quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Boas palavras

Eu sou um apaixonado pelas palavras. Em minhas andanças urbanas, gosto de clicá-las em muros, placas, anúncios, cartazes. A seguir, algumas delas, que eu espero que te acompanhem em 2010.










Fotos: Leandro Wirz

Mantença

Foto: Fernanda Siqueira

Hoje é dia de retrospectiva e de esperança, essa palavra linda em forma e conteúdo. Planos, promessas, projetos. É dia de acreditar – ou de se iludir – de que as coisas vão mudar no próximo ano. Ao menos algumas coisas, especialmente as que dependem só de você, podem mesmo mudar.

Eu já passei réveillons desejando muitas mudanças. Mas agora eu ando, no que diz respeito ao meu pequeno universo, querendo manutenção. Eu quero manter o meu casamento, com amor e harmonia; manter o meu emprego, porque gosto do que faço, onde faço, com quem faço; manter a minha saúde, porque mesmo meus maus hábitos não conseguiram detoná-la; manter a minha família e os meus amigos por perto; manter a minha casa gostosa; manter este blog interessante e divertido.

Conjugo o verbo manter, no sentido de conservar, preservar, cuidar, zelar. Manter não significa estagnar, nem deixar de evoluir ou de ambicionar. Sempre é possível melhorar. Mas eu estou no caminho em que quero dar os próximos passos. Como a mulher desta foto inspiradora, que segue decidida ao encontro do mar.

Manter é minha primeira e mais importante conquista.




ps.: um mar de coisas boas para você em 2010. Volte sempre.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Bon vivant

Em seu cinquentenário, eu trocava novidades, ideias e filosofia barata com um grande amigo, fotógrafo, bom de prosa e de copo, na melhor tradição mineira.

Como me conhece há tempos, ele sabe que não tenho a intenção de ser pai nesta vida. Não vem ao caso agora se é por opção, preguiça, egoísmo, imaturidade, desinteresse, falta de saco para crianças ou qualquer outra razão. (Difícil mesmo é encontrar uma razão para ter filhos. Razão e não emoção).

Lá pelas tantas, meu amigo, pai de duas adolescentes, disse: “-É, camarada, não tenha filhos mesmo, não. Isso não combina com você. Você é muito livre e é um bon vivant.”

Bon vivant?! Eu?! Só porque admiro o modus vivendi do finado Jorginho Guinle ou de Hugh Heffner? Por que tenho pendores e despudores hedonistas?

Ah, meu caro, quem me dera ter todo esse savoir-vivre. Quem me dera saber fazer poesia dos dias e atravessar a vida com a elegância dos verdadeiros sábios.

Este ano acaba e logo outro começa. E ainda tenho tanto por aprender. Preciso aprender a dar importância ao que realmente importa, descartar as culpas improdutivas, ser mais paciente, principalmente com quem fala na velocidade de um monge budista contemplando as montanhas do Tibete.

Também preciso aprender a ser mais humilde. Mas aí, toda vez que eu tento, me faltam argumentos.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Flash vintage

Flash Mobs são aglomerações instantâneas de pessoas em um local público para realizar determinada ação inusitada previamente combinada. Tudo começa e se dissipa velozmente.

No último dia 23, a TAP, companhia aérea portuguesa e a ANA, órgão regulador da aviação naquele país, fizeram uma flash mob no aeroporto de Lisboa para desejar boas festas aos passageiros de uma maneira mais divertida e original, ao som de “Dancing Queen”, “Rock around the clock”, “Mas que nada” e “All I want for Christmas you.”

Fosse por aqui, ia ser ao som de samba, que é tudo como acaba. Mas aí não ia acabar. Logo teria alguém vendendo uma cervejinha no isopor, uns cambistas vendendo ingressos falsos para assistir à performance de uma suposta área vip com open bar, uns guardadores de carrinhos de bagagens e por aí vai, posto que somos um povo criativo e original na tal da economia informal.

Enfim, esqueça o Brasil e vá para o aeroporto lisboeta, ao menos por sete minutinhos, tempo de duração do vídeo.

Fazendo contraste com esse jeito moderninho, registro minha satisfação por ter recebido de uma amiga que vive em Cheshire, cidade bem pequena em Connecticut - EUA, um cartão de Natal impresso, entregue pelos Correios à moda antiga. Não que ela seja pré-histórica ou viva desconectada. Foi apenas a sua escolha, cheia de charme vintage.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Outra pessoa



Teve cueca, teve meia, e do indefectível triunvirato de presentes de tia, faltou a gravata, que nestes dias de calor converte-se em instrumento de tortura.

Já não teve CD, posto que é objeto que caminha célere rumo a obsolescência. Mas teve livro. E não poderia ser melhor. Lancei-me a ele logo na madrugada do Natal.

Uma antologia de Fernando Pessoa, publicada pelo selo Alfaguara, da Editora Objetiva, em 2006. “Um livro para apaixonados”, nas palavras do escritor e organizador Luiz Ruffato.

A caprichada antologia abre com meu poema favorito – se é que possível ter apenas um favorito quando falamos de Pessoa – “Tabacaria”:
“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”

E por aí vai, na sucessão de lirismo, sabedoria, ironia, sensibilidade e porrada.

O título da antologia é “Quando fui outro”. Eu sou outro. Eu sempre sou outro. Especialmente quando leio Fernando Pessoa.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Have yourself...

No Natal, você pode ouvir pela enésima vez aquelas músicas que se tornaram clássicos natalinos. Você pode encontrar facilmente centenas de versões de "Silent night" ("Noite feliz"), por exemplo. E algumas delas ainda serão pungentes, emocionantes. Você também pode encontrar outras tantas versões de "Have Yourself a Merry Little Christmas", gravada pela primeira vez em 1944, por Judy Garland e maravilhosa tanto na voz de Frank Sinatra, como na de Chrissie Hynde, do The Pretenders.

Faça você mesmo um Natal melhor para si. A partir de pequenas coisas. Comece clicando no link a seguir, para assistir a uma cena bem legal de um filme chamado "Love, actually" ("Simplesmente amor"). É uma comédia romântica inglesa, de 2003, escrita e dirigida por Richard Curtis, com elenco estelar.

Ela está em casa, assistindo TV com o namorado, quando o amigo toca a campainha, põe "Silent Night" para tocar e...

"Enough. Enough now."

http://www.youtube.com/watch?v=5m2T5yfgsZ0&feature=related

Exageros à parte


Como não tenho religião, o Natal é apenas um feriado no verão, quando trocamos presentes, comemos peru e rabanada, revisitamos parentes (esses estranhos íntimos...) e ficamos bêbados. Aliás, parece que o mundo inteiro fica bêbado. E fica como aqueles bêbados chatos que grudam em você com bafo de pinga e dizem: - “Te considero a pampa. Te amo muito. Te adoro pra cara....” e outras bobagens deflagradas pelo álcool, antes de vomitarem panetone no seu colo.

Os bêbados do mundo também enviam cartões virtuais e apresentações em power point com imagens e trilha sonora cafonérrimas, e fazem ligações fora de hora para desejar boas festas aos berros. – “Obrigado, pra você e sua mãe também”, respondo.

A galera surta no Natal. Pira geral. Os bêbados do mundo pedem “desculpa aí por qualquer coisa” supostamente feita ao longo do ano e insinuam um encontro futuro, com direito a irritante erro de português: - “Vamos marcar de se ver”. Nunca, meu caro, nunca.

Recebi uma mensagem de uma simpática corretora de imóveis com a qual não troquei ao longo do ano mais do que meia dúzia de e-mails, todos estritamente profissionais. Ao final de uma sequência de clichês, ela escreveu: “Conte sempre comigo. Abraços de uma pessoa que te gosta muito.”

Você pode dizer que a moça só estava tentando ser agradável e eu sou um velho rabugento que merecia passar o Natal sozinho. É verdade. Mas eu nunca a vi pessoalmente, acho que nem falamos por telefone. Também não fechei negócio com ela, o que talvez pudesse justificar tamanho apreço pela minha pessoa. Agora me diz se sou eu que estou exagerando?

Caixinha do blog



Dezembro é o mês das caixinhas: dos porteiros, do entregador de jornal, do carteiro, da moça do cafezinho e de todo mundo que resolve te lembrar que eles existem e fazem alguma coisa por você durante o ano.

Eu não sei se faço alguma coisa útil por você, mas como lavo o rosto todas as manhãs com o seu sorriso e o meu pós-barba é óleo de peroba, eu estou aqui para pedir também. Veja bem, eu poderia estar roubando, eu poderia estar comendo panetone, eu poderia estar no governo. Mas tô aqui, humildemente, pedindo para você cair na minha rede.

Para ilustrar este texto e pedir este presente, coloquei até uma foto desse cachorro com gorro de Papai Noel para te lembrar da generosidade do espírito natalino. Usar cachorro e criança em propaganda é golpe baixo, mas eu tenho que apelar. Afinal, não sou nenhum modelo de bom comportamento e, por isso, é bem provável que eu não receba a visita de um gorducho barbudo vestido de vermelho que vai chegar aqui em casa em um trenó puxado por renas e vai entrar pela chaminé.

Caixinha de blogueiro são os comentários deixados pelos navegantes – por isso, não se acanhem! – e são os leitores fiéis que se cadastram como seguidores. É simples, rápido e grátis. Vai lá na coluna da direita, onde estão a palavra “cardume”, um grafite de peixes e as fotos de uma galera que já teve coragem de assumir que é leitora assídua deste mar de coisa. Clica em “Seguir” e se identifica. Só isso.

Neste Natal, faça um blogueiro feliz. Eu sei que, no fundo, você tem um bom coração. Capaz até de perdoar este texto descaradamente piegas.

Será?

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um dia com ela




Eu e minha mulher fazemos questão (ainda, e espero que sempre) de comemorarmos a data em que começamos a namorar, a data em que, dez meses depois, deixei Brasília para morarmos juntos e a data em que, mais catorze meses, oficializamos o casamento e ela passou a me dar a honra e a alegria de usar o meu sobrenome.

Recentemente, fizemos mais um aniversário de casamento e ela havia me dito que queria passar um dia bem romântico.

Começamos com um café da manhã quase a uma da tarde numa delicatessen do Leblon. Ótimo. Mas daí em diante, foi uma sucessão de programas de índio.

