quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Boas palavras

Eu sou um apaixonado pelas palavras. Em minhas andanças urbanas, gosto de clicá-las em muros, placas, anúncios, cartazes. A seguir, algumas delas, que eu espero que te acompanhem em 2010.










Fotos: Leandro Wirz

Mantença

Foto: Fernanda Siqueira

Hoje é dia de retrospectiva e de esperança, essa palavra linda em forma e conteúdo. Planos, promessas, projetos. É dia de acreditar – ou de se iludir – de que as coisas vão mudar no próximo ano. Ao menos algumas coisas, especialmente as que dependem só de você, podem mesmo mudar.

Eu já passei réveillons desejando muitas mudanças. Mas agora eu ando, no que diz respeito ao meu pequeno universo, querendo manutenção. Eu quero manter o meu casamento, com amor e harmonia; manter o meu emprego, porque gosto do que faço, onde faço, com quem faço; manter a minha saúde, porque mesmo meus maus hábitos não conseguiram detoná-la; manter a minha família e os meus amigos por perto; manter a minha casa gostosa; manter este blog interessante e divertido.

Conjugo o verbo manter, no sentido de conservar, preservar, cuidar, zelar. Manter não significa estagnar, nem deixar de evoluir ou de ambicionar. Sempre é possível melhorar. Mas eu estou no caminho em que quero dar os próximos passos. Como a mulher desta foto inspiradora, que segue decidida ao encontro do mar.

Manter é minha primeira e mais importante conquista.




ps.: um mar de coisas boas para você em 2010. Volte sempre.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Bon vivant

Em seu cinquentenário, eu trocava novidades, ideias e filosofia barata com um grande amigo, fotógrafo, bom de prosa e de copo, na melhor tradição mineira.

Como me conhece há tempos, ele sabe que não tenho a intenção de ser pai nesta vida. Não vem ao caso agora se é por opção, preguiça, egoísmo, imaturidade, desinteresse, falta de saco para crianças ou qualquer outra razão. (Difícil mesmo é encontrar uma razão para ter filhos. Razão e não emoção).

Lá pelas tantas, meu amigo, pai de duas adolescentes, disse: “-É, camarada, não tenha filhos mesmo, não. Isso não combina com você. Você é muito livre e é um bon vivant.”

Bon vivant?! Eu?! Só porque admiro o modus vivendi do finado Jorginho Guinle ou de Hugh Heffner? Por que tenho pendores e despudores hedonistas?

Ah, meu caro, quem me dera ter todo esse savoir-vivre. Quem me dera saber fazer poesia dos dias e atravessar a vida com a elegância dos verdadeiros sábios.

Este ano acaba e logo outro começa. E ainda tenho tanto por aprender. Preciso aprender a dar importância ao que realmente importa, descartar as culpas improdutivas, ser mais paciente, principalmente com quem fala na velocidade de um monge budista contemplando as montanhas do Tibete.

Também preciso aprender a ser mais humilde. Mas aí, toda vez que eu tento, me faltam argumentos.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Flash vintage

Flash Mobs são aglomerações instantâneas de pessoas em um local público para realizar determinada ação inusitada previamente combinada. Tudo começa e se dissipa velozmente.

No último dia 23, a TAP, companhia aérea portuguesa e a ANA, órgão regulador da aviação naquele país, fizeram uma flash mob no aeroporto de Lisboa para desejar boas festas aos passageiros de uma maneira mais divertida e original, ao som de “Dancing Queen”, “Rock around the clock”, “Mas que nada” e “All I want for Christmas you.”

Fosse por aqui, ia ser ao som de samba, que é tudo como acaba. Mas aí não ia acabar. Logo teria alguém vendendo uma cervejinha no isopor, uns cambistas vendendo ingressos falsos para assistir à performance de uma suposta área vip com open bar, uns guardadores de carrinhos de bagagens e por aí vai, posto que somos um povo criativo e original na tal da economia informal.

Enfim, esqueça o Brasil e vá para o aeroporto lisboeta, ao menos por sete minutinhos, tempo de duração do vídeo.

