domingo, 17 de janeiro de 2010

Não tenho todo o tempo do mundo




Semana passada, o ator Antonio Fagundes estreou o monólogo “Restos” no Rio de Janeiro. Ao longo da semana, toda a mídia fez questão de divulgar que o espetáculo começa rigorosamente no horário e ninguém – nem o papa – entra depois de iniciada a sessão. Até o baleiro do teatro anuncia em altos brados aos descansados na bombonniere para se apressarem para não ficarem de fora.

Na última quinta-feira, onze atrasildos foram barrados no baile. Se há uma razão para eu admirar Antonio Fagundes, é sua obstinada cruzada em prol da pontualidade.

Recentemente, assisti a “Quidam”, o espetáculo do Cirque Du Soleil que cumpre temporada no Brasil. Também começa no horário. Interessante observar que sem campainha, sem locução no alto-falante – não é preciso aviso, a hora estava previamente marcada - dois artistas entram silenciosamente em cena, circulam pela platéia e vão assim impondo o silêncio e a acomodação dos retardatários que buscam seus lugares e tagarelam. Nos outros dois espetáculos da companhia a que assisti, “Saltimbanco” e “Alegria”, aconteceu da mesma forma.

Justiça seja feita, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), ilha de civilidade, também prima há 20 anos pela pontualidade em seus espetáculos. Quase britanicamente.

Mas não é só nos palcos que a pontualidade deveria ser a regra. No dia a dia também. Nos encontros, nas reuniões, nos vôos, nas consultas médicas. Se não para dá prever todos os imprevistos ou o caos do trânsito, saia de casa mais cedo. (Quando eu vivi em Brasília o trânsito era mais fácil do que é hoje. Bons tempos em que eu levava invariavelmente sete minutos para chegar ao trabalho. O tempo de um cigarro e duas músicas do CD-player do carro).

Minha mãe é suíça. E honra a tradição dos relógios fabricados naquele país. Fui criado assim. Antes de tudo, pontualidade é respeito e educação.

T. e eu estávamos saindo juntos há quase um mês, com encontros diários. Eu sempre chegava para apanhá-la na hora combinada. Se fosse um pouco antes, esperava o relógio marcar em ponto para tocar o interfone. Uma noite, ela me telefonou para se desculpar e dizer que se atrasaria por quinze minutos. Este foi mais um dos motivos pelos quais eu me apaixonei por ela e estamos juntos há mais quatro anos. Respeito mútuo ao tempo.

3 comentários:

Unknown disse...

ahhh só pode ser genético então!

Unknown disse...

ah, o respeito ao tempo... como gostaria ver isso acontecer nas coisas cotidianas...

Ciça Calvoso disse...

Nossa, sem o menor orgulho declaro: "Pontual" é o último sobrenome que eu poderia ter...