Sob um sol de rachar, procuramos um produto específico numa feira hippie, encaramos um shopping lotado às vésperas do Natal, comemos pizza estilão “de padaria” na praça de alimentação e fizemos compras no supermercado.

Como se vê, uma programação completamente sem glamour.

Mas quer saber? Curtimos juntos cada momento do dia. Desta vez, não sentimos falta do jantar a luz de velas em um restaurante charmoso. Claro que é fundamental e delicioso fugir da rotina e viver momentos especiais. Mas neste ano não rolou.

Ainda assim, pela companhia, o dia foi gostoso e divertido.

Esta crônica é uma declaração de amor e uma maneira de celebrar a delícia da convivência. A rotina destrói um casamento. A ausência de rotina destrói mais ainda.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Abraços partidos



Allen e Almodóvar podem não ser os melhores cineastas do mundo (até porque essa história de “melhor do mundo” em qualquer área é uma bobagem), mas são os que hoje me fazem ir ao cinema assim que lançam seus filmes. Não sou um super cinéfilo. Apenas gosto de boas histórias e da maneira como elas são contadas.

“Los Abrazos Rotos” (“Abraços Partidos”, na tradução brasileira), o novo do espanhol Pedro Almodóvar, traz aquela latinidade toda: amor, paixão, desejo, sofrimento, sofreguidão, drama, tragédia, comédia, poesia, traição, culpa, segredos, sexo (logo na primeira cena), sacrifício, superação, fatalidade, família. Tudo junto e misturado.

Tudo com a dose certa do exagero, se é que isso é possível. Tudo intenso, vibrante, colorido. Mesmo com o roteiro previsível, é uma delícia acompanhar o desenrolar do novelão protagonizado pelo escritor Mateo Blanco, que adota o pseudônimo de Harry Caine. Por sinal, óbvio trocadilho com hurricaine (furacão) e sua força transformadora. O ator Lluís Homar, que vive na tela o escritor cego, guarda impressionante semelhança física com o finado Patrick Swayze. Seu cigarro entre dedos me deu uma nostalgia dos meus. Curioso observar que nas cenas de décadas anteriores os personagens fumam e nas cenas passadas no tempo presente da narrativa, eles já não fumam mais.

Penélope Cruz está em ótima forma no filme, em todos os sentidos. A fotografia é belíssima e a trilha sonora sublinha a carga dramática de algumas cenas deste filme que se vende só pela força e poesia do título. E que vale ser visto.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Até o fim



Amigo meu, servidor público concursado, é desses raros que trabalha com afinco. Não é homem acostumado ao ócio, nem é de se conformar com o tédio. Jornalista premiado, espírito irrequieto, se atrapalha quando as horas lhe sobram.

Eis que numa tarde de terça-feira de suas férias, resolvidos assuntos pessoais, e antes de cruzar a Ponte JK, ele decide matar tempo na Academia de Tênis, reduto tradicional de bons filmes em cartaz em Brasília.

Pergunta à moça da bilheteria qual o próximo filme que está por começar. Ela informa o título. Ele indaga sobre o que é. Ela dá a sinopse: é sobre dois irmãos que se apaixonam. Pensou ele: "opa, se tem romance entre casal, então deve rolar pelo menos um peitinho."

Sim, havia romance. Mas o casal da história é homossexual. O filme “Do começo ao fim”, de Aluizio Abranches, conta a história de dois irmãos por parte de mãe, dois homens que se apaixonam um pelo outro.

Meu amigo é nordestino cabra-macho, vez ou outra até com ranço machista, fã de Ramones, que ouvíamos no último volume cruzando as entrequadras. Sentiu ligeiro desconforto por estar ali, talvez o único hetero na platéia. Mas amante da sétima arte, apreciou o filme do começo ao fim e elogiou sobretudo o roteiro.

No entanto, saiu da sala tão logo começaram a surgir os créditos na tela e antes que se acendessem as luzes. Ele não é, nem de longe, homofóbico. Apenas não queria parecer algo que não é. Pai de família, temeu dar pinta.

Bobagem. “O mundo é gay”.

A e B

Eu já tinha lido uma frase maravilhosa do humorista Cláudio Manoel, da Turma do Casseta sobre o título do Vasco: "Comemorar título de campeão da Série B é como comemorar saída de parente da cadeia. É bom, mas dá uma vergonha..." Perfeito.

E agora há pouco, recebi de uma amiga outra frase ótima que não resisto a compartilhar: "O Vasco é tão vice, mas tão vice, que quando ganha a Série B, o Flamengo ganha a Série A".

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Casa da luz vermelha

Foto: Leandro Wirz



As luzes vermelhas dos eletrônicos em stand by me espreitam na madrugada insone.

Palavra final

Ela, aos berros:
- Seu safado, cachorro, sem-vergonha, canalha, vagabundo, traidor, babaca, cafajeste, escroto filho da mãe!!!

Ele, seco:
- Gorda.

Foi aí que a briga ficou feia e a coisa saiu do controle.

Ele descansa no jazigo da família.

Ela responde ao processo em liberdade.

E malha três horas por dia.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Lost in Niquiti



Eu gosto de casamentos. Não só dos meus, mas dos outros também. São rituais bacanas, cheios de simbolismo amoroso e esperança, onde, com frequência, me emociono. Ah, e as festas costumam ser bem fartas e animadas.

Por tudo isso e, principalmente, pela amizade com o casal, fui a um casamento em Niterói, logo ali do outro lado da poça da Guanabara. Niterói é a ilha de Lost. A qualquer momento, eu sentia que poderia esbarrar com aquele padre que partiu de Santa Catarina agarrado em balões de gás e, of course, got lost.

Niterói é uma cidade simpática, que alguns chamam de “Niquiti” (será uma corruptela de Niterói City?), com a melhor vista do Brasil. Mas é pessimamente sinalizada. Como todo macho de boa estirpe, eu me perco, avanço por tentativa e erro, mas resisto ao máximo em pedir informações a alguém, e assim, assumir que não sei exatamente onde estou. Pela mesma razão, tenho uma recusa ideológica ao GPS, que é apenas o modo high-tech de pedir informaçao a alguém na rua.

No entanto, estávamos próximos ao horário da cerimônia e minha mulher já me lançava olhares ameaçadores. Capitulei e perguntei. O primeiro respondeu: “- É fácil, você segue ali, pega ali na segunda à direita e vai toda vida.”

Temi que esta orientação fosse literal. Segui à risca as orientações apenas para continuar perdido. Então, emparelhei o carro a um outro com placa local e perguntei novamente. Esse me pediu que o acompanhasse, porque estava indo para aqueles lados, seja qual lado fosse àquela altura. Deu certo, chegamos a tempo de ver todo o cortejo de padrinhos, pais e, claro, a noiva atravessarem a nave da igreja.

Da igreja para o clube onde seria a recepção, outro périplo. Uma amiga niteroiense, cheia de boa-vontade, nos deu as dicas: “É fácil. Segue o fluxo até o final da rua, depois do sinal, tem uma guarita da PM, meio apagadinha, você vira à esquerda e segue...”

Deu água de novo, como se jogássemos batalha naval. Resignado, iniciei o inquérito junto aos transeuntes. O primeiro, disse “’E fácil”, e me orientou a seguir ali, dobrar acolá, pegar o contorno, virar não sei onde. O segundo respondeu: - “E fácil, você segue ali, adiante vira à...” e começou a falar em sequência um monte de nomes de ruas como se eu tivesse a maior intimidade com elas. Eu ali, com cara de paisagem, fingindo estar entendendo tudo só para não interromper a eloquente solicitude do cidadão. Mas em sua explicação, quase tão extensa quanto o percurso, a frase mais esclarecedora foi: “o senhor dá um jeito de entrar na Miguel de Frias”. Então, tá,claro, deixa comigo. Miguel tá no papo. Ao final, ele coroou o discurso: “Quando chegar lá, o senhor se informa melhor”. Como assim, amigo?! Vou achar alguém no mundo que me explique o caminho melhor que você?!

Já tínhamos notado que, em Niterói, volta e meia, há uma bifurcação, mas o povo de lá usa o “vira ali”, em substituição aos tradicionais “direita ou esquerda”.

O terceiro sujeito também começou a frase com “É fácil...”. Para mim, já foi difícil não partir para a ignorância, mas ouvi pacientemente, enquanto minha mulher e o casal que nos acompanhava se esborrachavam de rir no carro. Mas o bom sujeito disse para eu seguir ali, e quando chegasse na esquina do mercadinho – que, frisou, estaria fechado àquela hora – eu virasse à direita e no próximo cruzamento seguisse em frente, porque o clube era logo ali no início da ladeira.

Chegamos à esquina da rua do clube e nela há um imenso posto de gasolina Esso com um gigantesco tigre inflável e iluminado. Fiquei pensando porque ninguém me deu essa referência, muito mais visível do que o discreto mercadinho que estaria fechado. Um amigo do ramo do petróleo observou que no tal posto havia uma loja de conveniência da Hungry Tiger, marca que deixou de existir no mundo todo há anos. Para nós, isso é prova inconteste que o pessoal de rebranding da companhia não chegou lá, porque Niterói é mesmo a ilha de Lost.

Enfim, chegamos à festa e ela honrou com louvor as expectativas. Bebida, comida, risadas, fotos, danças, micos, e tudo que uma festa boa costuma ter. Mesmo quando toca funk e a gente vai até o chão. Culpa exclusiva do álcool.

Bem, fim de festa, alta madrugada e para voltar para o Rio, bastou seguir os barbantinhos que deixei amarrados nas árvores no caminho de ida. Foi fácil...

sábado, 12 de dezembro de 2009

Falo

Falo e digo que ela acertou em cheio quando chamou o pau de ego.

Falando m...


charge de Chico, publicada no jornal O Globo.

Nesta semana, na terra do Sir Ney, Lula fez discurso para a massa e disse que quer “tirar o povo da merda”.

Que merda, hem?

A intenção é boa, a melhor possível, e eu juro que gostaria de acreditar. Mas da mesma forma que presidente não precisa fazer discurso de doutor da Sorbonne, também não precisa nivelar tão por baixo e usar palavrão para se expressar. Vamos combinar que não é o melhor exemplo a ser dado por um presidente. Dá para ser acessível, falar fácil, ser entendido pelo povo, sem fazer discurso de merda.