Fazendo contraste com esse jeito moderninho, registro minha satisfação por ter recebido de uma amiga que vive em Cheshire, cidade bem pequena em Connecticut - EUA, um cartão de Natal impresso, entregue pelos Correios à moda antiga. Não que ela seja pré-histórica ou viva desconectada. Foi apenas a sua escolha, cheia de charme vintage.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Outra pessoa



Teve cueca, teve meia, e do indefectível triunvirato de presentes de tia, faltou a gravata, que nestes dias de calor converte-se em instrumento de tortura.

Já não teve CD, posto que é objeto que caminha célere rumo a obsolescência. Mas teve livro. E não poderia ser melhor. Lancei-me a ele logo na madrugada do Natal.

Uma antologia de Fernando Pessoa, publicada pelo selo Alfaguara, da Editora Objetiva, em 2006. “Um livro para apaixonados”, nas palavras do escritor e organizador Luiz Ruffato.

A caprichada antologia abre com meu poema favorito – se é que possível ter apenas um favorito quando falamos de Pessoa – “Tabacaria”:
“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”

E por aí vai, na sucessão de lirismo, sabedoria, ironia, sensibilidade e porrada.

O título da antologia é “Quando fui outro”. Eu sou outro. Eu sempre sou outro. Especialmente quando leio Fernando Pessoa.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Have yourself...

No Natal, você pode ouvir pela enésima vez aquelas músicas que se tornaram clássicos natalinos. Você pode encontrar facilmente centenas de versões de "Silent night" ("Noite feliz"), por exemplo. E algumas delas ainda serão pungentes, emocionantes. Você também pode encontrar outras tantas versões de "Have Yourself a Merry Little Christmas", gravada pela primeira vez em 1944, por Judy Garland e maravilhosa tanto na voz de Frank Sinatra, como na de Chrissie Hynde, do The Pretenders.

Faça você mesmo um Natal melhor para si. A partir de pequenas coisas. Comece clicando no link a seguir, para assistir a uma cena bem legal de um filme chamado "Love, actually" ("Simplesmente amor"). É uma comédia romântica inglesa, de 2003, escrita e dirigida por Richard Curtis, com elenco estelar.

Ela está em casa, assistindo TV com o namorado, quando o amigo toca a campainha, põe "Silent Night" para tocar e...

"Enough. Enough now."

http://www.youtube.com/watch?v=5m2T5yfgsZ0&feature=related

Exageros à parte


Como não tenho religião, o Natal é apenas um feriado no verão, quando trocamos presentes, comemos peru e rabanada, revisitamos parentes (esses estranhos íntimos...) e ficamos bêbados. Aliás, parece que o mundo inteiro fica bêbado. E fica como aqueles bêbados chatos que grudam em você com bafo de pinga e dizem: - “Te considero a pampa. Te amo muito. Te adoro pra cara....” e outras bobagens deflagradas pelo álcool, antes de vomitarem panetone no seu colo.

Os bêbados do mundo também enviam cartões virtuais e apresentações em power point com imagens e trilha sonora cafonérrimas, e fazem ligações fora de hora para desejar boas festas aos berros. – “Obrigado, pra você e sua mãe também”, respondo.

A galera surta no Natal. Pira geral. Os bêbados do mundo pedem “desculpa aí por qualquer coisa” supostamente feita ao longo do ano e insinuam um encontro futuro, com direito a irritante erro de português: - “Vamos marcar de se ver”. Nunca, meu caro, nunca.

Recebi uma mensagem de uma simpática corretora de imóveis com a qual não troquei ao longo do ano mais do que meia dúzia de e-mails, todos estritamente profissionais. Ao final de uma sequência de clichês, ela escreveu: “Conte sempre comigo. Abraços de uma pessoa que te gosta muito.”

Você pode dizer que a moça só estava tentando ser agradável e eu sou um velho rabugento que merecia passar o Natal sozinho. É verdade. Mas eu nunca a vi pessoalmente, acho que nem falamos por telefone. Também não fechei negócio com ela, o que talvez pudesse justificar tamanho apreço pela minha pessoa. Agora me diz se sou eu que estou exagerando?

Caixinha do blog



Dezembro é o mês das caixinhas: dos porteiros, do entregador de jornal, do carteiro, da moça do cafezinho e de todo mundo que resolve te lembrar que eles existem e fazem alguma coisa por você durante o ano.

