domingo, 9 de outubro de 2011

O homem da maçã

criação de Jonathan Mark em homengaem a Steve Jobs


A morte de Steve Jobs, o popstar da tecnologia, criador da Apple e da Pixar, causou comoção mundial. Considerado gênio por muitos que não temem banalizar o termo, Jobs deixou uma legião de órfãos e admiradores. Quase devotos. Morto, virou iGod.


Não entendo de tecnologia para sequer entrar no mérito se as alcunhas de gênio e de revolucionário eram merecidas ou exageradas. Sou um reles usuário de produtos da Apple. Gosto da beleza, da usabilidade, da facilidade, da interface, mas estou longe de utilizá-los em toda a sua potencialidade. O que penso é que Jobs detinha um talento absurdo para, sim, tecnologia, design e marketing. Ele foi capaz de fazer com que milhões de pessoas se perguntassem como puderam viver até então sem um produto Apple, o qual, antes de sua invenção, sequer imaginavam precisar. Gerou milhões de “escravos de Jobs”, como bem disse Arnaldo Bloch. Pessoas histéricas em filas gigantescas madrugadas afora em um exemplo extremo de consumismo frenético. Jobs foi, portanto, uma espécie de Eva contemporânea. Devo dizer que não vejo, moralmente, nada de errado nisso.

Jobs nunca foi – nem pretendeu ser – santo. Foi um homem que teve uma vida difícil pela rejeição familiar na infância, e depois pelo câncer que o destruiu lentamente. No entanto, foi extremamente bem sucedido nos negócios e ganhou rios de dinheiro. Era um personagem controverso e fascinante. Cheio de contradições. Vigoroso nos negócios. Nem sempre ético. Budista, mas explosivo por motivos fúteis. Intolerante como muitas vezes são as mentes mais brilhantes. Eu estava entre seus admiradores. Lamentei sua morte. Fiquei um pouco iSad, bem sacado nome de um trend topic nas redes sociais.

Jobs também se celebrizou pelas palavras. Foi ácido, doce, mordaz, irônico, sábio, inteligentíssimo. E são algumas dessas frases geniais ou nem tanto, que compartilho aqui.

Não sem antes reproduzir uma frase precisa do publicitário Marcos Bassini, no Facebook, logo após a morte de Jobs: “Desde a descoberta da lei da gravidade um gênio e uma maçã não eram tão importantes.”

"Eu trocaria toda a minha tecnologia por uma tarde com Sócrates"
( E eu, e não Jobs, indico a leitura de “Café da manhã com Sócrates”, de Robert Rowland Smith)

"Você quer passar o resto da sua vida vendendo água com açúcar ou você quer uma chance de mudar o mundo?"

"Ser o homem mais rico do cemitério não me importa... Ir para a cama à noite dizendo que fizemos algo maravilhoso... Isso é o que importa para mim"

"Esse tem sido um de meus mantras - foco e simplicidade. O simples pode ser mais difícil que o complexo: você tem de trabalhar duro para deixar o seu pensamento limpo e manter a simplicidade. Mas vale a pena no fim das contas porque, quando você chega lá, você pode mover montanhas"

"Seu tempo é limitado, então não o desperdice vivendo a vida de outra pessoa. Não fique preso pelo dogma - que é viver pelos resultados do que outras pessoas pensam. Não deixe o ruído da opinião dos outros afogar a sua voz interior. E o mais importante, tenha a coragem de seguir seu coração e sua intuição. Eles de alguma forma já sabem o que você realmente quer se tornar. Tudo o mais é secundário"

"Você não consegue ligar os pontos olhando em frente; você apenas consegue conectá-los olhando para trás. Então você tem que confiar que os pontos irão, de alguma forma, se conectar no futuro. Você tem de acreditar em algo - nas suas vísceras, no destino, na vida, no karma, que seja. Essa abordagem nunca me decepcionou e tem feito toda a diferença na minha vida"

"Lembrar que morrerei em breve é a ferramenta mais importante que encontrei para me ajudar a tomar as grandes decisões na vida. Porque quase tudo - todas as expectativas externas, todo o orgulho, todo o medo do constrangimento e da falha -, essas coisas simplesmente desabam na face da morte, deixando apenas o que realmente é importante. Lembrar que você vai morrer é a melhor forma que conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir o seu coração... Continue faminto. Continue tolo"





sábado, 8 de outubro de 2011

Eu não fui. E não vou mais.

Perdi o timing jornalístico e escrevo sobre coisas que aconteceram há uma ou duas semanas. Ou seja, velhíssimas. Como eu estou ficando, já que capitulei e comecei a usar óculos para vista cansada. Tornei-me assim, inapelavelmente, um tiozão.


