domingo, 20 de janeiro de 2013

Já deu


Copacabana é mau agouro. Moro no bairro há pouco mais de dois anos e qualquer caminhada banal me lança ao futuro, esfregando no rosto a dura e cruel realidade que me espera. Que nos espera a todos, aliás, se não morrermos antes. É o bairro carioca com a maior população de idosos. E a velhice, vamos combinar, não tem nada de melhor idade. É uma merda, quando a saúde não se sustenta.

Quando saio com meu cachorro de manhã, invariavelmente me deparo com uma senhora cadeirante, macérrima, entrevada, gemendo ininterruptamente em voz alta, em companhia de sua enfermeira, na portaria do prédio ao lado. Uma existência precária, sem nenhum prazer aparente, só suplício.

No último ano, perdi minha mãe, que, aos 79, morreu em pé, subitamente e saudável. Felizmente, sem ter que encarar a decrepitude que ela tanto temia. E tenho acompanhado a decadência cada vez mais acentuada do meu padrasto que, aos 86, acumula limitações e dores.  

Nesta semana, o ator Walmor Chagas morreu. Polícia e família acreditam que tenha optado pelo suicídio aos 82 anos, já que vinha sofrendo com graduais privações em sua saúde e, consequentemente, em sua qualidade de vida. A mais recente, a catarata nos olhos que o impedia de ler, sua maior paixão.  O suicídio é a mais drástica e radical atitude frente à vida, para a qual não cabe julgamento e dispensa justificativas. Cada um sabe de si, onde o calo lhe aperta.  

Li notícia que,  em dezembro, dois gêmeos belgas, de 45 anos, surdos, decidiram pelo suicídio assistido (eutanásia), já que perderam também a visão, em função de doença degenerativa.  Surdos e cegos. Sem duas janelas de comunicação com o mundo, escolheram que era demais para suportarem. No outro extremo, está aí o físico Stephen Hawking se agarrando aos fiapos de vida que lhe restam, com bravura e tenacidade. E há muitos outros exemplos menos célebres, porém igualmente nobres.

Já escrevi antes que penso que a vida vale a pena, sim, desde que sob condições mínimas de proveito. Como disse certa vez outro grande ator, Chico Anysio, “eu não tenho medo da morte, tenho pena de morrer.” Mas eu tenho muito medo de certo tipo de (não) vida.

Acho que vou me mudar de Copacabana.  Não preciso de tanta visão de futuro.

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