quinta-feira, 12 de março de 2009

Vá lavar sua roupa


Além da excomunhão dos médicos pernambucanos que realizaram o devido aborto na menina de nove anos estuprada pelo padrasto, a Igreja Católica soltou outra potoca recente.

A máquina de lavar talvez tenha feito mais pela liberação da mulher no século XX do que a pílula anticoncepcional ou o acesso ao mercado de trabalho. A conclusão consta em um longo artigo publicado na edição do fim de semana passado do jornal semioficial do Vaticano, o L'Osservatore Romano, por ocasião do Dia Internacional da Mulher. O título era "A Máquina de lavar e a liberação das mulheres - ponha detergente, feche a tampa e relaxe".
"O que no século XX fez mais para liberar as mulheres ocidentais?", questiona o artigo, escrito por uma mulher. "O debate é acalorado. Alguns dizem que a pílula, alguns dizem que o direito ao aborto, e alguns (dizem que) o direito a trabalhar fora de casa. Alguns, porém, ousam ir além: a máquina de lavar."
O texto então conta a história da máquina de lavar, desde um modelo rudimentar de 1767 na Alemanha, até os modernos equipamentos com os quais a mulher pode tomar um capuccino com as amigas enquanto a roupa é batida.

Tamanha estupidez não merece nem comentários. Mas vamos juntar lé com cré e misturar essa baboseira – como numa máquina de lavar na fase de centrifugação - com aquela cometida pelo Anjo Excomungador. Como sugere a Cora Rónai em sua coluna de hoje publicada no O Globo, “A Igreja já atormentou demais a vida da Humanidade. Agora devia ir lavar seu tanque de roupa suja e deixar que vivêssemos em paz.” Roupa encardida. Se a Igreja fosse excomungar seus pedófilos e estupradores, talvez tivesse problemas de RH, escreve a jornalista.

Córa continua com a língua bem afiada: “Acho a excomunhão um anacronismo tão ridículo que, aplicada hoje, e por esta Igreja, está mais para condecoração e ponto no currículo.”

Hoje também pode ser lido nos jornais a triste notícia de que uma menina de 11 anos deu à luz no Rio Grande do Sul a uma criança, fruto do estupro cometido pelo seu padrasto. Essa tragédia acontece cotidianamente.

E vou novamente fazer minhas as palavras da Córa: “Eu não sou a favor do aborto; acho que há um sério erro conceitual nessa expressão. Sou , isso sim, a favor de que cada mulher possa livremente optar por fazer ou não fazer aborto, com a assistência médica necessária. Abortos clandestinos são a principal causa de morte materna na América Latina; é estranho que quem diz “defender a vida” não leve essa estatística em consideração. O fato é que ninguém faz aborto por esporte ou prazer; assim como é verdade que as penas da lei e os desastres de abortos malfeitos sobram quase sempre para as mulheres mais pobres, sem acesso a métodos contraceptivos eficazes.”

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