Por outro lado, algum distanciamento temporal pode nos permitir maior lucidez ao comentar assuntos fora do calor da hora.

E o tema é Rock in Rio. Ou Pop in Rio, como preferem alguns detratores puristas inconformados com a miscelânea nem sempre de bom gosto da escalação das atrações. Eu mesmo continuo achando inconcebível um festival que leva esse nome ter Cláudia Leite e Ivete Sangalo na programação. A Cláudia pelo menos é gostosa, embora, reconheço, este também não seja um critério musical. “Rock” com Ivete é tão esquisito como o “in Rio” em Lisboa ou Madri.

Toda honra e toda glória ao Sr.Medina que com a megalomania do Rock in Rio inseriu o Brasil no circuito internacional. Minha carreira de espectador de shows começou em 1982, com Peter Frampton, no Maracanãzinho. No ano seguinte, Kiss no Maraca. Naquela época as opções não eram tantas. E na maioria das vezes o Brasil só entrava no roteiro de astros decadentes.

Por justificáveis razões mercadológicas, estranhos no ninho do Rock fazem parte da escalação desde o primeiro festival. Naquele longínquo 1985, havia Al Jarreau, o açucarado e insosso James Taylor, Elba Ramalho. Em outras edições, teve New Kids On The Block, A-ha e Carlinhos Brown entre outros disparates. Enfim, são exemplos de que o festival nunca foi exclusivo dos roqueiros.

Como lhes disse, envelheci. E não tenho mais saco para muitas coisas. A gente se torna mais seletivo. Eu não fui ao Rock in Rio deste ano. E desisti antes mesmo de conhecer a escalação, com o perrengue para comprar ingressos. Eu até (re)veria com prazer algumas das atrações, como Red Hot Chilli Peppers, Metallica, Capital Inicial, Skank, e até mesmo as deliciosas Shakira e Rihanna que fazem pop e pole dance com irrefutável apelo estético. Joss Stone é a mais linda de todas, ma já a vi descalça no palco, e prefiro ouvir seus discos.

Eu veria essas atrações se fossem shows isolados. Ter que ficar horas lá assistindo a um bando de porcarias lamentáveis como Ke$ha, para depois sim ver alguma coisa que preste, quando já morto de cansaço, não dá mais pra mim. Passei da idade. Arthur Dapieve, veterano roqueiro, escreveu que assistiria ao System of a Down se tivessem inventado o teletransporte. “Não curto mais interagir com cem mil pessoas. Só em pensar em me deslocar até a Barra Profunda noites a fio, dou tapinhas no tatame.” É por aí. Eu ainda interajo com muita gente. Fui ao U2 neste ano e irei ao Eric Clapton nesta semana e ao Pearl Jam no mês que vem. E iria todas as vezes que o recém finado R.E.M. retornasse ao Brasil. Mas, definitvamente, tem coisas que aos 43 você não encara mais, como se tivesse 18 anos.

Não tenho nenhuma nostalgia da noite dos metaleiros em 19/01/1985 (Whitesnake, Scorpions, Ozzy e AC/DC), quando os shows foram maravilhosos, mas a gente chafurdava na lama e no cheiro de bosta. Meu amigo Celso Cavalcanti (do blog olho de prosa), outro roqueiro das antigas, bem definiu a Cidade do Rock como uma Disneylândia do Rock, com sua cenografia artificial, sua assepsia, sua grama sintética bonitinha e sua população flutuante que pouco tinha a ver com o estilo musical que está na marca mais que no palco. Mesmo que o festival tenha sido bem organizado em sua logística.

Eu não fui e nem vou mais. Mas pelo Facebook (também sei ser moderninho) acompanhei meu primo Victor, 20 anos mais jovem, se divertir por lá.

Outra evidência de minha senilidade galopante está no fato de que mesmo pela TV eu não consegui assistir a nenhum dos últimos shows de cada noite ao vivo. Capotei, chapei, dormi e ronquei ao final do penúltimo show. Falando nisso, eram constrangedoras as atuações dos comentaristas do Multishow. Até mesmo Beto Lee, que entende de rock e apresenta bem outros programas, foi um fiasco na telinha.

O que ficou deste Rock in Rio foi o tragicômico bordão que a atriz Cristiane Torloni, incorporando o estilo de sua personagem em uma telenovela, disse em uma entrevista: “Hoje é dia de rock, bebê!”. Pois é, eu não sou um bebê. E não gosto de criancices.

Tendo a concordar mais com o Lobão que há muito anos, em trocadilho tão infame quanto acertado, batizou um disco seu de “O Rock errou”.