Eu não sei se faço alguma coisa útil por você, mas como lavo o rosto todas as manhãs com o seu sorriso e o meu pós-barba é óleo de peroba, eu estou aqui para pedir também. Veja bem, eu poderia estar roubando, eu poderia estar comendo panetone, eu poderia estar no governo. Mas tô aqui, humildemente, pedindo para você cair na minha rede.

Para ilustrar este texto e pedir este presente, coloquei até uma foto desse cachorro com gorro de Papai Noel para te lembrar da generosidade do espírito natalino. Usar cachorro e criança em propaganda é golpe baixo, mas eu tenho que apelar. Afinal, não sou nenhum modelo de bom comportamento e, por isso, é bem provável que eu não receba a visita de um gorducho barbudo vestido de vermelho que vai chegar aqui em casa em um trenó puxado por renas e vai entrar pela chaminé.

Caixinha de blogueiro são os comentários deixados pelos navegantes – por isso, não se acanhem! – e são os leitores fiéis que se cadastram como seguidores. É simples, rápido e grátis. Vai lá na coluna da direita, onde estão a palavra “cardume”, um grafite de peixes e as fotos de uma galera que já teve coragem de assumir que é leitora assídua deste mar de coisa. Clica em “Seguir” e se identifica. Só isso.

Neste Natal, faça um blogueiro feliz. Eu sei que, no fundo, você tem um bom coração. Capaz até de perdoar este texto descaradamente piegas.

Será?

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um dia com ela




Eu e minha mulher fazemos questão (ainda, e espero que sempre) de comemorarmos a data em que começamos a namorar, a data em que, dez meses depois, deixei Brasília para morarmos juntos e a data em que, mais catorze meses, oficializamos o casamento e ela passou a me dar a honra e a alegria de usar o meu sobrenome.

Recentemente, fizemos mais um aniversário de casamento e ela havia me dito que queria passar um dia bem romântico.

Começamos com um café da manhã quase a uma da tarde numa delicatessen do Leblon. Ótimo. Mas daí em diante, foi uma sucessão de programas de índio.

Sob um sol de rachar, procuramos um produto específico numa feira hippie, encaramos um shopping lotado às vésperas do Natal, comemos pizza estilão “de padaria” na praça de alimentação e fizemos compras no supermercado.

Como se vê, uma programação completamente sem glamour.

Mas quer saber? Curtimos juntos cada momento do dia. Desta vez, não sentimos falta do jantar a luz de velas em um restaurante charmoso. Claro que é fundamental e delicioso fugir da rotina e viver momentos especiais. Mas neste ano não rolou.

Ainda assim, pela companhia, o dia foi gostoso e divertido.

Esta crônica é uma declaração de amor e uma maneira de celebrar a delícia da convivência. A rotina destrói um casamento. A ausência de rotina destrói mais ainda.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Abraços partidos



Allen e Almodóvar podem não ser os melhores cineastas do mundo (até porque essa história de “melhor do mundo” em qualquer área é uma bobagem), mas são os que hoje me fazem ir ao cinema assim que lançam seus filmes. Não sou um super cinéfilo. Apenas gosto de boas histórias e da maneira como elas são contadas.

“Los Abrazos Rotos” (“Abraços Partidos”, na tradução brasileira), o novo do espanhol Pedro Almodóvar, traz aquela latinidade toda: amor, paixão, desejo, sofrimento, sofreguidão, drama, tragédia, comédia, poesia, traição, culpa, segredos, sexo (logo na primeira cena), sacrifício, superação, fatalidade, família. Tudo junto e misturado.

Tudo com a dose certa do exagero, se é que isso é possível. Tudo intenso, vibrante, colorido. Mesmo com o roteiro previsível, é uma delícia acompanhar o desenrolar do novelão protagonizado pelo escritor Mateo Blanco, que adota o pseudônimo de Harry Caine. Por sinal, óbvio trocadilho com hurricaine (furacão) e sua força transformadora. O ator Lluís Homar, que vive na tela o escritor cego, guarda impressionante semelhança física com o finado Patrick Swayze. Seu cigarro entre dedos me deu uma nostalgia dos meus. Curioso observar que nas cenas de décadas anteriores os personagens fumam e nas cenas passadas no tempo presente da narrativa, eles já não fumam mais.

