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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Exageros à parte


Como não tenho religião, o Natal é apenas um feriado no verão, quando trocamos presentes, comemos peru e rabanada, revisitamos parentes (esses estranhos íntimos...) e ficamos bêbados. Aliás, parece que o mundo inteiro fica bêbado. E fica como aqueles bêbados chatos que grudam em você com bafo de pinga e dizem: - “Te considero a pampa. Te amo muito. Te adoro pra cara....” e outras bobagens deflagradas pelo álcool, antes de vomitarem panetone no seu colo.

Os bêbados do mundo também enviam cartões virtuais e apresentações em power point com imagens e trilha sonora cafonérrimas, e fazem ligações fora de hora para desejar boas festas aos berros. – “Obrigado, pra você e sua mãe também”, respondo.

A galera surta no Natal. Pira geral. Os bêbados do mundo pedem “desculpa aí por qualquer coisa” supostamente feita ao longo do ano e insinuam um encontro futuro, com direito a irritante erro de português: - “Vamos marcar de se ver”. Nunca, meu caro, nunca.

Recebi uma mensagem de uma simpática corretora de imóveis com a qual não troquei ao longo do ano mais do que meia dúzia de e-mails, todos estritamente profissionais. Ao final de uma sequência de clichês, ela escreveu: “Conte sempre comigo. Abraços de uma pessoa que te gosta muito.”

Você pode dizer que a moça só estava tentando ser agradável e eu sou um velho rabugento que merecia passar o Natal sozinho. É verdade. Mas eu nunca a vi pessoalmente, acho que nem falamos por telefone. Também não fechei negócio com ela, o que talvez pudesse justificar tamanho apreço pela minha pessoa. Agora me diz se sou eu que estou exagerando?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Bukowski




Vestiu o velho jeans, camiseta preta e all star igualmente preto. Seguiu rua escura até o Bukowski, o bar com nome de poeta bêbado. Bandinha boa levando os indefectíveis clássicos do rock.

A inspiração para a noite era o bluesman John Lee Hooker, “One bourbon, one scotch, one beer”.

Sentou-se solitário a um canto, filmou à distância a mulherada, tomou algumas várias doses de destilados e fumou uns Marlboro Light. Sentia-se em casa. Aquele era o seu habitat, desde sempre. Meia-luz, música alta, fumaça. Num punhado de velhas canções reside a esperança para toda a dor.

Cantou a plenos pulmões, batucou nas próprias pernas, dedilhou guitarras imaginárias. Seu sonho sempre foi estar em um palco tocando suas próprias composições.

Nem todos os sonhos se realizam. Disso ele não apenas sabia, como era prova.

Voltou para casa quando todas as luzes da noite se apagaram.