sexta-feira, 24 de abril de 2009

Bispo Papão e outras famílias

Entre boatos, suposições, verdades e mentiras, já está em cinco o número de filhos cuja paternidade é atribuída ao ex-bispo e atual presidente do Paraguai, Fernando Lugo.

Ou seja, o bispo papão era o maior pegador da paróquia. Não perdoava nem as carolas: ajoelhou, tem que rezar.

Talvez ele não usasse camisinha porque a Igreja Católica é contra o uso de preservativos.

Mas justiça seja feita: não é só no Paraguai que o celibato é artigo falsificado.

Aliás, a imposição do celibato clerical é mais uma das bobagens da Católica Apostólica Romana.

O assunto é de foro íntimo – literalmente – do presidente paraguaio. Transforma-lo em questão política é coisa de oportunistas. Já transforma-lo em piada, é coisa de gaiatos.

Mas gaiatos são melhores, muito melhores, do que gatunos.

E já que falamos de família e celibato, fica o registro de duas pérolas pronunciadas por vossas excelências, a respeito da imoral farra da distribuição de passagens aéreas feitas pelo parlamentares:

“A família faz parte, na minha opinião, do meu mandato” (Deputado Silvio Costa – PMN-PE); e

“Ao proibir-se as passagens para os cônjuges, pretende-se que essa seja uma Casa de celibatários”. (Deputado Marcondes Gadelha – PSB-PB).

Parece piada. Mas não é. E não têm graça nenhuma.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Amanhã é 23





“O que significa um novo autor?
Esta foi a indagação matriz que me fez refletir sobre a apresentação de um jovem que inicia nesta obra uma caminhada no dialogar silencioso da palavra escrita.
O que significa um novo autor?
A pergunta ressoa em busca de resposta e vai aos poucos clareando as próprias dimensões de sua indagação, conduzindo o pensamento a perscrutar as razões (ou sentimentos) que levam alguém a deixar registrado um muito de si num punhado de poesias, imagens pintadas com as cores que as palavras evocam no horizonte da imaginação.
Um jovem autor que nos faz sentir de uma forma suave mas firme toda a luta contida no esforço de dar a existência seu sentido maior. De buscar em cada momento a plenitude que ele encerra, mesmo oculta sob os limites do finito e do temporal. Alguém que nos faz sentir o desejo adormecido de romper os limites do cotidiano e viver uma forma de vida onde a eterna insatisfação e desejo de crescer deixam entrever um pouco da paz louca dos poetas e sonhadores.
Um jovem autor que deixa fluir em seus versos romantismo e sensualidade e os transforma em asas que nos levam a contemplar panoramas esquecidos do nosso próprio viver, e a pousar em nossa infância ou juventude.
Um jovem autor que expõe neste seu primeiro desafio literário e que ao fazê-lo relembra a muitos de nós a dimensão de aventura em que a vida está imersa e da qual fugimos por medo ou acomodação, e que na maioria das vezes, literalmente, retira de nossa vida toda a poesia.
Sem dúvida, um jovem autor com muita promessa pela frente, e que nesta primeira incursão no mundo dos poetas promete deixar seu sinal e seu estilo.
Mas ainda assim - o que significa um novo autor?
Quem sabe um novo autor não seja para você também um desafio?
Não apenas ler – mas encarar face a face, no vigor ou na fraqueza de cada verso uma pessoa que ousou sair de si para melhor encontrar com você.”

Foi deste modo generoso que o professor Ronald S.Mohrstedt escreveu o texto de apresentação “A aurora doeu”, o primeiro livro de poemas, dos cinco que publiquei até hoje. O lançamento do livro aconteceu na noite de 23 de abril de 1987. Eu tinha 18 anos. E era inocente.