Penélope Cruz está em ótima forma no filme, em todos os sentidos. A fotografia é belíssima e a trilha sonora sublinha a carga dramática de algumas cenas deste filme que se vende só pela força e poesia do título. E que vale ser visto.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Até o fim



Amigo meu, servidor público concursado, é desses raros que trabalha com afinco. Não é homem acostumado ao ócio, nem é de se conformar com o tédio. Jornalista premiado, espírito irrequieto, se atrapalha quando as horas lhe sobram.

Eis que numa tarde de terça-feira de suas férias, resolvidos assuntos pessoais, e antes de cruzar a Ponte JK, ele decide matar tempo na Academia de Tênis, reduto tradicional de bons filmes em cartaz em Brasília.

Pergunta à moça da bilheteria qual o próximo filme que está por começar. Ela informa o título. Ele indaga sobre o que é. Ela dá a sinopse: é sobre dois irmãos que se apaixonam. Pensou ele: "opa, se tem romance entre casal, então deve rolar pelo menos um peitinho."

Sim, havia romance. Mas o casal da história é homossexual. O filme “Do começo ao fim”, de Aluizio Abranches, conta a história de dois irmãos por parte de mãe, dois homens que se apaixonam um pelo outro.

Meu amigo é nordestino cabra-macho, vez ou outra até com ranço machista, fã de Ramones, que ouvíamos no último volume cruzando as entrequadras. Sentiu ligeiro desconforto por estar ali, talvez o único hetero na platéia. Mas amante da sétima arte, apreciou o filme do começo ao fim e elogiou sobretudo o roteiro.

No entanto, saiu da sala tão logo começaram a surgir os créditos na tela e antes que se acendessem as luzes. Ele não é, nem de longe, homofóbico. Apenas não queria parecer algo que não é. Pai de família, temeu dar pinta.

Bobagem. “O mundo é gay”.

A e B

Eu já tinha lido uma frase maravilhosa do humorista Cláudio Manoel, da Turma do Casseta sobre o título do Vasco: "Comemorar título de campeão da Série B é como comemorar saída de parente da cadeia. É bom, mas dá uma vergonha..." Perfeito.

E agora há pouco, recebi de uma amiga outra frase ótima que não resisto a compartilhar: "O Vasco é tão vice, mas tão vice, que quando ganha a Série B, o Flamengo ganha a Série A".

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Casa da luz vermelha

Foto: Leandro Wirz



As luzes vermelhas dos eletrônicos em stand by me espreitam na madrugada insone.

Palavra final

Ela, aos berros:
- Seu safado, cachorro, sem-vergonha, canalha, vagabundo, traidor, babaca, cafajeste, escroto filho da mãe!!!

Ele, seco:
- Gorda.

Foi aí que a briga ficou feia e a coisa saiu do controle.

Ele descansa no jazigo da família.

Ela responde ao processo em liberdade.

E malha três horas por dia.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Lost in Niquiti



Eu gosto de casamentos. Não só dos meus, mas dos outros também. São rituais bacanas, cheios de simbolismo amoroso e esperança, onde, com frequência, me emociono. Ah, e as festas costumam ser bem fartas e animadas.

Por tudo isso e, principalmente, pela amizade com o casal, fui a um casamento em Niterói, logo ali do outro lado da poça da Guanabara. Niterói é a ilha de Lost. A qualquer momento, eu sentia que poderia esbarrar com aquele padre que partiu de Santa Catarina agarrado em balões de gás e, of course, got lost.

Niterói é uma cidade simpática, que alguns chamam de “Niquiti” (será uma corruptela de Niterói City?), com a melhor vista do Brasil. Mas é pessimamente sinalizada. Como todo macho de boa estirpe, eu me perco, avanço por tentativa e erro, mas resisto ao máximo em pedir informações a alguém, e assim, assumir que não sei exatamente onde estou. Pela mesma razão, tenho uma recusa ideológica ao GPS, que é apenas o modo high-tech de pedir informaçao a alguém na rua.

No entanto, estávamos próximos ao horário da cerimônia e minha mulher já me lançava olhares ameaçadores. Capitulei e perguntei. O primeiro respondeu: “- É fácil, você segue ali, pega ali na segunda à direita e vai toda vida.”

