quarta-feira, 30 de setembro de 2009
A importância do CEP para os cachorros
Todo mundo sabe que os cachorros machos urinam em vários pontos para demarcar seu território. Ali, tá tudo dominado. E cada um fica no seu quadrado.
Mas e homem-cachorro, como faz? Come por CEP.
Explico: conhecida minha contou na mesa do boteco que tinha tido uma noite ótima com um cara casado. Até aí, (quase) tudo certo. O fato de ele ser casado é um assunto entre ele e a sua mulher e não tem nada a ver com a amante.
Aliás, “amante” é um exagero. Afinal, não há amor nesse rolo, só sexo. Além disso, o emprego da palavra “amante” dá a falsa impressão de que é um relacionamento contínuo, o chamado “caso”, para usar outro termo anacrônico. Nesse caso, não era um caso. Tratava-se apenas de um atendimento no varejo. Bom como muitas coisas passageiras, mas nada mais.
Na noite seguinte, a, digamos assim, “Alfa 1”, estava em um táxi quando, numa dessas coincidências de novela, viu o cara passando. Ela então disse ao motorista a clássica ordem: “Siga aquele carro!”.
Conforme os carros iam vencendo as ruas, seu coração se acelerava em romântica expectativa: ele tomava a direção da casa dela! Ele estava voltando, querendo mais do mesmo, mais do que tiveram na tórrida véspera.
Ele estacionou o carro em frente ao prédio dela. Enquanto pagava o táxi, ela notou, entretanto, que o cara se dirigia para a portaria do prédio ao lado. A verdade é que iria se encontrar com outra mulher. Ou seja, com a vizinha, com a “Alfa 2”.
Mulher traída vira bicho. Amante traída – se é que uma amante pode ser traída – comporta-se como mulher traída.
Chegou junto do cara e fez a segunda ameaça mais terrível para um homem (a primeira, óbvio, é um tipo específico de mutilação): “Vou fazer um escândalo!!!”, avisou, fazendo cara de louca.
Ele tremeu e partiu para o “deixa disso, meu bem, vamos conversar”. Foi quando o celular dele tocou. Era “Alfa 2” perguntando as razões da demora. Transmitindo calma na voz, como são capazes apenas os artistas da dissimulação, ele respondeu que tinha dado carona a uma “senhora” do trabalho ( - Como assim, “senhora” ??!!), que estavam conversando um pouco, mas que ele já chegaria.
“Alfa 1” reforçou a ameaça, desta vez, de modo ainda mais contundente. Mas era blefe. Ela não faria um escândalo na porta da própria casa. Afinal, o que os vizinhos iriam pensar?
Mas diante do flagra e das ameaças, o homem-cachorro-fogoso botou o rabo entre as pernas e foi marcar seu território em outra rua, outra quadra, outro bairro. Ali, naquela freguesia, já era.
Moral da história: antes de mudar de CPF, verifique o CEP.
domingo, 27 de setembro de 2009
Barraco chic
Depois de muito reclamar em vão, Carroll compôs uma canção, “United Breaks Guitars”, fez um vídeo de orçamento barato e postou no You Tube.
Resultado: milhões de pessoas viram. Teve 30 mil avaliações cinco estrelas no You Tube e virou um hit na internet. A United então o procurou oferecendo uma grana para que ele retirasse o vídeo do ar. Ele postou um depoimento agradecendo a “generosidade” tardia da companhia aérea, recusando a compensação financeira e sugerindo que a United doasse o dinheiro para a caridade. E fez mais: outra música “United Breaks Guitars - song 2” e respectivo vídeo no You Tube.
Aproveitando a carona, a fabricante do violão, Taylor, também postou um vídeo oferecendo-lhe um novo e explicando a qualidade de seus produtos.
Duas lições podem ser tiradas do episódio: por uma sucessão de equívocos (de operação, de relacionamento com cliente, de marketing, de gestão), além de subestimar o poder da internet, a United arranhou sua imagem. Ou seja, quebrou muito mais do que um violão, cujo valor do ressarcimento seria infinitamente menor.
A segunda lição é que isso tudo é uma aula de barraco. Ao invés de rodar a baiana, descer do salto, gritar, espernear, xingar, fazer escândalo, pense melhor e seja mais criativo e estratégico. Faça um barraco chic quando tiver que reclamar os seus direitos. A Justiça e a internet estão a seu favor. E lembre-se que a vingança é um prato que se come frio.
