Ontem à noite eu quis matar um amigo. Metaforicamente, óbvio, porque meus pendores homicidas são domesticados.
Estou em casa bebendo uma Quilmes, assistindo à transmissão ao vivo do show do Oasis no Rio de Janeiro, quando minha mulher me conta a história do amigo C.
Anteontem à noite, C voltou de uma viagem a trabalho de Santiago do Chile. Em um avião normalzinho e chinfrinzinho, daquela companhia aérea que tem nome de carro e lembra futebol, desses que não têm divisão entre primeira classe, executiva, econômica.
Voo praticamente vazio e, nas poltronas à sua frente, eles, os irmãos Gallagher e toda a entourage do Oasis. O avião ainda ficou parado durante uma hora em São Paulo e Liam, entediado, dava voltas dentro da aeronave, até que puxou papo com o nosso amigo.
C., mineiro muito tímido, estava entretido com um livro e não quis parecer chato, nem tiete deslumbrado, e não deu trela para a conversa com Liam.
Então, sem reconhecê-lo, veio uma moça puxar assunto com o inglês:
- Oi, disse ela.
- Oi.
- De onde você é?
- De Manchester
- Ai, que legal, eu morei em Londres.
- Eu moro em Londres.
- O que você faz?
- Eu canto em uma banda.
- Que legal, que banda?
- Oasis.
Então, caíram o queixo e a ficha da mulher que até então não tinha ligado o nome à pessoa. Ou melhor, a imagem à pessoa. Advinhem qual a cor do cabelo da moça?
Definitivamente, Deus não dá asas a cobra. Se eu tivesse tido a chance do meu amigo, de estar praticamente a sós com todo o Oasis, enclausurado num avião, eu teria conseguido uma exclusiva para este blog.
C. não é jornalista e talvez nem tenha se tocado da oportunidade perdida. O inusitado é que ele deu uma de blasé e esnobe com um dos caras mais marrentos da cena rock’n’roll. Ele não fez uma entrevista, não tirou foto, não descolou convite para a área VIP do show.
Mas sua quase conversa com o Liam Gallagher rendeu esta quase crônica que poderia ter sido uma puta entrevista. E fez também com que eu quase tivesse vontade de matá-lo.
Um comentário:
ahahahahahah!!!! hilário Leandro!
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