No mais, acho que para tirar o povo da merda, só mesmo fazendo suas malas e indo para o exterior.

Opa, melhor não falar em malas.

Porque há malas que vem para DEM. E isso é exemplo muito, mas muito, pior do que o palavreado chulo do dito cujo. E é por culpa dessas malas carregadas ao longo de séculos neste país por muitos outros malas que tem sido tão difícil tirar o povo de onde ele está para colocá-lo em lugar melhor.

Bem, chega de falar de merda. Para fazer as pazes com a língua (o idioma, no caso), recomendo a leitura de "Palavreado", texto do Luis Fernando Veríssimo. Eis o link: http://literal.terra.com.br/verissimo/porelemesmo/porelemesmo_palavreado.shtml?porelemesmo

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Sempre na minha cabeça

Bem, eu juro que eu estava procurando uma versão dessa música cantada pelo Elvis para romanticamente mandar o link para a minha mulher no meio de uma tarde chuvosa.

Aí me deparei com esta, da Shakira, em que ela canta...

ela canta…

é….

Shakira canta….

hummm....

ela canta....

como é o mesmo nome dessa música, meu Deus?!.

Quem consegue prestar atenção no que ela canta com um decote desses??!!!

Depois de assistir 318 vezes seguidas ao vídeo – sem áudio – dei uma lida nos comentários. Uns pró, outros contra, e ao menos dois deles, ótimos:

“Elvis will sleep with her for her great effort but his was and still is the best version.” Concordo que a versão do Elvis é imbatível, mas o Rei dormiria com ela independente do esforço dela para cantar direitinho essa música.

“A day will come when someone in the first row will speak out... Please stop and take off your clothes already” Apoiado!!!


Então, para agradar ou irritar “gregos e goianos”, meninas e meninos, seguem as duas versões. O vídeo com a Shakira está logo aqui e na sequência está o link para o vídeo do Elvis, que enviei para a minha mulher, “Always on my mind.”






http://www.youtube.com/watch?v=DbpLU4oPV90

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Da minha precoce nostalgia




Alguns leitores (mulheres e vascaínos, majoritariamente) acham que eu preciso me redimir depois de tantos posts sobre futebol e o Mengão. Então, passada a ressaca da vitória (vocês não acham que eu bebo só pra esquecer, né?), publico agora um texto “fofo”. (Arre, detesto esse adjetivo!)

Sem ironias. O texto, com autoria atribuída a Maria Sanz Martins, me foi passado por e-mail por um amigo. Eu achei bem bacana e então o relanço ao mar para que chegue a outras praias...

Fica como uma homenagem a minha sábia e afetuosa avó materna, que combinava duas virtudes que a tornavam admirável: delicadeza e força. Saudades, Vó.




Da minha precoce nostalgia
Por Maria Sanz Martins


“Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de, num dia de domingo, me sentar na poltrona da biblioteca e, bebendo um cálice de Porto, dizer a minha neta:

- Querida, venha cá. Feche a porta com cuidado e sente-se aqui ao meu lado. Tenho umas coisas pra te contar. E assim, dizer apontando o indicador para o alto: - O nome disso não é conselho, isso se chama corroboração!

Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, levantei e cheguei a algumas conclusões. E agora, do alto dos meus 82 anos, com os ossos frágeis a pele mole e os cabelos brancos, minha alma é o que me resta saudável e forte.

Por isso, vou colocar mais ou menos assim:
É preciso coragem para ser feliz. Seja valente.
Siga sempre seu coração. Para onde ele for, seu sangue, suas veias e seus olhos também irão. E satisfaça seus desejos. Esse é seu direito e obrigação.

Entenda que o tempo é um paciente professor que irá te fazer crescer, mas escolha entre ser uma grande menina ou uma menina grande, vai depender só de você.
Tenha poucos e bons amigos. Tenha filhos. Tenha um jardim.
Aproveite sua casa, mas vá a Fernando de Noronha, a Barcelona e a Austrália.

Cuide bem dos seus dentes.
Experimente, mude, corte os cabelos. Ame. Ame pra valer, mesmo que ele seja o carteiro.

Não corra o risco de envelhecer dizendo "ah, se eu tivesse feito..."
Tenha uma vida rica de vida.
(Vai que o carteiro ganha na loteria - tudo é possível, e o futuro é imprevisível.)

Viva romances de cinema, contos de fada e casos de novela.
Faça sexo, mas não sinta vergonha de preferir fazer amor.
E tome conta sempre da sua reputação, ela é um bem inestimável. Porque sim, as pessoas comentam, reparam, e se você der chance elas inventam também detalhes desnecessários.
Se for se casar, faça por amor. Não faça por segurança, carinho ou status.

A sabedoria convencional recomenda que você se case com alguém parecido com você, mas isso pode ser um saco!

Prefira a recomendação da natureza, que com a justificativa de aperfeiçoar os genes na reprodução, sugere que você procure alguém diferente de você. Mas para ter sucesso nessa questão, acredite no olfato e desconfie da visão. É o seu nariz quem diz a verdade quando o assunto é paixão.
Faça do fogão, do pente, da caneta, do papel e do armário, seus instrumentos de criação. Leia, pinte, desenhe, escreva. E por favor, dance, dance, dance até o fim, se não por você, o faça por mim.

Compreenda seus pais. Eles te amam para além da sua imaginação, sempre fizeram o melhor que puderam, e sempre farão.
Cultive os amigos. Eles são a natureza ao nosso favor e uma das formas mais raras de amor.

Não cultive as mágoas - porque se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo cinza.
Era só isso minha querida. Agora é a sua vez. Por favor, encha mais uma vez minha taça e me conte: como vai você?”

domingo, 6 de dezembro de 2009

O hexa é nosso

Decisão




Amigo mais vivido, mestre das estratégias de comunicação, homem sensato (tanto quanto é possível a um gremista) defende a tese que se Inter, Palmeiras e São Paulo estão dependendo do Grêmio para ser campeão é porque foram incompetentes para ter os pontos necessários e não deveriam vir agora pressionar nem culpar o Grêmio.

Ele admite que, mesmo com o time titular, o Grêmio teria dificuldade de ganhar do Flamengo no Maracanã. Ele não acredita em “entregar”, acha que o tricolor gaúcho vai jogar, mas dificilmente ganhará.

E considera terrível o seu dilema: “escolher entre o Flamengo e o Inter para decidir o campeão, é como chegar na eternidade e ter que decidir entre purgatório e inferno...”

O céu é rubro-negro.

sábado, 5 de dezembro de 2009

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Entregar ou não entregar, eis a questão



Debates acalorados fazem ferver os buracos quentes da cidade nesses dias de calor. Não se fala em outra coisa, para desespero de algumas namoradas e esposas. O controvertido campeonato brasileiro por pontos corridos conseguiu finalmente ser emocionante, para tristeza daqueles que defendem a fórmula com jogos de ida e volta na final.

Chegamos a última rodada e quatro times (Flamengo, Internacional, Palmeiras e São Paulo) têm chances de serem campeões. Mas o que esquenta as discussões é a possibilidade de o Grêmio entregar o jogo para o Flamengo. Para quem não acompanha o campeonato, eis o resumo da ópera: o Flamengo lidera e se vencer o Grêmio será o campeão. Simples assim. Agora, se empatar, ou se o Grêmio vencer, e o Inter ganhar o seu jogo contra o Santo André, então o Inter será o campeão. O Grêmio joga apenas para cumprir tabela, mas se atrapalhar o Flamengo, pode entregar o título ao Inter, seu arqui-rival no seu Rio Grande do Sul. Lá a rivalidade é tão intensa que nas casas de alguns gremistas, nem o Papai Noel se veste de vermelho. Ele usa azul.

Colorados desesperados vêm apelando publicamente para a honra e a dignidade do Grêmio, para a ética, imputando ao Grêmio a responsabilidade de ser a reserva moral do Brasil e deixar uma bela lição às gerações futuras. Bullshit! No ano passado, este mesmo Inter escalou o time de juvenis contra o São Paulo, para perder e então fazer com que o Grêmio fosse superado na liderança da tabela pelos paulistas.

O campeonato não é feito de um jogo só. É estratégia. Ao longo dele, vários times escalam equipes reservas e ninguém apela à falta de ética. Quantas vezes foi mais interessante perder um jogo para então enfrentar um adversário numa fase seguinte de campeonato? Até em Copa do Mundo se faz isso.

Mas o fato é que o debate ético caiu na boca do povo, mais ou menos como ocorreu quando Zeca Pagodinho fez campanha para a cerveja Nova Schin e, ato contínuo, para a Brahma. Até minha mãe, que não entende e nem gosta de futebol, veio me dizer que será feio se o Grêmio entregar o jogo para o Flamengo.

Acho que essa celeuma toda sobre se o Grêmio vai ou não entregar o jogo é fomentada pelas torcidas adversárias na tentativa de esvaziar a provável conquista do Flamengo. O Flamengo chegou até a posição de líder porque tem méritos e venceu durante o campeonato todos os seus três oponentes finais: 4X0 e 0X0 contra o Inter; 1x2 e 2x0 contra o Palmeiras; e 2x2 e 2x1 contra o São Paulo. Portanto, o Flamengo não precisa da ajuda do Grêmio para ser campeão. Ele tem plenas condições de ganhar do Grêmio, sem que este faça corpo mole.

A torcida do Grêmio iniciou o movimento “Entrega, Grêmio” pedindo acintosamente que o time perca para não dar o título ao rival histórico. Os jogadores, que hoje vivem mudando de clube, alegam profissionalismo e dizem que não vão entregar os pontos.

Por outro lado, a torcida do Flamengo adaptou a letra do seu hino de guerra deste ano e gentilmente irá cantar domingo no Maracanã: “Vamos, FlaGrêmio, vamos ser campeão (sic), vamos FlaGrêmio...”

Perguntei a um velho amigo, rubro-negro fundamentalista, se caso o Flamengo estivesse na posição do Grêmio e o Vasco na do Inter, o que ele faria. “Perderia, claro!” Insisti e perguntei por que. Ele foi ainda mais contundente: “Porque o ódio é mais forte do que o amor”.

Futebol é, antes e acima de tudo, paixão.