Temi que esta orientação fosse literal. Segui à risca as orientações apenas para continuar perdido. Então, emparelhei o carro a um outro com placa local e perguntei novamente. Esse me pediu que o acompanhasse, porque estava indo para aqueles lados, seja qual lado fosse àquela altura. Deu certo, chegamos a tempo de ver todo o cortejo de padrinhos, pais e, claro, a noiva atravessarem a nave da igreja.

Da igreja para o clube onde seria a recepção, outro périplo. Uma amiga niteroiense, cheia de boa-vontade, nos deu as dicas: “É fácil. Segue o fluxo até o final da rua, depois do sinal, tem uma guarita da PM, meio apagadinha, você vira à esquerda e segue...”

Deu água de novo, como se jogássemos batalha naval. Resignado, iniciei o inquérito junto aos transeuntes. O primeiro, disse “’E fácil”, e me orientou a seguir ali, dobrar acolá, pegar o contorno, virar não sei onde. O segundo respondeu: - “E fácil, você segue ali, adiante vira à...” e começou a falar em sequência um monte de nomes de ruas como se eu tivesse a maior intimidade com elas. Eu ali, com cara de paisagem, fingindo estar entendendo tudo só para não interromper a eloquente solicitude do cidadão. Mas em sua explicação, quase tão extensa quanto o percurso, a frase mais esclarecedora foi: “o senhor dá um jeito de entrar na Miguel de Frias”. Então, tá,claro, deixa comigo. Miguel tá no papo. Ao final, ele coroou o discurso: “Quando chegar lá, o senhor se informa melhor”. Como assim, amigo?! Vou achar alguém no mundo que me explique o caminho melhor que você?!

Já tínhamos notado que, em Niterói, volta e meia, há uma bifurcação, mas o povo de lá usa o “vira ali”, em substituição aos tradicionais “direita ou esquerda”.

O terceiro sujeito também começou a frase com “É fácil...”. Para mim, já foi difícil não partir para a ignorância, mas ouvi pacientemente, enquanto minha mulher e o casal que nos acompanhava se esborrachavam de rir no carro. Mas o bom sujeito disse para eu seguir ali, e quando chegasse na esquina do mercadinho – que, frisou, estaria fechado àquela hora – eu virasse à direita e no próximo cruzamento seguisse em frente, porque o clube era logo ali no início da ladeira.

Chegamos à esquina da rua do clube e nela há um imenso posto de gasolina Esso com um gigantesco tigre inflável e iluminado. Fiquei pensando porque ninguém me deu essa referência, muito mais visível do que o discreto mercadinho que estaria fechado. Um amigo do ramo do petróleo observou que no tal posto havia uma loja de conveniência da Hungry Tiger, marca que deixou de existir no mundo todo há anos. Para nós, isso é prova inconteste que o pessoal de rebranding da companhia não chegou lá, porque Niterói é mesmo a ilha de Lost.

Enfim, chegamos à festa e ela honrou com louvor as expectativas. Bebida, comida, risadas, fotos, danças, micos, e tudo que uma festa boa costuma ter. Mesmo quando toca funk e a gente vai até o chão. Culpa exclusiva do álcool.

Bem, fim de festa, alta madrugada e para voltar para o Rio, bastou seguir os barbantinhos que deixei amarrados nas árvores no caminho de ida. Foi fácil...

sábado, 12 de dezembro de 2009

Falo

Falo e digo que ela acertou em cheio quando chamou o pau de ego.

Falando m...


charge de Chico, publicada no jornal O Globo.

Nesta semana, na terra do Sir Ney, Lula fez discurso para a massa e disse que quer “tirar o povo da merda”.

Que merda, hem?

A intenção é boa, a melhor possível, e eu juro que gostaria de acreditar. Mas da mesma forma que presidente não precisa fazer discurso de doutor da Sorbonne, também não precisa nivelar tão por baixo e usar palavrão para se expressar. Vamos combinar que não é o melhor exemplo a ser dado por um presidente. Dá para ser acessível, falar fácil, ser entendido pelo povo, sem fazer discurso de merda.

No mais, acho que para tirar o povo da merda, só mesmo fazendo suas malas e indo para o exterior.

Opa, melhor não falar em malas.

