sábado, 28 de março de 2009

Loura crise louca



Ai, ai, ai, e lá vem o Lula fazer vergonha de novo com a pérola “...é uma crise causada, fomentada por comportamentos irracionais de gente branca, e de olhos azuis.”

Lula soltou a asneira diante do primeiro ministro inglês, Gordon Brown, que ouvia boquiaberto. Como escreveu o Gerald Thomas, o constrangimento pela grosseria não foi maior porque ele não se chama Gordon White.

Recebi e-mails e mensagens com gozações de amigos estrangeiros. Eles riam. Eu chorava. O presidente é do meu país, não do deles.

Lula enfim achou um louro expiatório. Já que a tal da marolinha virou ondão, o presidente culpou os parafinados surfistas do caos.

O fato é que as louras entraram em crise, ao saberem que a crise é culpa delas. “Como assim?!”, perguntaram-se aflitas.

No O Globo, edição de hoje, a página móvel Logo, intitulada “Lula e os branqueiros” traz uma série de piadas e trocadilhos a respeito de mais esta bola fora. “E os banqueiros do mercado negro, como é que ficam?” ou “Há brancos e brancos, negros e negros. Sávio não é Tita, Obama não é Celso Pitta”.

Enfim, bem informado como é, Lula deve achar que não existem na China, na Índia ou na África nem problemas, nem bancos fazendo operações impróprias com derivativos na ciranda do mercado financeiro.

Lula quis dizer que a crise foi originada no Primeiro Mundo. OK, é verdade. Mas é igualmente verdade que há um milhão de maneiras mais inteligentes de se fazer essa afirmação do que a escolhida pelo presidente.

Linhas acima eu fiz uma generalização, brincando com as louras. Aqui cabe humor desse tipo. Em um discurso presidencial, não. Essa metáfora ou simplificação ou generalização que o presidente fez usando uma frase de efeito e apelo popular é, na verdade, um comentário racista. Sim, também há racismo contra aqueles que não são afro-descendentes.

Tenho certeza que o presidente se ofenderia se alguém dissesse que a culpa da crise é dos “paraíbas” ou dos “baianos”, como cariocas e paulistas, respectivamente, referem-se de modo pejorativo aos nordestinos como ele. Da mesma forma seria um absurdo racista se alguém afirmasse que a violência urbana é “coisa de crioulo”, “culpa dos pretos e pobres”.

Lula realmente deveria pensar um pouco antes de cuspir frases para cair no gosto do povo. Recentemente, ao experimentar uma mortadela, declarou que ela iria bem com uma cachaça. Totalmente desnecessário, ainda mais vindo de um presidente da república. Poderia ter elogiado a mortadela. E ponto. Aliás, se Lula mantivesse a boca mais ocupada com mortadela, não falaria essas bobagens, nem sobre a cachaça (que é branquinha), nem sobre a crise (que não tem apenas olhos azuis).

Mas não é só o Lula que faz vergonha. Luciana Cardoso, filha do ex-presidente FHC, e funcionária do gabinete do senador Heráclito Fortes, disse à Folha de S.Paulo que trabalha em casa, que “aquele Senado é uma bagunça” e que não sabe dizer se recebeu ou não horas extras em janeiro, quando o Senado estava em recesso.

Enfim, a gente tem duas opções. Ou age como avestruz e enfia a cara num buraco de tanta vergonha ou a gente bota a boca no mundo e grita para que as coisas nesse País melhorem.

Nenhum comentário: