. A tradição indica que a ceia fica sendo na casa dos pais da namorada/esposa.
Outro round é entre os filhos. Ou melhor, entre noras. Que entram em competição velada para ver quem prepara o prato mais gostoso e agrada mais a sogra. O tender de uma versus o chester da outra. O arroz versus a farofa. O lombo contra a rabanada. O salpicão versus a maionese. E as sobremesas, então....
No fim, depois de muita sidra, reina a paz. E todo mundo tem que demonstrar que gosta de todo mundo e perdoou as sacanagens e mágoas antigas. Assim são as famílias.
O Natal é uma época iluminada. Sim, por uma infinidade de luzinhas coloridas piscantes penduradas nas janelas e varandas, disputando o troféu decoração natalina mais cafona do ano.
O Natal é também uma época de generosidade. Distribuímos dinheiro: tem as “caixinhas”: dos porteiros, do balcão da padaria, do entregador do jornal, do cara que lava o teu carro, dos copeiros do escritório, da diarista, do blogueiro....
Na TV, tem especial do Roberto Carlos, e, na semana seguinte, retrospectiva do ano, show do “melhor” da música brasileira (que significa axé, pagode, sertanejo e funk), contagem regressiva. Uma novidade atrás da outra.
É também época de dar outra chance a dupla de canções do Lennon, “Give peace a chance” e “Happy Xmas”. Mas nada, nada, pode ser pior do que ter que ouvir exaustivamente a insuportável versão tupiniquim dessa última canção, na voz da Simone: “Então, é Natal!”
Que venha o Carnaval!
2 comentários:
Não compro mais presente para vc...
hahahahahahahahahahahahah
Compartilho contigo tudo isso!!!
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