Porque há malas que vem para DEM. E isso é exemplo muito, mas muito, pior do que o palavreado chulo do dito cujo. E é por culpa dessas malas carregadas ao longo de séculos neste país por muitos outros malas que tem sido tão difícil tirar o povo de onde ele está para colocá-lo em lugar melhor.

Bem, chega de falar de merda. Para fazer as pazes com a língua (o idioma, no caso), recomendo a leitura de "Palavreado", texto do Luis Fernando Veríssimo. Eis o link: http://literal.terra.com.br/verissimo/porelemesmo/porelemesmo_palavreado.shtml?porelemesmo

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Sempre na minha cabeça

Bem, eu juro que eu estava procurando uma versão dessa música cantada pelo Elvis para romanticamente mandar o link para a minha mulher no meio de uma tarde chuvosa.

Aí me deparei com esta, da Shakira, em que ela canta...

ela canta…

é….

Shakira canta….

hummm....

ela canta....

como é o mesmo nome dessa música, meu Deus?!.

Quem consegue prestar atenção no que ela canta com um decote desses??!!!

Depois de assistir 318 vezes seguidas ao vídeo – sem áudio – dei uma lida nos comentários. Uns pró, outros contra, e ao menos dois deles, ótimos:

“Elvis will sleep with her for her great effort but his was and still is the best version.” Concordo que a versão do Elvis é imbatível, mas o Rei dormiria com ela independente do esforço dela para cantar direitinho essa música.

“A day will come when someone in the first row will speak out... Please stop and take off your clothes already” Apoiado!!!


Então, para agradar ou irritar “gregos e goianos”, meninas e meninos, seguem as duas versões. O vídeo com a Shakira está logo aqui e na sequência está o link para o vídeo do Elvis, que enviei para a minha mulher, “Always on my mind.”






http://www.youtube.com/watch?v=DbpLU4oPV90

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Da minha precoce nostalgia




Alguns leitores (mulheres e vascaínos, majoritariamente) acham que eu preciso me redimir depois de tantos posts sobre futebol e o Mengão. Então, passada a ressaca da vitória (vocês não acham que eu bebo só pra esquecer, né?), publico agora um texto “fofo”. (Arre, detesto esse adjetivo!)

Sem ironias. O texto, com autoria atribuída a Maria Sanz Martins, me foi passado por e-mail por um amigo. Eu achei bem bacana e então o relanço ao mar para que chegue a outras praias...

Fica como uma homenagem a minha sábia e afetuosa avó materna, que combinava duas virtudes que a tornavam admirável: delicadeza e força. Saudades, Vó.




Da minha precoce nostalgia
Por Maria Sanz Martins


“Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de, num dia de domingo, me sentar na poltrona da biblioteca e, bebendo um cálice de Porto, dizer a minha neta:

- Querida, venha cá. Feche a porta com cuidado e sente-se aqui ao meu lado. Tenho umas coisas pra te contar. E assim, dizer apontando o indicador para o alto: - O nome disso não é conselho, isso se chama corroboração!

Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, levantei e cheguei a algumas conclusões. E agora, do alto dos meus 82 anos, com os ossos frágeis a pele mole e os cabelos brancos, minha alma é o que me resta saudável e forte.

Por isso, vou colocar mais ou menos assim:
É preciso coragem para ser feliz. Seja valente.
Siga sempre seu coração. Para onde ele for, seu sangue, suas veias e seus olhos também irão. E satisfaça seus desejos. Esse é seu direito e obrigação.

Entenda que o tempo é um paciente professor que irá te fazer crescer, mas escolha entre ser uma grande menina ou uma menina grande, vai depender só de você.
Tenha poucos e bons amigos. Tenha filhos. Tenha um jardim.
Aproveite sua casa, mas vá a Fernando de Noronha, a Barcelona e a Austrália.

Cuide bem dos seus dentes.
Experimente, mude, corte os cabelos. Ame. Ame pra valer, mesmo que ele seja o carteiro.

Não corra o risco de envelhecer dizendo "ah, se eu tivesse feito..."
Tenha uma vida rica de vida.
(Vai que o carteiro ganha na loteria - tudo é possível, e o futuro é imprevisível.)