“A aurora doeu” reúne alguns dos poemas que escrevi entre 1982 e 1987 e traz ilustrações de Walter Wacholz Neto. A edição foi independente, amadora e, claro, tosca. A tiragem do meu primeiro “best seller” foi de 400 exemplares. Eu o distribuí em algumas poucas livrarias e ía de bar em bar, vendendo, junto com os hare krishnas e seus incensos, os floristas de rosas murchas e os senhores de fotos instantâneas. Como disse, eu tinha 18 anos e era inocente. Mas eu me propus a realizar. E comecei.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Je voudrais être a Paris



Hoje é feriado nacional, Dia de Tiradentes, o herói da Inconfidência Mineira, movimento que comungava dos bons ideais de liberdade, igualdade, fraternidade da Revolução Francesa, ocorrida naquele mesmo 1789.

Hoje à noite, acontece na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, o espetáculo de luz e pirotecnia do Groupe F, que abre oficialmente o ano da França no Brasil.

Mas eu preferia estar em Paris. Para entre um croissant e outro, visitar as exposições em cartaz naquela cidade.

Uma galeria do Grand Palais abriga até 3 de maio mostra com 300 obras de 150 grafiteiros de inúmeros países, incluindo o Brasil. Esta é a primeira vez que uma exposição de grafites é realizada em um prestigioso museu da França. A foto que ilustra este texto é da abertura da exposição.

A mostra TAG (grafite, em francês) exibe os trabalhos que integram a coleção do arquiteto Alain-Dominique Gallizia. Durante três anos, ele pediu a grafiteiros do mundo todo para criar obras sobre o tema do amor, sempre em um mesmo formato: duas telas de 60 centímetros de altura por 1,80 metro de largura cada. Na parte esquerda, o artista deveria assinar seu nome e, à direita, representar sua visão ilustrada do amor.

Ainda no Grand Palais, está a mostra Le Grand Monde d’Andy Warhol, que apresenta, até 13 de julho, 250 obras do papa da pop art.

Na Fondation Cartier, está em cartaz até 21 de junho, uma grande exposição da brasileira Beatriz Milhazes.

Na Biblioteque Nationale de France, até 24 de maio, outra exposição interessantíssima: Controvérsias – uma história ética e jurídica da fotografia. Com 80 imagens que vão de 1840 a 2007, a mostra retoma a discussão acerca de temas polêmicos, utilizando fotojornalismo e fotos publicitárias.

No Centre Georges Pompidou, tem o mestre russo Kandinski até 10 de agosto e os anos parisienses de Alexander Calder até 20 de julho.

Com tanta oferta cultural simultânea e de alta qualidade, Paris é mesmo uma cidade iluminada. Eu queria estar em Paris. Até porque chovem cântaros nesta manhã no Rio. Mas eu faço questão de pagar. Não quero ganhar passagem aérea de nenhum deputado.

Dia típico





Domingo de sol no balneário do Rio de Janeiro. Depois da praia e do Mengão campeão da Taça Rio no Maraca, eu tinha um convite para ir à Lapa.

Praia-futebol-boemia. Ipanema-Maracanã-Lapa. Mais carioca impossível.

Mas eu não sou tão típico assim. Faço parte da minoria de hereges que não curte a Lapa, reduto do samba e do choro. A vida noturna bomba na Lapa e dizem que as pessoas solteiras (de todos os gêneros) mais interessantes circulam por lá. Os disponíveis que lá circulam, se esbarram, mas não se encontram. É porque, como diz um psicanalista junguiano amigo meu, o encontro requer o logos, o diálogo. E não há conversa na Lapa. Há pegação. Nada contra a pegação. Mas é que estou aposentado. E não gosto de samba nem de choro.

Quando meus amigos de outras cidades vêm ao Rio sempre querem cair na Lapa. Eu parodio o deboche do Casseta & Planeta com aquela antiga campanha “Vá ao teatro”: Vá à Lapa, mas não me convide.

Existem exceções capazes de me levar ao tradicional bairro boêmio. Eventualmente, algum show na Fundição Progresso, outrora também no Circo Voador, e um bife à milanesa com salada de maionese do Nova Capela.

Domingo foi uma exceção. Das boas. Fui ao Mistura Carioca assistir a um bom e velho amigo tocar guitarra e, simultaneamente, celebrar seu quadragésimo aniversário em cima do palco. Não há comemoração melhor do que fazer o que mais se gosta rodeado de amigos numa animada jam session. O nome da banda é Maria Rock.