Vamos, Flamengo!




ps.: outra velha polêmica é sobre a legitimidade do título brasileiro de 1987 atribuído ao Sport e ao Flamengo. Não vou ressuscitar aqui o imbróglio, mas nos dias de hoje, seria mais ou menos como se o Vasco, campeão da Série B, resolvesse jogar contra o Flamengo, provável campeão da Série A, para então decidir quem é o campeão brasileiro. Ridículo. (O Vasco jamais faria tal reivindicação, até porque sabe que, por tradição, seria vice de novo).

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Twitter & shout

O que você está fazendo agora? Não foi para compartilhar essa nem sempre preciosa informação que o Twitter foi criado? Claro que seu uso foi depois disseminado e ampliado, e hoje serve a propósitos bem distintos. Infla egotrips, espalha poesia, é ferramenta de comunicação corporativa, avisa a última fornada de pão quentinho ou onde tem blitz da Operação Lei Seca.

Mas um americano chamado Dana Hanna levou o hábito (ou vício) de tuitar às últimas conseqüências.

Na hora em que o pastor deu a benção final no seu casamento – e antes de beijar a noiva! – o noivo sacou o seu celular com conexão à Internet, tuitou o seguinte: “Standing at the altar with@TracyPage where just a second ago, she became my wife! Gotta go, time to kiss my bride”. E assinou The Software Jedi. Aproveitou e também atualizou o estado civil no Facebook. Fez isso do altar, para gargalhada geral dos convidados e do pastor, o único com quem ele havia combinado previamente a brincadeira.

Tamanho empenho e apreço pelo mundo virtual pode causar certos constrangimentos na lua-de-mel. Mas isso é problema deles. E, provavelmente, o mundo saberá pelo twitter, como estão indo as coisas. Se você receber um “yes! yes! oh yeah!, fuck me baby! yes” e na seqüência um “aaaaaaahhhhhhhhhhh”, não se assuste, você pode imaginar o que é.

A brincadeira do gaiato tuiteiro talvez tenha sido mais uma ironia sobre a superestimada importância que temos dado às nossas vidas no ambiente virtual, às vezes, em detrimento do real. Será que agora, ao invés de trocar alianças de metal, concreto, nós vamos trocar estados civis na esfera pública virtual? E que será dessa forma que avisaremos ao rol de pretendentes que foram finalmente preteridos(as)? Até a próxima atualização.

Por uma questão de coerência, claro que o vídeo do casamento está no Youtube. Nunca foi tão fácil ser penetra em um casamento.

domingo, 29 de novembro de 2009

Dona Bella e seus dois monstros



Eu precisava de um balde de pipoca, outro de coca-cola com muito gelo e de um ar-condicionado. Escolhi o filme por um critério bastante seletivo: “2012”, o filme mais longo em cartaz, o que me renderia maior permanência sob os auspícios da refrigeração. Com seus 158 minutos, o filme catástrofe iria quase até o final dos tempos que ele próprio retrata.

Mas a sessão estava lotada. Então, como lua é sempre melhor do que sol, parti para “Lua nova”, filme teen sobre vampiros, lobisomens e amores com toques de “Romeu & Julieta” que é o segundo da saga “Crepúsculo”. Estrondoso sucesso mundial tanto no cinema como nos livros. Não assisti ao primeiro, mas acertei ao apostar que, para entender este, não precisaria do anterior.

O filme é uma sessão da tarde, só entretenimento, em que a personagem Bella, nem tão bela assim, conquista o coração do vampiro Edward e do lobisomem Jake. Eu não sabia, mas – vejam que cultura útil! – aprendi com o filme que lobisomens são caçadores de vampiros desde sempre.

O fato é que, embriagado pela Coca-cola, fui me envolvendo na historia tal e qual acontece nas novelas de TV e no final eu já estava torcendo era para a mocinha ficar com o lobisomem. Ele era mais “gente” boa.

Minha mulher torcia por ele também. Mas no caso dela era por causa do abdômen tanquinho e do corpo saradíssimo do lobisomem, que aparece sem camisa em todas as cenas. Aprendi com o filme também que lobisomens têm temperatura corporal mais elevada e nunca sentem frio. Por isso, o tronco nu(sem maldade, pessoal). Informação totalmente dispensável para a minha vida, assim como os gritinhos de excitação da platéia adolescente na primeira cena em que o cara tira a camisa. Aliás, desconfio que foi com muito esforço que minha mulher se conteve e não fez parte desse coro.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Black Friday

Hoje é a “Black Friday”, dia em que os americanos saem ainda mais ensandecidos às compras, atraídos pelas mega-promoções. Quem já foi aos EUA sabe como comprar lá é bom e, muito, mas muito, muito mais barato do que no Brasil.

Por mais que me expliquem sobre economia e impostos, não consigo entender porque uma caneca de louça no Starbucks custa US$ 5 lá e R$ 33 aqui. Ou porque exatamente o mesmo modelo de tênis Asics custa US$ 85 lá e R$ 299 aqui. Ou um notebook custar US$ 900 lá e R$ 4.900 aqui. Enfim....

Não é sobre consumo que eu quero falar. Apenas peguei o gancho da cor preta nesta sexta para postar uma sonzeira de 2003, que eu e minhas tatuagens pretas adoramos.

“Black”, do Pearl Jam.

Aliás, um show do Pearl Jam em 2005 me traz ótimas recordações, mas isso é uma outra história...


quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Pinto e cérebro

Pink e Cérebro

Eu não vou entrar na polêmica sobre o Ministério da Cultura ter imprimido o folder intitulado “Vota Cultura”, que pede ao cidadão que “apóie o parlamentar do seu estado que vota pela cultura”.

Indignado com a reação negativa da imprensa ao financiamento da publicação, o Ministro Juca Ferreira, ao ser perguntado se estaria emocionado, respondeu:

- “Eu sou assim. Meu pinto, meu estômago, meu coração e meu cérebro são uma linha só. Não sou um cara fragmentado.”

Achei bacana. Como é público e notório, nem todos os homens são capazes dessa coerência toda, especialmente no que diz respeito a ...

Seção Sem Noção - 1

Penso em criar aqui no blog a Seção Sem Noção, dedicada a hecatombes fashion e outras tragédias comportamentais envolvendo incautos cidadãos que deixaram o seu mínimo senso em casa, na infância, na barriga da mamãe ou até mesmo em alguma vida passada.

Os aspirantes à categoria serão avaliados, claro, por meus critérios sempre justos e misericordiosos.

Meu temor é que não falte conteúdo para a Seção. Mas aceito contribuições dos leitores.

Para a estréia, escolhi um pós-adolescente que vi em um shopping da Zona Sul há cerca de duas semanas. O sujeito desfilava com uma camiseta com os seguintes dizeres: “Bêbada, teste de bafômetro grátis aqui”. E o texto era complementado por uma enorme seta apontando para baixo, em direção ao pênis. Ou seja, um romântico convite para, digamos assim, um trabalho de sopro.

Se você, leitora, é das mais sensíveis, peço gentilmente que resista ao apelo da curiosidade e interrompa a leitura, porque eu vou radicalizar na baixaria: só faltou ter na camisa o aviso que o oral não poderia ir até o fim, porque afinal a camiseta era sobre a Lei Seca, né? Meu Deus!

O rapaz sem noção desfilava pelos corredores do shopping, talvez sonhando que as mulheres, bêbadas ou sóbrias, não resistiriam à proposta tentadora e voariam sobre ele como num anúncio do desodorante Axe. Excitadíssimas, frenéticas e descontroladas arrancariam com mãos e bocas nervosas sua camisa com palavras tão sutis e afrodisíacas.

Merece ou não inaugurar a Seção Sem Noção?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Da minha estante

Foto: Leandro Wirz



Esta noite eu sonhei com você. Não, não foi erótico. Mas havia no ar um desejo inconfesso. De minha parte, confesso agora também no mundo real. (Mas se estamos falando de um sonho, e no ambiente virtual deste blog, onde está a realidade?)

Eu estava no seu apartamento, mas tudo que estava lá dentro, reconheci como sendo as minhas coisas. Eu acabara de ler e me emocionar com um texto seu – e daria tudo para me lembrar dele agora, acordado. O texto era muito bom! (Bem, como o sonho era meu, então o seu texto era na verdade, meu. E, sendo eu o autor, o publicaria aqui).

Então você chegou em casa e ficou surpresa com a minha presença no seu apartamento e por eu ter lido o que talvez não devesse. Começamos a conversar sobre eu estar ali, sobre o texto, sobre o que gostamos e queremos, amores, cinema, literatura, canções... Àquela altura, era intenso o clima de sedução entre nós. Depois, chegou uma ex-aluna, também escritora, e participou da conversa, como coadjuvante.

Na sequência, você animadamente retirava e comentava os livros da minha estante. E eu te presenteava com todos os que te agradavam. Ríamos muito.

Odiei quando o despertador tocou às 6h10. E você continua onde sempre esteve. Muito, muito longe daqui.

Exceto por estas linhas.

Indecisão, bajulação e o que realmente importa

Foto: Leandro Wirz


Hoje, o sol forte na moleira me deixou de cabeça quente. Então, eu vou dar pitaco, vou meter o bedelho mesmo sem ter sido chamado. Afinal, faz mais de 20 anos que este é um país livre e opinião é que nem ...

Eu que sou bobo, mané, trouxa, leiguinho da silva, ignorante de toda a filosofia que há entre o céu e a terra e eu nem posso sequer supor, confesso que não entendi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a extradição do italiano Cesare Battisti.

Eu achava que supremo é aquilo que está acima. E não em cima. Do lado de cá do muro, pelo que humildemente entendi, as excelências decidiram que não decidem. Ora, na minha cabeça existem os pareceristas e os decisores. Os primeiros compilam informações, elaboram análises, justificativas e propostas. Instrumentalizam os segundos para que estes possam então decidir. Eu achava que o Supremo era para dar a palavra final.

Além disso, não é meio arriscado, a corte que é a instância máxima do Poder Judiciário autorizar o Poder Executivo a desobedecê-la? Isso não abre perigoso precedente? Ok, não é desobedecer, porque não foi uma determinação, foi uma recomendação. Mas aí voltamos ao início: se a instância máxima abdica de decidir, então a quem se apela? Ao Papa?

Com todo respeito, são inquietações deste cidadão ignorante. No mais, eu voto pela extradição (Eu avisei que ia dar palpite). Mesmo que as ações de Battisti tenham tido motivação política, não justifica matar quatro pessoas. Se Battisti é culpado ou inocente por essas mortes, a Justiça italiana já julgou. Eles decidiram.