Viva romances de cinema, contos de fada e casos de novela.
Faça sexo, mas não sinta vergonha de preferir fazer amor.
E tome conta sempre da sua reputação, ela é um bem inestimável. Porque sim, as pessoas comentam, reparam, e se você der chance elas inventam também detalhes desnecessários.
Se for se casar, faça por amor. Não faça por segurança, carinho ou status.

A sabedoria convencional recomenda que você se case com alguém parecido com você, mas isso pode ser um saco!

Prefira a recomendação da natureza, que com a justificativa de aperfeiçoar os genes na reprodução, sugere que você procure alguém diferente de você. Mas para ter sucesso nessa questão, acredite no olfato e desconfie da visão. É o seu nariz quem diz a verdade quando o assunto é paixão.
Faça do fogão, do pente, da caneta, do papel e do armário, seus instrumentos de criação. Leia, pinte, desenhe, escreva. E por favor, dance, dance, dance até o fim, se não por você, o faça por mim.

Compreenda seus pais. Eles te amam para além da sua imaginação, sempre fizeram o melhor que puderam, e sempre farão.
Cultive os amigos. Eles são a natureza ao nosso favor e uma das formas mais raras de amor.

Não cultive as mágoas - porque se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo cinza.
Era só isso minha querida. Agora é a sua vez. Por favor, encha mais uma vez minha taça e me conte: como vai você?”

domingo, 6 de dezembro de 2009

O hexa é nosso

Decisão




Amigo mais vivido, mestre das estratégias de comunicação, homem sensato (tanto quanto é possível a um gremista) defende a tese que se Inter, Palmeiras e São Paulo estão dependendo do Grêmio para ser campeão é porque foram incompetentes para ter os pontos necessários e não deveriam vir agora pressionar nem culpar o Grêmio.

Ele admite que, mesmo com o time titular, o Grêmio teria dificuldade de ganhar do Flamengo no Maracanã. Ele não acredita em “entregar”, acha que o tricolor gaúcho vai jogar, mas dificilmente ganhará.

E considera terrível o seu dilema: “escolher entre o Flamengo e o Inter para decidir o campeão, é como chegar na eternidade e ter que decidir entre purgatório e inferno...”

O céu é rubro-negro.

sábado, 5 de dezembro de 2009

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Entregar ou não entregar, eis a questão



Debates acalorados fazem ferver os buracos quentes da cidade nesses dias de calor. Não se fala em outra coisa, para desespero de algumas namoradas e esposas. O controvertido campeonato brasileiro por pontos corridos conseguiu finalmente ser emocionante, para tristeza daqueles que defendem a fórmula com jogos de ida e volta na final.

Chegamos a última rodada e quatro times (Flamengo, Internacional, Palmeiras e São Paulo) têm chances de serem campeões. Mas o que esquenta as discussões é a possibilidade de o Grêmio entregar o jogo para o Flamengo. Para quem não acompanha o campeonato, eis o resumo da ópera: o Flamengo lidera e se vencer o Grêmio será o campeão. Simples assim. Agora, se empatar, ou se o Grêmio vencer, e o Inter ganhar o seu jogo contra o Santo André, então o Inter será o campeão. O Grêmio joga apenas para cumprir tabela, mas se atrapalhar o Flamengo, pode entregar o título ao Inter, seu arqui-rival no seu Rio Grande do Sul. Lá a rivalidade é tão intensa que nas casas de alguns gremistas, nem o Papai Noel se veste de vermelho. Ele usa azul.

Colorados desesperados vêm apelando publicamente para a honra e a dignidade do Grêmio, para a ética, imputando ao Grêmio a responsabilidade de ser a reserva moral do Brasil e deixar uma bela lição às gerações futuras. Bullshit! No ano passado, este mesmo Inter escalou o time de juvenis contra o São Paulo, para perder e então fazer com que o Grêmio fosse superado na liderança da tabela pelos paulistas.

O campeonato não é feito de um jogo só. É estratégia. Ao longo dele, vários times escalam equipes reservas e ninguém apela à falta de ética. Quantas vezes foi mais interessante perder um jogo para então enfrentar um adversário numa fase seguinte de campeonato? Até em Copa do Mundo se faz isso.

