Está em cartaz “Milk”, o filme que proporcionou a Sean Penn o merecidíssimo Oscar de melhor ator. Dirigido por Gus Van Sant, conta a história real de Harvey Milk, primeiro gay assumido a ser eleito para um cargo público nos Estados Unidos.
Até os quarenta anos, Milk pedia sigilo aos seus namorados, com medo de perder o bom emprego em Nova York. Sentindo que precisava de mudança em sua vida, parte para San Francisco com o namorado Scott Smith, sai do armário e inicia a militância em favor dos direitos civis dos homossexuais.
Após três tentativas frustradas, Milk é eleito supervisor de San Francisco, cargo similar ao de vereador no Brasil. Sua principal cruzada passa a ser contra a chamada Proposição nº6, do senador Briggs, que estabelecia que professores homossexuais – e quem os defendesse – deveriam ser demitidos das escolas públicas. A justificativa, absurda, era a de que os professores “ensinariam homossexualidade”, assediariam aos alunos e os recrutariam para as hostes gays, destruindo as famílias.
Milk consegue vencer e a proposição é vetada em San Francisco. Mas a alegria pela vitória dura pouco. Sua carreira promissora, em franca ascensão, é interrompida brutalmente a balas. Em 1978, Milk foi assassinado, junto com o então prefeito de San Francisco, por um outro supervisor, Dan White, seu rival político.
Em linhas gerais, esta é a história. O filme é muito mais que isso e vale a pena ser visto não apenas pela magistral interpretação de Penn. É assustador pensar que tanta ignorância, tanto preconceito, tanta hostilidade contra os gays aconteceu há apenas 30 anos.
E, a despeito do muito que se evoluiu nas últimas décadas, ainda há um longo caminho pela frente para vencer a homofobia.
Eu tenho muitos amigos gays. Notem que eu não escrevi conhecidos ou colegas, mas amigos. Alguns dos melhores. Um destes foi para mim um irmão no momento mais difícil da minha vida. Com ele, aprendi o valor das amizades sinceras e a precisar de menos coisas materiais para ser feliz.
Certa vez, saímos para almoçar em um grupo de oito homens, no qual eu era o único hetero. Ele então me perguntou se eu não me incomodava em sair com “tanta bicha junta, dando pinta”. Eu respondi que não. Que, ao contrário, eu me orgulhava. Porque ali, o diferente era eu. E a minha presença não os constrangia, não os continha, não os incomodava. Eu era aceito por eles. E ficava feliz porque eles se sentiam plenamente à vontade comigo ali.
Relações de amizade são construídas com admiração e respeito mútuos. Torço para que um dia, somewhere over the rainbow, as pessoas convivam harmoniosamente, sem rotularem umas às outras em função da sua orientação sexual.
Ilustra este texto o selo que o governo de Pernambuco fez para mostrar que é receptivo aos turistas gays. A iniciativa é boa, principalmente se for além do mero discurso.
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