Assista ao clipe, com legendas em português, de “United Breaks Guitars”. O som é legal e a letra, muito bem humorada. É música country e quem me conhece sabe que adoro o estilo.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
No voto
O governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, afirmou nesta semana, referindo-se ao Ministro do Meioambiente (e dos coletes), Carlos Minc: “Se ele viesse aqui, eu ia correr atrás dele e estuprar em praça pública.” Isso após ter chamado o ministro de “veado”.
Minc respondeu bem: “Ele tem uma visão muito interessante sobre homossexualismo: eu é que sou veado e ele é quem quer me estuprar em praça pública?!”
Pois é, uma baixaria vergonhosa. Esse governador bronco com seus preconceitos, sua homofobia (que, por sinal, é crime) e a concepção equivocada e arcaica, contida na sua declaração destemperada, de que ativo não é gay, só quem é passivo é gay. Acorda!
Enquanto isso, no mundo civilizado, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoe, e o de Berlim, Klaus Wowereit são gays assumidos. Assim foram eleitos democraticamente e sustentam altos índices de aprovação em seus mandatos.
Mas o nível dos políticos brasileiros - que já é péssimo - não tende a melhorar. Pelo menos, a julgar pelas figuras que se filiaram a partidos políticos recentemente visando candidaturas a deputado no ano que vem: Kleber Bambam (o ex-BBB), Simony (ex-cantora infantil), Rita Cadillac (ex-chacrete, pioneira de todas as mulheres-frutas), Romário (ex-craque), Edmundo (ex-jogador de futebol), e Acelino de Freitas, o Popó (ex-pugilista).
Mesmo considerando que suas intenções sejam as melhores, nenhum deles me parece muito preparado para exercer a legislatura. No entanto, graças à fama obtida em outras atividades, talvez consigam ser eleitos. E vão se juntar ao “extraordinário” elenco que já se encontra nas Câmaras estaduais, na Federal e no Senado.
Depende de nós. No voto.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Mesquinharia coletiva
A nada simpática moça do caixa do estacionamento do shopping repete automaticamente diante de todo cliente que lhe entrega uma cédula: “Não tem menor, não?”.
Seu emprego é ruim. Oito horas diárias em um cubículo envidraçado, lidando com dinheiro sujo, e aturando o barulho dos carros na garagem.
Ela não disse bom dia.
O cliente lhe entregou uma nota de R$50 para pagar R$5. O caixa eletrônico do banco é programado para fornecer o menor número de cédulas para a quantia sacada.
Ele não disse bom dia.
Ele respondeu então que não tinha nota menor. Mas como sou alto, pude ver sobre seus ombros que na carteira havia outras notas.
A moça fez uma expressão de incredulidade. Fechou a cara e então deu o troco, literal e metaforicamente. Deu-lhe duas notas de R$20 e para os R$5 restantes devolveu tudo em moedas de R$0,50 e R$0,25.
Nem ele nem ela fizeram nada de ilegal. Ambos estavam dentro do seu direito. Ele de pagar como quisesse e ela de dar o troco como quisesse.
Mas os dois perderam boa oportunidade de, simplesmente, serem gentis. Ao invés disso, preferiram ficar emburrados um com o outro.
“Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, só ficaram no muro tristeza e tinta fresca...” (Gentileza – Marisa Monte)
sábado, 19 de setembro de 2009
Simplesmente
Assisti no CCBB à “Simplesmente eu, Clarice Lispector”, monólogo em que Beth Goulart interpreta a escritora, a partir de fragmentos de textos dela. Não foi a primeira vez. Em Brasília, 2005, assisti outro espetáculo com proposta similar, daquela vez protagonizado por Aracy Balabanian. A razão de ser dessas produções pode residir no fato de que, como escrito no programa da atual montagem, talvez seja a própria autora a personagem mais enigmática do universo de Clarice.
Tudo na peça é bem feito, azeitado. Beth Goulart tem o talento e o physique du rôle, os figurinos são lindos e funcionais, o cenário é clean e prático e a luz também atua para que o conjunto forme um belo espetáculo. Bem, o texto é de Clarice Lispector, então é ótimo. Com direito às muitas frases de efeito que frequentam sua excelente prosa.
