Arte em muro de Buenos Aires. Foto: Leandro Wirz
A verdade é que o amor me tornou mais cuidadoso e menos auto-destrutivo, e parei de fumar em um réveillon. Mas pode ser que noutro qualquer eu faça o avesso e estabeleça como meta para o ano seguinte voltar a fumar. Já avisei à minha mulher que quando fizer 80 anos, e estiver na prorrogação, indo para os penâltis, eu volto.
Por quê? Porque eu sinto prazer em fumar. Só por isso. Ah, e muitas vezes, eu acho, sim, charmoso (influência perniciosa do cinema e da propaganda). Faz mal? Faz. Mata? Mata. Mas cada ser humano deve ter o direito de escolher como quer morrer.
Lembro de uma tarde na casa da minha avó. Minha irmã, a quem, quando criança, eu chamava de “meia-irmã”, por ser filha de um casamento anterior do meu pai, tinha em torno de 25 anos e eu era um pré-adolescente. Quando minha avó veio com aquele papo de que uma mulher tão bonita não deveria fumar aquela porcaria que fazia mal e matava, minha irmã respondeu: “Mas, Vó, a gente morre feliz”.
A palavra que melhor define minha relação com o cigarro não é “vício”. É “paixão”. Hoje, é platônica e, por isso mesmo, duradoura. E, sim, é irracional. Fumei dos 16 aos 38 anos, com umas duas ou três paradas aí pelo caminho para os pulmões descansarem. O cigarro foi um grande companheiro de jornada, ainda que seja um Judas. Pode ser que lá na frente venha a fatura para eu pagar. Mas somos adultos e sabemos que quase tudo na vida tem um preço e nem todos podem ser pagos com Mastercard.
Não pretendo estimular ninguém a fumar. Mas não tenho a intenção de ser politicamente correto. Escreva você contra o cigarro. E terá razão.
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