terça-feira, 11 de junho de 2013

Marmanjos melados

Eu estava na porta do clube esperando chegar o táxi que chamei.  Outro carro vem.  Cinco marmanjos tentam convencer o taxista a levar os cinco em uma corrida só, espremidos em um sedã pequeno.

Oferecem pagar a mais do que o taxímetro marcar. Oferecem o dobro. Oferecem pagar a multa se, por ventura, ela vier. O taxista permanece irredutível ante as propostas turbinadas pelo – neste caso, muito – vil metal.   Educadamente, explica que transportar cinco passageiros é ilegal e sobrecarrega o carro.

O taxista aciona pelo rádio outro carro da cooperativa, provavelmente esperançoso de que, com dois carros à disposição, o grupo aceitasse se dividir.

Os marmanjos, todos bem acima dos quarenta anos, insistem.  Um dos babacas senta-se no meio-fio, de birra infantilóide, e diz ao taxista que ou leva os cinco ou não leva nenhum.

Chega o outro táxi, igualmente um pequeno sedã, que, lamentavelmente aceita levar os cinco espremidos. O birrento faz cara de triunfo sobre o taxista que havia se recusado a transportá-los.

Eu, que ainda aguardava meu táxi, fiz questão de cumprimentar o primeiro taxista dizendo que ele agira corretamente. 


Mas não consegui entender a razão de cinco marmanjos suados, saindo da pelada de domingo no clube, fazerem questão de andarem grudados, melados e apertados, se roçando no carro. 

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Aéreas termais

No voo entre São Paulo e Goiânia, minha poltrona está cercada por uma dúzia de senhoras frenéticas com o passeio que farão à Caldas Novas e suas piscinas de águas termais.  Eu tentando ler poesia, os originais de um livro que uma amiga me enviara, pedindo minha modesta opinião, despida  de qualquer autoridade de expert.

A senhora ao meu lado estica o olhar sobre o que estou lendo. Simpática, tenta puxar conversa. Correspondo dentro do estreito limite da boa educação apenas.  Ela pergunta se fui eu que escrevi, se vai virar livro, se sou o editor e comenta que os poemas são “complexos”. Assumi como elogio, embora tenha me parecido que ela não entendeu bem o que havia lido de esguelha.

As senhoras da fila da frente matraqueiam sem parar. Falam mal da nora de uma delas, esporte favorito de muitas sogras por aí.  A senhora diz que não entende como o filho foi se casar com aquela moça porque ela isso, ela aquilo. Até que uma vaticina: “É o sexo. Ela deve ser boa nisso. Mulher tem que ser safada”.


Esqueço a poesia, contenho o riso e louvo a sabedoria da maturidade.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Fofoca de vizinho

Segredo é algo que a gente conta para uma pessoa de cada vez. E fofoca talvez seja o segredo que saiu do armário e se descompromissou com a verdade.
Eu não conheço meus vizinhos. Nem quero.  Com vizinhos, nunca gostei de intimidade, nem de confusão.
Mas por essas vulgaridades das construções modernas, quando estou no banheiro escuto – mesmo sem querer - a conversa de outro apartamento. Não sei se ao lado, embaixo ou em cima.  Mas com alguma frequência, ouço um homem falar, quase sempre resmungando ou reclamando.  Pela voz, deve ter algo entre 55 e 60 anos.
Noite passada, meu vizinho rabugento se excedeu. Ele disse, presumo que para sua mulher:
“Você acha que eu vou comer tudo isso?! Não sou que nem você, você devia fazer dieta, está imensa de tanta porcaria que come.”
Concluí que a principal porcaria na vida da mulher dele é o seu marido, meu vizinho.  

sábado, 1 de junho de 2013

Nomadismo light

Bem, tirando a poeira do blog e retomando o fim do post anterior, eu me mudei de Copacabana.  Já faz uns meses. Sou animal inquieto. Por razões profissionais, casamentos, separações ou só porque deu vontade (este é o caso agora), fui para meu oitavo endereço em quinze anos, no Rio e em Brasília.

Eu gosto de desmontar e montar casas. Gosto dessa trabalheira insana.  Gosto dos ciclos. Dos fins e dos recomeços.

Está um pouco no DNA. Minha mãe morou em – não me lembro mais – cerca de uma dezena  endereços durante sua infância, já que meu avô era praticamente um nômade. Moraram em Zurich, Ubatuba, Friburgo, Teresópolis, Miguel Pereira e sei lá onde mais até fixarem residência no Rio de Janeiro.

Estou morando em uma rua tranquila, mais perto do trabalho e mais distante da praia, do caos e das pulgas de Copacabana.  

Mas tudo é por enquanto.