Mas o fato é que o debate ético caiu na boca do povo, mais ou menos como ocorreu quando Zeca Pagodinho fez campanha para a cerveja Nova Schin e, ato contínuo, para a Brahma. Até minha mãe, que não entende e nem gosta de futebol, veio me dizer que será feio se o Grêmio entregar o jogo para o Flamengo.

Acho que essa celeuma toda sobre se o Grêmio vai ou não entregar o jogo é fomentada pelas torcidas adversárias na tentativa de esvaziar a provável conquista do Flamengo. O Flamengo chegou até a posição de líder porque tem méritos e venceu durante o campeonato todos os seus três oponentes finais: 4X0 e 0X0 contra o Inter; 1x2 e 2x0 contra o Palmeiras; e 2x2 e 2x1 contra o São Paulo. Portanto, o Flamengo não precisa da ajuda do Grêmio para ser campeão. Ele tem plenas condições de ganhar do Grêmio, sem que este faça corpo mole.

A torcida do Grêmio iniciou o movimento “Entrega, Grêmio” pedindo acintosamente que o time perca para não dar o título ao rival histórico. Os jogadores, que hoje vivem mudando de clube, alegam profissionalismo e dizem que não vão entregar os pontos.

Por outro lado, a torcida do Flamengo adaptou a letra do seu hino de guerra deste ano e gentilmente irá cantar domingo no Maracanã: “Vamos, FlaGrêmio, vamos ser campeão (sic), vamos FlaGrêmio...”

Perguntei a um velho amigo, rubro-negro fundamentalista, se caso o Flamengo estivesse na posição do Grêmio e o Vasco na do Inter, o que ele faria. “Perderia, claro!” Insisti e perguntei por que. Ele foi ainda mais contundente: “Porque o ódio é mais forte do que o amor”.

Futebol é, antes e acima de tudo, paixão.

Vamos, Flamengo!




ps.: outra velha polêmica é sobre a legitimidade do título brasileiro de 1987 atribuído ao Sport e ao Flamengo. Não vou ressuscitar aqui o imbróglio, mas nos dias de hoje, seria mais ou menos como se o Vasco, campeão da Série B, resolvesse jogar contra o Flamengo, provável campeão da Série A, para então decidir quem é o campeão brasileiro. Ridículo. (O Vasco jamais faria tal reivindicação, até porque sabe que, por tradição, seria vice de novo).

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Twitter & shout

O que você está fazendo agora? Não foi para compartilhar essa nem sempre preciosa informação que o Twitter foi criado? Claro que seu uso foi depois disseminado e ampliado, e hoje serve a propósitos bem distintos. Infla egotrips, espalha poesia, é ferramenta de comunicação corporativa, avisa a última fornada de pão quentinho ou onde tem blitz da Operação Lei Seca.

Mas um americano chamado Dana Hanna levou o hábito (ou vício) de tuitar às últimas conseqüências.

Na hora em que o pastor deu a benção final no seu casamento – e antes de beijar a noiva! – o noivo sacou o seu celular com conexão à Internet, tuitou o seguinte: “Standing at the altar with@TracyPage where just a second ago, she became my wife! Gotta go, time to kiss my bride”. E assinou The Software Jedi. Aproveitou e também atualizou o estado civil no Facebook. Fez isso do altar, para gargalhada geral dos convidados e do pastor, o único com quem ele havia combinado previamente a brincadeira.

Tamanho empenho e apreço pelo mundo virtual pode causar certos constrangimentos na lua-de-mel. Mas isso é problema deles. E, provavelmente, o mundo saberá pelo twitter, como estão indo as coisas. Se você receber um “yes! yes! oh yeah!, fuck me baby! yes” e na seqüência um “aaaaaaahhhhhhhhhhh”, não se assuste, você pode imaginar o que é.

A brincadeira do gaiato tuiteiro talvez tenha sido mais uma ironia sobre a superestimada importância que temos dado às nossas vidas no ambiente virtual, às vezes, em detrimento do real. Será que agora, ao invés de trocar alianças de metal, concreto, nós vamos trocar estados civis na esfera pública virtual? E que será dessa forma que avisaremos ao rol de pretendentes que foram finalmente preteridos(as)? Até a próxima atualização.

Por uma questão de coerência, claro que o vídeo do casamento está no Youtube. Nunca foi tão fácil ser penetra em um casamento.