E o filme do Lula? Acho mesmo que a vida dele dá um filme e que pode até ser bom. Eu não vou ver, de qualquer forma. O que está em questão não é o Lula, nem a obra de arte cinematográfica. Mas sim os aspectos éticos envolvidos na produção e no lançamento.

Fazer e lançar um filme sobre um governante, seja ele quem for, enquanto ele está no poder é uma bajulação interesseira que me enoja. Já pensou se a moda pega e resolvem fazer a minissérie “As viagens de Cabral”?! Não o navegador português, mas o governador do Rio. Ou se uma escola de samba resolve fazer o enredo do Carnaval 2010com o título: “Perfeita paz, prefeito Paes”?! Ou se o Serra vira enredo da Vai-Vai em São Paulo? Não pode. Ou melhor, não deve.

Se, como disseram os produtores, o processo do filme começou no longínquo 2003, então não custava tanto assim esperar mais um aninho para lançá-lo após as eleições. Seria mais bonito. Agora o filme fica reduzido à peça de campanha escrachada.

Mas a questão mais importante sobre a qual eu quero opinar é a intenção da prefeitura de proibir a venda de côco verde nas areias cariocas. A alegação é falta de condições apropriadas de armazenamento e higiene, além da sujeira deixada nas praias. Ideiazinha mais besta essa, né não? Tá faltando serviço?



ps.: escrevi este texto há alguns dias, esqueci de publicá-lo e ele caducou em parte. Agora, o côco já foi liberado nas praias. Ufa! No mais, tudo na mesma. Hoje, o sol forte na moleira...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Historinha nada cabeluda

Recentemente, num pequeno convescote que reunia diferentes gerações de parentes e amigos testemunhei uma cena pitoresca. Três senhoras septuagenárias tentavam parecer impassíveis diante da conversa entre três trintões, todos heteros, todos metros, a que elas ouviam atentamente.

O assunto girava sobre métodos de remoção de pelos corporais. Não, barba e bigode são café pequeno. Os homens falavam dos pelos retirados nas costas, no peito, no abdômen, nas pernas, nas axilas, nas orelhas e entre os olhos, para evitar a terrível monocelha. Debatiam prós e contras de cada método experimentado, lâmina, depilação a cera, laser. Fosse um ambiente mais reservado talvez discutissem sobre os pelos pubianos.

E as senhoras lá, ouvindo entre curiosas e um pouco assustadas, provavelmente pensando que quando elas tinham trinta anos, ou mesmo sessenta, os homens heterossexuais não se depilavam. E muito menos falavam sobre isso com naturalidade e em público. Naquele tempo, até mesmo aparar com tesoura aquela mata selvagem nas axilas, apenas para facilitar o trabalho do desodorante, talvez fosse impensável.

E eu me diverti em observar e registrar esse pequeno flagrante de que os tempos e os costumes estão sempre mudando. É assim que eu me divirto.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

500 dias ou pra sempre



No mesmo dia da semana passada, uma amiga, no almoço, e um amigo no chopp noturno, me indicaram um filme despretensioso e muito bom: “500 dias com ela” (“500 days of Summer”). Não pude deixar de assistir.

Um cara romântico se apaixona por uma mulher que só quer se divertir sem compromisso. O barato é que é ele quem tem as atitudes e os sentimentos mais comuns de serem encontrados nas mulheres, e vice-versa. Como por exemplo, tentar interpretar cada sílaba do que ela fala ou querer um rótulo para definir a relação deles. Já ela avisa logo de cara que não quer compromisso.

A história é contada em narrativa não cronológica, mas bem amarrada em um roteiro divertido, no qual a alternância de emoções é intensa ao longo dos tais 500 dias. As piadas, literalmente presentes da primeira à última cena, são ótimas.

Joseph Gordon-Levitt, que parece uma versão mais franzina e morena de Heath Ledger, vive Tom, o arquiteto frustrado que ganha a vida escrevendo mensagens em cartões e se apaixona por Summer (Daí o trocadilho no título original), a garota que não acredita no amor. Ela é interpretada por Zooey Deschanel, que lembra a cantora Katy Perry e às vezes lança olhares e sorrisos à la Meg Ryan.

Em sua leveza, o filme nos convida a refletir sobre nossas aspirações, nossos desejos às vezes sufocantes, a crueldade do mito do “feitos para um o outro”, “da pessoa certa pra mim”. Faz pensar também sobre como dramatizamos as relações e como superamos os “amores de nossas vidas”. Mas tudo de modo fluente, com graça, sem aprofundamentos mais sérios.

Há cerca de um mês, assisti a outro filme que faz pensar sobre amor e destino, liberdade e fatalidade: “The Time Traveler's Wife”. Fui ver só porque boto muita fé nas dicas de uma amiga que tinha visto o filme nos EUA. O problema é que o título em português ficou brega de assustar: “Te amarei para sempre”. Raro caso em que era melhor fazer uma tradução literal. “A mulher do viajante do tempo” seria bem mais instigante. Aliás, a versão em livro optou por esse título.

Não me arrependi de aceitar a indicação. Se "500 dias com ela" é mais engraçado, "Te amarei para sempre" é bem emocionante. A despeito da inverossimilhança (um cara com mutação genética é capaz de viajar no tempo),o filme é, em essência, uma história de amor e de (não)escolhas. Ele viaja no tempo, indo e vindo, e visita a mulher com quem se casaria desde que ela era uma criança. Já ela cresceu sabendo o que lhe aconteceria. Limitada a um destino, quais eram suas reais possibilidades de escolha?

Bem, a sua liberdade de escolha inclui, entre milhões de outras, aceitar ou rejeitar essas duas dicas de filmes.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

18 & life

Em uma festa de aniversário de uma amiga dos tempos de colégio, eu e M. voltamos a ser garotos de 18 anos. Ficamos lá encostados na parede, consumindo long necks e monitorando, como se fôssemos predadores, a movimentação na pista de dança.

Lá pelas tantas, nos distraímos com uma jovem esfuziante que dançava sensualmente bem próxima a nós. À meia luz era difícil cravar a idade, mas era algo entre os 17 e os 21. Até que M. disse:

- Não podemos olhar escancaradamente. Temos que ter cuidado porque pode ser a filha de uma de nossas amigas.

Rimos muito da nossa própria decadência, claro. Velhos leões da savana.

E então deixamos de falar de mulher por alguns minutos. Leitor deste blog e dos meus livros, M. me perguntou quando vou escrever um romance.

- Vontade, tenho; capacidade, não. Pelo menos por enquanto. Minhas histórias são tiro seco, rápidas, diretas, de fôlego curto.
- Você é um fundista.
- Sim, não um maratonista.
- Jamaicano!
- E não queniano.

Dito isso, os elegantes tiozões acharam por bem suspender as long necks.

sábado, 14 de novembro de 2009

Sexta 13

Eu sempre achei uma bobagem esse negócio de superstição. Nada de ligar para sexta-feira 13, gato preto, passar em baixo de escada, sete anos de azar por espelho quebrado etc etc.

Tudo crendice. Te esconjuro, pé-de-pato, mangalô três vezes. Acreditar em superstição dá azar. (Opa,será que isso é superstição?)

Mas ontem eu balancei em minhas crenças. Vi que coisas muito sinistras podem acontecer em uma sexta-feira 13: o Vasco ser campeão, por exemplo.

Os vascaínos podem finalmente se orgulhar de ter um título que o Flamengo jamais terá: Campeão da Série B.

O Flamengo nunca vai sequer disputar a Segundona.

Curtição rosa



Então tá, a Uniban desistiu de expulsar a moça do vestido indecoroso e de suspender os alunos de atitude preconceituosa. Com o estardalhaço, os neo-caretas aprenderam a lição de que é proibido proibir? Claro que não, mas decidiram deixar tudo por isso mesmo e foram tomar "um chopps e comer dois pastel" porque o calor tá de lascar.

Dizem as más línguas (e existem boas?) que circulam pelas redes sociais que outras faculdades já estavam querendo oferecer bolsa para a moça. Duas na verdade, sendo uma de estudo.

Depois da crise de imagem, provocada pelo Geisygate já tem assessor sugerindo que a universidade de São Bernardo troque de nome. Vote em sua opção favorita:
( ) Unitalibã, porque as mulheres devem estar totalmente cobertas;
( ) Unibam-bam, porque os homens lá tem a mentalidade do tempo das cavernas;
( ) Unibambi, porque homem que vaia popozuda de microvestido, é ...

É fato que Gesiy perdeu a direção e, acima do peso, atropelou sem dó, piedade e noção o dress code da faculdade. Mas isso não justificava o quase linchamento a que foi submetida.

De qualquer modo, tudo parece exagerado nessa história: o tamanho sumário do vestido, a reação descabida dos outros alunos e a repercussão viral do episódio.

Teve uma noite desta semana em que a Geisy era o segundo assunto mais procurado no site da CNN. Falta notícia no mundo...

Na última terça, povo foi lá para a porta da agora notória universidade em São Bernardo protestar e fazer bagunça. “Free, free, Geisy Arruda free!”. Sabrina Sato estava lá fazendo programa (de TV! Que fique bem claro) e usando um modelito similar. Será que ela vai pedir para o senador Suplicy vestir um, como fez com a sunga vermelha? Curto rosa. Mas a Sabrina ficaria melhor sem ele.

Já pensou se a moda do microvestido rosa-choque pega, lançada por estilistas e encampada pela mídia?!. Se a protagonista da novela das 21h, top model internacional, peguete do personagem do grande, do enorme, Zé Mayer aparece usando um vestidinho desses, pronto: vira febre de verão. Circulando pelo shopping Rio Sul vi que uma loja oportunista já tinha colocado um tubinho Geisy style na vitrine.

Por sorte, a Geisy é estudante de turismo. Porque se fosse estudante de moda, era caso para o Ministério da Educação intervir e fechar o curso.

Aliás, alunos dessa faculdade podem ficar prejudicados na disputa acirrada por uma vaga no mercado de trabalho. Sinceramente, o que você pensaria ao ler no currículo do sujeito que ele se graduou na Uniban?

Na quarta-feira, cerca 250 alunos da UnB, em Brasília, tiraram a roupa em solidariedade a estudante. Socorro! Chama a Geisy!

