Copacabana é mau agouro. Moro no bairro há pouco mais de
dois anos e qualquer caminhada banal me lança ao futuro, esfregando no rosto a
dura e cruel realidade que me espera. Que nos espera a todos, aliás, se não
morrermos antes. É o bairro carioca com a maior população de idosos. E a velhice, vamos combinar, não tem nada de melhor idade. É uma merda,
quando a saúde não se sustenta.
Quando saio com meu cachorro de manhã, invariavelmente me deparo
com uma senhora cadeirante, macérrima, entrevada, gemendo ininterruptamente em
voz alta, em companhia de sua enfermeira, na portaria do prédio ao lado. Uma existência precária, sem nenhum prazer aparente, só suplício.
No último ano, perdi minha mãe, que, aos 79, morreu em pé, subitamente
e saudável. Felizmente, sem ter que encarar a decrepitude que ela tanto temia.
E tenho acompanhado a decadência cada vez mais acentuada do meu padrasto que,
aos 86, acumula limitações e dores.
Nesta semana, o ator Walmor Chagas morreu. Polícia e família
acreditam que tenha optado pelo suicídio aos 82 anos, já que vinha sofrendo com
graduais privações em sua saúde e, consequentemente, em sua qualidade de vida.
A mais recente, a catarata nos olhos que o impedia de ler, sua maior paixão. O suicídio é a mais drástica e radical atitude
frente à vida, para a qual não cabe julgamento e dispensa justificativas. Cada
um sabe de si, onde o calo lhe aperta.
Li notícia que, em
dezembro, dois gêmeos belgas, de 45 anos, surdos, decidiram pelo suicídio
assistido (eutanásia), já que perderam também a visão, em função de doença degenerativa. Surdos e cegos. Sem duas janelas de
comunicação com o mundo, escolheram que era demais para suportarem. No outro
extremo, está aí o físico Stephen Hawking se agarrando aos fiapos de vida que lhe
restam, com bravura e tenacidade. E há muitos outros exemplos menos célebres,
porém igualmente nobres.
Já escrevi antes que penso que a vida vale a pena, sim, desde
que sob condições mínimas de proveito. Como disse certa vez outro grande ator, Chico
Anysio, “eu não tenho medo da morte, tenho pena de morrer.” Mas eu tenho muito
medo de certo tipo de (não) vida.
Acho que vou me mudar de Copacabana. Não preciso de tanta visão de futuro.
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