Só não pergunte onde está a Maria.

sábado, 18 de abril de 2009

O poder da gata




A intimidade me permite chamar a melancolia de mel e a felicidade de fel.

Um cara que escreve isso (no caso, eu mesmo, no poema “Versos Sobre”, publicado no livro Lâmina do Adeus, em 2002) evidentemente curte melancolia. Em prosa, verso e canção.

Por isso, ao ler que o site Entertainment Weekly publicou a lista das 25 melhores músicas de partir o coração de todos os tempos, fui dar uma conferida num sábado de sol. Entre velhas conhecidas e novidades, a vice-campeã era "I've been loving you too long", composição de 1965 de Otis Redding. Mas um detalhe me chamou a atenção: tinha que ser a versão de Cat Power.

Fui atrás no You Tube. Nossa, que deprê, e como canta bem e como é bonita! E aí como um vídeo leva a outro, fui navegando no mar de coisa de Cat Power disponível na internet. E me apaixonei. Cat Power é o nome da banda que se confunde com sua líder, a cantora, compositora e guitarrista Chan Marshall. O Cat Power faz uma música que segue pelo sadcore, rock e indie-rock, com letras autorais e intimistas. Tem um quê de Tom Waits de saia. Um quê de Portishead, de Beth Gibbons.

Chan Marsall nasceu em 1972 em Atlanta, Geórgia (EUA), e adolescente mudou-se para Nova York. Lançou o primeiro disco, “Dear Sir”, em 1995. Seu mais recente álbum, “Jukebox”, é só de covers com seleção de repertório de primeira linha. Foi lançado em 2008 e é o oitavo da carreira. Sucede seu trabalho de maior sucesso, o aclamado “The Greatest”, de 2006. Naquele mesmo ano, ela passou meses internada para se livrar da dependência química em álcool e drogas.

Marshall faz uma charmosa ponta como a ex-mulher de Jude Law, naquele filmaço que é “My blueberry nights” (“Um Beijo Roubado”), co-estrelado por outra excelente cantora, a Norah Jones.

Quase doeu saber que ela esteve no Brasil (não no Rio) no ano passado e eu perdi. Ainda bem que existe o Google. E o You Tube. E a Amazon. E a Trama. E os downloads...

Susan Boyle tem talento




Quando Susan Boyle pisou o palco para participar do programa Britains Got Talent - espécie de American Idol no Reino Unido, ou uma versão mais sofisticada do que aqui nós conhecemos de longa data como Show de Calouros nos programas populares de auditório - ninguém punha fé nela. Parecia apenas mais uma pessoa disposta a pagar mico na frente da multidão só para aparecer.

Susan, de 47 anos, vive sozinha com seu gato na cidade interiorana de Pebbles, declarou-se virgem, e não tem emprego. Foi ao programa porque tinha o sonho de ser uma cantora profissional. Seu sex appeal é abaixo de zero. Ela é feia e seu jeito caipirão, matuto, desajeitado a faz parecer uma ogra. Não, não a Fiona. Mas o próprio Shreck.

Nas perguntas iniciais Susan foi ironizada pelo trio de jurados, por sua aparência e jeito meio tosco. Ainda por cima, ela escolheu uma canção bastante difícil: I dreamed a dream, do musical Les Miserables. Mas quando ela começou a cantar, a ogra virou princesa em segundos.

O vídeo de sua performance é muito emocionante, não apenas pelo inesperado virtuosismo vocal, mas porque, uma a uma, as pessoas vão trocando o desprezo pela surpresa e, na sequência, pela admiração.

Logo após começar a cantar, Susan é aplaudida de pé por todo o público. Nos comentários finais, um dos jurados diz: "Quando você entrou aqui, todos riram; agora ninguém mais está rindo. Estamos todos impressionados!”. Ela recebeu três entusiásticos “sim” dos jurados, outro feito raro, e classificou-se para a próxima fase do programa.