Chamaram. A Geisy foi assediada pela Revista Sexy e por uma produtora de filmes pornôs. Ela colocou megahair e clareou ainda mais as já oxigenadas madeixas...

Mas esse assunto já cansou, né? Tá parecendo uma das fitas-banana da coluna do Artur Xexéo. Geisy virou celebrity, mas já passaram os protocolares 15 minutos de fama.

O rosa curto ficou longo demais...

E o fim do mundo está próximo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Vá ao cabaré!

Foto: Divulgação


Está em Brasília? Então vá assistir ao espetáculo "Cabaré das Donzelas Inocentes", que estreia hoje, para convidados, no CCBB e fica em cartaz até 6 de dezembro.

Direção: Murilo Grossi e William Ferreira
Dramaturgia e pesquisa musical: Sérgio Maggio
Elenco: Adriana Lodi, Bidô Galvão, Carmem Moretzsohn e Catarina Accioly
Temporada: de 13 de novembro a 6 de dezembro de 2009
Horários: de quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h
Duração: 70 minutos
Classificação indicativa: 16 anos
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
Telefone: (61) 3310-7087
Ingressos: R$15 e R$7,50 (para professores, estudantes, pessoas com mais de 60 anos e correntistas do BB).

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pretty in pink



Outro assunto que não dá para deixar passar em branco – até porque é rosa-choque – é o da estudante de turismo Geisy Arruda, que paralisou uma faculdade no interior de São Paulo e mobilizou a mídia nacional com seu micro-vestido.

Todo mundo já sabe a história: no dia 22 de outubro, a moça sem noção de elegância, vestiu um vestido hiper justo e curto e foi assistir às aulas. Como que em combustão espontânea, ela começou a ser hostilizada, xingada, ameaçada de agressão e estupro pelos colegas da faculdade que, anônimos no meio da massa, deram vazão aos seus instintos mais baixos e selvagens e converteram-se numa turba ignara.

As imagens que correram as televisões e a internet são assustadoras. Como escreveu Ruth de Aquino, na revista Época, o “motim moralista fez a faculdade parecer o presídio do Carandiru.” Em plena rebelião, eu diria.

A estudante teve que ser coberta por um jaleco, saiu da faculdade escoltada pela polícia sob um ensurdecedor coro de “puta! puta!”. Pura e puta hipocrisia. Boa parte dos marmanjos heteros que estavam ali provavelmente queriam comer a mulher. E muitas das mulheres provavelmente invejavam a atenção que ela despertou. Além disso, se ela for prostituta, o problema é dela. Ou melhor, a profissão é dela. E nenhum dos seus coleguinhas de classe na faculdade tem nada com isso. A relação prostituta–cliente é das mais honestas que conheço.

Como se não bastasse todo esse circo trágico, a Universidade Bandeirante (Uniban), em uma “medida educativa”, anunciou nesta segunda a expulsão da estudante.

Surreal. É uma inversão total. A estudante Geisy Arruda é vítima e não ré. Ela pode ser uma tonta, porque vestiu uma roupa inadequada para a ocasião. Vestiu roupa de balada para ir à aula. Mas cada um é livre para se vestir como bem quiser ou puder. O vestidinho era bem feio, mas isso não é crime. E mesmo que tenha ficado brega ou vulgar, nada justifica a reação bárbara dos estudantes que pulavam e urravam pelos corredores.

Que juventude é essa que está sendo formada pela faculdade?! Profissionais de turismo incapazes de aceitar as diferenças e conviver em um ambiente multicultural? Advogados inaptos para julgar somente a partir de provas e não de preconceitos?! Professores que ensinarão Agressão Física ao invés de Educação Física?!

Agora, a estudante diz que vai processar a universidade e essa novela bizarra ainda vai render muitos capítulos.

E pode ser que tudo acabe como escreveu Ruth de Aquino em sua triste e lúcida conclusão: “A estudante ficará traumatizada? Ou célebre e rica? Geisy pode ganhar indenização, escrever um livro, posar para a Playboy e inspirar um filme. Esta é a vida como ela é.”



ps.: para aliviar o clima tenso deste texto, usei como título o nome de um filme bem legal dos anos 80: “Pretty in Pink (A garota de rosa-shocking)”. Comédia romântica bobinha, estilo sessão da tarde, estrelada por Molly Ringwald e Andrew McCarthy.

Ele acha

Outubro passou e eu pouco escrevi. “Tenho andado sem tempo” é a mais esfarrafapada e honesta das desculpas. O fato é que tenho estado cansado, porque ralo no trabalho (infelizmente, blog não paga as contas) e comecei a lutar Vale-tudo heroicamente contra uma barriga que insiste em me pertencer. Será um duelo highlander. No fim, só pode restar um. E é claro que temo por mim neste combate.

Mas enfim, outubro passou e eu pouco escrevi. Assuntos palpitantes passaram e perderam o timing jornalístico. Mas tem coisas que não dá para não comentar. Caetano Veloso, por exemplo, que também não deixa de comentar nada.

Na semana passada Caetano foi deus na mídia. Onipresente como Lula. A quem, por sinal criticou, chamando de analfabeto. E também julgou Woody Allen um cineasta menor, teceu loas à virtual candidata do Partido Verde à presidência da República, Marina Silva, e comentou a importância do antropólogo francês Levi Strauss, recém falecido aos 100 anos.

Não vou entrar no mérito das opiniões de Caetano. São opiniões e cada um tem as suas e o livre direito de expressá-las sem censura. Eu também dou um monte de opinião sem ser chamado e sem ser “Caetanto”. Suas opiniões não devem ser levadas tão a sério como a sua criação artística. Esta sim, importa mais.

O que me intriga é por que desde sempre a mídia quer tanto ouvir Caetano sobre tudo. Será que sua vocação polemista ajuda a vender jornal? E Caetano quer quase sempre falar sobre quase tudo. Do preço do chuchu à Nona Sinfonia. Da macroeconomia à arquitetura art-déco. De poesia concreta ao Dalai Lama. De desmatamento ao Metallica. “Metallica é lindo”, disse ele uma vez.

Portanto, daqui para frente, use o similar nacional. Dispense o Google e pergunte ao Caê.

O inferno, o inferno...



No último sábado, sem resistir ao trocadilho do título (“Aquecimento local”), o jornal O Globo estampou esta foto de Gustavo Stephan que registra o termômetro cravando 46C em frente à Central do Brasil na véspera. A temperatura máxima daquele dia, na divulgação oficial, foi de 39C.

Por coincidência, no sábado, precisamente às 13h10 passei por esse mesmo termômetro e conferi que a situação era ainda pior: 47C.

Ultimamente, o clima no Rio tem alternado entre dias de chuva contínua ou de sol criminoso sobre nossas cabeças. Ou seja, como disse um amigo, o tempo alterna entre inferno molhado e inferno seco.

Penso que a melhor tradução musical do Rio não está em “Cidade Maravilhosa”, ou em “Aquele abraço”, ou no “Samba do avião”, mas sim em “Rio 40 graus”, de Fausto Fawcett. Mas a letra que diz “Rio, 40 graus, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos”, requer atualização século XXI.

Não é mais purgatório. Já descemos ao inferno.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

The fun theory

A Vokswagen fez na Suécia uma experiência interessante, chamada “The Fun Theory”. A ideia é de que é possível mudar comportamentos por meio da diversão. Na escada de uma estação de metrô, a empresa instalou sensores sob os degraus e fez com que cada degrau parecesse uma tecla de piano. Conforme as pessoas pisavam os degraus, eram emitidas notas musicais. Na hora do rush, deveria rolar uma anárquica melodia atonal, já que ninguém é Beethoven com os pés. Mas tudo bem, o que vale é a diversão.

Resultado da iniciativa: aumento de 66% no número de pessoas que preferiram usar a escada (ou escala) musical ao invés da escada rolante ao lado. Ou seja, preferiram a alegria à comodidade.

E você?

Alegria ou comodidade?

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Contra é chique



Há algumas semanas, o caderno de entretenimento do Le Figaro, divulgou o resultado de uma pesquisa com os leitores para escolher quem representa “o ápice do chique, a classe urbana e a incontestável elegância da mulher parisiense”.

A vencedora foi a ex-modelo Inès de La Fressange, durante anos o rosto da Channel. Depois, na sequencia, as atrizes Emma de Caunes, Chiara Mastroianni (que tem nome lindo e respeitável pedigree, filha de Marcelo Mastroianni e Catherine Deneuve), e Valérie Lemercier. A cantora e primeira-dama Carla Bruni amargou um mero 5º lugar.

Tudo isso é uma bobagem, claro, mas um detalhe me chamou a atenção. De acordo com o caderno, a vencedora deveria ser “urbana, curiosa, rebelde, contraditória, elegante, apaixonante e culta”. Peraí. “Contraditória”?! Desde quando ser contraditório é atributo de elegível? Eu me perdi ou antes a gente apreciava a coerência?

Pensando bem, é isso mesmo. Somos todos metamorfoses ambulantes, radicais até mudar de idéia. Esquece a velha opinião formada sobre tudo e toca Raul! “Quem mergulha em si mesmo só encontra contradições”, quem foi mesmo que disse isso? Não sei, mas da hora em que acordo até o momento em que me deito, eu tenho um monte de contradições.

No mais, sempre me interessou a utilidade do fútil.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Casamentos



Neste mês, um casal de tios faz Bodas de Ouro. Meus avós maternos viveram juntos por 52 anos. Estou certo que outro casal de tios também teria chegado ao cinqüentenário de casamento, se um câncer no pulmão não tivesse levado meu tio prematuramente. Em todos estes casais, havia - ou há – amor e harmonia quando chegaram à data festiva.

Nada tem que durar para sempre. O amor, que já é lindo, não precisa ser eterno. Mas acho bonito pacas quando um casamento dura esse tempão todo. Desde que, é claro, com amor, harmonia, respeito, companheirismo. Porque casamento por acomodação ou de fachada, não, obrigado. Se o sentimento acaba, então que cada um siga para o seu lado e busque o seu jeito de ser feliz.

Neste mês, eu faço três anos de casado. Eu casei pela última vez aos 38. Com sorte, eu espero que ainda dê tempo de chegar lá nas Bodas de Ouro. Vontade não falta.

