Debates acalorados fazem ferver os buracos quentes da cidade nesses dias de calor. Não se fala em outra coisa, para desespero de algumas namoradas e esposas. O controvertido campeonato brasileiro por pontos corridos conseguiu finalmente ser emocionante, para tristeza daqueles que defendem a fórmula com jogos de ida e volta na final.
Chegamos a última rodada e quatro times (Flamengo, Internacional, Palmeiras e São Paulo) têm chances de serem campeões. Mas o que esquenta as discussões é a possibilidade de o Grêmio entregar o jogo para o Flamengo. Para quem não acompanha o campeonato, eis o resumo da ópera: o Flamengo lidera e se vencer o Grêmio será o campeão. Simples assim. Agora, se empatar, ou se o Grêmio vencer, e o Inter ganhar o seu jogo contra o Santo André, então o Inter será o campeão. O Grêmio joga apenas para cumprir tabela, mas se atrapalhar o Flamengo, pode entregar o título ao Inter, seu arqui-rival no seu Rio Grande do Sul. Lá a rivalidade é tão intensa que nas casas de alguns gremistas, nem o Papai Noel se veste de vermelho. Ele usa azul.
Colorados desesperados vêm apelando publicamente para a honra e a dignidade do Grêmio, para a ética, imputando ao Grêmio a responsabilidade de ser a reserva moral do Brasil e deixar uma bela lição às gerações futuras. Bullshit! No ano passado, este mesmo Inter escalou o time de juvenis contra o São Paulo, para perder e então fazer com que o Grêmio fosse superado na liderança da tabela pelos paulistas.
O campeonato não é feito de um jogo só. É estratégia. Ao longo dele, vários times escalam equipes reservas e ninguém apela à falta de ética. Quantas vezes foi mais interessante perder um jogo para então enfrentar um adversário numa fase seguinte de campeonato? Até em Copa do Mundo se faz isso.
Mas o fato é que o debate ético caiu na boca do povo, mais ou menos como ocorreu quando Zeca Pagodinho fez campanha para a cerveja Nova Schin e, ato contínuo, para a Brahma. Até minha mãe, que não entende e nem gosta de futebol, veio me dizer que será feio se o Grêmio entregar o jogo para o Flamengo.
Acho que essa celeuma toda sobre se o Grêmio vai ou não entregar o jogo é fomentada pelas torcidas adversárias na tentativa de esvaziar a provável conquista do Flamengo. O Flamengo chegou até a posição de líder porque tem méritos e venceu durante o campeonato todos os seus três oponentes finais: 4X0 e 0X0 contra o Inter; 1x2 e 2x0 contra o Palmeiras; e 2x2 e 2x1 contra o São Paulo. Portanto, o Flamengo não precisa da ajuda do Grêmio para ser campeão. Ele tem plenas condições de ganhar do Grêmio, sem que este faça corpo mole.
A torcida do Grêmio iniciou o movimento “Entrega, Grêmio” pedindo acintosamente que o time perca para não dar o título ao rival histórico. Os jogadores, que hoje vivem mudando de clube, alegam profissionalismo e dizem que não vão entregar os pontos.
Por outro lado, a torcida do Flamengo adaptou a letra do seu hino de guerra deste ano e gentilmente irá cantar domingo no Maracanã: “Vamos, FlaGrêmio, vamos ser campeão (
sic), vamos FlaGrêmio...”
Perguntei a um velho amigo, rubro-negro fundamentalista, se caso o Flamengo estivesse na posição do Grêmio e o Vasco na do Inter, o que ele faria. “Perderia, claro!” Insisti e perguntei por que. Ele foi ainda mais contundente: “Porque o ódio é mais forte do que o amor”.
Futebol é, antes e acima de tudo, paixão.
Vamos, Flamengo!
ps.: outra velha polêmica é sobre a legitimidade do título brasileiro de 1987 atribuído ao Sport e ao Flamengo. Não vou ressuscitar aqui o imbróglio, mas nos dias de hoje, seria mais ou menos como se o Vasco, campeão da Série B, resolvesse jogar contra o Flamengo, provável campeão da Série A, para então decidir quem é o campeão brasileiro. Ridículo. (O Vasco jamais faria tal reivindicação, até porque sabe que, por tradição, seria vice de novo).
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