Mas ainda assim, apesar de tudo ser tão perfeitinho, a peça é chata. Talvez porque falte ação, talvez porque eu simplesmente não estivesse no clima. Talvez porque esteja me tornando menos sensível. Talvez porque eu tenha aceitado a sugestão de Cazuza e já tenha pago a conta do analista para nunca mais ter que saber quem eu sou. O fato é que ando muito sem paciência para essas questões existencialistas. Quem sou? Por que faço? O que sinto? Por que escrevo? Escrevo o que sou? Sou autor ou personagem? Por que respiro? Ah, não, cansei. Quero tudo mais simples, simplesmente.
Já fui de Shakespeare, mas agora eu quero Shakesbeers. É, “Two beers or not two beers?”. É mais divertido que o tal do “to be”.
Um amigo, que também sentiu vergonha de admitir que não gostou da peça diante da patrulha intelectual, definiu-a assim: "É muito mulher. Ela fica lá andando de um lado para outro, falando um monte de coisa, se questionando o tempo todo...Enfim, ela é uma maluca" . Eu garanto que meu amigo não é nenhum bronco, muito pelo contrário. Seu comentário tem menos preconceito de gênero do que constatação sobre como muitas se comportam.
E eu gosto muito de ler os livros de Clarice, que fizeram parte da minha “descoberta do mundo”.
Poder de síntese
Que livro é este?
Leia o resumo novamente, com mais atenção.
E agora, descobriu?
A Bíblia.
Em sua versão twitter.
Isso é que é poder de síntese. Praticamente um milagre, eu diria.
O nome do santo eu não sei, mas o colunista Alfredo N. diz, na revista VIP deste mês, que uma rede de cursinhos está usando esses resumos no twitter para ensinar literatura.
Não dá para aprender literatura desse jeito, mas a iniciativa é criativa e engenhosa.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Zé Maior
Eu não vejo novela. Juro. Não estou bancando o intelectual pedante, não. Mas sei que começou nesta semana a novela das nove da Globo, “Viver a vida”, de Manoel Carlos. E na trama, para variar, o José Mayer é o galã, o pegador oficial. De cara, ele já está escalado para pegar a bela Giovanna Antonelli e a maravilhosa Taís Araújo. E só poupa a Alinne Moraes, tenho certeza, porque é filha dele na novela.
Consultei o UOL Celebridades e eles prepararam uma listinha básica de quem ele já pegou em outros carnavais, digo, folhetins: Malu Mader, Deborah Secco, Helena Ranaldi, Vera Fisher, Carolina Kasting, Christiane Torloni, Ângela Vieira, Mel Lisboa, Letícia Spiller, Camila Pitanga, Danielle Winits, Giulia Gam, Cláudia Raia e – ufa! -Juliana Paes.
Bem, tem também a Regina Duarte, mas, pelo menos, não tem a Suzana Vieira. Ninguém tem um currículo imaculado, ainda mais sendo um currículo extenso assim. O cara passa o rodo geral!
Quanto mais envelhece (tem 59) mais garanhão fica. É o Richard Gere dos trópicos. Na boa, qual é o segredo do José Mayer? A voz grave, a cara marcada, o jeitão de cafa que tem pegada, o estilo tosco e másculo, os cabelos grisalhos?
Claro que eu estou com inveja. Eu queria viver a vida como o José Mayer. Mas isso, claro, só se eu fosse solteiro. Porque não troco a minha mulher nem por esse elenco todo.
Também ao UOL, o Zé declarou que está “muito confortável voltando ao velho personagem”. Claro, né? Ele ainda disse que mais uma vez “vai convergir para uma esquina, uma confluência onde vêm inúmeras mulheres".
O cara é tão fenomenal que, na madrugada de 16/09/2009, o publicitário Wagner Martins criou o Zé Mayer Facts (http://www.zemayerfacts.com.br) , nos moldes do que já existe com o Chuck Norris. A coisa rapidamente se alastrou pela internet. Confira e ria com alguns dos fatos sobre o Zé. O seu Zé.
Zé Mayer uma vez espirrou em um auditório lotado. Foram registrados 42 orgasmos.