Por outro lado, houve época em que eu queria ser como Vinicius de Moraes, não apenas pelo extraordinário talento como escritor, mas pela quantidade de casamentos. Foram nove os casamentos de Vinicius, que faleceu em 1980, aos 62 anos.

Um dia, ele foi questionado pelo parceiro Tom Jobim: "Afinal, Poetinha, quantas vezes você vai se casar?". Num improviso de sabedoria, Vinicius respondeu: "Quantas forem necessárias."

Eu estou no meu terceiro casamento. E último, gosto de frisar. Mas se, neste quesito, já fui aprendiz de Vinicius, este é aprendiz de outro poeta, Thiago de Mello, autor de “Os Estatutos do Homem”. Nesta semana, o amazonense casou-se pela vigésima oitava vez! De acordo com nota publicada em 21/10 na coluna do jornalista Ancelmo Góis, a mais recente esposa tem pouco mais de 30 anos e chama-se Poliana.

Pollyana é a protagonista do clássico da literatura infanto-juvenil, de Eleanor H.Porter, publicado em 1913. O nome da personagem, por seu eterno otimismo e sua capacidade de ficar feliz nos piores momentos, acabou se convertendo em sinônimo de ingenuidade.

Os casamentos são os mais belos - e poéticos - rituais de ingenuidade.

Separações

domingo, 18 de outubro de 2009

O capítulo 82



Já recomendei aqui antes (“O barbeiro de Brasília”, 01.08.2009) a leitura do blog Desabusado, onde o jornalista e escritor Paulo Paniago vem publicando os capítulos de seu romance em construção. Ainda sem título, o “livro virtual” tem capítulos publicados diariamente desde julho.

Reforço a indicação de leitura, e lendo vocês saberão por que, especialmente do capítulo 82, “Gentileza e ausência de”, postado horas atrás por esse “romancista amador, jardineiro de jardins que se bifurcam”.

O desabusado tem gradualmente conquistado mais seguidores e já recebeu mais de cinco mil visitas. Vá lá, leia todos os capítulos anteriores (são curtos) e passe a acompanhar o romance. O texto de Paniago é excelente.

http://desabusado.blogspot.com/2009_10_01_archive.html

Tattoo na lombar



Tatuagem na lombar é sempre um risco. Pode ser bonita e estilosa (como esta aí da foto, trabalho do artista Jun Matsui, que atua na ponte São Paulo-Tóquio) e ficar super sexy, como pode ser um desastre. Tribais básicas costumam funcionar bem. Mas, assim como na vida, é preciso muito cuidado com as palavras. Desnecessário lembrar que estas, quando tatuadas, literalmente marcam. E erros podem ser eternos.

Se o desenho descer mais um pouco e ficar sobre o cóccix, é preciso ainda mais cuidado. Pimentinhas tatuadas ali ficam no limiar da vulgaridade, o que não aconteceria se estivessem noutra parte do corpo. Vi as fotos de uma modelo, em que ali já na parte coberta pelo biquíni estava escrito: “Love me”. Meu amor, fala sério. Ali, bem ali, na hora H, a gente vai embaralhar as letras e ler “Me come”.

Um conhecido, desses que não perdem viagem, fazia um lanche na praça de alimentação de um shopping na Zona Norte do Rio quando se encantou pela atendente de uma rede de fast food (sem trocadilhos, por enquanto). Troca de olhares, sorrisos, conversa vai, conversa vem, “que horas você sai?” “”vai fazer alguma coisa depois?”, “vamos tomar um chopp?”, “vamos lá pra casa?”

Foram. Já no quarto, tudo apagado, ela pediu para desligar uma luz lá na sala, que nem levava tanta claridade assim. Justificou, meio encabulada, dizendo que tinha uma coisa que não queria que ele visse.
- “Ah, a tatuagem com o nome do Thiago?”. Estava ali, na lombar.
- “É, não te incomoda?!”
- “Sinceramente, acho que, dada a situação em que estamos, acho que quem teria que se incomodar é o Thiago...”

Pano rápido. Cena 2:

Outro amigo conheceu mulher na balada e foram fechar a noite no motel. Lá pelas tantas, ela se virou, posição quatro apoios e estava escrito na lombar: “Deus é fiel”.

Pode ser. Mas é broxante.

Eu li as notícias de hoje

Ler os jornais diariamente durante uma semana nos convence de que a humanidade é um projeto que deu errado.

Violência urbana, guerras, fome, epidemias, custo de vida, desemprego, corrupção em todos os níveis, a ignorância, o jogo sujo da política, os políticos, a precariedade do sistema de saúde e de previdência, o tráfico e as vidas perdidas para as drogas, os meninos nos sinais, os crimes hediondos, a crueldade, a morosidade da Justiça, a impunidade, a falta de grana, a falta de infra-estrutura nas comunidades carentes, a falta de educação, os valores distorcidos, a pedofilia, o discurso imbecilizante das religiões, os ataques velados e declarados a democracia, o cerceamento das liberdades individuais, o preconceito, o racismo, a homofobia, a quase ausência de consumo cultural e de reflexão, e mais um longo etc de mazelas são de tirar o ânimo.

Tem horas que penso que só existem duas coisas ilimitadas no homem: a burrice e a maldade.

Haja capacidade de abstração. Ou de superação.

Mas vamos em frente. Porque hoje é domingo. E todo dia pode ser útil. Faz sol lá fora, depois de tantos dias no Rio de Chuveiro.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Bukowski




Vestiu o velho jeans, camiseta preta e all star igualmente preto. Seguiu rua escura até o Bukowski, o bar com nome de poeta bêbado. Bandinha boa levando os indefectíveis clássicos do rock.

A inspiração para a noite era o bluesman John Lee Hooker, “One bourbon, one scotch, one beer”.

Sentou-se solitário a um canto, filmou à distância a mulherada, tomou algumas várias doses de destilados e fumou uns Marlboro Light. Sentia-se em casa. Aquele era o seu habitat, desde sempre. Meia-luz, música alta, fumaça. Num punhado de velhas canções reside a esperança para toda a dor.

Cantou a plenos pulmões, batucou nas próprias pernas, dedilhou guitarras imaginárias. Seu sonho sempre foi estar em um palco tocando suas próprias composições.

Nem todos os sonhos se realizam. Disso ele não apenas sabia, como era prova.

Voltou para casa quando todas as luzes da noite se apagaram.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Não basta limpar. Tem que educar.

Estou a maratonas de distância de ter fôlego olímpico ou físico de atleta. Mas, chuva ou sol, frio ou famigerado calor, caminho os 7,2km da orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos cenários mais embasbacantes desta cidade pródiga em belas paisagens.

A Lagoa vem tendo seu projeto de despoluição patrocinado pelo bilionário Eike Batista, em iniciativa louvável. A olhos vistos, a água está mais clara e as aves voltaram em bandos, o que indica que os peixes também estão lá em grande quantidade.

Vale ressaltar que sempre vejo garis fazendo a limpeza da pista ao redor. Mas ainda me espanto diariamente com a quantidade de lixo que há na água, próxima às margens, boiando ou presa na vegetação. São garrafas pet, sacos plásticos, pacotes de biscoito, copos descartáveis e mais um monte de porcarias. Outro dia, havia uma caixa de isopor boiando. O que leva um filho de uma égua a jogar uma caixa de isopor na Lagoa?!

Este problema não é exclusividade da Lagoa, infelizmente. Padecem do mesmo mal todos os rios urbanos, as lagoas da Zona Oeste e as praias cariocas, sobretudo aquelas dentro da Baía de Guanabara.

Não há dinheiro no mundo que seja suficiente para despoluir qualquer um desses lugares se o Zé Povinho continuar a jogar lixo nas águas. Quando escrevo “Zé Povinho”, friso que isso não tem nada a ver com condição socioeconômica, mas sim com educação e consciência, não importando o saldo da conta bancária.

Não adianta. Na base de tudo está a educação.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Rio 2016. Ao trabalho!



Confesso que no início eu não levava nenhuma fé na candidatura carioca à sede da Olimpíada 2016. Achava que era factóide e a empolgação estava mais na imprensa e nos políticos, que queriam estimular um clima ufanista.

Mas há algumas semanas, eu assisti ao filme que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) fez para promover o projeto do Rio. E achei muitíssimo bem feito. Capaz de convencer qualquer um, especialmente se esse qualquer um não vive no Rio e não conhece de perto as mazelas locais.

Eu torci a favor e estou feliz que o Rio tenha vencido a concorrência.

É claro que há muito a ser feito. Muito mesmo. O Rio tem problemas gigantescos, tão grandes quanto sua beleza.

Acho ótimo que os Jogos Olímpicos sejam realizados aqui. Junto com a Copa do Mundo de 2014, irão gerar uma onda de investimentos e de valorização da cidade. Isso vai mexer com nossa auto-estima. E vai projetar ainda mais o Rio no exterior. Esta é uma cidade que tem que assumir sua vocação turística e de prestação de serviços.

Claro que, junto com os investimentos, os empregos, as obras, as reformas, as melhorias, virão os aproveitadores de plantão, e muita gente vai ganhar dinheiro. A maioria, honestamente. Alguns, ilegalmente.

As Olimpíadas criam motivação, melhoram a possibilidade de retorno para os investimentos e geram prazos improrrogáveis para conclusão dos projetos. Precisamos é aproveitar a oportunidade de fazer com que os Jogos deixem na cidade uma herança positiva concreta e outra, de valores imateriais, talvez até mais importante.

Ah, por favor, não venham com o discurso de que a Olimpíada não é prioridade. Temos outras urgências, muito mais graves. Deveríamos investir esse dinheiro em saúde, educação, saneamento, habitação, infraestrutura, combate à violência etc etc etc

Ok, concordo, só que isso não aconteceria, mesmo que a Olimpíada não fosse realizada aqui. Afirmar o contrário é tão fantasioso quanto protestar porque os trilhões de dólares gastos para abrandar a crise financeira mundial em 2008 poderiam ter sido usados para acabar com a fome no mundo. Poderiam, mas...

Então, celebremos! Rio 2016, com orgulho, alegria e consciência. Mas, sobretudo, trabalhemos. Pode ser que assim, com seriedade e empenho, esta cidade volte a ser maravilhosa. Eu vou arregaçar as mangas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O piano do outono

O tempo passa – cada vez mais – rápido e eis que já é outubro. Outono no Hemisfério Norte é a mais bonita e poética das estações.