O vídeo está entre os mais acessados do You Tube nestes últimos dias e Susan agora é conhecida mundialmente. Tomara que seus minutos iniciais de fama se estendam e não a transformem numa exótica atração, do tipo a caipirona que canta bem. Porque, definitivamente, Susan Boyle tem talento.

Confira aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=8OcQ9A-5noM

Assim é, se lhe parece


Edição recente da revista Elle francesa traz na capa mulheres sem maquiagem ou retoques. As modelos Eva Herzigova e Inès de la Fressange, além das atrizes Monica Bellucci (que ilustra este texto), Sophie Marceau, Anne Parillaud, Karin Viard, Charlotte Rampling e Chiara Mastroianni, têm, cada uma, sua versão da publicação. É o fotógrafo Peter Lindbergh quem assina os cliques. Como o objetivo é ressaltar a beleza real, uma regra foi imposta: nada de Photoshop - algo quase anormal hoje em dia.

Desde seu advento no século XIX, a fotografia exerceu a função de representar de maneira fidedigna a realidade, suplantando, nesta atribuição, a pintura, que ficou mais livre para trilhar outros caminhos.


Mas com a evolução tecnológica facilitando a manipulação digital das imagens, a fotografia deixou de ser registro documental confiável. Foto não prova mais nada.


Lembro de uma campanha publicitária da Kodak de uns anos atrás que caiu no gosto do público brasileiro com o bordão “Fotografou? Não? Então, dançou”. Como chamamento para se aproveitar as oportunidades e registrar o inesperado - o momento único - para a posteridade, permanece atualíssimo e os jovens, sobretudo, têm feito isso com suas inseparáveis câmeras digitais fotografando cada banalidade cotidiana. Mas como alusão a que esse registro tivesse a força de uma evidência, de um flagrante comprometedor, é um discurso esvaziado.


A fotografia embrenhou-se com a arte, para muito além de sua origem como mera representação fiel da realidade. A realidade é variável. Especialmente no Photoshop e outros programas similares.


As revistas masculinas e femininas vendem doce ilusão, mentiras sabidas e desejáveis – em todos os sentidos. Ninguém mais compra a Playboy, por exemplo, ingenuamente achando que não há retoques nas imagens. Scheila Carvalho está na capa e nas páginas centrais da edição deste mês, exuberante e sexy, em seu quinto ensaio de nu para a revista. E quem se importa com o Photoshop? Mentiras sinceras nos interessam.


E Mônica Bellucci é linda até quando acorda.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Lord, have Mercy

Madonna e Mercy no Malawi. Foto: The Sun
A cantora, atriz e escritora Madonna tentou adotar uma menina de 3 anos, nascida no Malauí, chamada Mercy James.

O Malauí (ou Malawi) fica no Sudeste da África, encravado entre Moçambique, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. Esta foi provavelmente a primeira vez que você ouviu falar desta nação. E talvez seja a última.

Há alguns anos, Madonna adotou o menino David Banda, também nascido naquele país. Na época, o governo do Malauí foi alvo de críticas ao ter permitido a adoção de David, e acusado de favorecimento a Madonna, uma vez que a lei do país proíbe a adoção de crianças por parte de não residentes.

Agora, no caso de Mercy, o pedido foi negado porque a cantora não preencheu alguns requisitos fundamentais, como estar casada e morar no Malauí por 18 a 24 meses. Madonna entrou com recurso na Justiça do Malauí, insistindo na adoção.
«Quero dar à Mercy uma casa, um bom ambiente familiar e a melhor educação e cuidados de saúde», contou Madonna, numa entrevista por email a um jornal do Malawi, citado pela Reuters.

Vamos dar um salto no tempo para daqui a dez ou vinte anos. Mercy James fica sabendo que poderia ter tido outra vida. Além do amor, do afeto e do ambiente familiar, ela poderia ter tido uma vida cheia de oportunidades. Com acesso à educação de qualidade, cuidados médicos, viagens por todo o mundo, conforto, boa alimentação, e muitas outras coisas ótimas que o dinheiro de Madonna pode lhe proporcionar. Além, é claro, de se tornar herdeira da fortuna, junto com os irmãos Lourdes, Rocco e David.

