O homem é o animal autointitulado mais inteligente da Terra. Mais
inteligente não significa o mais feliz.
É também o bicho mais pretensioso. Tão pretensioso que inventou deus à
sua imagem e semelhança, mas, malandra e mercadologicamente, espalhou que foi o
contrário. Inverteu criador e criatura, em golpe de falsa modéstia. Assim,
ficou mais fácil vender o seu peixe. No caso, seu deus. E é por causa desse bom
deus e do vil metal que as guerras têm sido travadas há séculos. “Lembre-se
sempre que deus está do lado de quem vai vencer”.
Diante de tantas desigualdades injustificáveis neste mundo de meu deus
(ops, de seu deus), o homem inventou que os desígnios desse seu deus são além
de nossa compreensão e que se você, meu caro, está tão fodido assim deve ser
porque merece. Mas não fica assim, nem tristinho, nem revoltado, não, porque
quando você morrer, se tiver se comportado direitinho, você e o carinha que
inventou deus e está cheio da grana serão iguais e desfrutarão das maravilhas
dos jardins floridos da vida eterna. Até lá, fica na sua e não enche o
saco.
O homem é tão pretensioso que acha que está no centro do universo,
embora habite um planetinha ínfimo em uma galáxia insignificante. E como tem
dificuldades em lidar com a sua finitude, encanou que a sua vida tem que
continuar em algum lugar melhor. Melhor para ele e pior para os que não
compartilham o mesmo deus. Porque, claro, pretensioso, o homem passou a crer
que, por crer em um determinado deus, é individualmente superior ao homem
igualzinho sentado ao seu lado no metrô, mas que inventou outro deus qualquer.
O homem é tão pretensioso que não aceita que sua breve passagem por
estas bandas seja tão somente cheia de som e fúria significando nada (como
escreveu um certo bardo dotado de rara sensatez). Em sua infinita
pretensão, difundiu a ilusão de que se ele, homem, existe é por um propósito
maior. E que este é tão incomensuravelmente grande que uma vida inteira é muito
pouco. Precisa e merece outra, alhures ou aqui mesmo, em encadernação revista e
atualizada.
2 comentários:
Leandro, achei o texto brilhante!!!! E me lembrei do filme "a invenção da mentira". Você viu? Se não viu, com certeza vale a pena.
Bj que eu vou ali abrir uma igreja pra garantir meu lugar ao sol, no jardim pós vida.
Obrigado, Inaie. Acho que não vi o filme, mas a sugestão está anotada.
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