Como não tenho religião, o Natal é apenas um feriado no verão, quando trocamos presentes, comemos peru e rabanada, revisitamos parentes (esses estranhos íntimos...) e ficamos bêbados. Aliás, parece que o mundo inteiro fica bêbado. E fica como aqueles bêbados chatos que grudam em você com bafo de pinga e dizem: - “Te considero a pampa. Te amo muito. Te adoro pra cara....” e outras bobagens deflagradas pelo álcool, antes de vomitarem panetone no seu colo.
Os bêbados do mundo também enviam cartões virtuais e apresentações em power point com imagens e trilha sonora cafonérrimas, e fazem ligações fora de hora para desejar boas festas aos berros. – “Obrigado, pra você e sua mãe também”, respondo.
A galera surta no Natal. Pira geral. Os bêbados do mundo pedem “desculpa aí por qualquer coisa” supostamente feita ao longo do ano e insinuam um encontro futuro, com direito a irritante erro de português: - “Vamos marcar de se ver”. Nunca, meu caro, nunca.
Recebi uma mensagem de uma simpática corretora de imóveis com a qual não troquei ao longo do ano mais do que meia dúzia de e-mails, todos estritamente profissionais. Ao final de uma sequência de clichês, ela escreveu: “Conte sempre comigo. Abraços de uma pessoa que te gosta muito.”
Você pode dizer que a moça só estava tentando ser agradável e eu sou um velho rabugento que merecia passar o Natal sozinho. É verdade. Mas eu nunca a vi pessoalmente, acho que nem falamos por telefone. Também não fechei negócio com ela, o que talvez pudesse justificar tamanho apreço pela minha pessoa. Agora me diz se sou eu que estou exagerando?
Um comentário:
Te considero a pampa...
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