terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Legumes e verduras baratos

Quando eu tinha 18 anos, a gente não beijava 18 bocas numa mesma noite. A gente se esforçava pra beijar uma e se empenhava mais ainda para levar aquela uma pra cama. Com engenho, arte e alguma sorte, às vezes, rolava.

Quando eu tinha 18, o carnaval de rua no Rio de Janeiro estava derrubado. O Bola Preta, a Banda de Ipanema, o Simpatia e o Suvaco não arrastavam as multidões de hoje. Era a época dos bailes baixaria tipo Vermelho e Preto e Baile do Havaí e havia o carnaval nos clubes - Monte Líbano, Sírio Libanês, América, Municipal. Depois teve a fase dos bailes no Scala. A gente via as fotos da mulherada nas revistas Manchete e Fatos & Fotos e babava.

Quando eu tinha 18, a gente ia pular carnaval no Campestre, em Araruama, no Iúcas, em Teresópolis, e no Country, em Friburgo. Era onde a molecada bebia cerveja, cheirava aquela porcaria de lança-perfume e tentava conseguir o nobre objetivo descrito no primeiro parágrafo.

Deixo claro que não se trata de uma nostalgia chatíssima na linha “no meu tempo era melhor...”. Era bem ruim também. A diferença é que eu tinha 18 anos, explodia em hormônios e tinha quase nenhum senso crítico.

Talvez hoje eu não goste de carnaval justamente porque não sou solteiro e não tenho mais 18. Se ainda tivesse, talvez eu conseguisse entender porque o cara coloca um colar de flores tipo havaiano, pega uma lata de cerveja em uma das mãos, levanta o indicador da outra e sai saracoteando sob um sol de rachar, tomado de uma euforia súbita e inexplicável, enquanto cata 18 bocas para beijar e um muro para se aliviar.

No fim das contas, essa é uma variante musicalmente deteriorada do trinômio sexo, drogas e rock’n’roll, que só muda um pouco de geração para geração. No caso, é sexo, álcool e samba.

É fato que envelheci. Conforme a gente envelhece, vai caindo para a xepa da feira sexual. Mesmo assim, eu não queria voltar a ter 18 e estar em um bloco correndo atrás daquele nobre objetivo.

Um comentário:

Ciça Calvoso disse...

Bom, primeiramente, sou brasiliense e Brasília é a capital do rock. Talvez venha daí a minha preferência pelo trinômio "sexo, drogas e rock n´roll". Nunca fui muito carnavalesca e ainda, confesso, acho que tenho um pouco de pânico de multidão fantasiada entrando em ruelas de centros históricos, cantando marchinhas repetiamente (que são, ainda assim, infinitamente melhores que axé). Beijar 2.725 bocas numa 'balada' sempre foi uma atitude incompreensível para mim. Coisa de mané. Não dá para saber o nome de quem beijou, não dá sequer para sentir tesão. Não dá tempo! É uma competição puramente quantitativa e sem sentido. O flerte pode estar fora de moda, mas é tão melhor... a boa conversa, a sedução... Gostei do conceito 'feira sexual'. Mas é melhor sexo bem feito do que sexo no atacadão.