Amigo meu, servidor público concursado, é desses raros que trabalha com afinco. Não é homem acostumado ao ócio, nem é de se conformar com o tédio. Jornalista premiado, espírito irrequieto, se atrapalha quando as horas lhe sobram.
Eis que numa tarde de terça-feira de suas férias, resolvidos assuntos pessoais, e antes de cruzar a Ponte JK, ele decide matar tempo na Academia de Tênis, reduto tradicional de bons filmes em cartaz em Brasília.
Pergunta à moça da bilheteria qual o próximo filme que está por começar. Ela informa o título. Ele indaga sobre o que é. Ela dá a sinopse: é sobre dois irmãos que se apaixonam. Pensou ele: "opa, se tem romance entre casal, então deve rolar pelo menos um peitinho."
Sim, havia romance. Mas o casal da história é homossexual. O filme “Do começo ao fim”, de Aluizio Abranches, conta a história de dois irmãos por parte de mãe, dois homens que se apaixonam um pelo outro.
Meu amigo é nordestino cabra-macho, vez ou outra até com ranço machista, fã de Ramones, que ouvíamos no último volume cruzando as entrequadras. Sentiu ligeiro desconforto por estar ali, talvez o único hetero na platéia. Mas amante da sétima arte, apreciou o filme do começo ao fim e elogiou sobretudo o roteiro.
No entanto, saiu da sala tão logo começaram a surgir os créditos na tela e antes que se acendessem as luzes. Ele não é, nem de longe, homofóbico. Apenas não queria parecer algo que não é. Pai de família, temeu dar pinta.
Bobagem. “O mundo é gay”.
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