15% das usuárias do twitter tiveram um orgasmo fulminante só por ler a tag #zemayerfacts
Zé Mayer não conta carneirinhos pra dormir. Ele conta helenas
Novela é igual a micareta pro Zé Mayer!
Não foi à toa que a revolução sexual aconteceu nos anos 60, quando Zé Mayer atingiu a puberdade.
Zé Mayer já fez uma mulher gozar com uma piscadela. E ela era cega.
Duas coisas contribuíram para a explosão demográfica humana: a revolução industrial e o nascimento do Zé Mayer.
Zé Mayer broxou uma única vez. Por respeito a sua mãe. Na hora do parto.
A Virgem Maria após conhecer o Zé Mayer passou a atender só por Maria.
Zé Mayer comeu o Mário atrás do armário.
Will Chamberlain disse ter dormido com mais de 20.000 mulheres na sua vida. Zé Mayer chama isso de uma "terça-feira monótona".
Se você digitar "ereção eterna" no Google, aparece "Você quis dizer: Zé Mayer".
O exame de DNA só dá certeza de 99,8%. Seria 100% se Zé Mayer não existisse.
Zé Mayer tira extrato no banco de esperma.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Saco!
Já não basta o sacrifício diário de resistir à vontade de fumar?! Como ficar sem meus venenos diários, se a felicidade é uma coleção de pequenos prazeres?
Meu corpo não é mosteiro, é parque de diversões.
Saco! A vida é uma renúncia.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Balaio de ghosts
Rosa Mouta, do blog O Reino da Alegria, logo sapecou que o ghost havia virado ghost de verdade.
A trilha sonora daquele filme era puxada por “Unchained Melody”, na interpretação do The Righteous Brothers. Hoje, por coincidência, o amigo C., de Brasília, me indicou a versão dessa música na voz de deus. Ou melhor, na voz de Elvis Presley numa gravação feita no último show dele em Las Vegas, em junho de 1976, cerca de um mês e meio antes dele (não) morrer.
A versão é de arrepiar. Está tudo lá: o vozeirão, a interpretação vigorosa, magistral, o charme do sorriso, o olhar meio moleque. E, claro, a cafonice do figurino, a pose de star, o delírio das fãs, a decadência, a gordura, os efeitos do consumo excessivo de remédios e drogas lícitas que o abateram aos 42 anos.
Se não tivesse morrido, o Rei do Rock, teria tido Michael Jackson, o Rei do Pop, como genro por uns tempos, num casamento pra lá de esquisito com Lisa-Marie Presley. Segundo ela, Jackson tinha medo de acabar como Elvis. E, em certa medida, seu receio se concretizou com a overdose de analgésicos que o matou há alguns meses.
Bem, eu juntei todos os ghosts aqui neste balaio e na verdade a minha versão favorita de “Unchained Melody” é a do U2, que mistura desejo e aflição com muita intensidade.
domingo, 13 de setembro de 2009
Beba antes de casar
Fiquei com vontade de ligar para três amigos, encher a cara e fazer merda.
O que me deixou assim foi o hilário “Se beber, não case!”(The hangover, no original). Não se intimide com o título traduzido. O filme não tem nada a ver com a Lei Seca e também passa longe das bobagens adolescentes que a gente costuma ver nas comédias americanas.
Quatro amigos partem para Las Vegas para a despedida de solteiro de um deles. Na manhã seguinte à farra, acordam todos com amnésia alcoólica, numa suíte de hotel com elementos inusitados que eu não conto aqui para não estragar a surpresa. O noivo sumiu. E eles passam o dia tentando lembrar e entender o que aconteceu na noite anterior e procurando o noivo. Cada pista revela um fato sobre as confusões que aprontaram e uma nova surpresa de uma lista quase infindável.
Além de provocar muitas risadas, o filme ainda tem uma trilha sonora excelente. Não deixa de ser um filme sobre amizade, especialmente sobre o jeito masculino de construir e manter amizades.
Eu sou casado de papel passado e não quero me separar e nem casar de novo. Mas que o filme dá vontade de fazer uma despedida de solteiro muito louca e divertida com os melhores amigos, isso dá. Minha mulher, que também riu muito com o filme, disse que nós, homens, nunca crescemos. Verdade, só nossos brinquedos é que se tornam mais caros.
