Era o primeiro dia dos namorados que passavam juntos,
apaixonados jovens em seus vinte e poucos anos.
Ele, pouco familiarizado a gostos, caprichos, sensibilidades
femininas foi objetivo e perguntou-lhe o que queria ganhar de presente. Ela, romântica
e manhosa, respondeu que queria algo que durasse duzentos anos.
Até um Neanderthal entenderia que ela insinuava o desejo por
uma joia. Diamantes são eternos.
O dia estava chegando e ele já havia planejado o esquema clássico
flores, jantarzinho e motel. Nada original, mas sempre eficaz. A simples ideia de entrar em um shopping e
folhear vitrines até achar um presente lhe causava arrepios. A falta de grana sobrando para comprar uma
joia – sim, ele entendera o recado – comprometia o atendimento do sonho e ele
temia o impacto negativo de frustrar a expectativa dela naquela primeira data
especial. Afinal, gostava sinceramente dela e queria que o relacionamento se
desenvolvesse. No fundo, talvez houvesse certa ponta de usura também, pelo alto
investimento financeiro em uma “bobagem”, mas ele não admitiria nem para o
espelho.
Na volta do almoço, ele fuma um cigarro com um colega do
escritório. Ali em frente ao prédio no
Centro um camelô vendia pequenos animais, num comércio ilegal então possível . Aproximam-se
com curiosidade entediada. Pequenas
tartarugas em uma caixa de papelão. O
colega, despretensiosamente, pergunta ao vendedor quanto tempo dura aquele
bicho feio comedor de folhas de alface. Duzentos anos responde o homem.
Bingo! “Duzentos anos?! É disso que eu preciso! Moço, quanto
custa esse bicho? R$ 10? Me dá um.” Uma pechincha.
No dia dos namorados, a tartaruga é colocada em uma caixa
bonita, com laço vermelho. Ela se impressiona com o tamanho da caixa e logo
pensa que ali deve estar um estojo com belo colar ou par de brincos. Ao
abri-la, contendo a ansiedade, para não parecer interesseira, encontra a
simpática tartaruguinha, feliz por voltar a respirar fora da caixa.
O que pensam que ela fez? Bateu com o casco duro na testa
dele e terminou o namoro? Não. Riu e apaixonou-se em definitivo. Depois,
racionalizou: “esse homem tem senso de humor, é criativo, inteligente e me deu
uma volta”.
Esta história aconteceu há mais de vinte anos. Estão juntos
até hoje, tiveram duas filhas. O amor ainda vive. A tartaruga também. O amor é
uma tartaruga.
2 comentários:
Para quê encarar o mundo de frente se a poesia está no verso? ( Georges Najjar Jr )
E nesses vinte anos ela ganhou muitas jóias? Ou é uma tartaruga por ano?? hehe
por favor, tira o verificador de palavras... já tentei 5 vezes e nao acertoe ssas malditas letrinhas!
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