domingo, 6 de junho de 2010

Pelo rés do chão

Em seu texto intitulado “A vertigem de sobreloja”, publicado no caderno Prosa & Verso em 5/6/2010, o crítico literário José Castello comenta o livro “O espalhador de passarinhos”, de Humberto Werneck, Edições Dubolsinho.


Garimpei do texto passagens muito elucidativas sobre o ofício do cronista. Como parcela significativa dos leitores deste blog também escreve seus próprios blogs, compartilho as sábias palavras de Castello:

“(...) Às vezes é irônico, outras é até mordaz, mas nunca abdica das coisas do mundo. Só quem atribui um grande valor à vida desenvolve a atenção sutil que ele tem. Só escreve boas crônicas quem aceita as nuances da existência. O bom cronista despreza os grandes temas e prefere as migalhas oferecidas pelo cotidiano. Prefere se elevar e voar, a agarrar e prender.

(...)

Mesmo sendo o gênero do Eu, a crônica não é o lugar da exibição e do triunfo. Penso em Rubem Braga, de bermudas e chinelos, tratando de seus passarinhos, na contramão da fama literária. Falhar: eis tudo que um cronista deve saber. Werneck, ele mesmo, admite: ‘É sabida a minha incompetência para administrar o que quer que seja, a começar por mim mesmo.’Não o gênero da glória e da empáfia, mas o gênero da delicadeza e do fracasso. Um gênero, enfim, do humano. Cronistas são homens que aprendem a olhar. Homens que praticam o que Humberto Werneck chama de ‘olhares que iluminam’.

A crônica, ele nos mostra ainda, é uma ‘viagem prazerosa e vadia’ pelo rés do chão. Viagem rasteira e serena, sem preparativos, nem agendas. E quando voa – e voar faz parte também de sua natureza – o cronista imita Seu Fernando, o pai de meu amigo baiano, para quem o próprio vôo é mais importante que o destino. O cronista não vê o que os outros não vêem, mas o que os outros, mesmo vendo, desprezam”.

Um comentário:

Mirelle Matias disse...

"Cronistas são homens que aprendem a olhar. Homens que praticam o que Humberto Werneck chama de ‘olhares que iluminam’."

Eu trocaria a palavra 'homens', por 'pessoas'. E a frase final é perfeita. Sei que não obtenho muito sucesso com as crônicas timidas digitadas do meu teclado sem acentos, mas o segredo é esse, produzir textos e tiradas sobre assuntos tão simples que por vezes produzem pensamentos interessantes.