Cansado de gostar
Costumo ir à praia pedalando e não me canso de admirar a beleza da Lagoa e da orla Arpoador-Ipanema-Leblon. Sempre penso: o Rio é bonito pra cacete!
Hoje, na volta da praia, uns idiotas haviam estacionado dois carros bloqueando a ciclovia no Jardim de Alah. Tive vontade de deixar seus carros arranhados à chave com a palavra “ciclovia” para que aprendessem a respeitar. Mas respirei, contei até dez, xinguei-os e segui adiante, desviando. Mas outros ciclistas não foram tão tolerantes e fizeram pequenos arranhões e amassos nos veículos estacionados em local proibido.
Ao chegar na Lagoa, encontro uma adolescente aos prantos, recém-assaltada, sendo consolada por uma senhora.
Mais adiante, já próximo ao Rebouças, passa um ônibus lotado, com alguns rapazes com o torso estendido para fora das janelas. Um deles diverte-se apontado o braço para os pedestres e imitando o som e o movimento de tiros. Outro, fica “apenas” xingando as pessoas nas ruas.
Ai, ai. Civilização e barbárie. O Rio já não é mais tão bonito.
E para mim não funcionam os versos da música popular, gravada pelo grupo Calcinha Preta, sucesso na trilha da última novela das nove: “Você não vale nada, mas eu gosto de você!”.
Cansa gostar de quem não vale.
sábado, 12 de setembro de 2009
Nuas razões
A escritora e roteirista Fernanda Young divulgou ontem uma lista com dez motivos que a levaram a posar nua para a Playboy. A edição deve sair ainda neste ano.
Fernanda é intelectualmente brilhante, leio seus livros e gostei especialmente de “As pessoas dos livros” (romance, 2000) e de “Dores do amor romântico” (poesia, 2005), além de ser super fã da série e dos filmes “Os Normais”, cujos roteiros ela escreve em parceria com o marido Alexandre Machado. Embora inteligência seja um ótimo afrodisíaco e eu goste de mulheres tatuadas, não sei se vou “ler” Fernanda nas páginas da Playboy. Mas isso não importa. Suas ideias não precisam de Photoshop. A lista de dez razões é bem espirituosa e prima pela falta de modéstia.
1. Salvar o erotismo das mãos da breguice
2. Não devo nada a ninguém
3. Em alguns lugares do mundo, as mulheres ainda são obrigadas a tampar seus corpos
4. Vingança pura e simples
5. Em meus livros me exponho mil vezes mais
6. Vou fazer 40 anos ano que vem
7. Irritar a minha mãe (Fernanda é apresentadora do programa "Irritando Fernanda Young", do canal GNT)
8. Estar se lixando para que os idiotas vão achar
9. É a primeira vez na história que a coelhinha da Playboy tem oito romances publicados.
10. Não existem ex-BBBs suficientes (aleluia).
Sobre o item 9, ok, é muito provável que ninguém tenha oito romances. Mas Maitê Proença foi capa da revista duas vezes e reúne com muita classe os atributos de inteligência e beleza. Bruna Lombardi, também atriz e escritora, mais ainda, mas não me lembro se posou para a Playboy.
Mas e você, minha cara, o que te levaria a posar nua? Somente o cachê? Ou nem isso?
E você, meu caro, por que não?
Francamente, Frank Scarlett
"Eu sempre quis ser Frank Sinatra. Mesmo quando eu era uma criança, sempre achei que iria crescer e ter uma voz como a dele. Eu continuo esperando isso acontecer", afirmou a atriz de "Encontros e Desencontros" e "Vicky Cristina Barcelona", entre outros filmes.
Em 2008, Johansson lançou "Anywhere I Lay My Head", no qual ela faz covers de Tom Waits. Tenho esse primeiro disco e, bem, Scarlett tem uma voz miúda e o disco é audível, ok, nada demais, levemente sensual e soturno.
Este segundo álbum,"Break-Up", traz uma reunião de duetos com o músico Pete Yorn, isnpirados pelo que faziam, no final dos anos 60, o cantor Serge Gainsbourg e a atriz Brigitte Bardot. A proposta é mais pop e a música inicial de trabalho chama-se "Relator". Legalzinha. Veja uma apresentação da dupla na TV francesa e Scarlett com uma acanhadíssima presença de palco. Na sequência, outro vídeo com dois dos homens mais talentosos, charmosos e elegantes da história da música: Sinatra e Tom Jobim, cantando "Girl from Ipanema". E você vai entender porque, mesmo sendo linda e talentosa, não dá para comparar Scarlett com Sinatra em termos musicais.
