Placa à saída de um hotel em Barbacena (MG). Foto: Leandro Wirz Eu assisto pouco à televisão. Praticamente futebol, clipes do TVZ, jornalismo-entretenimento-humor do CQC, a série House. Eventualmente noticiários, filmes e Manhattan Conection. Não, novelas nunca. Programas de auditório, nem morto. Sei que profissionais de comunicação têm que assistir a tudo, sem preconceito. É a mais pura verdade. Mas eu já assisti a quase tudo e nada mais me deixa chocado. Enojado, sim. O fato é que a vida é muito curta para eu desperdiçar tempo. Enfim, digressiono.
Como eu dizia, assisto pouco à TV. Ontem, no intervalo do jogo em que o Vasco lamentavelmente derrotou o Goiás, eu zapeei e parei no Saia Justa, do canal GNT, aquele programa de mulheres inteligentes que falam todas ao mesmo tempo e miraculosamente conseguem se entender, como só as mulheres conseguem. Uma espécie de Manhattan Connection versão feminina. Elas já ouviram essa comparação “n” vezes e certamente odeiam esse comentário sexista.
O programa é mediado por Mônica Valdvolgel e conta com Maitê Proença, Betty Lago e Márcia Tiburi debatendo temas diversos. O de ontem era felicidade. Assim. Modestamente, felicidade. Só.
Os debates giravam sobre se felicidade é aspiração, ideal, sonho ou distúrbio. Já que tem gente que está sempre irritantemente feliz. Felicidade é orgânica, é química, é herança genética? Tem aquelas polianas que vêem tudo pelo lado positivo e quem não enxerga problema, também não resolve nada. Tem aquelas pessoas que são duas. As bipolares, que oscilam drasticamente entre a euforia e a deprê.
Mas também tem gente normalmente feliz. Ou gente normal que é feliz. Ou gente feliz que é normal. O que importa é ser feliz. “Eu só quero é ser feliz, andar tranqüilamente na favela onde eu nasci...” diz a letra do funk carioca de MC Marcinho.
Maitê Proença é iluminada intelectualmente. E detém uma beleza iluminada também, elegante sempre. Ela disse: “Eu sou muito feliz. Parece uma inconseqüência, né? Mas não é. E não é, porque em determinado momento, não foi assim. Eu não fui feliz. Mas hoje tenho essa sensação agradável, essa paz. Eu dou nota nove para a minha felicidade. Só não dou 10, porque às vezes ainda caio em abismos. Mas eu estou cansada de pessimismo. Acho que o pessimismo ficava melhor lá atrás com Sartre e Simone de Beauvoir.”
O que me leva a léguas de distância, a uma canção de Almir Sater, especialmente linda na interpretação de Maria Bethânia, “Tocando em frente”. Os versos iniciais são: “Ando devagar porque já tive pressa e levo este sorriso porque já chorei demais”. Digressiono de novo.
De fato, existem pessoas que tem uma certa inaptidão para a felicidade. Eu mesmo escrevi sobre isso no poema “Versos sobre”, que abre meu livro “Lâmina do adeus”, de 2002: “A intimidade me permite chamar a melancolia de mel e a felicidade de fel”.
No Brasil, já disse Tom Jobim, o sucesso é mal visto. Às vezes, a felicidade também é. Como se fosse coisa de alienados, iludidos, tolos, superficiais.
Eu dou nota nove para a minha felicidade.
2 comentários:
os comentários estão perfeitos, a poesia é ótima, mas a foto (e o crédito) são arrebatadores.
ando desistido da felicidade, ou ela de mim. nos desencontramos por aí.
mas quando sento para escrever, aí sou feliz. mesmo. sem qualquer babaquice. é felicidade doída, mas felicidade ainda assim.
abraço.
Assisti a este programa tb! Aliás, não perco Saia Justa!
Daria um 7 para a minha. Acho que já fui mais feliz, justamente quando "desconhecia" mais a vida e o mundo. Hoje em dia, analisando de uma forma geral, daria 10 para os quesitos "saúde", "família", "amigos"; porém, infelizmente, devo dizer que isso não me basta mais. Estou sempre em busca de algo e este processo interminável influencia o meu grau de felicidade. Talvez eu faça parte da população que tem uma predestinação para a infelicidade, que nunca sabe se contentar com o que tem. Fazer o quê, né?! Quem sabe um dia eu não chegue a este grau de evolução? rs
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