Foto: Leandro Wirz
A semana foi pauleira e eu não tive tempo de escrever sobre o show do U2 no Morumbi, ao qual assisti no domingo passado.
Eu já havia assistido aos shows das turnês “Pop Mart”, no desorganizadíssimo show no Autódromo do Rio em 1998, e “Vertigo”, no próprio Morumbi, em São Paulo, 2006. U2 é sempre maravilhoso. Desta vez, na turnê 360º, não foi diferente. Entraram no palco, misto de aranha, catedral e nave espacial, ao som da execução mecânica de Space Oddity, de David Bowie, e abriram com “Even better than the real thing”. Daí até o fim, foi even better than the best dream.
Antes, tocou o Muse, em show quase heavy metal, muito bom, e com o mérito de ter começado britanicamente no horário marcado. Pontualidade é respeito. Muita gente no estádio não conhecia a banda e eles abriram mão de tocar sua versão do clássico “Can’t take my eyes off you”, de Frankie Valli, que poderia gerar identificação com o público. E, pena, não tocaram a ótima “Undisclosed desires”, talvez por terem priorizado um repertório mais pesado, para aquecer a massa para o U2.
Música de boa qualidade à parte, chamou a atenção o transtorno que o show causou na cidade. No hotel em que fiquei, no Ibirapuera, filas grandes para check-in de quem foi ao show no domingo e check-out de quem havia assistido no sábado. No entorno do estádio, com suas ruas estreitas, engarrafamento e estacionamento a R$ 140. Na rua. Com flanelinha.
À saída do estádio, taxistas cobravam entre R$ 100 e R$ 150 para levar ao hotel. Nada de taxímetro. Na segunda-feira, no aeroporto de Congonhas, as filas para o check-in e para o embarque eram imensas, dando voltas e voltas. Todos os paulistanos eram unânimes em dizer que tudo estava assim por causa do show.
Eu saí do Rio para encontrar amigos de Brasília e irmos juntos ao show. Perto de nós uma galera de Fortaleza e uma turma de Belo Horizonte. Todos em São Paulo só para o U2. Era de se esperar.
Então, como pode um evento para, no máximo, 90 mil pessoas, causar tanto transtorno na maior cidade do Brasil? Como temos a pretensão de organizar Copa do Mundo e Olimpíadas?! Se só com um show, fica evidente que não temos infraestrutura, nem serviços de qualidade a oferecer?
Outro ponto é o milagre da multiplicação dos ingressos. Eu fiquei pendurado na internet todas as madrugadas em que as vendas eram iniciadas. Não consegui comprar ingressos, que se esgotaram, invariavelmente em menos de duas horas. Foi assim com Madonna, com U2 e com Paul McCartney. No entanto, conforme se aproximam as datas dos shows, os ingressos reaparecem na mão de cambistas, empresas patrocinadoras e agências de turismo. Daí, eu consegui comprar.
Tenho certeza de que o Leandro Wirz ou José da Silva, cidadãos comuns, não vamos conseguir comprar ingressos para a Copa ou os Jogos Olímpicos. Afinal, além dos cambistas, patrocinadores e agências, teremos também os vereadores, deputados, senadores e ministros que irão querer suas cotas. E as celebridades, claro. Espero queimar a minha língua e, em 2014 e 16 , conseguir comprar um ingressozinho que seja. Não tenho problema em encarar fila ou passar a madrugada na internet tentando.
Finalmente pararam de dizer que o Brasil é o país do futuro. Até o Baminha, jogando pra plateia no Teatro Municipal do Rio, disse que somos o país do presente. Mas continuamos como no passado, um país deseducado e corrupto. Com infraestrutura vergonhosamente precária e obras atrasadas e superfaturadas. O Japão estará reconstruído antes que terminemos um único estádio para a Copa.
Este texto era sobre música e acabou político. O U2 também é assim.
3 comentários:
otimo texto. pra comprar ingressos pra ver o corinthians num joguinho xinfrim contra o sao caetano eu ja tinha problemas em sampa e pra todos os grandes shows era essa novela tb.
bom mesmo é que vc viu esse show incrivel (é demais mesmo né?)! u2 sempre vale a pena!
beijo!
O U2 360º foi mesmo espetacular, no melhor sentido da palavra. E, de fato, ratificou a precariedade da nossa infraestrutura para grandes eventos. Isso em São Paulo! Já pensou como estarão aeroportos e rede hoteleira do Norte-Nordeste-Centro Oeste em 2014? Sei não, talvez fosse melhor o Brasil agradecer a Fifa e passar a bola pra um país em melhores condições de receber os turistas.
Oi, Leandro. Meu nome e Patricia, sou produtora da TV Bloomberg aqui em Sao Paulo. Gostaria de saber se voce daria uma entrevista rapida sobre as filas no aeroporto pra voltar pro RJ depois do show. Estamos fazendo uma reportagem sobre infraestrutura. Nossa reporter estara no RJ na proxima semana. Se puder falar com a gente, me ligue para combinarmos. 11 4502-1845. Se eu nao estiver, por favor, deixe recado e eu retorno. Obrigada.
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