Imagine a “alegria” de Mercy ao se dar conta de que poderia ter tido tudo isso, mas algum burocrata se arvorou no direito de lhe fechar esta porta. Se eu fosse Mercy, eu teria muito ódio desse sujeito que indeferiu o pedido de adoção. É como tirar a sorte grande na loteria e literalmente vem alguém e tira o leite da boca da criança. O sujeito pode ter pensado em muitas coisas, mas com certeza, em seu apego inflexível a lei, não pensou no que seria melhor para Mercy.

domingo, 12 de abril de 2009

Pessach



Meu amigo cronista Marcelo Torres me escreve para dizer que "Páscoa (do hebraico Pessach), num sentido geral, é 'passagem'. Passagem da escravidão pra liberdade, do ódio pro amor, da dor para a alegria. "

Então, compre (ou tire no programa de milhagens) uma passagem para o seu interior e reflita. Tome um banho de chuveiro ducha mangueira rio mar cachoeira chuva e emerja revigorado renovado redivivo, sem quilos de supérfluos e desnecessidades, que carregamos penduradas n’alma.

Siga em frente, sempre com bom humor, porque a vida pode ser bela.

sábado, 11 de abril de 2009

Boas risadas



Fui à estréia do espetáculo de stand up comedy de Marco Luque, a quem eu considerava o menos engraçado integrante do CQC. Mudei de opinião. É hilário. Os trechos sobre a eterna relação de amor e ódio das mulheres com seus cabelos e sobre cachorros são garantia de gostosas risadas.

Além do imprescindível timing para comédia, Luque utiliza muito bem o recurso da voz, das caras & bocas e da linguagem corporal.

Fica a dica: Teatro do Leblon, Sala Fernanda Montenegro, sextas e sábados às 23h. E antes e/ou depois, o bem tirado chopp de fabricação própria do Gattopardo, ao lado do teatro.

Programa de índio

O presidente da Bolívia, Evo Morales, iniciou na última quinta-feira greve de fome para pressionar o Congresso a aprovar uma nova lei eleitoral que permitiria realizar eleições em dezembro.

Meus conhecimentos sobre a Bolívia se resumem a ... deixa pra lá. Por isso, não vou entrar no mérito da questão. Mas li que esta é a terceira vez que um presidente boliviano lança mão desse recurso. Então, nem podemos falar em “Evolução”.

De acordo com a agência de notícias boliviana, cerca de 1.000 pessoas resolveram aderir à greve de fome, em solidariedade a Morales. Tremendo programa de índio.

Coisa mais ridícula, né não? Até parece que ele vai levar a greve às últimas conseqüências. Até parece que se o Congresso não aprovar a tal lei, ele vai morrer à míngua. No primeiro desmaio, vão levar o presidente para o hospital , entubar, dar soro e encerrar o factóide.

Eu achava que greve de fome era só pirraça boba de Garotinho. Não é atitude de chefe de estado, nem de gente grande (Exceto gente Gandhi).

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Repaginada


Eu mudei o leiaute do meu outro blog, www.leandrowirz.blogspot.com, no qual publico exclusivamente meus poemas, para que a navegação ficasse mais amigável e atraente.

Se ainda não visitou, vá lá. Se já foi, volte. Se curtir, dê a dica aos amigos. Se não gostar, indique para os inimigos.

Tanto lá como cá, inseri à direita, mais abaixo, a possibilidade de você, leitor(a), assumir que é fã, e se tornar “Seguidor” do blog.
Então, sinta-se convidado(a) a me seguir por estes mares, lembrando que, como escreveu Oscar Wilde no prefácio de O Retrato de Dorian Gray, “os que buscam sob a superfície fazem-no por seu próprio risco”.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Ele não está tão a fim de você


Eu tenho um lado mulherzinha. Lésbico, obviamente. Mas este lado me faz gostar muito de comédias românticas. É assim desde que me apaixonei pela Meg Ryan fingindo um orgasmo em Harry & Sally. E teve outras: Daryl Hannah em Splash, Uma Sereia em Minha Vida e em Roxanne; Demi Moore, em No Small Affair e em Sobre Ontem à Noite, e a então mais linda de todas, Robin Wright (hoje, senhora Sean Penn), em A Princesa Prometida.

