domingo, 10 de janeiro de 2010

Avatar é um ácido



Avatar é um ácido. Especialmente em sua versão 3D (futuro irreversível do cinema?), o filme pode ser comparado a uma viagem lisérgica. Só que das boas. O visual cuidadosamente elaborado impressiona e transporta para o mundo imaginário dos Navi. Avatar é espetacular. No sentido estético, grandioso, de banquete para os olhos. É ótimo entretenimento.

O roteiro, no entanto, é a clássica história americana. A cavalaria do General Custer está lá, só que agora em versão intergaláctica. Os índios pele-vermelhas - Navajos, Moicanos, Sioux, Cherokees - agora são pele-azul, os Navi.

O John Smith da vez chama-se Jake Sully e se apaixona, claro, por sua Pocahontas, a filha do líder dos Navi. Óbvio que ela estava prometida para o melhor guerreiro até se apaixonar pelo forasteiro. Tem o ganancioso inescrupuloso, assessorado pelo militar veterano que só goza com a guerra. Tem os cientistas e humanistas que querem conhecer, interagir e preservar os outros povos e o meio-ambiente. Tem o herói solitário, errático até se encontrar em um amor e uma causa. E por aí vai, na sucessão de clichês que vai da caracterização dos personagens e passa por cada conflito e sua respectiva solução. Tudo é previsível no roteiro. Exceto o visual, este sim, de embasbacar.

Outra novidade, mas nem tão nova assim, é o discurso ambientalista, que se impõe cada vez mais nos anos iniciais deste século, e é forte no filme. Os humanos (homens brancos dos filmes de faroste) têm uma uma relaçao extrativista e predatória dos recursos naturais, enquanto os Navi são um povo da floresta, sábio, porém bicho-grilo total. We all are one (como no slogan do Hard Rock Café). Todos os seres se conectam entre si e com a Mãe Natureza. No filme, literalmente, pelos cabelos.

Drogas são nocivas. Ácido faz mal (aquele papo do Timothy Leary sobre abrir portas da percepção era furado). Mas Avatar faz muito bem, porque diverte e deslumbra, sem efeitos colaterais. E é imperdível.


ps.: Aliás, quase no final do filme, na cena em que Jake Sully...(não vou contar aqui, né?), aparece no canto inferior esquerdo da tela uma data no ano 2154. É o meu aniversário.

2 comentários:

Eder Barbosa de Melo disse...

Estava ansioso para ver Avatar, tive algumas chances em dezembro, mas priorizava a versão 3D (sempre lotada aqui em Natal), consegui no início de janeiro. Embora realmente o roteiro peque e seja previsivel do começo ao fim, o filme é realmente imperdível. Acho exagerada a idéia de que mudaria o cinema, mas não desprezo a estetica de Pandora. Li várias críticas sobre Avatar, possivelmente a sua foi uma das mais equilibradas.

Deborah disse...

Concordo com tudo! O filme é previsível (depois de poucos minutos vc já sabe o que vai acontecer no final), porém é super bem feito e os efeitos especiais impressionam - li uma entrevista na qual o James Cameron dizia que tinha o script na gaveta desde 1994, mas que não achava que a tecnologia de 16 anos atrás seria capaz de reproduzir exatamente o que ele imaginava. O filme deve arrebatar algumas estatuetas este ano...e merece!