domingo, 13 de dezembro de 2009

Lost in Niquiti



Eu gosto de casamentos. Não só dos meus, mas dos outros também. São rituais bacanas, cheios de simbolismo amoroso e esperança, onde, com frequência, me emociono. Ah, e as festas costumam ser bem fartas e animadas.

Por tudo isso e, principalmente, pela amizade com o casal, fui a um casamento em Niterói, logo ali do outro lado da poça da Guanabara. Niterói é a ilha de Lost. A qualquer momento, eu sentia que poderia esbarrar com aquele padre que partiu de Santa Catarina agarrado em balões de gás e, of course, got lost.

Niterói é uma cidade simpática, que alguns chamam de “Niquiti” (será uma corruptela de Niterói City?), com a melhor vista do Brasil. Mas é pessimamente sinalizada. Como todo macho de boa estirpe, eu me perco, avanço por tentativa e erro, mas resisto ao máximo em pedir informações a alguém, e assim, assumir que não sei exatamente onde estou. Pela mesma razão, tenho uma recusa ideológica ao GPS, que é apenas o modo high-tech de pedir informaçao a alguém na rua.

No entanto, estávamos próximos ao horário da cerimônia e minha mulher já me lançava olhares ameaçadores. Capitulei e perguntei. O primeiro respondeu: “- É fácil, você segue ali, pega ali na segunda à direita e vai toda vida.”

Temi que esta orientação fosse literal. Segui à risca as orientações apenas para continuar perdido. Então, emparelhei o carro a um outro com placa local e perguntei novamente. Esse me pediu que o acompanhasse, porque estava indo para aqueles lados, seja qual lado fosse àquela altura. Deu certo, chegamos a tempo de ver todo o cortejo de padrinhos, pais e, claro, a noiva atravessarem a nave da igreja.

Da igreja para o clube onde seria a recepção, outro périplo. Uma amiga niteroiense, cheia de boa-vontade, nos deu as dicas: “É fácil. Segue o fluxo até o final da rua, depois do sinal, tem uma guarita da PM, meio apagadinha, você vira à esquerda e segue...”

Deu água de novo, como se jogássemos batalha naval. Resignado, iniciei o inquérito junto aos transeuntes. O primeiro, disse “’E fácil”, e me orientou a seguir ali, dobrar acolá, pegar o contorno, virar não sei onde. O segundo respondeu: - “E fácil, você segue ali, adiante vira à...” e começou a falar em sequência um monte de nomes de ruas como se eu tivesse a maior intimidade com elas. Eu ali, com cara de paisagem, fingindo estar entendendo tudo só para não interromper a eloquente solicitude do cidadão. Mas em sua explicação, quase tão extensa quanto o percurso, a frase mais esclarecedora foi: “o senhor dá um jeito de entrar na Miguel de Frias”. Então, tá,claro, deixa comigo. Miguel tá no papo. Ao final, ele coroou o discurso: “Quando chegar lá, o senhor se informa melhor”. Como assim, amigo?! Vou achar alguém no mundo que me explique o caminho melhor que você?!

Já tínhamos notado que, em Niterói, volta e meia, há uma bifurcação, mas o povo de lá usa o “vira ali”, em substituição aos tradicionais “direita ou esquerda”.

O terceiro sujeito também começou a frase com “É fácil...”. Para mim, já foi difícil não partir para a ignorância, mas ouvi pacientemente, enquanto minha mulher e o casal que nos acompanhava se esborrachavam de rir no carro. Mas o bom sujeito disse para eu seguir ali, e quando chegasse na esquina do mercadinho – que, frisou, estaria fechado àquela hora – eu virasse à direita e no próximo cruzamento seguisse em frente, porque o clube era logo ali no início da ladeira.

Chegamos à esquina da rua do clube e nela há um imenso posto de gasolina Esso com um gigantesco tigre inflável e iluminado. Fiquei pensando porque ninguém me deu essa referência, muito mais visível do que o discreto mercadinho que estaria fechado. Um amigo do ramo do petróleo observou que no tal posto havia uma loja de conveniência da Hungry Tiger, marca que deixou de existir no mundo todo há anos. Para nós, isso é prova inconteste que o pessoal de rebranding da companhia não chegou lá, porque Niterói é mesmo a ilha de Lost.

Enfim, chegamos à festa e ela honrou com louvor as expectativas. Bebida, comida, risadas, fotos, danças, micos, e tudo que uma festa boa costuma ter. Mesmo quando toca funk e a gente vai até o chão. Culpa exclusiva do álcool.

Bem, fim de festa, alta madrugada e para voltar para o Rio, bastou seguir os barbantinhos que deixei amarrados nas árvores no caminho de ida. Foi fácil...

Um comentário:

Carlos Fortes disse...

HELP...SOCORRO...Ainda estou perdido en Niterói..não consegui voltar ao Rio depois da cerimônia. Me avise onde deixou os barbatinhos pois quem sabe encontro o caminho para casa. Enquanto isto, leio seu blog para ajudar a passar o desespero. Adorei o texto! Muito divertido e 100% verdadeiro. Abração Carlos