Além disso, sempre foi mais fácil elas aceitarem o convite para assistir Um Linda Mulher do que outras obras-primas do cinema, como Rambo III, por exemplo.

Dito isso, fui assistir a Ele Não Está Tão a Fim de Você. Um filme que tem a sempre perfeitinha Jennifer Aniston e a cada vez mais sexy Scarlett Johansson já justificaria a ida à sala escura.

O filme é sobre encontros e desencontros amorosos, tema eterno, e é recheado de personagens arquetípicos. Tem a mulher muito carente e obsessiva, que tenta interpretar o que os homens pensam e dizem e fica esperando a famosa ligação no dia seguinte. Tem o cara que faz o papel de oráculo, objetivamente ajudando-a compreender a mente básica masculina (insondáveis são vocês, meninas). Tem a mulher casada que pensa na reforma da casa, mas esquece que a casa cai quando falta sexo. Tem o marido imaturo e cafa que hesita, mas pula a cerca em busca de sexo. Tem o gente boa, legal pra caramba, que quer um relacionamento sério, mas que é chaaaaato, como costumam ser os bonzinhos. Tem a romântica que procura parceiros pela Internet e é rejeitada em todas as tecnologias possíveis. Tem a mulher que mora junto, mas quer casar de papel passado, véu e grinalda. Tem o apaixonado companheiro que não quer oficializar a união.

Com esta galeria de personagens se cruzando (duplo sentido), o filme transcorre raso, doce e engraçadinho como convém ao gênero. Roteiro bem costurado, texto leve e bom. Ótimo entretenimento.

Algumas amigas me indicaram o filme, dizendo que viram muito de mim no personagem que faz a função de oráculo. Felizmente, segundo elas, eu seria uma versão mais sutil do cara que diz pérolas sensíveis do tipo: “Eu gosto de você como gosto de um basset hound”. Mas é dele uma das frases mais sábias do filme: “Por que vocês mulheres têm a mania de destrinchar o que falamos e ficam criando histórias?!” Normalmente, o que nós falamos é só aquilo que queremos dizer. Não é não. Sim é sim. Sem intenções ocultas e significados subliminares. Exceção feita ao clássico “Eu te ligo”. Essa frase deve ser sempre entendida à moda carioca. Ou seja, não leve a sério. Nem leve a mal.

Eu me identifiquei mais com o personagem do Ben Affleck, excetuando a aversão ao casamento formal. Estou no meu terceiro e último.

Eu saí do cinema com uma dúvida, ao estilo Capitu traiu ou não traiu Bentinho: o cara fumava escondido ou não? Se sim, por que recusou o cigarro no passeio de barco com o amigo? Se não, de quem era aquele maço de cigarros nas roupas dele?
Cartas para a redação.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Gimme a Kiss


Hoje é noite de Beijo na Praça. Quem baixa lá para fazer sua apoteose são os veteranos norte-americanos do Kiss. Os mascarados – com duplo sentido, por favor – voltam ao Rio depois do antológico show de 1983 no Maracanã. Eles vieram ao Brasil outras duas vezes, mas não ao Rio.

Eu fui ao show de 83, com a banda no auge, tinindo depois do recém-lançado álbum Creatures of The Night , que trazia o hit I love it loud e a balada I still love you (Não confundir com a chatíssima e açucarada Still loving you, do Scorpions).

O Kiss, na ativa desde 1973, sempre foi o sexy e meio andrógino Paul Stanley (voz e guitarra base) e o bad boy macabro Gene Simmons (voz, baixo em forma de machado e língua). Na formação original, havia ainda o virtuose Ace Frehey (guitarra solo) e Peter Criss (bateria). Após idas e vindas na banda, ambos foram definitivamente demitidos porque, segundo Simmons, são loosers nos seus vícios em álcool e drogas. Na legião de músicos que ocupou esses postos, merece destaque apenas o batera Eric Carr, prematuramente falecido de câncer, quando já não integrava mais o grupo.