E justamente porque o tempo passa tão apressado, vale buscar, lá em 1981, a música que dá título ao segundo álbum do U2: “October”.

Ouça atentamente o piano do outono.

October (by U2)

October
And the trees are stripped bare
Of all they wear
What do I care?

October
And kingdoms rise
And kingdoms fall
But you go on …and on…

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A importância do CEP para os cachorros



Todo mundo sabe que os cachorros machos urinam em vários pontos para demarcar seu território. Ali, tá tudo dominado. E cada um fica no seu quadrado.

Mas e homem-cachorro, como faz? Come por CEP.

Explico: conhecida minha contou na mesa do boteco que tinha tido uma noite ótima com um cara casado. Até aí, (quase) tudo certo. O fato de ele ser casado é um assunto entre ele e a sua mulher e não tem nada a ver com a amante.

Aliás, “amante” é um exagero. Afinal, não há amor nesse rolo, só sexo. Além disso, o emprego da palavra “amante” dá a falsa impressão de que é um relacionamento contínuo, o chamado “caso”, para usar outro termo anacrônico. Nesse caso, não era um caso. Tratava-se apenas de um atendimento no varejo. Bom como muitas coisas passageiras, mas nada mais.

Na noite seguinte, a, digamos assim, “Alfa 1”, estava em um táxi quando, numa dessas coincidências de novela, viu o cara passando. Ela então disse ao motorista a clássica ordem: “Siga aquele carro!”.

Conforme os carros iam vencendo as ruas, seu coração se acelerava em romântica expectativa: ele tomava a direção da casa dela! Ele estava voltando, querendo mais do mesmo, mais do que tiveram na tórrida véspera.

Ele estacionou o carro em frente ao prédio dela. Enquanto pagava o táxi, ela notou, entretanto, que o cara se dirigia para a portaria do prédio ao lado. A verdade é que iria se encontrar com outra mulher. Ou seja, com a vizinha, com a “Alfa 2”.

Mulher traída vira bicho. Amante traída – se é que uma amante pode ser traída – comporta-se como mulher traída.

Chegou junto do cara e fez a segunda ameaça mais terrível para um homem (a primeira, óbvio, é um tipo específico de mutilação): “Vou fazer um escândalo!!!”, avisou, fazendo cara de louca.

Ele tremeu e partiu para o “deixa disso, meu bem, vamos conversar”. Foi quando o celular dele tocou. Era “Alfa 2” perguntando as razões da demora. Transmitindo calma na voz, como são capazes apenas os artistas da dissimulação, ele respondeu que tinha dado carona a uma “senhora” do trabalho ( - Como assim, “senhora” ??!!), que estavam conversando um pouco, mas que ele já chegaria.

“Alfa 1” reforçou a ameaça, desta vez, de modo ainda mais contundente. Mas era blefe. Ela não faria um escândalo na porta da própria casa. Afinal, o que os vizinhos iriam pensar?

Mas diante do flagra e das ameaças, o homem-cachorro-fogoso botou o rabo entre as pernas e foi marcar seu território em outra rua, outra quadra, outro bairro. Ali, naquela freguesia, já era.

Moral da história: antes de mudar de CPF, verifique o CEP.

domingo, 27 de setembro de 2009

Barraco chic

Dave Carroll, músico profissional, viajou de Halifax, Canadá, para o estado americano de Nebraska, com conexão em Chicago. No trajeto, feito pela United Airlines, seu violão foi quebrado.

Depois de muito reclamar em vão, Carroll compôs uma canção, “United Breaks Guitars”, fez um vídeo de orçamento barato e postou no You Tube.

Resultado: milhões de pessoas viram. Teve 30 mil avaliações cinco estrelas no You Tube e virou um hit na internet. A United então o procurou oferecendo uma grana para que ele retirasse o vídeo do ar. Ele postou um depoimento agradecendo a “generosidade” tardia da companhia aérea, recusando a compensação financeira e sugerindo que a United doasse o dinheiro para a caridade. E fez mais: outra música “United Breaks Guitars - song 2” e respectivo vídeo no You Tube.

Aproveitando a carona, a fabricante do violão, Taylor, também postou um vídeo oferecendo-lhe um novo e explicando a qualidade de seus produtos.

Duas lições podem ser tiradas do episódio: por uma sucessão de equívocos (de operação, de relacionamento com cliente, de marketing, de gestão), além de subestimar o poder da internet, a United arranhou sua imagem. Ou seja, quebrou muito mais do que um violão, cujo valor do ressarcimento seria infinitamente menor.

A segunda lição é que isso tudo é uma aula de barraco. Ao invés de rodar a baiana, descer do salto, gritar, espernear, xingar, fazer escândalo, pense melhor e seja mais criativo e estratégico. Faça um barraco chic quando tiver que reclamar os seus direitos. A Justiça e a internet estão a seu favor. E lembre-se que a vingança é um prato que se come frio.

Assista ao clipe, com legendas em português, de “United Breaks Guitars”. O som é legal e a letra, muito bem humorada. É música country e quem me conhece sabe que adoro o estilo.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

No voto



O governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, afirmou nesta semana, referindo-se ao Ministro do Meioambiente (e dos coletes), Carlos Minc: “Se ele viesse aqui, eu ia correr atrás dele e estuprar em praça pública.” Isso após ter chamado o ministro de “veado”.

Minc respondeu bem: “Ele tem uma visão muito interessante sobre homossexualismo: eu é que sou veado e ele é quem quer me estuprar em praça pública?!”

Pois é, uma baixaria vergonhosa. Esse governador bronco com seus preconceitos, sua homofobia (que, por sinal, é crime) e a concepção equivocada e arcaica, contida na sua declaração destemperada, de que ativo não é gay, só quem é passivo é gay. Acorda!

Enquanto isso, no mundo civilizado, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoe, e o de Berlim, Klaus Wowereit são gays assumidos. Assim foram eleitos democraticamente e sustentam altos índices de aprovação em seus mandatos.

Mas o nível dos políticos brasileiros - que já é péssimo - não tende a melhorar. Pelo menos, a julgar pelas figuras que se filiaram a partidos políticos recentemente visando candidaturas a deputado no ano que vem: Kleber Bambam (o ex-BBB), Simony (ex-cantora infantil), Rita Cadillac (ex-chacrete, pioneira de todas as mulheres-frutas), Romário (ex-craque), Edmundo (ex-jogador de futebol), e Acelino de Freitas, o Popó (ex-pugilista).

Mesmo considerando que suas intenções sejam as melhores, nenhum deles me parece muito preparado para exercer a legislatura. No entanto, graças à fama obtida em outras atividades, talvez consigam ser eleitos. E vão se juntar ao “extraordinário” elenco que já se encontra nas Câmaras estaduais, na Federal e no Senado.

Depende de nós. No voto.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Mesquinharia coletiva



A nada simpática moça do caixa do estacionamento do shopping repete automaticamente diante de todo cliente que lhe entrega uma cédula: “Não tem menor, não?”.

Seu emprego é ruim. Oito horas diárias em um cubículo envidraçado, lidando com dinheiro sujo, e aturando o barulho dos carros na garagem.

Ela não disse bom dia.

O cliente lhe entregou uma nota de R$50 para pagar R$5. O caixa eletrônico do banco é programado para fornecer o menor número de cédulas para a quantia sacada.

Ele não disse bom dia.

Ele respondeu então que não tinha nota menor. Mas como sou alto, pude ver sobre seus ombros que na carteira havia outras notas.

A moça fez uma expressão de incredulidade. Fechou a cara e então deu o troco, literal e metaforicamente. Deu-lhe duas notas de R$20 e para os R$5 restantes devolveu tudo em moedas de R$0,50 e R$0,25.

Nem ele nem ela fizeram nada de ilegal. Ambos estavam dentro do seu direito. Ele de pagar como quisesse e ela de dar o troco como quisesse.

Mas os dois perderam boa oportunidade de, simplesmente, serem gentis. Ao invés disso, preferiram ficar emburrados um com o outro.

“Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, só ficaram no muro tristeza e tinta fresca...” (Gentileza – Marisa Monte)

sábado, 19 de setembro de 2009

Simplesmente



Assisti no CCBB à “Simplesmente eu, Clarice Lispector”, monólogo em que Beth Goulart interpreta a escritora, a partir de fragmentos de textos dela. Não foi a primeira vez. Em Brasília, 2005, assisti outro espetáculo com proposta similar, daquela vez protagonizado por Aracy Balabanian. A razão de ser dessas produções pode residir no fato de que, como escrito no programa da atual montagem, talvez seja a própria autora a personagem mais enigmática do universo de Clarice.

Tudo na peça é bem feito, azeitado. Beth Goulart tem o talento e o physique du rôle, os figurinos são lindos e funcionais, o cenário é clean e prático e a luz também atua para que o conjunto forme um belo espetáculo. Bem, o texto é de Clarice Lispector, então é ótimo. Com direito às muitas frases de efeito que frequentam sua excelente prosa.

Mas ainda assim, apesar de tudo ser tão perfeitinho, a peça é chata. Talvez porque falte ação, talvez porque eu simplesmente não estivesse no clima. Talvez porque esteja me tornando menos sensível. Talvez porque eu tenha aceitado a sugestão de Cazuza e já tenha pago a conta do analista para nunca mais ter que saber quem eu sou. O fato é que ando muito sem paciência para essas questões existencialistas. Quem sou? Por que faço? O que sinto? Por que escrevo? Escrevo o que sou? Sou autor ou personagem? Por que respiro? Ah, não, cansei. Quero tudo mais simples, simplesmente.

Já fui de Shakespeare, mas agora eu quero Shakesbeers. É, “Two beers or not two beers?”. É mais divertido que o tal do “to be”.

Um amigo, que também sentiu vergonha de admitir que não gostou da peça diante da patrulha intelectual, definiu-a assim: "É muito mulher. Ela fica lá andando de um lado para outro, falando um monte de coisa, se questionando o tempo todo...Enfim, ela é uma maluca" . Eu garanto que meu amigo não é nenhum bronco, muito pelo contrário. Seu comentário tem menos preconceito de gênero do que constatação sobre como muitas se comportam.

E eu gosto muito de ler os livros de Clarice, que fizeram parte da minha “descoberta do mundo”.