Ps.: viram como eu sou bem menos pretensioso do que ela? Eu não queria nem ter a voz do Sinatra. Me contentaria com a do Seu Jorge...
A voz do Seu Jorge
Eu queria ter a voz do Seu Jorge para falar no seu ouvido aquelas coisas de amor e sacanagem.
Como não tenho a voz dele, dou-lhe voz aqui no blog. Bem, não exatamente, já que não é um arquivo de áudio, mas apenas as palavras transcritas, pequenos trechos de uma bela entrevista que ele concedeu ao blog MPB Player, de Leonardo Lichote e Rodrigo Pinto . Então, está aí, a vez de Seu Jorge:
— “Sempre que apareço na mídia, estou trabalhando, participando de um show. Nunca estou só tomando chopinho. Se não tenho nada para fazer num lugar, fico em casa com meus filhos. Não quero ser confundido com celebridade.”
— “Minha música não é para ouvir parado na frente do CD. É para o cara curtir no churrasquinho com os amigos, eventualmente alguma faixa chama a atenção, e ele para e ouve melhor.
— “São Paulo me educou. O Rio não te convida à disciplina. Andar de bermuda, sem camisa, chinelo... No Rio, o pouco que eu tinha era bom. A cidade me inspira a pegar o violão, não a fazer um CNPJ — brinca. — Viu o Obina? Emagreceu, voltou a marcar... A prova taí!”
Você está certo, Seu Jorge, está certo...
A consciência da rapaziada
Bombou na internet nesta semana o vídeo em que o ministro dos coletes e do Meio-ambiente, Carlos Minc, manifestou-se efusivamente a favor da descriminalização da maconha.
Foi em Alto Paraíso, na Chapada (lógico) dos Veadeiros, Goiás, durante um show da banda de reggae Tribo de Jah no dia 6/9. Minc falou que temos que acabar com a hipocrisia. Em seu discurso entusiasmado, Minc disse que apesar de termos ganhado da Argentina no futebol, na véspera, nesse outro campo, eles estão à nossa frente.
Foi uma referência à recente decisão da Suprema Corte de Justiça da Argentina que determinou ser inconstitucional a prisão por porte de entorpecentes em pequena quantidade para consumo pessoal. Acho que essa decisão vai estimular ainda mais o turismo de brasileiros, invadindo as ruas de Buenos Aires e as pistas de esqui de Bariloche. Aliás, a foto que ilustra este texto é de um muro no bairro de Palermo Soho, em Buenos Aires.
Apelando para a “consciência da rapaziada”, Minc conclamou a platéia a não deixar queimarem a Amazônia. Já sobre queimar uma erva ele não disse nada, porque isso é outro papo... Ser a favor da descriminalização é diferente de ser a favor do consumo. Minc já havia participado há alguns meses, no Rio, de uma passeata Legalize. O Ministro do Meio Ambiente defende a onça pintada e o lobo guará, mas é a favor de legalizar o tapa na pantera.
Aliás, já tem gente chamando o ministro de minconheiro...
Em tempo: este blog faz humor. Este blog não faz apologia e nem recomenda o uso de drogas.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Século 21
Mês passado, quando estive em Nova York, fui ao Ground Zero, o lugar onde outrora estiveram as imponentes torres gêmeas do World Trade Center e que hoje é um imenso canteiro de obras.
A sensação de estar onde tão recentemente se escreveu um capítulo trágico da História é perturbadora. Por um instante, lembrar da perplexidade e do horror diante das cenas que a TV exibia ao vivo. E me comover ao pensar em todas as pessoas assassinadas ali, pela barbárie injustificável do terrorismo. Há um sentimento de ausência ali. E é doído.
O 11 de setembro é uma ferida que não cicatriza para os americanos. A dor intensa, o compromisso de não esquecer os fatos e as vítimas, e o desejo orgulhoso de superação coexistem.
A despeito do calendário, foi naquele fatídico dia de 2001 que, de fato, começou este século. O ataque e suas consequências determinaram tantas mudanças no mundo que pode ser considerado, do ponto de vista histórico, o marco zero do século XXI.