Stanley e Simmons são suficientes para fazer um showzaço ao lado de seus coadjuvantes. Desde os primórdios, com máscaras (paira a dúvida se eles se inspiraram no Secos & Molhados), figurino ousado, efeitos pirotécnicos, sangue cenográfico, lança chamas e baratos afins, sempre souberam muito bem o que fazer musical e mercadologicamente. O Kiss é a banda que mais despudoradamente une a música ao marketing. E faz ambos bem, sem nenhum conflito ético. Seu site oferece centenas de produtos licenciados, desde babadores para bebês até caixões. Do berço ao inferno, a banda te acompanha. E a recíproca é verdadeira: o Kiss conta com fã clube fiel e entusiasmado, o Kiss Army.

O set list desta noite é fortemente calcado no álbum Alive I (depois, vieram o II e o III), que completa 35 anos em 2010. Um desfile de clássicos da banda, até porque faz tempo que eles não lançam nada de novo que preste.

Faltam poucas horas para o tradicional grito de abertura: “Alright, (nome da cidade)! You wanted the best, you got the best. The hottest rock n’ roll band in the world, Kiss!” e ainda não decidi se vou. Puro receio de macular as lembranças daquele show de décadas atrás. Eu era um moleque ainda e aquele foi meu segundo show de rock. O primeiro havia sido o de Peter Frampton, no Maracanãzinho, em 1982. Fui com bons amigos (amigos até hoje) e minhas primas gostosas (gostosas até hoje) que eram loucas pela banda. Eu imaginava o que faria se tivesse aquela língua solta e comprida do Gene Simmons. Também não esqueci o dia em que um grande amigo, que já deixou este mundo, me ensinou a tocar na guitarra o riff inicial de War Machine, do mesmo Creatures of The Night.

Lembro de chegarmos ao Maracanã e sermos abordados por um monte de evangélicos distribuindo panfletos pedindo para não entrarmos no show, porque Kiss , supostamente, queria dizer Knights In Satan Service. Patético. É impressionante como as religiões prosperam na ignorância.
Eu saí do Maraca naquela noite com a fé mais absoluta de que minha alma estava lavada e salva, e jamais deixei de querer Rock’n’Roll All Nite.

domingo, 5 de abril de 2009

Réquiem para Cobain



Hoje faz 15 anos que Kurt Cobain se suicidou, com um tiro de espingarda na cabeça, e entrou para a galeria de mitos autodestrutivos do rock, especialmente rica na sala dedicada aos que se vão aos 27 anos. Já falamos sobre isso no texto Forever 27, publicado em 6 de setembro de 2008.

Cobain, à frente do trio Nirvana, foi o cara que deu as bases para o grunge, o som pesado e niilista da chuvosa Seattle. Foi ele quem fez o que de mais inovador o rock produziu nos anos 1990. E quase tudo que veio depois tem, em maior ou menor grau, influência dele.


Além do legado musical, Cobain deixou a segunda viúva mais odiada da história do rock, Courtney Love. A primeira e hors-concours, é, obviamente, Yoko Ono.

Aproveite o domingo para ouvir, em alto e bom som, o álbum “Nevermind”, aquele do bebê na capa nadando atrás da nota de dólar, e que gerou o hino daquela geração que Cobain soube captar como ninguém: “Smells like teen spirit”. Depois, ouça também o irrepreensível “Unplugged in New York”, de longe, o melhor acústico que a MTV já produziu.

R.I.P.

Psicodelismo na Fonte

Cogumelos & Rock. Foto: Leandro Wirz

Saca só este flagrante de psicodelismo no bairro da Fonte da Saudade, no Rio. A palavra “rock” grafitada em múltiplas cores no muro e cogus brotando ao sol.

