terça-feira, 11 de maio de 2010

Palavras doces

Quatro casais, juntos há mais tempo do que costumam durar os casamentos contemporâneos, reuniram-se para um bom jantar regado a vinho. Como a verdade repousa na bebida, em dado momento após algumas taças, um dos homens fez extensa e sincera declaração de admiração e amor por sua companheira. Tão efusiva que, por pouco, não causou certo embaraço aos presentes.


O arroubo do apaixonado inflacionou o mercado. Já em casa, uma das esposas reclamou com o seu marido que ele não se comportava dessa forma, não lhe dedicava rasgados elogios públicos. Ele ponderou que mesmo sem repetir tantas vezes as palavras, seu amor era da mesma magnitude e seu carinho se manifestava até mesmo em pequenos cuidados cotidianos, como encher sempre a geladeira com o iogurte favorito dela.

Não convencida, ela deu a tréplica dizendo que quando as mulheres reivindicam mais carinho, os homens chegam logo com mãos afobadas sobre peitos e bunda e não é nada disso que deveriam fazer. Quando falam em carinho nessas horas, elas se referem a coisas menos eróticas. Mas também não é ao iogurte na geladeira. Enfim, algo difícil de compreendermos em nossa sensibilidade ogra.

Só sei que foi assim que a história me chegou. Pois eu lhes digo que nós homens também queremos mais carinho. Só que, no nosso caso, estamos nos referindo a coisas eróticas. E não a cafuné.

Aqui vai uma generalização provocativa: em relações estáveis, com o passar do tempo, as mulheres tendem a diminuir sua disposição ao sexo febril, diário, a qualquer momento, em todos os cômodos da casa, como rolava nos primeiros meses. As mulheres tendem a trocar o pênis pelo ombro de seus homens. No sentido lato, querem mais companheirismo, aconchego, afeto, proteção. Mais do que sacanagem.

Lembrei-me de uma sentença tão chula quanto verdadeira de um antigo colega de trabalho, que tangencia esta questão do carinho e da (des)erotização, assim como ilustra as imensas diferenças entre os gêneros: as mulheres, quando chegam em casa estressadas, querem palavras doces e massagem; os homens querem silêncio e boquete.

Se tiver um uisquinho, fica perfeito.

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