sábado, 5 de janeiro de 2013

Duzentos anos


Era o primeiro dia dos namorados que passavam juntos, apaixonados jovens em seus vinte e poucos anos.

Ele, pouco familiarizado a gostos, caprichos, sensibilidades femininas foi objetivo e perguntou-lhe o que queria ganhar de presente. Ela, romântica e manhosa, respondeu que queria algo que durasse duzentos anos.

Até um Neanderthal entenderia que ela insinuava o desejo por uma joia. Diamantes são eternos.

O dia estava chegando e ele já havia planejado o esquema clássico flores, jantarzinho e motel. Nada original, mas sempre eficaz.  A simples ideia de entrar em um shopping e folhear vitrines até achar um presente lhe causava arrepios.  A falta de grana sobrando para comprar uma joia – sim, ele entendera o recado – comprometia o atendimento do sonho e ele temia o impacto negativo de frustrar a expectativa dela naquela primeira data especial. Afinal, gostava sinceramente dela e queria que o relacionamento se desenvolvesse. No fundo, talvez houvesse certa ponta de usura também, pelo alto investimento financeiro em uma “bobagem”, mas ele não admitiria nem para o espelho.

Na volta do almoço, ele fuma um cigarro com um colega do escritório.  Ali em frente ao prédio no Centro um camelô vendia pequenos animais, num comércio ilegal então possível . Aproximam-se com curiosidade entediada.  Pequenas tartarugas em uma caixa de papelão.  O colega, despretensiosamente, pergunta ao vendedor quanto tempo dura aquele bicho feio comedor de folhas de alface. Duzentos anos responde o homem.

Bingo! “Duzentos anos?! É disso que eu preciso! Moço, quanto custa esse bicho? R$ 10? Me dá um.” Uma pechincha.

No dia dos namorados, a tartaruga é colocada em uma caixa bonita, com laço vermelho. Ela se impressiona com o tamanho da caixa e logo pensa que ali deve estar um estojo com belo colar ou par de brincos. Ao abri-la, contendo a ansiedade, para não parecer interesseira, encontra a simpática tartaruguinha, feliz por voltar a respirar fora da caixa.

O que pensam que ela fez? Bateu com o casco duro na testa dele e terminou o namoro? Não. Riu e apaixonou-se em definitivo. Depois, racionalizou: “esse homem tem senso de humor, é criativo, inteligente e me deu uma volta”.

Esta história aconteceu há mais de vinte anos. Estão juntos até hoje, tiveram duas filhas. O amor ainda vive. A tartaruga também. O amor é uma tartaruga.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Para quê encarar o mundo de frente se a poesia está no verso? ( Georges Najjar Jr )

Inaie disse...

E nesses vinte anos ela ganhou muitas jóias? Ou é uma tartaruga por ano?? hehe


por favor, tira o verificador de palavras... já tentei 5 vezes e nao acertoe ssas malditas letrinhas!