Por um irônico acaso, basta atravessar a rua para entrar na Century 21, mega loja de departamentos outlet em que as pessoas freneticamente se dedicam ao consumo.
O consumo é um poderoso antidepressivo.
O trágico anúncio
Com a proximidade do 11/9, circularam na internet, com repercussão em jornais e televisões de diversos países, um anúncio e um filme criados pela agência DM9 do Brasil para a WWF.
A WWF obviamente repudiou o anúncio que mostra o sul da ilha de Manhattan cercado por vários aviões e diz: “O Tsunami matou 100 vezes mais pessoas que o 11/9. O planeta é brutalmente poderoso. Respeite. Preserve”.
Segundo o site Blue Bus, especializado em propaganda, a ONG afirmou, em comunicado, que “condena veementemente este anúncio ofensivo e de mau gosto” e diz que não autorizou nem a produção, nem a publicação. Além disso, de acordo com o Advertising Age, a peça é também burra do ponto de vista científico, fazendo uma comparação esdrúxula entre um atentado terrorista e um acidente da Natureza.
No site da agência DM9, que completa 20 anos neste ano, há uma carta em português e inglês, assinada por seu presidente, Sérgio Valente, desculpando-se pessoalmente. Ele afirma que “o trabalho foi desenvolvido por um grupo de jovens profissionais da agência, buscando enfatizar o poder da força da natureza. Reconhecemos que esses – anúncio e filme - jamais deveriam ter sido aprovados por alguém nesta Agência, nunca deveriam ter sido propostos ao cliente, veiculados em qualquer lugar ou sido submetidos a prêmios".
Presumo que os gênios precoces sejam agora jovens em busca de recolocação no mercado por essa chamuscada na agência. O Blue Bus afirma que antes, a DM9 já se manifestara noutro comunicado: “O anúncio Tsunami criado para a WWF Brasil foi criado em dezembro de 2008. A agência se desculpa a todos que foram afetados ou ofendidos com o anúncio. Este anúncio nunca deveria ter sido feito e não retrata a filosofia desta agência”.
Realmente, é um espanto que essa ideia estúpida tenha sido desenvolvida e aprovada por várias pessoas até ser finalizada em mídia impressa e filme. O anúncio é, de fato, uma tragédia.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Os meios justificam os fins
Por enquanto, não chegamos a uma solução eletrônica que proporcione o mesmo conforto de leitura que encontramos nos livros e, muito menos, a algo que supra os prazeres tátil e olfativo que o manuseio dos livros proporciona. Mas o Steve Jobs ou o Professor Pardal devem estar trabalhando nisso neste instante.
Ainda há também um certo preconceito contra os e-escritores, como se o suporte em papel legitimasse o conteúdo. Como se aquilo que é realmente bom virasse livro, e fosse o que torna alguém um escritor. O território livre da web ainda é, para alguns, um paiol de bobagens voando a esmo.
Eu já publiquei cinco livros de poesia e não descarto outros, óbvio. Mas também gosto muito do esquema de produção ágil e do retorno rápido dos leitores que a Internet possibilita. E não considero o que escrevo aqui, no ambiente virtual, menor do que aquilo que escrevi em qualquer dos livros. Acho até que, neles, escrevi muita besteira. Além disso, há tantos talentos que só escrevem na Internet e que talvez nunca tenham seus nomes numa lombada de capa na sua estante.
De qualquer modo, há o caminho do meio. Com trocadilho, achei bem bacana essa ideia de juntar os meios. O romance policial “Grau 26 – A origem do mal”, de Anthony Zuiker foi lançado recentemente nos EUA e chegará ao Brasil em novembro pela Record.
A cada 15 ou 20 páginas, o leitor é convidado a entrar num site para assistir a um filminho de minutos no qual a trama avança com atores representando personagens do livro. Ou seja, parte da história está no papel e outra parte na Internet, dialogando entre si.
A propósito, hoje, começa a Bienal do Livro. Tempo de ir ao Riocentro e se enroscar nos livros fartos.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Herança
Minha melhor amiga é médica e trabalha numa organização internacional que pesquisa e combate epidemias. Em função do trabalho, ela já rodou o mundo, passando por países com altos índices de desenvolvimento humano e por outros lugares paupérrimos, que sequer entraram no século XX, que dirá no XXI.