Ao topar com esses cogumelos que nasceram depois de dias de chuva, graças ao adubo das fezes dos cachorros, e não do estrume dos bois, pensei em velhos conhecidos da geração Woodstock-Mauá, bichos-grilo totais, que poriam para tocar um velho vinil prog do Yes e convidariam para o chá das cinco.

Será que a psicodelia dos anos 1965 a 1975 é fonte de saudade para alguém? No Brasil, era tempo de censura, de gente sendo calada e morta nos porões da ditadura militar. Tempo de drogas lisérgicas usadas ingenuamente como forma de abrir canais de percepção e sensibilidade. Por outro lado, era um tempo de liberação sexual, de luta por igualdades de direitos para mulheres, negros, homossexuais e tempo de rock do bom. Para mim, era ainda tempo da infância brincando com os primos no quintal da Vó.

Depois eu cresci um pouco e sonhei tocar como Hendrix:
“Not necessarily stone, but beautiful”.


sábado, 4 de abril de 2009

Os caras e Deus

Estêncil em muro de Buenos Aires. Foto: Leandro Wirz

Barack foi pro buraco. O homem despencou no meu conceito. Tudo porque afirmou na reunião do G-20 que “Lula é o cara, é o político mais popular da Terra”. E eu que sempre pensei que O Cara fosse o Romário!

Agora, com o índice de aprovação batendo a casa dos 80% e este aval do Obama, quem vai segurar a onda (ou seria a marolinha) do Lula?!

A expressão em inglês que Obama usou foi “He is my man”. E a gente não pode desprezar esse “my” aí. É como se fosse “esse é um dos meus homens, esse trabalha para mim, esse joga no meu time”. Talvez haja uma certa hierarquia implícita. Tipo “conto com esse cara na minha equipe”.

Com esse afago no ego do nosso líder, o espertíssimo Obama cooptou "o cara". Quero crer. Afinal, Barack não ia dar uma de Bush e falar bullshit.

E falando em gente que se acha, “o cara” diria que deus sifu nesta semana. Sim, o deus Maradona desabou do alto do seu ego e da Cordilheira dos Andes ao sofrer uma humilhante goleada de 6 X 1 da Bolívia em La Paz.

Um jornal boliviano estampou na capa no dia seguinte à vitória histórica: “Heresia! Goleamos deus!”

Ok, esse resultado jamais aconteceria se deus ainda jogasse na seleção argentina, e não apenas a treinasse. E também não aconteceria se o jogo tivesse acontecido em condições normais de temperatura, pressão e altitude.
Em respeito aos que sofrem os efeitos devastadores do vício e tentando dar um drible de canhota no óbvio, vou resistir a fazer gracejos relacionando Maradona e o principal produto de exportação da Bolívia.

Maradona pagou a língua. No ano passado, quanto a Fifa tentou proibir jogos em cidades com altitudes acima de 2.750 metros, como La Paz e Quito, ele foi ser garoto propaganda de Evo Morales e afirmou que era tranqüilo jogar nas alturas. Sifu.

Mas a gente também sifu. É porque o assunto da semana é a derrota da Argentina e não a vitória do Brasil sobre o Peru. Sob a égide de Dunga, a Seleção continua a apresentar um futebolzinho anão. (Desculpem-me, Mestre, Feliz, Dengoso, Zangado, Atchim e Soneca).

Eu não dou traço

Grafite em muro em Botafogo, Rio. Foto: Leandro Wirz


Eu tenho audiência!!!!! Ontem, recebi bem-vindo puxão de orelha de uma leitora ávida. Ela reclamou que já estava mais do que na hora de atualizar este blog, já que ela entra aqui todos os dias, e não vinha encontrando textos novos.

Sorry. Felizmente, sobram idéias. O que falta mesmo é tempo e disposição para o tico e o teco vencerem o cansaço e produzirem estas mal traçadas linhas.

E quanto a vcs, meus outros zilhões de leitores, sigam o exemplo dessa leitora assídua (não, não é a minha mãe) e naveguem com mais freqüência nestas águas. O mar está para peixe.