Mas esta história aconteceu em Portugal. Na primeira vez em que ela desembarcou em Lisboa, pegou um táxi para o hotel. Ao chegar, o motorista lhe perguntou se ela não queria um recibo superfaturado para ter o ressarcimento da empresa a maior. Ela indignada, obviamente, recusou a oferta escusa.
Este episódio ordinário em Portugal revela, na verdade, muito sobre o Brasil. A corrupção, a pequena transgressão, o jeito malandro de levar vantagem está entranhado no DNA de nossa formação cultural. É a nossa herança maldita.
Mico
Um dos vídeos de maior audiência na internet nessa semana foi o da cantora Vanusa se atrapalhando toda para cantar o Hino Nacional em uma solenidade. Maior mico. O arranjo era terrível, ela parecia bêbada, o público e as autoridades foram ficando constrangidos até que, antes do final, o mestre de cerimônias agradeceu à cantora e cortaram o som do microfone dela.
Eu estudei em uma época em que, às segundas-feiras, todos os alunos se reuniam no pátio da escola para execução do Hino e hasteamento da Bandeira. A melodia do Hino é bela e imponente e sei a letra de cor até hoje.
Mas faço questão de não cantar. Este país é um mico.
domingo, 6 de setembro de 2009
Eu não rio, tia
Estacionei ali perto do Teatro Municipal, em restauração para celebrar seu centenário. A moça que estava lá de “dona da rua” me abordou com aquela simpatia irritante que pretende fabricar uma intimidade que não existe. Forçar a amizade.
- “Oi, bom dia. Veio trabalhar ou veio passear? Vai demorar? Você está sério, meu querido, tá tudo bem? Eu quero ver todo mundo sorrindo aqui.”
Dito isso, me extorquiu os regulamentares R$ 2 para fingir que toma conta do carro. Eu fui fazer o que tinha para fazer numa loja de informática e voltei meia-hora depois.
Ao lado do meu carro, perto da porta traseira, encontrei um enorme cocô, digamos, recém-feito. Humano e não canino.
Quando estou manobrando para sair da vaga, vem a simpática guardadora, me pede para abaixar o vidro e pergunta, como se fosse da conta dela:
-“Já vai? Tá cedo ainda. Vai pra casa?”
E, então, bancando a tia gente boa, ela veio com a proposta:
-“Me devolve o talão do estacionamento, que eu aproveito em outro carro.”
Desse jeito, ela daria um recibo a menos e poderia embolsar o dinheiro direto. Só mais um pequeno delito. Tudo tão normal, tudo tão carioca, tudo tão Rio de Janeiro, a cidade mais feliz do mundo.
Recusei e fui embora sem olhar para trás.
O anel perdido
Hoje, voltei ao restaurante e perguntei ao garçom que nos atendeu se ele não tinha achado o meu anel. Ele respondeu: ”Onde foi que você sentou?”
Eu apontei o local e ele disse que alguém deve ter pego o meu anel. Eu não sei quem pegou. Nem tenho certeza se perdi no restaurante ou no banheiro. É que de vez em quando eu lavava as mãos e tirava o anel.
Quando contei para a minha mulher que tinha perdido o meu anel, ela reagiu tensa, mas se acalmou quando viu que não tinha sido a aliança.
Fiquei amuado durante a tarde, mas depois relaxei. O negócio é praticar o desapego. Afinal, é só um anel. Espero que alguém fique feliz com o anel que, mesmo sem querer, eu dei.
...
Que, Mané, desapego o cacete! Hoje, voltei na loja e comprei outro igual. Meu anel está restituído.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Quem me navega
Nele escrevi: “O nome do blog foi sugestão bem-vinda da minha mulher, filha de Iemanjá. Está feito o convite à navegação, com portos abertos às nações amigas.”
Foram 287 textos nesse primeiro ano e, aos poucos, o blog foi ganhando a minha cara. E essa cara foi simpática o bastante para atrair leitores nunca dantes descobertos. Leitores que generosamente se dispuseram a cair nessas águas. Valeu, Seguidores! Sem desmerecer os amigos no mundo real, agradeço especialmente àqueles que não me conhecem (como peixe) fora d`água.
Sigamos, pois. Mais do que um cais, eu preciso mesmo é do mar...